sexta-feira, 24 de julho de 2015

Homem-Formiga


Essa é a sua chance de merecer aquele olhar da sua filha. De se tornar o herói que ela já pensa que você é”.

Desde que iniciou sua Fase 1, lá em meados de 2008, um dos objetivos da Marvel era trazer aos holofotes alguns personagens que nos quadrinhos não eram tão queridos pelo grande público. O exemplo disso é que, no mesmo ano, lançou o primeiro Homem de Ferro, herói que nas páginas passou por eras sombrias, incluindo um período de alcoolismo.

Parte dessa estratégia se deve ao fato da empresa não ter sob seu domínio os direitos autorais cinematográficos de todos os seus personagens, consequência da sua quase falência nos anos 90. Isso explica porque as equipes dos X-Men e Quarteto Fantástico não estão disponíveis para entrar nos Vingadores; ambas pertencem a Fox. O Homem-Aranha, o garoto-propaganda da Marvel, tinha, até pouco tempo, seus direitos ligados à Sony, mas depois de um contrato milionário, para a alegria dos fãs, o Cabeça de Teia poderá ser visto ao lado de Capitão América e Cia a partir de 2016.  


Sendo o seu leque de opções limitado, a empresa continuou arriscando em lançar heróis desconhecidos e, em 2014, fez uma aposta certeira com Guardiões da Galáxia. Os riscos não param por aqui (Ainda vem Doutor Estranho, Pantera Negra, mais um reboot do Aranha) e permanecem com o recente Homem-Formiga, filme que passou anos no papel e é o ponto final da Fase 2 nos cinemas.  


No final da década de 1980, o cientista Hank Pym (Michael Douglas) decide se demitir da SHIELD ao descobrir que algumas pessoas da companhia querem usar sua tecnologia de diminuição para ações duvidosas. Ele cria sua própria empresa e encontra um jovem aprendiz, Darren Cross. Mas o pupilo torna-se ganancioso e, após conhecer o projeto Homem-Formiga criado por seu antigo mestre, desenvolve o Jaqueta Amarela, um soldado do tamanho de um inseto com potencial de vencer guerras e render civilizações inteiras.

Hank percebe que deve impedir os planos de Cross e com a ajuda de sua filha, Hope (Evangeline Lilly), recruta Scott Lang (Paul Rudd), ex-ladrão que acabou de sair da cadeia. Lang precisa de um ofício e também ser um exemplo de herói para sua filha, motivos que o levam a vestir a armadura e se tornar o novo Homem-Formiga.

No universo das HQ’s, o Homem-Formiga é tão importante quanto o Homem-Aranha e foi um dos fundadores da primeira formação dos Vingadores. Ele consegue se comunicar com variados tipos de formiga e as torna suas aliadas. Quando diminuto, tem força sobre-humana. Esses atributos são mostrados no filme com bastante eficácia, garantindo um ótimo espetáculo visual. 


O problema se encontra na relação entre os personagens. Um dos cernes do roteiro é a conexão entre pai e filha, algo que parece não trazer muita profundidade da parte de Hank e Hope, e inclusive na interação entre mentor e pupilo. Fica a impressão de que faltam alguns detalhes a serem ditos, que mais emoções poderiam ter sido colocadas, e esse pode ser um reflexo da saída do primeiro diretor, Edgar Wright. Assim que o novo diretor, Peyton Reed, foi contratado, algumas partes do enredo foram reescritas.

Felizmente, a ação supera as falhas e cada cena que Scott está pequenino remete a uma nostálgica viagem à Querida, Encolhi as Crianças. A comicidade fica por conta de Michel Peña (muito bom), a trama ficou mais sólida e coesa ao introduzir elementos dos Vingadores e as cenas pós-crédito revelam que vêm coisas interessantes por aí.


Sendo assim, o propósito de Homem-Formiga é acrescentar mais um herói ao universo cinematográfico da Marvel, colocando-o no futuro ao lado de grandes personagens como Hulk e Homem de Ferro. Nada mais além disso. Sem muitas pretensões, sem muita grandiosidade. Apenas mais uma aposta da Marvel, a qual raramente erra, e a promessa de um novo personagem para entrar no coração do público.  

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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Kingsman: Serviço Secreto


A conduta faz o homem”.

Em 2010, o diretor Matthew Vaughn chamou a atenção com o brilhante Kick-Ass, pelo modo irônico e inusitado com o qual abordou uma temática heroica/realista com pinceladas de sangue. Quase no estilo Tarantino, pode-se dizer. E como o sucesso é um osso difícil de largar, é quase óbvio que a fórmula seja repetida, ou, como é o caso de Kingsman: Serviço Secreto, aperfeiçoada.

Eggsy (Taron Egerton) é um típico jovem rebelde que perdeu todas as oportunidades que a vida concedeu. Após ser preso por mais um ato de vandalismo, ele é solto por Harry (Colin Firth), velho amigo de seu pai e que tem uma dívida a pagar. Harry lhe oferece uma vaga na Kingsman, uma secreta organização internacional de espionagem, e uma loja de alfaiates para o resto do mundo.


Na Kingsman, Eggsy e um grupo de recrutas tornam-se rivais para competir por uma vaga na organização. Enquanto passam pelos testes mais inesperados e mirabolantes, o empresário e verdadeiro prodígio da tecnologia, Richmond Valentine (Samuel L. Jackson), elabora um plano para elevar a humanidade a um novo status, sem se preocupar com o número de vítimas que serão necessárias para a conclusão de seu projeto.  


O roteiro de Kingsman segue a premissa básica da jornada do herói, apresentando um jovem sem perspectiva e o guiando ao caminho das virtudes, das condutas e das regras. O fato dos personagens possuírem nomes de guerra que remetem à mitologia do Rei Arthur (Merlim, vivido por Mark Strong, por exemplo) fortalece a ideia de que, por ser uma história de origem, metade do enredo se preocupa com o aprendizado de Eggsy e foca na sua transição de delinquente para espião, assim como, na versão fabulesca, o jovem Arthur teve que retirar a espada da rocha.


Tal característica, que por muitos pode ser vista como clichê, poderia ser o ponto fraco de Kingsman. Porém, sendo Vaugh mestre da ironia e o filme uma adaptação de uma HQ de Mark Millar, a tradição é a menor das ameaças e inclusive ajuda a tornar a obra mais encantadora. No entanto, o maior trunfo do longa é a quantidade de referências e, especialmente, a capacidade de satirizar a si mesmo e também outros filmes do gênero.  


O vilão construído por Samuel L. Jackson tem a língua presa, veste-se como um adolescente e tem uma ajudante com lâminas no lugar de pernas. Em uma conversa com o personagem Harry durante um jantar, Valentine afirma que gostava de ver filmes de espião quando criança, enquanto Harry refuta que os filmes eram tão bons quanto os seus vilões. O pequeno diálogo reflete a dualidade de Kingsman, sempre pendendo entre a comicidade e a tragédia. Um destaque especial para a cena da igreja, onde ocorre uma das maiores carnificinas cinematográficas dos últimos anos e que certamente vai entrar na lista das cenas de ação mais desembestadas da História.

Apesar da ironia e bom humor, Kingsman: Serviço Secreto defende bem o gênero da ação/aventura e tem tudo para entrar no cânone da espionagem do século XXI. Matthew Vaughn uniu o que funcionou tão bem em Kick-Ass e no seu predecessor X-Men: Primeira Classe que é bastante possível que os cavalheiros espiões retornem para novas missões. James Bond que se cuide.



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