sábado, 29 de setembro de 2012

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros

 

A história prefere lendas a homens, prefere nobreza à brutalidade, discursos inflamados e boas ações silenciosas. A história se lembra da batalha, mas se esquece do sangue. Mas a história se lembra de mim antes de me tornar Presidente. Ela só se lembrará de uma fração da verdade”. 

Em tempos que vampiros brilham sob a claridade do dia, têm relacionamentos com lobisomens e escrevem diários, deixando de lado o lado sombrio de sua mítica história e despertando o carinho de jovens, deparar-se com um filme vampiresco que preserve a tradição da origem dessa criatura é quase uma novidade. E para quem ainda prefere acreditar no estilo canônico, isso deve ser um prato cheio. 

Por sorte, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros deleita o espectador veterano com um festival de sangue que espirra na tela. E, com a ajuda de um 3D formidável (muito melhor que o de O Espetacular Homem-Aranha), a experiência ganha realces profundos e consegue realizar a façanha de entreter por quase toda a projeção. 

Inspirado na obra de Seth Grahame-Smith, o qual também roteirizou o longa, e dirigido por Timur Bekmambetov (mesmo diretor de O Procurado, filme em que Angelina Jolie fazia balas darem curvas), a história começa mostrando a infância de Abraham sendo tragicamente alterada com a morte de sua mãe por um vampiro das redondezas de seu vilarejo.


Com o passar dos anos, o jovem Lincoln cresce com o desejo de vingança. Contudo, antes de concretizar sua vendeta, ele precisa entender como confrontar uma criatura de habilidades que ultrapassam o senso comum da realidade. Sendo ajudado por Henry, um amigo inesperado, Abraham aprende o necessário sobre as entidades vampirescas e parte rumo à sua jornada, com o machado em mãos. 

O fato de misturar dados históricos com ficção rendeu muitas críticas negativas ao filme à medida que também despertou o interesse de vários cinéfilos. Entretanto, podendo utilizar essa ferramenta a seu favor, o longa desnorteia aquele que não conhece a história do presidente justamente por não ter lapidado mais o roteiro e a edição; certos eventos acontecem rápido demais e na metade ocorre um salto de tempo descomunal, permitindo que a transformação de Lincoln de um simples homem para um grande político fique apenas no imaginário. Se não fosse esse mau aproveitamento temporal, o arco da história poderia perdurar por uma trilogia, por exemplo.



Em contrapartida (ou não), as cenas de luta, as quais em sua maioria se apoiam em fabulosos efeitos computadorizados, foram coreografadas de forma magistral. A batalha com o inimigo final, porém, é decepcionante. E, tendo na direção uma mente tão lunática quanto a de Bekmambetov, era de se imaginar que existissem passagens que superassem o exagero de qualquer hipérbole (Preste atenção na luta entre os cavalos e no trem). 

Em suma, com o acerto na parte estética e o defeito de desafiar a lógica da gravidade e a inteligência do espectador, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros resgata um pouco dos elementos que tornaram os vampiros seres tão misteriosos e fascinantes. Espera-se agora que o diretor Bekmambetov tente se controlar mais e recupere a destreza que tinha na época em que suas balas faziam curvas, uma vez que o machado não funcionou tão bem.

"Somente os vivos podem matar os mortos".

Trailer:

sábado, 22 de setembro de 2012

História Íntima da Leitura



"A História Íntima da Leitura nasce com o imenso desejo de encontro".

Eu acho que o escritor é um dos poucos profissionais que tem a capacidade de morrer e renascer ao término e início de uma construção textual. A palavra é a fagulha que desencadeia o incêndio. Sim, pois se escrevo neste momento é por causa da busca por uma bagagem literária, o contato íntimo com as letras. 

Essa relação entre página e pessoa faz parte do extenso diálogo da literatura com o leitor. E esta experiência, além de moldar um senso crítico, é capaz de abrir a nossa mente para novas perspectivas e nos fazer refletir a respeito da finalidade que a palavra exerce em nossas vidas. 

Porque a literatura não se faz apenas com o ato de ler; também é preciso escrever. E é na intimidade da escrita, neste fruto resultante da leitura, que podemos compreender que as palavras carregam uma história. Não são vazias. E há um mar infinito de palavras dentro de nós, aguardando para que suas águas sejam desbravadas até o mais profundo limite. 

O vídeo de hoje, A História Íntima da Leitura, fala um pouco sobre isso. Nele vemos a opinião de vários agentes da escrita relatando suas visões acerca da literatura e o potencial ao qual ela pode nos levar. Este é apenas o teaser de uma coletânea de documentários, que mostra, ainda que por poucos minutos, a fascinação que os autores possuem pela leitura, com depoimentos lindos de se escutar. 

Caso este vídeo desperte em você a fagulha que está adormecida no seu interior, trate de começar seu incêndio. Acabou? Continue seguindo em frente. Há um oceano esperando por você. Pois assim como a fênix, que renasce das cinzas, o escritor sempre estará pronto para começar o verso seguinte. 

"De uma certa forma, a História Íntima da Leitura é a história da construção da nossa voz". 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Xadrez Cênico


Essa  crônica foi escrita após um encontro teatral, no qual eu e os envolvidos contemplamos a beleza do nosso trabalho cênico.


Eu tenho algumas teorias a respeito da vida. Muitas prefiro não compartilhar porque o teor que as constitui são tão inconcebíveis aos olhos dos ditos ‘normais’, que no final das contas acabam sendo palavras soltas ao vento. Encontro-me, porém, no incrível dilema de expor uma singela opinião que se apossou de mim há poucos instantes. Acho que, neste caso, não custa tentar. 

Eu acredito que o ator, ao subir no palco, além de externar uma faceta de suas vicissitudes multiplurais, também está exalando uma história. Não me refiro ao odor, ao cheiro propriamente dito, mas às características atribuídas ao personagem. Quando o sujeito inserido no contexto cênico faz um gesto, um movimento por mais ínfimo e simplório que seja, está nos contando uma história. 

Essa expressão, é claro, pode ser construída pelo ator em si ou por aquele que direciona os caminhos da edificação cênica. No frigir dos ovos, nós, os atores, somos peças de um xadrez ambulante, no qual a entidade que nos movimenta é o diretor de acordo com sua visão estratégica. Estratégia, sim, pois a missão do ator é deslumbrar seu oponente. E não importa qual seja a proporção dessa guerra, não importa quantas represálias soframos e quantos conflitos protagonizemos, às vezes perder é inevitável. E a derrota é bem feia. 

Posso dizer que já transitei bastante por esse tabuleiro e vi coisas que ficarão para sempre na memória. E se tem algo que aprendi é que cada peça do xadrez cênico tem sua finalidade; se uma função deixa de ser cumprida, todo o sistema é desequilibrado e põe um risco mortal ao jogo. A meta não é apenas chegar ao outro lado e se tornar Rei. A meta é agirmos em conjunto para descobrirmos a solução de como nos tornarmos reis. União, pura e simplesmente. 

Reconheço que, da mesma forma que acontece com várias teorias, essa deve ter suas falhas. Há quem pense de maneira diferente. Tudo bem, cada qual tem sua peculiaridade no modo de raciocinar. Bom, eu continuarei acreditando que a nobreza da batalha é a força conjunta. É assim que se alcança o tão cobiçado xeque-mate.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Homem Que Mudou O Jogo

 


Todos nós ouvimos em algum momento que não podemos mais jogar como crianças. Só não sabemos quando será. Alguns ouvem isso aos 18, outros aos 40. Mas todos ouvimos”. 

Eu nunca fui muito fã de esporte. E, depois de assistir ao Homem que Mudou O Jogo, ficou claro que os verdadeiros heróis não são aqueles que manipulam a bola, mas sim os que organizam os bastidores para a bola poder ser lançada. É muito fácil assistir a uma partida e criticar os jogadores e os técnicos ignorando o fato de que todos eles têm uma vida como a nossa, repleta de oscilações indesejadas. 

E também é de igual proporção ignorar o sacrifício que pessoas anônimas – os que nunca aparecem sob os holofotes e permanecem nas sombras – sem saber o quão árduo é administrar esse tipo de negócio somente para entreter os fanáticos. Para o telespectador, não há diferença para quem é demitido ou cai no ostracismo; o que importa é a diversão. É um jogo bem injusto. 

Baseado no livro de Michael Lewis, lançado em 2003, e também inspirado em uma história verídica, O Homem Que Mudou O Jogo nos revela os caminhos que não são mostrados na TV e isso faz dele um filme bastante peculiar no gênero esporte. Aqui conhecemos Billy Beane (Bratt Pitt), o gerente geral de um time de beisebol chamado Oakland A’s. Sua função é escolher possíveis jogadores em potencial para formar um time capaz de vencer a temporada.


Beane enxerga o beisebol de modo romântico, por isso está cansado de perder e acredita que para reinventar seu time e fazê-lo vencedor, é preciso ganhar mais apoio e verba. O problema é que, sendo funcionário de um time pobre e estando rodeado por conselheiros com teorias ultrapassadas, esse objetivo fica cada vez mais utópico diante das equipes mais ricas. 

É necessário inovar e adquirir um novo método. E ele o encontra ao contratar Peter Brand (Jonah Hill), jovem formado em Economia. Contrariando todas as pessoas e um sistema com regras preconcebidas, ambos acreditam que, se escolherem os jogadores menos valorizados do beisebol, podem criar um time ganhador tendo como base cálculos matemáticos.


Dirigido por Bennett Miller (de Capote) e com seis indicações ao Oscar (Incluindo de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante), o filme mostra o andamento real deste tipo de negócio. Cada jogador tem seu preço e é visto como objeto; se começa a dar defeito, é facilmente trocado. Essa mensagem é tão essencial de ser passada, que não há pretensão em perder um longo tempo de exibição com a exposição detalhada de uma partida. Afinal, isso todo mundo já conhece. 

Dito isso, talvez a hierarquia do esporte precise ser repensada. Portanto, se seu time vencer, a glória não deve ser colocada apenas no jogador e no técnico; alguém, que tem tanto amor quanto o telespectador, os colocou lá e também merece as congratulações. Caso contrário, diferentemente do exposto no filme, esse jogo incorreto nunca vai mudar. 

É impressionante como você sabe pouco sobre o jogo que você jogou a sua vida inteira”.



Trailer: