sábado, 30 de maio de 2015

E após cinco anos, fez-se a indagação



“A arte existe porque a vida não basta”, foi o que falou o poeta brasileiro Ferreira Gullar, quando questionado a respeito de suas atividades poéticas. Do outro lado do Atlântico, o filósofo alemão Nietzsche disse certa vez que a arte deve embelezar a vida e, por conseguinte, ela existe para que a cruel realidade não nos destrua. De modo curioso, embora sejam de culturas distintas, ambos conceituaram muito bem algo que salva (e continua salvando) nossas vidas.

A habilidade de parar para apreciar um objeto artístico e cultural, seja sua essência complexa ou simplória, reacionária ou livre de qualquer barreira, é uma maneira de escapar das misérias que afligem a sociedade e, inevitavelmente, nosso cotidiano. Há quatro anos, quando criei o Menino das Letras, não imaginei que o meu produto fosse chegar tão longe, e tampouco a este nível. – Fragmento da postagem do quarto aniversário do Menino das Letras, há um ano.

Não vou mentir: normalidade nunca foi bem o meu forte. Inclusive, é uma audácia que essa palavra exista em meu vocabulário. Não se pode esperar previsibilidade e estabilidade de um indivíduo que mergulha nas palavras, viaja por outras dimensões e permite que narrativas permeiem seu corpo como a manteiga que reveste o pão. Sim, palavras são a minha armadura.

Não é uma falha ser incomum. Ver além do limite, sentir aquilo que muitas vezes parece insípido, ouvir sons no silêncio inconsolável são características que não deveriam ser taxadas como anomalias. Pelo contrário: é um privilégio estar fora do círculo da normalidade. Talvez uma das evidências mais claras que eu tenho para corroborar minhas atividades incomuns seja o Menino das Letras.

Este mês o Menino das Letras completa 5 anos e ainda me parece um recém-nascido que não consegue andar sozinho. Meia década, como o tempo passa! O que era um passatempo tornou-se um compromisso, e o blogue sobreviveu apesar de alguns trancos e barrancos. Viver a arte e escrever a respeito da mesma me fez enxergar outras pessoas iguais a mim, pois o blogue, mesmo que sempre tenha sido pequeno e possuído um alcance limitado, ganhou alguns leitores fiéis. E se você está lendo isso, não tenha vergonha de admitir: você gosta disso também. Gosta da sensação de conhecer a sétima arte, de descobrir livros desconhecidos, de relembrar clássicos que marcaram tempos de outrora.

214 postagens e mais de 63 mil acessos. Se o Menino das Letras ainda respira, é graças a cada pessoa que dedica um minuto que seja para ler a atualização da semana, para conhecer um pouco mais da obra analisada, ou simplesmente por que não tinha nada melhor para fazer e encontrou esse blogue aparentemente interessante. Você dá fôlego a esta página. Eu sou apenas o mensageiro.

Não posso fazer promessas, é algo que aprendi. Não posso prometer que o Menino das Letras vai resistir ao tempo e, quem sabe, chegar ao seu décimo aniversário. Não posso simplesmente ir contra o rumo natural das coisas; novas prioridades sempre vão surgir. Quanto tempo vai durar? Não sei... A única coisa da qual tenho certeza é de que a viagem continuará sendo prazerosa até chegar ao seu ponto de encerramento. E espero que você, tão incomum quanto eu, continue ao meu lado nessa imprevisível jornada.


Vamos comemorar?

sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Silêncio dos Inocentes


Bom, Clarice, as ovelhas pararam de gritar?”.

O gênero suspense tem muito a agradecer aos anos em que Alfred Hitchcock consolidou sua assinatura cinematográfica e ao período no qual Stanley Kubrick alavancou seu nome. Isso somente para citar dois grandes diretores, quando na verdade o legado é vasto e a lista de referências não caberia em uma simplória análise.

O cinéfilo cujo gosto pessoal costuma frequentemente pender para este gênero deve ter cravado em sua mente diversos nomes de personagens fictícios que, de certo modo, deixaram impressões imutáveis nas entranhas que constituem a sétima arte. E quando a temática envolve sangue e canibalismo, as façanhas do ilustre doutor Hannibal Lecter são dificilmente esquecidas.


O notável personagem nasceu nas páginas das obras escritas por Thomas Harris, o qual iniciou sua série com o livro Dragão Vermelho, lançado em 1981. Mas foi com a adaptação para o cinema de O Silêncio dos Inocentes, em 1991, que Hannibal ganhou vida e grande prestígio no magnífico desempenho de Anthony Hopkins.  


O enredo é focado na estagiária Clarice Starling (Jodie Foster), cujo sonho é se tornar uma agente especial do FBI. Seu superior, na intenção de testar suas habilidades, a insere em uma investigação policial. Clarice precisa traçar o perfil psicológico de um serial killer, conhecido como Buffalo Bill, que sequestra mulheres e arranca parte de suas peles.


Entretanto, para conhecer a mente de um psicopata é preciso ter a ajuda daquele que foi o maior de todos. Sob o consentimento do FBI, Clarice passa a consultar o Dr. Hannibal Lecter, que já está preso há mais de oito anos. A interação entre ambos é o ponto forte do roteiro, ilustrando o conflito da novata com o experiente. Porém, é a postura que Hopkins dá ao personagem que prende a atenção do espectador; o caráter de Lecter é tão animalesco quanto o de um predador; no jeito de olhar frio e calculista, na maneira como seu olfato é aguçado, no modo como seu raciocínio é rápido, perspicaz e fatal. De fato, quando os dois estão cara a cara, a tensão é semelhante à de uma ovelha esperando ser devorada pelo lobo.


Dirigido por Jonathan Demme, O Silêncio dos Inocentes foi um marco para sua época. Foi o terceiro filme da história do cinema a vencer todas as categorias principais do Oscar (Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz, Roteiro Adaptado) e é considerado por muitos o melhor filme de terror/suspense depois de O Exorcista. Grande parte do mérito deve-se a brilhante direção de Demme, juntamente com o talentoso elenco e a lânguida trilha sonora; a mania que o diretor tem de focar no rosto dos atores aumenta a tensão e apenas melhora a qualidade estética da película e, somada ao som, que sobe de volume em momentos-chave, faz com que o resultado final seja sublime e irretocável.


O Silêncio dos Inocentes certamente não deve ser excluído da lista das melhores referências do gênero suspense (Apenas o olhar de Anthony Hopkins já é o suficiente para proporcionar pesadelos) e foi o responsável por elevar o status de Hannibal Lecter, que possui mais três filmes e um seriado de TV. Ao que parece, a herança do suspense ficcional ainda tem muita riqueza e, principalmente, o poder de causar calafrios.  


Trailer: