sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Os Heróis do Olimpo - O Filho de Netuno


É normal que um escritor tenha carinho por seu protagonista. Caso contrário, a magia da literatura não funciona. Assim como Harry Potter se tornou a galinha dos ovos de ouro de J.K. Rowling, o mesmo pode ser dito de Percy Jackson para Rick Riordan. No caso do autor texano, no entanto, a afeição pelo semideus acabou gerando uma segunda série, Os Heróis do Olimpo e, obviamente, para o deleite dos leitores, expandiu o universo já estabelecido anteriormente.

Em O Filho de Netuno, segundo volume da saga, Percy Jackson retorna, e igualmente como ocorre com o personagem Jason no volume anterior, está com amnésia. Tudo o que se lembra é de receber instruções para encontrar um lugar chamado de Acampamento Júpiter, onde semideuses romanos são treinados.

Ao chegar lá, ele conhece Hazel, filha de Plutão (Hades, em grego). A garota vive atormentada com o segredo que causou a morte da sua mãe e também pelo fato de já ter morrido uma vez. Percy também ganha outro amigo, Frank, este muito bom no arco e flecha, mas extremamente desastrado e infeliz por não saber qual dos deuses é o seu pai.

Riordan imediatamente apresenta o novo acampamento para o leitor, com todas as suas regras e tradições. Contudo, com a chegada de Percy, eles descobrem que Gaia, a Mãe Terra, está acelerando o processo do seu despertar; o gigante Polibotes, liderando um gigantesco exército de ciclopes e centauros, está marchando para destruir o acampamento.

Da maneira mais improvável possível, Percy, Hazel e Frank são escalados para cumprir a missão de ir até o Alasca para resgatar Tânatos, pois ele é quem guarda as Portas da Morte. Se elas permanecerem abertas, nenhum mostro poderá morrer, e o caos será total. O problema é que o Alasca é uma terra que está além dos poderes dos deuses e quem manda por lá é o gigante Alcioneu, um dos filhos legítimos de Gaia, o qual aguarda ansiosamente a chegada dos três heróis. 
  
Mais uma vez a ação é o ponto chave da narrativa. Durante o trajeto do trio, muitos obstáculos surgem e cada um dos semideuses demonstra sua importância para a jornada e para os planos da Profecia dos Sete. Riordan também continuou trabalhando no aspecto psicológico, algo que se destacou no primeiro livro; Percy vez ou outra tem lampejos do passado, o que causa no leitor uma sensação nostálgica; Hazel, por ter saído do Mundo Inferior sem autorização, tem medo de que Tânatos a jogue novamente nas profundezas; e Frank é incomodado pela maldição que carrega e também pela curiosidade de saber qual é o dom de sua família.

Em o Filho de Netuno, Rick Riordan demonstra que a gravidade dos eventos da saga Os Heróis do Olimpo é bem mais alarmante do que o período em que Cronos tentou invadir Nova York. Tudo faz parte de um grande plano, e Percy Jackson e os seus amigos, como de costume, terão que pôr suas coragens à prova para não permitir que a civilização seja engolida pela Mãe Terra. Ainda há muito caminho para esta história se expandir.   

sábado, 20 de dezembro de 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos


Se as pessoas dessem mais valor ao lar do que ao ouro, o mundo seria mais feliz”.

Uma das coisas mais curiosas e interessantes a respeito de adaptações literárias para o cinema é a licença poética que os produtores e a direção introduzem à narrativa. Por serem linguagens diferentes, é preciso acrescentar mudanças que se adequem às necessidades do mercado da sétima arte. Essa capacidade de alterar eventos, cortar cenas ou acrescentar fatos às vezes favorece – e muito – o que não está contido nas páginas. 

Na trilogia O Senhor dos Anéis, as modificações foram bastante pertinentes, o que alavancou o nome do diretor Peter Jackson e lhe rendeu vários elogios. A mesma técnica foi atribuída à trilogia O Hobbit, a qual, nos seus dois primeiros filmes, permaneceu com a qualidade da “liberdade” poética intacta e ainda estabeleceu uma ponte com a Saga do Anel. O desfecho da aventura de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) na Montanha Solitária se concretiza em A Batalha dos Cinco Exércitos, e infelizmente desequilibra grande parte da atmosfera construída anteriormente. 

Em o final de A Desolação de Smaug, o espectador acompanha Bilbo entrando em Erebor e confrontando o dragão, até a criatura voar enfurecida em direção à Cidade do Lago para destruir tudo. É neste ponto que o terceiro ato de O Hobbit tem início e em poucos minutos já fica evidente que Smaug era o menor dos problemas.


Um exército de orcs está marchando rumo à montanha, e os anões terão que defender seu lar uma última vez. O problema é que o líder deles, Thorin, está começando a sofrer do mesmo mal que em outrora atingiu sua família: a maldição do tesouro, que deturpa suas decisões e o modo de agir. Cabe aos homens, elfos e anões se unirem para impedir que a montanha seja tomada. 

Desde que anunciaram O Hobbit como uma trilogia, muitos fãs se perguntaram que tipo de artimanha Peter Jackson usaria para transformar um pequeno livro em três filmes com duas horas cada. A resposta vem com a criação de personagens que não existem no cânone de J. R. R. Tolkien e com o desenvolvimento de subtramas que estão ali apenas para preencher espaço. Todo o arco que engloba Legolas (Orlando Bloom) e sua amada, por exemplo, sequer existe na obra.


O infortúnio de A Batalha dos Cinco Exércitos é justamente o fato de não ter sobrado mais conteúdo consistente que pudesse entrar em sintonia com os seus dois predecessores. E com o ritmo acelerado e demasiado com que as cenas de ação são jogadas na cara do público, fica explícita a grande falha de roteiro, estruturação da narrativa e edição. 

O foco na batalha se tornou tão imprescindível que sem ela o filme perde a essência, revelando a ausência de carisma de alguns personagens; ou eles estão se preparando para a guerra, ou discutindo um meio de evitá-la. O que é lamentável, pois a importância de Bilbo se perde, embora ele tenha seus pequenos momentos, sua relação com o Um Anel é pouquíssima explorada, e a catarse que deveria ser seu retorno ao Condado não é tão impactante quanto deveria.

A insistência em querer se igualar – e quiçá superar – O Senhor dos Anéis nos quesitos guerra e computação gráfica acabou prejudicando esta trilogia, que talvez devesse ter se debruçado mais na simplicidade que o personagem-título carrega. Peter Jackson prova aqui que se entregou definitivamente à megalomania dos efeitos visuais, apelando para o chamativo e abandonando o prático. O resultado é que nenhum dos conflitos abordados em O Hobbit conseguiu sobrepujar a Trilogia do Anel.


Infelizmente, o último capítulo da Terra-Média (tendo em vista que nenhuma outra obra de Tolkien tem permissão para ser adaptada) está muito distante de alcançar os méritos adquiridos por O Retorno do Rei, o qual põe um ponto final em tudo. Resta esperar a versão estendida para saber se a licença poética arquitetada por Jackson tem um pouco mais de coerência. 

Bilbo diz adeus novamente, em um encerramento que poderia ter sido melhor. Entretanto, como diriam Gandalf, Galadriel e outros personagens, pequenos atos de bondade podem manter a escuridão à distância; pequenas pessoas podem modificar o rumo do futuro, e a luz brilhará outra vez. E se for essa a mensagem que representa a figura da Terra-Média e a despedida definitiva dos hobbits, então revisitá-los sempre será uma tarefa inevitável e satisfatória.

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Sociedade do Raio



Como diria o notável Fernando Pessoa: "Tenho em mim todos os sonhos do mundo".

E embora sejam sonhos demais para conter, fico feliz em dizer que pelo menos um deles consegui realizar. Com a bênção divina, a oportunidade oferecida e boa parte do salário gasto, finalmente meu primeiro livro foi oficialmente publicado. 

O manuscrito de A Sociedade do Raio ficou aproximadamente dois anos engavetado até que eu pudesse visualizar a esperança de publicá-lo. Após algumas tentativas frustradas de procurar editoras, descobri, por intermédio de um amigo poeta, cujo primeiro livro também foi publicado recentemente (Valeu, Mauricio!) a existência do site Clube de Autores.  

O site em questão disponibiliza o serviço de publicações gratuitas. Porém, o processo (registro ISBN, diagramação, revisão, ficha catalográfica, capa e direitos autorais) tem que sair do bolso do autor. E, juntando tudo isso, o serviço não sai barato. Cultura no nosso país custa caro. Mas para quem tem um sonho, alguns sacrifícios são necessários. 

A Sociedade do Raio é uma obra que conduz o leitor a um passeio pela cultura do Rio Grande do Norte, com ênfase na literatura potiguar. O protagonista e também narrador do livro é o escritor José Valentim, cuja rotina vira de cabeça para baixo quando assassinatos e sequestros começam a preocupar os cidadãos natalenses. Segue abaixo a sinopse oficial da obra: 

As pessoas têm o costume de me perguntar como eu conheci a Sociedade do Raio. Honestamente, ainda que o objetivo da causa seja revolucionário e nobre, há detalhes não muito agradáveis de contar”.

Na noite de lançamento do seu segundo livro, o escritor José Valentim recebe uma estranha mensagem do seu editor. Um segredo precisa ser decifrado antes que caia em mãos erradas, e o misterioso código forçará o escritor a traçar uma jornada entre sangue e assassinatos, a qual colocará em risco a segurança de sua família, dos seus amigos, e a existência da literatura do Rio Grande do Norte.

Quem é o responsável pelos sequestros que assolam Natal? Quem é o culpado pelos incêndios e os assassinatos? Quem está tão interessado em destruir a literatura potiguar? Se a Sociedade do Raio lhe convocasse, você atenderia ao chamado? São muitas perguntas, e o que José descobre é que tudo está relacionado com a enigmática mensagem deixada por seu editor.

Por enquanto, a obra está disponível para ser vendida apenas no site do Clube de Autores, por meio deste endereço: https://www.clubedeautores.com.br/book/177279--A_Sociedade_do_Raio#.VIpi2PnNnKQ.

O livro também ganhou uma página no Facebook, por onde é possível conhecer um pouco mais a respeito da obra e ficar por dentro das novidades: https://www.facebook.com/asociedadedoraio.

Adquira um exemplar de A Sociedade do Raio e faça companhia a José Valentim, pois ele vai precisar de bastante ajuda. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1


São as coisas que mais amamos que nos destroem”.

A revolução é a consequência de algo e, portanto, antes de nascer, precisa de uma causa. Uma vez que a faísca é estimulada, a revolta abre as portas para uma fúria desenfreada, tanto da parte do opressor quanto do coagido. É esse o espírito que permeia a terceira etapa da jornada de Katness Everdeen (Jennifer Lawrence), a qual tem início em Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

Embora seja sempre um pouco mais complicado falar de um filme dividido em dois, cujo evento épico e derradeiro é obviamente deixado apenas para a segunda parte, há casos em que essas separações favorecem a franquia (afinal, o lucro é maior), os fãs (o prazer de ir ao cinema mais uma vez), e, é claro, a história (Harry Potter e as Relíquias da Morte é um exemplo). 

Sabendo disso, os roteiristas, juntamente com o diretor Francis Lawrence (Constantine e Eu Sou a Lenda), se empenharam para tecer uma narrativa isolada e, mesmo sendo um filme relativamente curto, Jogos Vorazes 3.1 conseguiu manter a qualidade dos seus antecessores.


Após o inesperado final do Massacre Quaternário, evento arquitetado propositadamente pelo Presidente Snow, Katness desperta no lendário Distrito 13. A garota descobre que as pessoas desse distrito vivem no subsolo há anos no intuito de se protegerem e também de esperar a chance perfeita para atacar a Capital. Katness é o símbolo que a revolução precisa, pois seus atos de valentia podem unir todos os distritos em prol de uma nova Panem. 

No entanto, se os líderes do Distrito 13, incluindo a Presidente Coen (Julianne Moore), quiserem que Katness de fato se torne o Tordo, terão que atender algumas exigências, entre elas resgatar Peeta das masmorras da Capital. E, sabendo das atrocidades que o Presidente Snow é capaz de fazer, qualquer passo em falso pode ser fatal.


Com a ausência dos Jogos, a característica sanguinária da série ganha uma nova faceta. As mortes foram elevadas a um novo patamar; qualquer pessoa que se envolver com o símbolo do Tordo será executada sem clemência. Isso enaltece aquilo que a franquia tem de melhor, já que potencializa a ideia da luta contra a tirania em tempos de ditadura (Destaque para a fantástica cena da represa) e provando que o seu foco é em um público que não se contenta com o superficial. 

As analogias contra corrupção e manipulação continuam, e ao julgar pelo final de A Esperança Parte 1, a batalha vai aumentar exponencialmente. Toda ação causa uma reação, e Katness é, agora mais do que nunca, a representação nítida de que qualquer ato de questionamento, qualquer desejo de liberdade e justiça, podem se canalizar em revolução e fúria. O Tordo vive.

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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Trash - A Esperança Vem do Lixo


Onde há corrupção e justiça, há dinheiro”.

A palavra justiça, somada à honestidade, é quase sempre motivo de zombaria em um país repleto de desigualdade social e que sofre há décadas com corrupção no meio político. E quem acabou de ler isso deve ter percebido que essa é uma das descrições mais populares que podem ser atribuídas ao Brasil e que, por conseguinte, cai como uma luva na temática proposta em Trash – A Esperança Vem do Lixo

Sob o comando do diretor americano Stephen Daldry (de Billy Elliot), um suspense tipicamente encontrado em filmes norte-americanos é perceptível nos minutos iniciais, os quais nos levam a acompanhar José Ângelo (Wagner Moura) em uma fuga para proteger sua carteira. O objeto é jogado dentro de um caminhão de lixo e seu destino não poderia ser outro: o lixão. 

O mistério cresce em torno da carteira ao passo em que ela é encontrada por Raphael (Rickson Tevez), um catador de lixo. Ao lado do amigo Gardo (Eduardo Luís), ambos julgam ter encontrado um pote de ouro, já que além de conteúdos indecifráveis, ali contém muito dinheiro. Porém, a polícia logo chega para vasculhar o lixão em busca da carteira, e o tenente Frederico (Selton Mello) tem ordens para matar qualquer um que se interpor entre ele e o cobiçado objeto.


Como todo menino curioso, os dois amigos pedem a ajuda de Rato (Gabriel Weinstein) no intuito de que as informações deixadas na carteira pelo antigo dono passem a ser desvendadas. Contudo, à medida que as descobertas são feitas, o trio começa a entender a importância do objeto e o quão arriscado é levar essa empreitada adiante, pois a vida de todos os envolvidos está em risco. 

Baseado no livro de Andy Mulligan, o filme retrata a dicotomia que pode ser observada em um país tropical, turístico, e aparentemente organizado como o Brasil. Na lente de Daldry, a feiura e a beleza do ambiente e das situações são reveladas tanto pela perspectiva dos personagens americanos Olivia (Rooney Mara) e o padre (Martin Sheen) quanto pelo olhar de uma criança e também daqueles tupiniquins que lutam pela justiça. A cena em que um dos garotos é torturado exemplifica isso; tecnicamente, muito bem feita, e a trilha sonora clássica a deixa ainda mais impecável. Mas a sordidez e a brutalidade cínica da corrupção e dos opressores estão contidas ali, incomodando igual a uma farpa no dedo.


As impressões que o filme pretende deixar são fortalecidas pelas atuações. Embora não apareça tanto, Wagner Moura encarna singelamente um personagem de extrema importância na trama e que, de modo indireto, é o guia na jornada dos meninos. Selton Mello também está formidável, com uma vilania contida capaz de criar uma tensão impactante. E mesmo que o trio mirim seja inexperiente, cada qual conseguiu transmitir uma emoção cativante. 

O discurso político de Trash – A Esperança Vem do Lixo, afinal, é similar ao de outras produções tupiniquins, como Tropa de Elite. Se há uma oportunidade de lutar por aquilo que é certo, então faça barulho, grite, seja ouvido. Essa ideologia manifesta o fato irônico e contrastante de que coisas consideradas sujas podem gerar consequências bonitas; um ato de corrupção pode acarretar em liberdade e justiça social; um menino pobre pode querer melhorar o país; uma carteira encontrada no lixo pode levar bandidos à cadeia. A esperança vem da honestidade.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Interestelar



Nós não estamos destinados a salvar o mundo. Estamos destinados a deixá-lo”.

Existem fatos que a indústria do cinema não pode negar. Inúmeras são as referências de filmes marcantes que trouxeram contribuições tanto de enredo e teorias, quanto de efeitos técnicos. E se o cinéfilo devoto fizer uma retrospectiva dos filmes que mais se destacaram nos últimos dez anos, provavelmente pelo menos uma obra do diretor Christopher Nolan estará na lista. 

É indiscutível o trabalho revolucionário que Nolan fez com a trilogia Batman – O Cavaleiro das Trevas. Há poucos exemplos de longas que trouxeram um herói para tão perto da realidade. E durante os intervalos dos filmes do Homem-Morcego, o diretor ainda teve tempo de entregar ao público produções mirabolantes e inquietantes, como O Grande Truque e A Origem.


A Warner Bros. tem muito a agradecer pelos rios de dinheiro que as obras de Nolan garantiram à empresa. E com a confiança estabelecida, ele tem autonomia suficiente para propor qualquer projeto, seja de natureza complexa ou absurdamente inconcebível. E assim chega sua recente produção, Interestelar, que, assim como foi feito em seus outros filmes, promete levar muitos questionamentos à imaginação do espectador. 

A estreia de Nolan na ficção científica tem uma premissa interessante. Em um futuro não determinado, os recursos naturais da Terra estão praticamente exauridos. Uma praga se alastrou e, pouco a pouco, dizima milhares de plantações. O fazendeiro e engenheiro Copper (Mattew McConaughey) é convocado pela NASA para pilotar uma nave que pode ser a última esperança do planeta.


A tripulação desta nave é composta por cientistas, entre eles a doutora Brand (Anne Hathaway), e o objetivo da missão é viajar até a órbita de Saturno, na qual se encontra um buraco negro. Atravessando o “buraco de minhoca” e, portanto, entrando em outra galáxia, a equipe terá de encontrar um planeta que seja o mais parecido possível com a Terra, antes que toda a raça humana seja extinta. 

É perceptível algumas marcas registradas que não podem faltar na cinematografia de Nolan; a parceria com o compositor Hans Zimmer, por exemplo, que aqui mais uma vez revela que sua criatividade continua se expandindo. Sua trilha sonora funciona muito bem em momentos de tensão e expectativa, enaltecendo a importância de determinadas cenas. A técnica da direção de arte também se destaca, sobretudo no espaço; Saturno mal parece que foi gerada por computação gráfica; o planeta da água e do gelo são visualmente fabulosos; a cena em que a nave se aproxima da gargântua é simplesmente belíssima.


A atuação de McConaughey, cujo mote de querer voltar para os seus filhos lembra um pouco o personagem de Leonardo DiCaprio em A Origem, sustenta quase toda a parte emotiva e o restante do elenco é responsável por carregar o teor científico que o filme expõe. Era preciso que fosse no mínimo convincente, pois até mesmo as teorias esmiuçadas têm princípios verídicos estabelecidos pela física quântica. 

Interestelar também potencializa alguns temas que antes foram abordados superficialmente nos longas de Nolan. O amor talvez seja o fio condutor de toda a trama e, como um dos personagens desabafa, é capaz de quebrar a barreira do tempo e espaço, gerar fé e a autoconfiança de que o Homem pode realizar grandes coisas quando se devota ao bem.


Infelizmente, existem deslizes que poderiam ter sido facilmente evitados. Como se a situação dos personagens já não fosse crítica e alarmante o bastante, surge um “vilão” dotado com discursos desnecessários e crises de consciência. E tem mais: há um trecho do roteiro que poderia ser alterado ou reescrito com uma solução mais coerente, e isso acaba por comprometer parte do final. No entanto, é possível que seja apenas mais uma artimanha do diretor para semear indagações conflitantes na mente do espectador. 

Com duração de quase três horas, Interestelar tentou homenagear outra grande obra do gênero: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Entretanto, é sensato não comparar ambos, uma vez que é evidente que cada qual tem suas respectivas características e legados distintos. Sem dúvida, é mais um filme marcante para o histórico de Christopher Nolan e para todo cinéfilo que sente prazer pelo desconhecido e que consegue ver as respostas nas entrelinhas. Ou, metaforicamente falando, prefere procurá-las na vastidão do espaço.

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Boyhood - Da Infância à Juventude



Sabe quando dizem para aproveitar o momento? Não sei, mas acho que é ao contrário. Como se o momento nos aproveitasse”.

Nos minutos finais de Boyhood – Da Infância à Juventude, dois personagens chegam à conclusão catártica de que os momentos se aproveitam de nós. Essa sensação perpassa todo o filme de Richard Linklater (Escola do Rock), uma vez que a narrativa é estruturada por tais eventos que marcam o caráter de uma pessoa e que mudam a trajetória de sua vida. 

A ideia é simples e pura: se considerarmos o fato de que somos criaturas históricas, situadas historicamente na sociedade, por que não transmitir essa emoção da maneira mais real possível por meio da arte? Quebrando as barreiras da dúvida e da paixão pela profissão, Linklater elaborou seu último – e mais ousado – projeto cinematográfico; rodar um longa que acompanhe a transição de alguém da infância até o instante de ingressar na faculdade. Neste caso, uma produção que demorou doze anos literais para ficar pronta.


A premissa do roteiro é básica, sem intenções de grandezas. O enredo tem início com Mason (Ellar Coltrane) no ensino fundamental. Logo fica claro qual é o retrato de sua condição: segundo filho de um casal divorciado, subordinado a acompanhar as mudanças pelas quais sua mãe passa. No processo dessa jornada, o garoto vai descobrindo as sutilezas e mazelas que a vida pode proporcionar, desde os interesses por videogame e outros elementos da cultura pop, ao uso do álcool e a incerteza de qual carreira profissional pretenderá seguir. 

Sim, sob um olhar resumido, é um filme que não tem muito a oferecer a quem assiste. Todavia, à medida que a exibição progride, as identificações começam a surgir, pois trata-se de uma obra de documentação histórica, algo que remete um pouco a Forrest Gump. As vicissitudes dos personagens são perceptíveis, pois a fisionomia dos atores também se modifica.


Afinal, o elenco participou das gravações entre 2002 e 2013, brincadeira similar a que Linklater utilizou na sua famosa trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-noite, de modo que fortalece o argumento do projeto e traz o vago sentimento de que, à medida que o tempo passa, a vida que se desenrola ali é de alguém conhecido. 

Durante os doze anos de filmagem, o roteiro passou por diversas alterações para condizer com determinados eventos. Portanto, músicas marcantes e temas como 11 de setembro, eleições presidenciais, Star Wars, Harry Potter, Batman e outros não poderiam passar despercebidos.


Com referências que enaltecem a obra e também pela adoção da veracidade, Boyhood ganha pontos por uma simplicidade capaz de gerar profundas reflexões, igual àquela feita nos minutos finais. Certamente é um filme que não serviu apenas para marcar a carreira de Richard Linklater e tampouco para entreter o espectador por quase 3 horas, mas, sobretudo, para dizer que, se a vida é história, cada vida contém um filme em si. E o resultado não pode ser menos que espetacular.

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Jumanji



O homem da floresta escura, caça em você a criança pura”.

Uma das vantagens de jogar RPG, como a própria tradução anuncia, é a oportunidade que os jogadores têm de interpretar seus personagens, aguçando suas capacidades de imaginação. Embora vários dos participantes desse estilo de jogo levem as regras muito a sério, eles estão guarnecidos com o pretexto de que tudo gira em torno de uma ficção. 

O problema de Jumanji é que o jogador não tem tal opção e cada lance de dados pode gerar resultados decisivos, inusitados e fatais; toda jogada significa que algo sairá do jogo, colocando os participantes em perigo real. No ano de 1969, Alan Parrish e sua amiga Sarah Whittle descobrem isso da pior maneira e o pobre garoto é lançado para dentro de um misterioso tabuleiro que encontrou nos entulhos de uma construção, fadado a ali ficar até que surja outro participante que o salve.


Vinte e seis anos depois, os irmãos Judy (Kirsten Dunst) e Peter vão morar na velha mansão da família Parrish. Ambos acabam encontrando o jogo de nome “Jumanji” e o iniciam, libertando o já adulto Alan (Robin Williams). O infortúnio é que os irmãos começaram a mesma partida que Alan não conseguiu terminar em outrora, e para que todas as coisas que saíram do jogo voltem ao seu local de origem e o equilíbrio seja restaurado, o jogo tem que ser encerrado. 

O filme, baseado na obra de Chris Van Allsburg, foi lançado em 1995 e é considerado um clássico pelo teor aventureiro e os sofisticados efeitos visuais que, para a época, foram somente possíveis graças aos avanços alcançados em Jurassic Park. O clima juvenil e cômico foi bem aproveitado pelo diretor Joe Johnston (Capitão América: O Primeiro Vingador), o qual possui uma aclamada experiência na área pelo também nostálgico Querida, Encolhi as Crianças.


Mas não apenas de aventura vive Jumanji. A temática família, coragem e amizade permeiam o filme, alicerces das variadas emoções que os personagens demonstram nas situações de perigo. Mais um ingrediente a ser acrescentado no sucesso que, ainda na década de 1990, rendeu um desenho animado retratando o mundo que existe dentro do jogo.


Curiosamente, outro longa-metragem chamado Zathura é considerado uma extensão de Jumanji; a diferença é que seu cenário é o espaço sideral. As comparações são inevitáveis, pois a aventura espacial é inspirada em outro livro do mesmo autor. Ainda assim, é preciso de algo maior para dissipar da memória a fantástica história com a qual Jumanji presenteia o espectador e, além disso, é ótimo rever Robin Williams em seus anos dourados. Para os insaciáveis jogadores de imaginação fértil, Jumanji sempre será uma boa inspiração; para o saudoso espectador, serve como o manual de uma boa diversão e a nostálgica sensação de que por mais que a partida termine, sempre haverá alguém disposto a jogar outra vez.

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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Maze Runner - Correr ou Morrer



Você é diferente. Você é curioso”. 

A distopia, atualmente, parece ser a bola da vez no âmbito das ficções-científicas. E como se a coincidência não bastasse, a maioria dos filmes com essa temática são inspirados em obras literárias, sendo Jogos Vorazes o líder da lista. Um futuro pós-apocalíptico, no qual só é possível ver o rastro de luz sob o olhar juvenil, não é apenas um prato cheio para a garotada como também é capaz de despertar a atenção do público mais adulto. 

Maze Runner – Correr ou Morrer é mais um produto de tal filosofia. Baseado na obra de James Dashner, o longa mal tem início e já mostra a que veio: mexer com o emocional do espectador. A primeira cena é a responsável pela apresentação do protagonista Thomas (Dylan O’Brien), que está preso em um elevador e sem memória de quem é ou o que fez antes de entrar ali. 

O fim da subida o leva até à Clareira, local onde, uma vez por mês, por razões desconhecidas, um novo menino é enviado para conviver com o grupo de rapazes que já moram ali há anos. O lugar é cercado pelas enormes paredes de um labirinto que se abre e fecha, respectivamente, no início e final de cada dia. Se alguém ficar preso no labirinto tem poucas chances de sobreviver, pois no interior da construção habitam criaturas medonhas e mortíferas.


Cada pessoa na Clareira tem sua função, e entre eles há os chamados corredores. O objetivo deles é percorrer o labirinto durante todo o dia no intuito de mapeá-lo e encontrar uma saída. Contudo, Thomas é curioso, e não demora que ele questione quem os colocou ali e quem controla o labirinto. Com isso, regras começam a ser quebradas e as consequências acabam se revelando destrutivas. 

O longa é exibido de maneira surpreendente, uma vez que foi dirigido pelo iniciante Wes Ball. O novato não fez feio, entregando uma trama com suspense contido e ação desenfreada; todas as cenas do labirinto são fabulosas e a preparação de elenco trabalhou bem nos momentos em que os corredores precisam escapar das paredes imprevisíveis e claustrofóbicas da monumental construção.


Infelizmente, a produção se preocupou mais com a ação do que com o desenvolvimento de personagens. Teresa (Kaya Scodelario), por exemplo, mal surge e já mergulha na adrenalina do enredo. A relação mais interessante talvez seja entre Thomas e Gally (Will Poulter), a qual remete às figuras de Moisés e Ramsés; este, o eterno relutante; o outro, defensor e guia da liberdade. 

Maze Runner, porém, é o típico filme pensado para se firmar uma franquia, assim como outras produções de temas similares. É provável que, devido a isso, os questionamentos e os mistérios levantados decepcionem um pouco, pois não serão resolvidos aqui e o gancho no final é mais do que explícito. O lado bom, pelo menos, é que a corrida começou bem e, se mantiver o fôlego, não haverá percalços no caminho e tampouco vergonha ao alcançar a linha de chegada. Ainda tem muito chão pela frente.


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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

As Tartarugas Ninja



Santa tartaruga!”.

Em meados da década de 1980, os jovens Kevin Eastman e Peter Laird quebravam a cabeça para criar uma história que fizesse sucesso. Após alguns debates e doses de álcool, a dupla, inspirada por ícones como Frank Miller e HQ’s de X-Men, conseguiram desenvolver um enredo a respeito de tartarugas mutantes adolescentes, as quais eram versadas em artes marciais e viviam na clandestinidade dos esgotos de Nova York. 

As revistas em quadrinhos dos quelônios renderam sucesso, e como a fórmula resultou em lucros além do imaginável, não demorou para o fenômeno ser transportado à TV e ao cinema, confirmando o que muitos já sabiam: o estilo das tartarugas conquistou o público em geral. Com um legado que perpassa três décadas, respeitando a origem e utilizando as referências certas, fica até fácil chamar a atenção do espectador contemporâneo. 

É bastante provável que tenha sido pensando dessa maneira que o produtor Michael Bay (diretor de Transformers), juntamente com o diretor Jonathan Liebesman (Fúria de Titãs 2), decidiu mexer os pauzinhos. E sabendo que muitos jovens se satisfazem com efeitos visuais elaborados e cenas de ação mirabolantes, ambos não pouparam esforços e trouxeram As Tartarugas Ninja ao século XXI.


O roteiro não fugiu do cânone naquilo que se refere à gênese dos quelônios. As tartarugas têm seus sistemas afetados por uma substância mutagênica, esta sendo a responsável pelos traços humanoides que elas adquirem. Exiladas no esgoto, são criadas por mestre Splinter e batizadas com os nomes de quatro grandes artistas do Renascimento: Leonardo, Raphael, Donatello e Michelangelo. 

A cidade está sofrendo com os incansáveis ataques do Clã do Pé, liderados pelo Destruidor, e a repórter April O’Neil (Megan Fox) segue os rastros desse grupo em busca da matéria que vai mudar sua vida, até cruzar com o quarteto mutante. E logo o filme começa a revelar falhas; April conduz o enredo de tal forma que as tartarugas ficam quase em segundo plano. Todo espectador deve concordar que a beleza de Megan Fox é deslumbrante, mas suas aparições algumas vezes são desnecessárias, especialmente no clímax.


O roteiro se perde em sua própria função. Com boas piadas e momentos de drama, os produtores precisam decidir se o público alvo são as crianças ou os adultos, e isso reflete nos personagens; vilões com motivações tão frágeis e opacas quanto os “finais” que lhes foram concebidos. Felizmente, acertaram com sabedoria nos efeitos especiais. Criadas por captura de movimento, a estética das tartarugas está esplendorosa. 

As cenas de ação também merecem elogios, muitas das quais foram feitas exclusivamente para o 3D e cumprem com eficiência a sua finalidade. Em suma, As Tartarugas Ninja é um bom filme para se divertir e passar o tempo. Michael Bay mais uma vez conseguiu engatilhar uma franquia que vai render cachoeiras de dinheiro. No entanto, fica a incógnita, e apenas o futuro dirá se os produtores vão utilizar a mesma esperteza dos criadores e fazer com que o quarteto ninja saia do esgoto e vença as mazelas da sétima arte.

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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Inferno


Os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiverem neutros em tempos de crise moral”. 

O termo “dantesco” é comumente relacionado ao escritor florentino Dante Alighieri porque o mesmo é o autor de uma obra grandiosa e atemporal, na qual um homem (o próprio Dante) precisa atravessar o Inferno, Purgatório e Céu para reencontrar-se com sua amada. O livro, que possui uma narrativa épica com elementos teológicos, tornou-se referência na literatura universal. 

A Divina Comédia de fato é uma obra rica em informações e reflexões, tendo inspirado centenas de artistas. Talvez um dos mais famosos e recentes desses admiradores seja Dan Brown, que em seu livro Inferno utilizou-se da obra de Dante como a bússola para guiar o professor e simbologista Robert Langdon em uma nova jornada. 

Certa noite, Langdon acorda em um hospital em Florença, com um ferimento na cabeça e perda de memória. Sem saber como foi parar ali, ele pede a ajuda da Dra. Sienna Brooks. No entanto, antes que a médica possa fazer qualquer coisa, ambos são atacados por uma assassina cuja missão é matar Langdon. 

Após uma eletrizante fuga, Robert descobre um objeto peculiar dentro do seu paletó. Nele está a pista do que o professor esteve fazendo nas últimas 36 horas; curiosamente, ele foi à Florença para seguir os vestígios que alguém deixou para ele. Evidências que apenas um bom conhecedor de simbologia e leitor fanático da Divina Comédia conseguiria identificar. 

Com o passar do dia, na companhia de Sienna, a trama se desenrola e os dois acabam descobrindo que o responsável por tais pistas não é apenas um homem rico e inteligente, mas também um cientista com a deturpada visão de que, para que a humanidade não fique diante de um iminente evento cataclísmico, bilhões de pessoas precisam morrer. Dessa maneira, é necessário que Robert e Sienna corram contra o tempo antes que um mal desconhecido se alastre pelo mundo. 

Assim como fez em O Código Da Vinci e Anjos e Demônios, Dan Brown constrói a narrativa de Inferno ao redor de um intenso suspense que prende o leitor desde as primeiras páginas. O enredo contém explicações didáticas a respeito de temas relativos à ciência biológica e social, convergindo áreas distintas para um clímax interessante. Além disso, faz um passeio por algumas cidades europeias de um modo tão detalhado e específico, que fica notável a abundante pesquisa que Brown fez para desenvolver a trama. Todavia, vez ou outra a descrição exacerbada torna a leitura cansativa. 

Inferno também é repleto de reviravoltas, diferente do morno Símbolo Perdido, revelando que aquilo que antes parecia não ser tão simples para o professor Langdon agora pode se expandir ao resto do planeta. E como de costume, o livro é considerado um fenômeno e sua versão cinematográfica já está confirmada. Em seu isolamento, Dante criou uma obra que para alguns da época foi considerada transgressiva. Hoje a sua importância e valor são imensuráveis. Destino irônico à parte, o incrível permanece dantesco. 

Busca e encontrarás”.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Guardiões da Galáxia


Eu olho para nós e sabem o que vejo? Perdedores. Mas a vida está nos dando uma chance”.

Durante os créditos finais de Thor – O Mundo Sombrio, é exibida uma cena em que o Colecionador (Benicio Del Toro) recebe um determinado item de procedência duvidosa e valor inestimável. A cena em questão era mais uma evidência do quebra-cabeça que a Marvel está tentando montar e, para os cinéfilos desinformados, faz conexão direta com a trama de Guardiões da Galáxia

Essa talvez seja a aposta mais arriscada que a Marvel já fez para um filme. Além de apresentar ao público uma equipe pouco conhecida, o gasto que a produção teve foi bastante considerável. Era primordial que a aventura arrecadasse bons lucros e que o enredo trouxesse mais graça e conteúdo ao universo que a indústria está construindo. Felizmente, o resultado não revelou apenas um roteiro cativante que exalta a amizade, como também personagens com um potencial de atingir as estrelas. 

No ano de 1988, o jovem Peter Quill (Chris Pratt) é abduzido após a morte de sua mãe. Vinte e seis anos depois, vagando por um planeta inóspito, Quill, que agora se autointitula de “Senhor das Estrelas”, encontra um misterioso orbe e o rouba para que seja vendido posteriormente. O que ele sequer imagina é que tal objeto contém uma Joia do Infinito, um artefato deveras poderoso e cobiçado por uma criatura sedenta por matança e destruição: Ronan, o Acusador.


Ronan, tendo feito um acordo com seu pai, Thanos, precisa do orbe para que seu plano de dizimar civilizações seja concluído. A cabeça de Quill é posta a prêmio e logo ele passa a ser procurado por Gamora (Zoe Saldana), irmã de Ronan, e pelos caçadores de recompensa Rocket, um guaxinim falante (na voz original de Bradley Cooper), e Groot, uma árvore humanoide (na voz de Vin Diesel). 

Após alguns imprevistos, todos acabam indo presos. Na carceragem, conhecem o musculoso Drax e, mesmo com as personalidades distintas, eles percebem que podem unir forças para escapar e também que seus objetivos se cruzam; se quiserem continuar vivos e limpar sua honra, terão de impedir Ronan de alguma maneira.

 
Com direção de James Gunn, Guardiões da Galáxia é um surto de piadas e referências à cultura pop. Parte dessa comicidade deve-se ao talentoso elenco e à maquiagem extremamente colorida, mas a trilha sonora, composta por clássicas canções da década de 1970 e 1980, tem um papel fundamental na história (digna de concorrer ao Oscar); ela concede ao longa momentos de leveza e reflexão, os quais ajudam a delinear o caráter do grupo e o espaço onde interagem. 

Por se tratar de um filme de origem, o roteiro se preocupa mais em estabelecer a relação entre os personagens que compõem a equipe do que em apresentar vilões fortes e tenebrosos, algo que deve mudar na futura continuação. É preciso lembrar, porém, que Guardiões da Galáxia é apenas uma pequena peça do jogo e que seu enredo faz ligação com Os Vingadores 3, portanto, abre as portas para o caminho de Thanos. A Marvel não tem com o que se preocupar; tirou do seu baú um time de pouco prestígio, acertou na escolha, e o elevou a um patamar cósmico. Por enquanto, a galáxia pode dormir mais tranquila.


Trailer:

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Planeta dos Macacos: O Confronto



Eu sempre achei que os macacos eram melhores que os humanos. Agora vejo que são muito parecidos”. 

O líder de um império precisa ser inteligente, ter pulso forte, ser distinto e ao mesmo tempo complacente para com o seu próximo e, sobretudo, saber arquitetar táticas de guerra com destreza e maestria. Essas foram as características que César (Andy Serkis) adquiriu ao longo de Planeta dos Macacos: A Origem, as quais permitiram que ele reunisse forças para combater os humanos opressores e se tornar digno de conquistar o reinado dos primatas. 

Com a chegada de Planeta dos Macacos: O Confronto, a continuação do prelúdio da obra de Pierre Boulle, fica consolidada a eficiência com que César direcionou a sociedade dos símios; agora eles possuem leis, ensinam linguagem aos mais novos, e tiveram avanço no que diz respeito à caça e medicina. Entretanto, infortúnios sempre estão à espreita, e se a história da humanidade revela que impérios caíram por causa de fraquezas internas, com os chimpanzés não poderia ser muito diferente.


Paralelamente ao avanço dos macacos, o enredo também revela o declínio dos humanos. Após os eventos do primeiro filme, um vírus se alastrou pelo mundo e os únicos sobreviventes são aqueles imunes à contaminação. Com o risco de perder energia para sempre, um grupo liderado por Dreyfus (Gary Oldman) vai à busca daquela que pode ser a última alternativa, mas acabam cruzando o caminho de César e, mesmo que o primata almeje a paz, o confronto se desenrola de maneira iminente e irrefreável. 

Há grandes mudanças com relação à produção do antecessor. A diferença começa com a direção; sob a competência de Matt Reeves, que fez fama em Cloverfield, O Confronto ganha nuances mais sombrias e dramáticas e traz consigo questões de teor social. É possível identificar no roteiro relações de poder, conspiração, darwinismo, o retorno do filho pródigo, elementos shakespearianos e talvez os cinéfilos mais atentos consigam ver alguma semelhança com O Rei Leão. O elenco dos humanos, todos novatos, está formidável e demonstra que é uma peça fundamental dentro deste universo.


A esfera técnica também se destaca. É notável que a captura de movimento evoluiu consideravelmente do primeiro filme para cá, e boa parte dessa percepção se deve à belíssima performance de Andy Serkis; o ator, que já atuou como Gollum em O Senhor dos Anéis, reprisa o papel de César atribuindo ao primata expressões tão profundas que é quase impossível o espectador não se compadecer nas situações adversas. 


E se a apoteose de Planeta dos Macacos: A Origem ocorreu na batalha da ponte Golden Gate, aqui também há o sublime rastro de conflitos, porém, a chave reside nas relações de confiança e nos dilemas. Assim como um bom imperador, César prova sabiamente o porquê de merecer este cargo e precisa tomar decisões para a preservação da sua raça e também para a guerra que se aproxima. Pois, de acordo com um dos preceitos símios, macacos juntos são mais fortes. E com certeza não se tem mais dúvidas quanto a isso.

Trailer:

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Dia do Amigo 2



Mais um 20 de julho se aproxima e, como vem acontecendo há alguns anos por aqui, a data não pode passar em branco. Acima está o vídeo de 2014; são poucos minutos, mas o importante é o significado.

Feliz Dia do Amigo!

"O amigo ama sempre e na desgraça ele se torna um irmão" - Provérbios 17:17.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cidades de Papel



Na minha opinião, todo mundo tem seu milagre. Por exemplo, muito provavelmente eu nunca vou ser atingido por um raio, nem ganhar um Prêmio Nobel, nem ter um câncer terminal de ouvido. Mas, se você levar em conta todos os eventos improváveis, é possível que pelo menos um deles vá acontecer a cada um de nós. Eu poderia ter presenciado uma chuva de sapos. Poderia ter me casado com a Rainha da Inglaterra ou sobrevivido meses à deriva no mar. Mas meu milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados da Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman”. 

O norte-americano John Green parece gostar de esquadrinhar os meandros das variadas perspectivas que a juventude pode proporcionar. Em A Culpa é das Estrelas, o mote de Hazel Grace, de certo modo, é a incerteza da vida, o que a compele a traçar um rumo e aproveitar o tempo que lhe foi concebido. Em Cidades de Papel, embora o protagonista não seja portador de câncer, ele também precisa de uma razão que o faça sair da mesmice. 

Quentin Jacobsen é um adolescente que está no último ano do Ensino Médio. Diferente dos melhores amigos, Radar e Ben, ele está pouco se importando com o baile de formatura e recentemente saiu de um relacionamento. Mas ele sente uma paixão platônica por sua vizinha, Margo Roth Spiegelman, desde que ambos tinham dez anos e encontraram um cadáver no parque. 

Inesperadamente, quase nas vésperas do fim das aulas, Margo aparece na janela do quarto de Q e o convida para uma jornada noturna, repleta de planos de vingança e subversão. É durante este passeio nada convencional que Margo explica o termo “cidades de papel”, referindo-se a pessoas vazias, sem caráter e que se rendem facilmente aos padrões sociais. 

Quentin tem a certeza de que essa foi a melhor noite da sua vida e imaginou que sua rotina na escola mudaria consideravelmente. Porém, no dia seguinte, Margo desaparece e desta vez seus pais não fazem ideia da onde ela possa estar. E é aí que Q encontra seu mote: Margo deixou pistas para ele. Sendo assim, o garoto, com a ajuda de seus amigos, segue as pistas na esperança de encontrar sua vizinha antes que ela faça alguma bobagem. 

O realismo, novamente, é o elemento primordial na narrativa de Green. Se em A Culpa é das Estrelas temos a morte como uma ceifadora implacável, cercando o cotidiano dos personagens, aqui temos o olhar ingênuo – e até egocêntrico – de um adolescente a respeito de muitas coisas, em especial na maneira como enxerga as pessoas; esse olhar vai ficando mais maduro à medida que a fase adulta se aproxima e a imagem ideal da sua amada vai se desconstruindo. 

John Green utiliza Cidades de Papel para uma bela lição de moral, em que é preciso despertar para se autoavaliar e descobrir se o material do qual somos feitos é papel ou não. As conclusões que Quentin adquire ao final servem para qualquer faixa etária, pois todos, em algum momento, precisam de um estopim para perceber a importância do outro e sentir que o medo de sofrer é uma característica comum. Os fios se entrelaçam e se rompem, as raízes se aprofundam e morrem, o papel voa e segue na direção que o vento soprar. É o milagre da vida.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

2014.2 vem aí!!!



Sim, 2014 encerra seu primeiro semestre e leva consigo todas as decepções e surpresas causadas pelo mundo do cinema. Com o limiar da chegada do segundo semestre, resta torcer para que bons filmes inebriem o espectador com suas qualidades e conteúdos. Segue abaixo uma lista com alguns trailers dos filmes mais esperadas para 2014.2. Qual será o melhor? Façam suas apostas!


Grande Hotel Budapeste:



Transformers: A Era da Extinção:



Planeta dos Macacos: O Confronto



Guardiões da Galáxia:



As Tartarugas Ninja:



O Doador de Memórias:



Sin City - A Dama Fatal:



Debi & Lóide 2:


Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1:


Interestelar:


Outros filmes que também irão estrear no segundo semestre:

Exodus;
Os Mercenários 3;
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos.

domingo, 22 de junho de 2014

Conta Comigo


"É como se Deus desse algo a você, cara. Todas essas histórias que você pode inventar... Ele disse: 'Isso é o que eu tenho para você. Tente não perder'. Crianças perdem tudo a menos que exista alguém que olhe por elas".

Em 2011, Steven Spielberg, em parceria com J. J. Abrams, lançou nos cinemas o filme Super 8, no qual tentaram resgatar alguns aspectos do gênero infanto-juvenil que arrebatou grande sucesso nas décadas de 1980 e 1990. Além de o objetivo ter sido alcançado com êxito, entregando ao público uma película incrível, elementos de suspense e ficção científica ajudaram a compor a trama.

Assistindo a Conta Comigo, longa-metragem de 1986, fica fácil de ver os alicerces em que Super 8 se apoiou, o que demonstra não apenas uma sábia decisão de Spielberg e Abrams, como também ajudou a relembrar que a qualidade de um clássico pode permanecer intacta por quase 30 anos, elucidando sua importância para as gerações futuras.
   

Ambientado no verão de 1959, o enredo discorre a respeito de um evento que marcou a vida de Gordie Lachance (Wil Wheaton) e seus amigos Chris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O’Connell). O quarteto vive em uma pequena cidade estadunidense chamada Castle Rock, onde há mais de três dias um garoto chamado Ray Brower desapareceu. O grupo descobre que o menino morreu e todos decidem traçar uma jornada parar encontrar o corpo.

Embora a história seja aparentemente simples e fraca, é na aventura do quarteto que o espectador reconhece a profundidade dos personagens. De início, o plano é encontrar o cadáver, levá-lo de volta à cidade e ganhar todo o prestígio que esse ato de heroísmo pode acarretar, mas à medida que avançam por meio da mata e da linha do trem, cada qual se vê diante de sua dura realidade; famílias dilaceradas pelo sofrimento e a falta de boas perspectivas para o futuro revelam o lado obscuro e dramático da obra.


Dirigido por Rob Reiner, o filme é inspirado em um conto chamado “O Corpo”, de Stephen King, e concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. O título original, Stand By Me, é o mesmo de uma canção de Ben E. King, a qual toca nos créditos finais e aparece suavemente em momentos-chave, colaborando com a ideia de saudosismo e amizade que se perpetua por quase toda exibição.

Com cenas memoráveis (a tentativa de escapar do trem, as sanguessugas no rio) e diálogos comoventes, não é de se admirar que alguns diretores ainda queiram produzir filmes que se equiparem a Conta Comigo, em que a coragem de crianças é posta à prova e suas responsabilidades ficam mais acentuadas do que a de adultos inertes e relapsos. Felizmente, Super 8 conseguiu, e resta agora esperar outras obras similares darem o ar da graça. Afinal, boas referências não faltam.



Às vezes acontece. Amigos entram e saem da nossa vida”.

Trailer: