sexta-feira, 28 de março de 2014

Carrie - A Estranha


Você só pode pressionar alguém até certo ponto... antes de quebrar”.

Na era do bullying, é quase natural que produções de teor juvenil utilizem-se desse tema de maneira didática com o objetivo de denunciar abusos sociais, por mais ínfimos que sejam. Este conceito é explorado em Carrie – A Estranha, e ainda deixa nas entrelinhas a lição de que não se deve cutucar a onça com vara curta. 

Remake do clássico de 1976 dirigido por Brian De Palma, esta é a terceira adaptação cinematográfica do primeiro romance de Stephen King. Desta vez com direção de Kimberly Peirce (de Meninos Não Choram), o filme preserva o cerne da obra original com o acréscimo das tecnologias atuais. 

Carrie White (Chloë Grace Moretz) é uma adolescente tímida e excluída da turma por ser um pouco esquisita. Essa estranheza é um legado passado pela educação que sua mãe Margaret (Julianne Moore), uma religiosa fervorosa e doentia, lhe concedeu. No final de uma aula de Educação Física, Carrie tem sua primeira menstruação. Com medo e apavorada por não entender o que está acontecendo com seu corpo, a garota torna-se motivo de piada em toda escola. 


O que Carrie não poderia suspeitar é que, depois desse episódio traumático, ela adquire habilidades telecinéticas. Logo o interesse em descobrir mais do poder de mover coisas com a mente é o que a impulsiona a seguir em frente, até receber um convite para ir ao baile de formatura. 

Por ser um enredo baseado em uma obra de Stephen King, um dos mais consagrados escritores de suspense e horror, é de se esperar que a produção do filme tenha um apelo mais sombrio. No entanto, a ausência do elemento tétrico é perceptível desde a atuação à trilha sonora, o que infelizmente enfraquece a trama; a atuação da Chloë, com seu rosto lindo e limpo, não convence tanto quanto a de Julianne Moore, que alcança um grau mais próximo do bizarro. 


O clima ensolarado e juvenil também parece desfavorecer a película, a qual ganha o seu merecido simbolismo sangrento na cena do baile. Infelizmente, não há muito que dizer do clímax; por ser um filme de baixo orçamento, a destruição que Carrie causa deixa um pouco a desejar. Uma pena, pois teria sido bem mais satisfatório se tivessem se inspirado em outras produções recentes, como Poder Sem Limites, de 2012. 

Com efeitos visuais não muito sofisticados, este Carrie – A Estranha não soube utilizar de todo o aparato que a modernidade da computação gráfica tem a oferecer. Talvez seja culpa da distribuidora, ou da direção, ou simplesmente do público-alvo da atualidade que se contenta com o pouco. Dessa forma, com o didatismo do bullying e a mão suave dos produtores, fica a impressão de que é preciso esperar outra era para que Carrie retorne e de fato faça jus à reputação que a precede.

Trailer:

sexta-feira, 21 de março de 2014

Cartas de um Diabo a seu Aprendiz


Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria. Os documentos contidos neste livro podem ser obtidos facilmente por qualquer pessoa capaz de aprender o truque; mas não o ensinarei às pessoas de má índole ou muito voláteis, as quais podem fazer mau uso da prática”. 

Algumas pessoas ainda não sabem disso, mas C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien eram grandes amigos. E além de possuírem em comum a prática da docência, ambos também são autores de duas obras ficcionais muito famosas: As Crônicas de Nárnia e O Senhor dos Anéis, respectivamente. Inclusive foram membros de um grupo literário intitulado de “Os Inklings”, o qual encorajava narrativas de teor fantástico. 

Essa amizade rendeu a Tolkien a dedicatória do livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, escrito por Lewis e publicado em 1942. Tendo se convertido em 1929, essa experiência ajudou o escritor irlandês a dissertar a respeito de vários assuntos do mundo cristão, embora a obra em questão tenha um tom mais peculiar e sombrio.

A estrutura do enredo é composta pelo gênero carta. As epístolas são escritas pelo demônio Fitafuso e direcionadas ao seu sobrinho Vermebile, que aparentemente é um recém-formado na Faculdade de Treinamento de Tentadores. A função dos textos de Fitafuso é guiar o sobrinho naquilo que os demônios melhor sabem fazer: corromper a alma dos homens. 

Durante toda a obra, o leitor acompanha os ensinamentos que Vermebile tem de assimilar para fazer com que seu paciente, convertido ao Cristianismo, seja desviado dos caminhos do Inimigo (Deus). De uma maneira irônica, impactante e sufocante, Fitafuso relata a história de muitos homens bons que foram atraídos pelas trevas e dá dicas ao sobrinho de como o seu paciente pode ter um destino similar, seja estimulando desavenças com a mãe ou causando medo em relação à Segunda Guerra Mundial. 

A leitura é pesada em diversos trechos (É incontável o número de vezes que Deus é zombado) e, segundo o próprio Lewis, pode produzir uma cãibra espiritual. A intenção, obviamente, é criticar a demasiada fragilidade e mediocridade do caráter humano e a ideia é executada de uma forma bastante criativa. 

O livro é válido e, para aqueles com um bom conhecimento cristão, serve para fortalecer o fundamento de que o homem, mesmo sem perceber a profundidade dos seus erros, se permite transformar em marionete. E sob a ótica de um demônio, os seres humanos não poderiam ser vistos de maneira tão pateticamente realista.

sexta-feira, 14 de março de 2014

RoboCop

 

Vivo ou morto, você vem comigo”.

A manipulação e a corrupção são elementos que podem andar de mãos dadas quando provenientes da mesma fonte. E se essa origem for poderosa no sentido de atingir e influenciar uma grande parcela da sociedade, além de refletir uma triste faceta da situação real de muitas civilizações, nas mãos certas, pode render um prato cheio para uma obra de ficção. 

O público brasileiro parece gostar e entender bastante deste assunto, uma vez que a maior bilheteria do cinema nacional pertence a Tropa de Elite 2, dirigido por José Padilha. E o diretor, por gostar de abordar questões políticas e sociais em suas películas – e, diga-se de passagem, consegue fazer isso com maestria –, viu a oportunidade de repetir a abordagem em seu novo projeto: RoboCop

Por mais que a mania de refilmagens gere dor de cabeça nos fãs mais antigos e saudosistas, e algumas vezes há de fato motivos para comentários negativos, a estreia de Padilha em Hollywood não foi ruim, mas também não chega a ultrapassar toda a dramaticidade e o foco verossímil estabelecidos nos dois Tropa.

 

O filme tem início com o personagem de Samuel L. Jackson (em uma atuação até que admirável), o âncora de um programa televisivo, tentando mostrar a os seus espectadores norte-americanos que várias cidades do mundo estão seguras devido à proteção criada por robôs. Sendo assim, não há razões para os Estados Unidos ter receio de negar tamanha tecnologia. 

Todavia, o dono da empresa que fabrica esses robôs, Raymond Sellars (Michael Keaton), no intuito de causar empatia na população da América, resolve desenvolver uma técnica em que seja possível colocar um homem dentro de uma máquina e, dessa maneira, garantir mais lucro. É neste ponto que entra o detetive Alex Murphy (Joel Kinnaman); tendo sido vítima de um atentado que destruiu boa parte do seu corpo, ele se torna cobaia desse processo e ganha nas ruas o título de RoboCop.


Este é o remake do clássico de 1987, comandado por Paul Verhoeven. E embora certas diferenças sejam gritantes, especialmente tratando-se de efeitos visuais, faltou a o longa de Padilha uma trilha sonora marcante, mesmo que o tema original toque por alguns segundos. O clímax poderia ter sido estendido, o que talvez tivesse dado ao núcleo familiar uma fundamentação maior. 

Mas o argumento é o que sustenta o filme, e a crítica presente no RoboCop de José Padilha tem qualidade para marcar esta geração, provavelmente em uma proporção similar a que o original fez em sua época. Era necessário que um brasileiro abordasse temas como corrupção e manipulação em um cenário futurista e ficcional, pois revela que além de serem um câncer na sociedade, são capazes inclusive de fazer uma criatura robótica querer destruí-las. Avante, RoboCop!

Trailer:

sexta-feira, 7 de março de 2014

Resposta


Há tempo para quem gosta de recordar bons momentos, e relembrá-los pode ser sempre um caminho para voltar a sorrir. Mas é pouco recomendável e muito menos saudável querer ter tempo para voltar no tempo. Tentar recuperar o tempo perdido é apenas uma prova de que o seu tempo foi mal aproveitado. 

Bom mesmo é prosseguir no tempo, retendo somente a parte gostosa do passado. Continuar, ir adiante, são ações que indicam a vitória sobre tempos ruins e um sinal de sabedoria e força para enfrentar os tempos que estão por vir. 

Talvez uma das respostas para o tempo seja a seguinte: paciência para suportar o que ainda vem pela frente.


Letra:

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou pra trás
Também o que nos juntou
Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só pra saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
E ainda espero Resposta

Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar Que ninguém mais pisou
Você está vendo O que está acontecendo
Nesse caderno Sei que ainda estão
Os versos seus
Tão meus que peço
Nos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite

Em paz, eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais, eu fico onde estou
Prefiro continuar distante

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou pra trás Também o que nos juntou
Ainda lembro que eu estava lendo
Só pra saber O que você achou
Dos versos seus
Tão meus que peço
Dos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite

Em paz eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante

Em paz eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante

Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar Que ninguém mais pisou
Você está vendo O que está acontecendo
Nesse caderno Sei que ainda estão
Os versos seus
Tão meus que peço
Nos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite

Em paz eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante