sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Mundo de Sofia


Sofia achou a filosofia particularmente excitante, pois ela conseguia acompanhar todas as reflexões com sua própria razão, isto é, sem precisar se lembrar de tudo o que tinha aprendido na escola. E chegou à conclusão de que, basicamente, não se pode aprender filosofia. O que se pode aprender é a pensar filosoficamente”. 

Há talvez quem discorde desta assertiva, mas acho que o indivíduo que possui um caráter leitor bem fundamentado provavelmente já deve ter acreditado, assim como eu, que existe um tempo certo para se ler determinados livros. É algo que depende tanto do contexto em que a pessoa está situada quanto do aprendizado que foi adquirido no decorrer dos anos, e não há limites para a idade.

O fato é que nem todo o livro que temos a curiosidade de ler pode estar a nossa mercê no momento que queremos. Não é assim que funciona o comércio da leitura. A questão é que O Mundo de Sofia me perseguiu por muito tempo e foi somente depois de várias aulas de filosofia, e uma graduação inteira, que finalmente consegui pôr as mãos nesta tão famosa e consagrada obra. 

Jostein Gaarder, escritor norueguês, consegue implantar o mistério desde o início de sua narrativa. Sofia Amundsen é uma menina de 14 anos que, nas vésperas do décimo quinto aniversário, começa a receber cartas intrigantes. As epístolas, inicialmente, contêm perguntas curiosas, como, por exemplo, ‘Quem é você?’ e ‘De onde vem o mundo?’. 

Essas simples indagações são o prefácio para as reflexões de Sofia e, consequentemente, para sua jornada filosófica, uma vez que, logo em seguida, as cartas se transformam em aulas e passam a vir assinadas por Alberto Knox, o qual se apresenta como o seu professor de filosofia. A cada capítulo que passa, a menina assimila um novo conteúdo do vasto mundo filosófico, desde o Jardim do Éden, passando pelos pré-socráticos – e também algumas escolas como o Barroco e Romantismo –, e culminando nos estudos cósmicos, incluindo na implosão do universo. 

Contudo, se o enredo se resumisse apenas a isto, a obra de Jostein seria somente um manual de filosofia, tornando a história completamente enfadonha em um quadro geral. O que alimenta o leitor, porém, são os mistérios paralelos. Na medida em que conhece mais da filosofia, Sofia também vai recebendo cartões-postais do Líbano de um major desconhecido, endereçados a outra garota chamada Hilde Knag. Diante de um enorme quebra-cabeça, cabe a Sofia unir as peças e descobrir qual a relação do seu curso de filosofia com esse major e, sobretudo, qual o papel da enigmática Hilde. 

É possível que Jostein, em uma manobra literária bastante corajosa, prenda o leitor mais pela curiosidade de querer ver esses mistérios resolvidos do que pela vontade de aprender filosofia. A quantidade de informação é tão alta e densa, que é recomendável parar e respirar várias vezes durante a leitura. Entretanto, alguns elementos que são acrescentados à narrativa, como o fato de Sofia conversar pessoalmente com Platão na Grécia Antiga, ver de perto famosos personagens de desenhos e contos, e ainda todo o arco metalinguístico que se revela de uma maneira profundamente inimaginável, servem para amenizar e salvar o livro. 

A obra foi publicada em 1991 e ganhou uma versão cinematográfica norueguesa em 1999. Em O Mundo de Sofia, o leitor acompanha o olhar de uma menina, a qual tenta compreender um mundo repleto de injustiças, crenças e ensinamentos, mesmo que para isso seja necessário quebrar as leis da razão. Ao final do curso, fica a vontade de ser um pouco igual a ela. E embora o meu encontro com a obra tenha demorado a acontecer, acredito que veio no momento certo. Foi um prazer, Sofia.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dia do Amigo



O Brasil adotou a data 20 de julho como o Dia do Amigo. Assim como foi feito ano passado, o Menino das Letras festejou por meio de um vídeo, o qual pode ser visto acima. 

Porém, talvez poucas pessoas saibam que o Dia Internacional da Amizade é celebrado em 30 de julho, ato instituído pelas Nações Unidas. Dessa maneira, se você por acaso esqueceu de parabenizar um amigo e agradecê-lo por cada gesto cordial, não se preocupe; ainda há tempo até que 30 de julho chegue. 

Não perca tempo!

Música do vídeo: Rookmaaker. 
Banda: Palavrantiga.

sábado, 13 de julho de 2013

O Homem de Aço




Você dará às pessoas da Terra um ideal pelo qual lutar. Elas seguirão você. Elas vão tropeçar, vão cair. Mas com o tempo, elas se juntarão a você no Sol. Com o tempo, você irá ajudá-las a realizar maravilhas”. 

Pode até parecer loucura ou piada, mas uma das características que me chamam mais a atenção no Super-Homem não são seus poderes fantásticos e habilidades sobre-humanas. Não que sejam atributos secundários; pelo contrário, tais peculiaridades são os propulsores que me levam a enxergar algo maior: a capacidade de levar fé e esperança às pessoas, mesmo quando tudo possa estar perdido.

E O Homem de Aço, o novo longa e também o reboot da jornada do herói kryptoniano nos cinemas, não decepciona neste quesito, resgatando, inclusive, os conceitos básicos que ajudaram a compor o personagem nos quadrinhos: o Antigo e o Novo Testamento. Este último estando mais em evidência, especialmente no que diz respeito aos quatro evangelhos (a cena em que Clark dialoga com um padre soa quase como uma parábola).

 

E é nesta atmosfera de questões teológicas, filosóficas e sociais que se constitui o roteiro de David Goyer (mesmo roteirista de Batman Begins), e suas abordagens estão presentes do princípio ao fim da exibição. Sob a direção de Zack Snyder (diretor de 300 e Watchmen) e produção de ninguém menos que Christopher Nolan (diretor da trilogia Batman - O Cavaleiro das Trevas), o Homem de Aço chega como uma obra que talvez mude a maneira de ver os heróis no âmbito cinematográfico. 

O enredo tem início com algo jamais feito antes. No prólogo conhecemos Krypton, sua cultura, costumes e tecnologia, assim também como Jor-El (Russel Crowe), cientista que tenta a todo custo retardar a destruição do planeta que habita. Em um ardiloso golpe de Estado, o General Zod (Michael Shannon) começa seu plano para tomar o poder governamental de Krypton, fato este que, aparentemente, serve como mote para as atrocidades do personagem. A história já é conhecida: o planeta é sucumbido e o último filho de Krypton é enviado à Terra.


Clark (Henry Cavill) é educado por Martha (Diane Lane) e Jonathan Kent (Kevin Costner), e é por meio de flash backs e uma narrativa não linear que o espectador vislumbra um pouco da infância conturbada de uma criança que não consegue entender por qual motivo é tão diferente. O menino cresce e passa a vagar por um caminho de incertezas – um estranho no ninho – até encontrar vestígios de sua origem extraterrestre, conhecer sua linhagem e se preparar para assumir sua identidade messiânica. 

Outros elementos e personagens do cânone estão aqui também; Lex Luthor não aparece, mas sua existência é perceptível. Lois Lane (Amy Adams), a qual não poderia deixar de faltar, serve bem no papel de repórter investigativa. No entanto, sua função nas cenas de ação se resume apenas ao intuito de Superman se esforçar para salvá-la. A trilha sonora não faz referência ao clássico consagrado por John Williams, porém Hans Zimmer se empenhou e, embora não seja o melhor trabalho que ele já fez, a melodia de sua composição é capaz de reverberar por horas incontáveis.


É provável que este seja o filme mais peculiar de Zack Snyder. O diretor, conhecido pela sua estética visual, aprimorou os efeitos que utilizou em Sucker Punch – Mundo Surreal e parece não ter poupado gastos aqui. Pelas cenas de luta e a destruição de proporções colossais, o orçamento deve ter pesado no bolso da Warner Bros. Snyder também optou por uma câmera mais veloz e trêmula, de modo que fica difícil piscar ou olhar para o lado nas cenas em que Kal-El luta contra os invasores kryptonianos, pois cada detalhe é valioso. 

Sendo assim, esse fato, tal qual alguns flash backs (os quais foram tão bem utilizados no primeiro Batman de Nolan), pode tornar cansativa, confusa e um pouco maçante a interpretação de alguns espectadores. É preciso lembrar, todavia, que a premissa básica do salvador, de um homem como símbolo de fé e esperança, foi preservada, apesar de todo o espetáculo visual que o filme oferece. O Homem de Aço apresenta princípios simples como ferramentas essênciais para se compreender os objetivos e a missão de um indivíduo. Requisitos que, quando bem conservados, podem fortalecer a crença de que toda falha e iniquidade têm a chance de encontrar salvação. 




Só tem que decidir que tipo de homem será quando crescer, Clark. E seja quem for esse homem, sendo seu caráter bom ou mal, ele vai mudar o mundo”.


Trailer: