sexta-feira, 21 de março de 2014

Cartas de um Diabo a seu Aprendiz


Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria. Os documentos contidos neste livro podem ser obtidos facilmente por qualquer pessoa capaz de aprender o truque; mas não o ensinarei às pessoas de má índole ou muito voláteis, as quais podem fazer mau uso da prática”. 

Algumas pessoas ainda não sabem disso, mas C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien eram grandes amigos. E além de possuírem em comum a prática da docência, ambos também são autores de duas obras ficcionais muito famosas: As Crônicas de Nárnia e O Senhor dos Anéis, respectivamente. Inclusive foram membros de um grupo literário intitulado de “Os Inklings”, o qual encorajava narrativas de teor fantástico. 

Essa amizade rendeu a Tolkien a dedicatória do livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, escrito por Lewis e publicado em 1942. Tendo se convertido em 1929, essa experiência ajudou o escritor irlandês a dissertar a respeito de vários assuntos do mundo cristão, embora a obra em questão tenha um tom mais peculiar e sombrio.

A estrutura do enredo é composta pelo gênero carta. As epístolas são escritas pelo demônio Fitafuso e direcionadas ao seu sobrinho Vermebile, que aparentemente é um recém-formado na Faculdade de Treinamento de Tentadores. A função dos textos de Fitafuso é guiar o sobrinho naquilo que os demônios melhor sabem fazer: corromper a alma dos homens. 

Durante toda a obra, o leitor acompanha os ensinamentos que Vermebile tem de assimilar para fazer com que seu paciente, convertido ao Cristianismo, seja desviado dos caminhos do Inimigo (Deus). De uma maneira irônica, impactante e sufocante, Fitafuso relata a história de muitos homens bons que foram atraídos pelas trevas e dá dicas ao sobrinho de como o seu paciente pode ter um destino similar, seja estimulando desavenças com a mãe ou causando medo em relação à Segunda Guerra Mundial. 

A leitura é pesada em diversos trechos (É incontável o número de vezes que Deus é zombado) e, segundo o próprio Lewis, pode produzir uma cãibra espiritual. A intenção, obviamente, é criticar a demasiada fragilidade e mediocridade do caráter humano e a ideia é executada de uma forma bastante criativa. 

O livro é válido e, para aqueles com um bom conhecimento cristão, serve para fortalecer o fundamento de que o homem, mesmo sem perceber a profundidade dos seus erros, se permite transformar em marionete. E sob a ótica de um demônio, os seres humanos não poderiam ser vistos de maneira tão pateticamente realista.

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