sábado, 25 de abril de 2015

Vingadores: Era de Ultron


Não importa quem vença ou perca, problemas sempre irão aparecer”.

A essa altura do campeonato, o cinéfilo já deve estar acostumado com o Universo Cinematográfico da Marvel. Com pelo menos dois filmes lançados por ano, a empresa vem construindo um legado que agrada aos fãs e à indústria do entretenimento, estabelecendo personagens que acabam tornando-se comuns no cotidiano devido aos vários enredos desenvolvidos.

Em sua fase 1, tudo era novidade e ter o cuidado para não pisar em ovos era essencial. O resultado foi que, em 2012, com a estreia de Os Vingadores, a Marvel conseguiu unir seus heróis em uma aventura de encher os olhos, e o primeiro longa da equipe entrou para o hall das maiores bilheterias da história do cinema.


Com a fase 2 chegando ao fim, é necessário que o grupo heroico se reúna mais uma vez, pois tudo faz parte de um quebra-cabeça engenhoso e a tendência é que as ameaças fiquem cada vez maiores. É neste clima que estreia Vingadores: Era de Ultron, novamente dirigido por Joss Wheadon


A trama gira em torno do desejo que Tony Stark (Robert Downey Jr.) tem de construir uma armadura robótica, movida à inteligência artificial, que seja capaz de proteger todo o planeta contra possíveis ataques extraterrestres. A ideia é aprovada e compartilhada com o cientista Bruce Banner (Mark Ruffalo), e assim o projeto Ultron entra em ação.

Quando a ciência resolve fuçar em assuntos que não entende perfeitamente, os resultados são imprevisíveis. Parte da composição de Ultron é estabelecida pela pedra contida no cetro de Loki, e uma vez que o robô tem acesso à internet e possui seu próprio raciocínio, ele logo chega à conclusão que de fato precisa manter a paz... Extinguindo a raça humana.


Cabe aos Vingadores deter este novo inimigo antes que o mundo entre em um colapso apocalíptico. Ultron, na voz original de James Spader, é uma mistura do mostro Frankenstein com o boneco Pinóquio; por um lado, não quer ser comparado a Tony Stark e a nenhum outro vingador; em contrapartida, tem a ambição de ser um homo sapiens mais evoluído, com tecido e carne, e inclusive cantarola a música do menino de madeira em alguns momentos. 


Joss Wheadon, que já confirmou que não irá dirigir o terceiro filme, entregou aqui uma obra prima grandiosa. As cenas de ação são enormes e diversas, e em cada uma o diretor soube mostrar o quanto evoluiu desde a primeira aventura dos heróis (Destaque para a cena inicial, a luta da Hulkbuster e o clímax). A produção também aumentou a escala de locações de filmagens, tendo em vista que passou por vários países, transmitindo a preocupação da ameaça global. Se a ação é abundante, o roteiro também está de parabéns, focando no lado pessoal; no primeiro Vingadores havia a necessidade de unir o time, agora existe a questão de até que ponto eles podem ficar juntos e se realmente são qualificados para proteger o mundo.

O enredo soube dar mais importância a personagens pequenos, como Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), e aprofundou a relação de Hulk com a Viúva Negra (Scarlett Johansson). Também há espaço para introduzir Mercúrio (Aaron Johnson), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), e as características de liderança de Capitão América (Chris Evans) continuam em evidência. Já Thor (Chris Hemsworth), aqui com uma função peculiar (Joias do Infinito, aí vamos nós!), terá a responsabilidade de expandir o núcleo cósmico e provavelmente o espectador saberá mais coisas a respeito de Thanos.  


Vingadores: Era de Ultron poderia ter sido mais sério e sombrio, ou até mesmo ter mais equilíbrio entre a calmaria e a ação frenética, mas conseguiu manter a qualidade que a Marvel vem se esforçando em fundamentar e, como é de costume, preparou terreno para os futuros projetos: Capitão América: Guerra Civil, Thor 3 e, principalmente, a Guerra do Infinito. Era de Ultron é fantástico, envolvente, e apenas mais uma peça do jogo de xadrez, mostrando de novo que esses heróis, cada vez mais íntimos dos cinéfilos, ainda têm muitas batalhas épicas para travar.       


Trailer:

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Moonrise Kingdom


Sam: Por que está sempre com um binóculo?
Suzy: Me ajuda a ver as coisas mais de perto, mesmo não estando tão distantes. Imagino que é meu poder mágico.
Sam: Isso soa como poesia. Poemas nem sempre rimam. Eles precisam apenas ser criativos.

Uma das maiores vantagens de se apreciar filmes é quando o espectador consegue identificar a assinatura de um diretor e se afeiçoar com suas obras. Todo cinéfilo já deve ter percebido que diretores como Stanley Kubrick, Quentin Tarantino, David Fincher e Martin Scorsese atribuíram e atribuem sutis características às suas películas que os fãs já aguardam antes mesmo da exibição começar. 

Wes Anderson é o tipo de diretor que se destaca por seus simples e profundos roteiros, além do seu excêntrico e distinto modo de filmagem. Seus filmes são costumeiramente elogiados e o seu mais recente trabalho, Grande Hotel Budapeste, recebeu nove indicações ao Oscar. No entanto, antes deste consagrado projeto, Wes já havia conquistado o público com Moonrise Kingdom.


Ambientado em 1965, o enredo se passa na ilha de New Penzance. Basicamente, a trama gira em torno de Suzy Bishop (Kara Hayward) e Sam Shakusky (Jared Gilman); a menina é uma adolescente aparentemente problemática e incompreendida pelos pais, Bill Murray e Frances McDormand; o menino é órfão e escoteiro da região. Ambos se conhecem nos bastidores de uma peça teatral e, após uma frequente troca de correspondências, logo percebem o quanto são semelhantes e iniciam a elaboração de um plano de fuga.


O restante do elenco favorece ainda mais o filme, cada um com sua respectiva função e carga dramática.  O Capitão Sharp (Bruce Willis em ótimo desempenho), ao lado do líder dos escoteiros (Edward Norton), é o responsável por comandar a missão de resgate da dupla desaparecida.


Mas não é somente da busca pelo casal de adolescentes que se resume Moonrise Kingdom. À medida que a projeção progride, ficam evidentes as falhas e as peculiaridades dos personagens adultos, revelando problemas de adultério, displicência, insatisfação e solidão. Tudo isso, é claro, exposta da maneira leve e cômica de Anderson. 


Tais elementos melancólicos entram em conflito com o núcleo infantil e, surpreendentemente, causam um resultado sincrônico. Se há nos adultos uma ausência de esperança, é exatamente isso que os distingue de Sam e Suzy. Os dois, embora tenham cicatrizes causadas pelo abandono, conseguem encontrar um propósito que pode sobrepor as dificuldades do passado: a sincera, doce e pura capacidade de amar.    

Moonrise Kingdom seria, portanto, uma fábula de duas crianças que descobrem o amor, e a produção técnica corrobora com esta ideia. A fotografia e os planos de câmera trazem um teor de nostalgia e encantamento, e a trilha sonora de Alexandre Desplat causa uma estupenda catarse nos momentos de aventura. Infelizmente (ou não), é preciso ter uma visão mais aprofundada e sensível para aprender a apreciar Wes Anderson do jeito que se deve. Abençoados sejam os diretores que entendem o cinema não apenas como uma indústria de entretenimento, mas, sobretudo, como uma ferramenta de criar afetos entre a plateia e o produto, e afortunados são os que se deixam viajar por aquilo que os olhos sentem. 

Suzy: Seus pais adotivos ainda estão com raiva de você, por se meter em tanta confusão?
Sam: Acho que não. Estamos começando a nos conhecer melhor. Sinto que estou em uma família de verdade. Não como a sua, mas parecida.
Suzy: Eu gostaria de ser uma órfã. Todas as minhas personagens favoritas são. Acho as suas vidas mais especiais.
Sam: Eu amo você, mas não sabe o que está dizendo.

Suzy: Também amo você. 


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