sexta-feira, 22 de março de 2013

Monólogo Mundo Moderno



Mais uma do Chico. Vamos refletir?


"E vamos falar do mundo, mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio, maior maldade mundial. Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna, monta matumbo malhado, munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha move moinho, moendo macaxeira, mandioca, meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho, meia-noite mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua,  mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos  maltrapilhos, morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis, menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre, mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes marafonas, mocinhas, meras meninas,, mariposas, mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas, melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedez, motorista, mãos, magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando! Moradia meiágua, menos, marquise, mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore! Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo! Merecemos, maldito mundo moderno! Mundinho merda!".

sábado, 16 de março de 2013

A Busca


 

A jornada é o que conduz o herói. É nela que ele vai encontrar dificuldades, soluções e objetivos, assim também como a definição de quem ele é. Infelizmente, nem todas as histórias possuem um arco dramático profundo o suficiente para fazer o protagonista lançar sobre si reflexões que lhe tragam autoconhecimento e o faça sair da inércia para uma nova etapa.

Não é o que ocorre em A Busca, filme de estreia do diretor Luciano Moura, em que um pai traça uma trajetória tortuosa e trôpega para reencontrar seu filho. A premissa da trama, no entanto, vai além disso, refletindo o cuidado dos roteiristas em lapidar detalhes e entregando ao público uma obra cujo gênero deveria ter um destaque maior no cinema nacional.

O pai em questão é Téo, interpretado magnificamente por ninguém menos que Wagner Moura. Ele e sua esposa, Branca (Mariana Lima), estão separados e tentam fazer com que seu filho, Pedro, não seja espectador do processo dolorido da distância. Portanto, dão o espaço necessário para que o garoto possa desopilar, inclusive oferecendo-lhe uma viagem para o exterior.


Eis que, nas vésperas de seu aniversário de 15 anos, Pedro desaparece e ninguém do seu círculo de amizades sabe onde ele se encontra. Logo o pai ausente encara sua jornada seguindo os ínfimos vestígios que o filho largou pelo caminho, conhecendo novos cenários e pessoas que vão deixando marcas em seu semblante (literal e emocionalmente falando).

O interessante em A Busca é observar as semelhanças com as fábulas, uma vez que a moral tem que ser absorvida no fim ao passo que o teor metafórico também tem um papel fundamental no enredo. A ausência de água na piscina da casa em reforma é o exemplo de que a família está desestruturada, assim como a goteira na casa de Téo representa sua estagnação perante o seu relacionamento paterno.


E por ser um filme que perpassa várias localidades, é no mínimo natural – ou ao menos característico – que o protagonista se sinta tocado e saia modificado de cada situação que vivência ao longo da busca, como as águas de um rio que vão mudando no decorrer de seu trajeto (A cena em que Wagner se banha no rio é altamente simbólica e linda).

Em sua película de estreia, na qual o roteiro é bem organizado e a trilha sonora é quase infalível, Luciano Moura revela um resultado que, tragicamente, conquistará apenas uma determinada camada do público brasileiro. O que não é um demérito, pois a jornada já está definida e, assim como a correnteza de um indômito rio, as águas não vão parar até alcançar seu destino final.

Trailer:

sexta-feira, 8 de março de 2013

Ode à Costela




É simples entender porque as mulheres sempre buscam reconhecimento: elas são vítimas desde o início dos tempos. A estrada de infortúnios tem seu prefácio lá no Gênesis, quando Eva é covardemente ludibriada pela cobra e experimenta do fruto proibido. A partir daí, além de ter sido expulsa do local mais seguro e puro da face da Terra e transmitir ao restante da humanidade as marcas da queda, por desobediência às ordens de Deus, Ele também a consagrou com uma dor descomunal na hora do parto. 

De fato, o sangue é o elemento que mais está presente no histórico feminino. Desde morticínios a estupros, não é de se admirar que elas mereçam um pouco mais de respeito. Abram os olhos, homens! Pois, se o berço da mulher é proveniente de uma costela masculina, não há dúvidas sequer de que elas estão aqui para fazer da metade um todo. 

Mulheres possuem a habilidade de estabelecer o equilíbrio. Podem ser a luz em tempos de trevas. Elas têm a capacidade de misturar a razão e a emoção sem sofrer danos mentais e ainda insistem em demonstrar o contrário. É claro que há exceções: as confusas permanecem perdidas porque continuam ignorando seu verdadeiro potencial. O que não deixa de ser comum, uma vez que a jornada é repleta de obstáculos e, segundo diria Guimarães Rosa, o que importa é a travessia. E isso elas conseguem realizar com destreza e maestria. 

Mulheres sabem separar o joio do trigo e encontram a ovelha perdida do rebanho, mesmo que isso demore horas e – em muitos casos – vários dias. Elas nos situam no espaço, nos impulsionam a sair da letargia, ressignificam e renovam nossos propósitos e nos fazem refletir a respeito daquilo que está entre o princípio e o fim. Ah, o fim! Se a mulher é o recipiente da vida, nada mais justo imaginar a morte ao lado de outra mulher que te faça feliz. Na saúde e na doença, assim dizem por aí. 

Acordai-vos, homens! Embora existam aquelas traiçoeiras como raposas e destiladoras de veneno como as serpentes, é sensato nunca se esquecer de que dentro de uma colheita sempre surgirá uma fruta podre. O tempo e a vida tratarão de moldá-la, por isso jamais desista de todo o resto. Porque, apesar das falhas, todo homem precisa reconhecer, acima de qualquer imperfeição, que as mulheres são uma obra divina.


                                                                                                                    Parabéns, mulheres!

sexta-feira, 1 de março de 2013

O Palhaço

 

Na vida, a gente tem que fazer aquilo que sabe fazer. O gato bebe leite, o rato come o queijo... E eu sou palhaço”.

Certa vez fui a um circo, onde, ao final da sessão, o palhaço explicou que o picadeiro é um espaço que tenta representar o mundo; todos nossos sonhos, receios, sentimentos, e que nós, os espectadores, fazíamos parte deste magistral espetáculo. Essa interpretação ecoou em meus pensamentos por vários dias e então percebi que uma das funções primordiais da arte é justamente agregar pessoas em prol de uma única causa. 

Em O Palhaço, dirigido e roteirizado por Selton Mello, é notável observar esta união quando se tem a visão dos bastidores de uma trupe circense. Benjamim (Selton) é um rapaz que vive ao redor da única coisa que aparentemente sabe fazer: entrar no picadeiro e assumir a postura do palhaço Pangaré. Ao seu lado está o seu pai (Paulo José), dono do circo.

 

Sendo filho do proprietário, cabe a Benjamim resolver todos os problemas que caem sobre o circo, entre eles conseguir um ventilador (desejo que permeia quase todo o filme, tornando a relação entre homem e objeto quase poética). Mas, como pano de fundo, esse é o menor dos problemas do jovem palhaço; ele não tem certeza se de fato trabalhar em um circo faz parte de sua verdadeira identidade, e mesmo que seja, do que adianta fazer as pessoas rirem, se não há ninguém para fazê-lo rir? 

Ainda que O Palhaço seja um longa colorido, com uma iluminação exótica e paisagens belíssimas e muito bem selecionadas, sempre há um tom melancólico na forma com que Benjamim enxerga as coisas. Seria um filme entediante, porém as lacunas são facilmente preenchidas com os outros membros do elenco que, com expressões faciais e corporais, souberam transmitir as vicissitudes de seus personagens (destaque para a menina).


Selton Mello soube direcionar seu projeto de maneira suave e carinhosa. E sim, é possível sentir isso em algumas cenas. O movimento da câmera, os enquadramentos e a iluminação, são elementos que convergem para uma simplicidade de encher os olhos. A trilha sonora instrumental colabora para que esta imagem fique firmada até o final. 

Não sei se o circo é a arte mais completa do mundo, mas em O Palhaço pude ver um pouco de tudo; desde referências teatrais à uma vaga lembrança dos Trapalhões em seus tempos de glória. Talvez a arte mais complexa de todas seja a questão humanidade, a qual, atrelada a um turbilhão de sentimentos, torna-se a maior responsável pelo nascimento de um artista no maravilhoso espetáculo da vida. 


Trailer: