sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mano Celo - O Rapper Natalense



"Eu sou o Mano Celo
Represento as minorias
Exijo mais respeito
E o pão de cada dia".

A literatura nordestina, ao contrário do que muitos pensam, é bastante rica. E, atrevo-me a dizer, promissora. Nomes como Ariano Suassuna, José de Alencar, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira constroem a herança da escrita regional e elucidam a importância da cultura nordestina.

Afinal, esses “cabras da peste” fizeram história. E durante o período em que me aventurei no acadêmico mundo das letras, foi-me dado o privilégio de apreciar a literatura do meu querido Rio Grande do Norte. Viajei com os versos sonoros de Jorge Fernandes, com o folclore de Cascudo e com a narrativa poética e indecente de Nei Leandro de Castro. 

Ao passo que fui desbravando as linhas deixadas pelos mestres potiguares, recebi a oportunidade de voltar meu olhar para algo mais contemporâneo. E assim descobri o livro Mano Celo – O Rapper Natalense, do cronista Carlos Fialho. A obra, publicada pela editora Jovens Escribas, concede ao cidadão norte-rio-grandense a percepção de compreender o quão fundamental é conhecer um pouco do meio que o cerca. 

Mano Celo, mais conhecido na classe burguesa como Marcelo Maurício Rodrigo de Paula Gadelha Dutton, é o fruto da união de duas grandes famílias renomadas da cidade do Natal. Nascido em berço de ouro – ou, como o próprio texto diz, diamantes – o jovem cresce sob a falsidade e as injustiças de pessoas que se julgam o degrau mais alto do patamar social. 

Diante de tanta hipocrisia e ausência de honestidade, o rapaz se revolta e assume a identidade de Mano Celo. Um artista que utiliza o rap como ferramenta para denunciar as falcatruas dos poderosos e defender a causa dos menos favorecidos. Em sua jornada quixotesca, o herói desastrado atravessa diversas situações cômicas, mas nunca perdendo o propósito de proteger o seu rebanho. 

Em o Rapper Natalense, Carlos Fialho realiza a proeza de criticar uma sociedade superficial que visa somente o lucro e, consequentemente, os benefícios próprios. Para quem reside em Natal ou já pisou na antiga cidade do sol, a aquisição de um exemplar é imprescindível. Eventos tradicionais e marcantes da província, como o Carnatal e o recente #ForaMicarla, são descritos de forma bem humorada e cativante. Mano Celo chegou com gosto de gás, provando que a literatura nordestina, de fato, caminha cada vez mais rumo ao progresso. YO!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Jogos Vorazes



Que comecem os Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor”.

Muitas pessoas afirmam que programas de TV, ao em vez de cumprir com a única função de entreter, causam efeitos sobre a sociedade que vão muito além de hábitos metódicos. Reinventar a realidade, maquiar os acontecimentos e recortar a verdade são ferramentas que a Mídia utiliza para manipular o povo. Para ela, o entretenimento é a menor das preocupações. 

Temas similares a este podem ser vistos em V de Vingança e O Show de Truman, onde o público tem o aparelho televisivo como uma janela para observar o que acontece no mundo. Quando ouvi falar que Jogos Vorazes entraria no circuito cinematográfico com a promessa de ser “o novo Crepúsculo”, eu pensei: ‘Meu Deus, vão jogar mais fezes no ventilador’. Entretanto, ao assistir o filme, constatei não somente que minha visão estava equivocada, mas também que o longa é muito mais superior à saga vampiresca. 

Ambientada no futuro, a trama acontece na nação de Panem, mais conhecida anteriormente como Estados Unidos. Panem é monopolizada por uma rica cidade, a Capital, a qual é rodeada por 12 Distritos inferiores e subordinados. A heroína da história, Katness Everdeen (Jennifer Lawrence), reside no décimo segundo Distrito com sua mãe e a irmã, Prim. 


Anualmente, a Capital oferece aos Distritos a oportunidade de receber comida de qualidade durante um ano (daí o título do filme que, na tradução literal, seria Jogos da Fome). Apenas um vitorioso é aceito, então todos os Distritos precisam indicar casais de jovens, entre 12 e 18 anos, para competirem nos Jogos Vorazes. Vinte e quatro participantes, um sobrevivente. 

Em meio ao sorteio dos integrantes do Distrito 12, Katness se oferece como Tributo para salvar a irmã. Em uma arena repleta de ciladas, ela e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) tentam se ajudar, enquanto os outros competidores matam uns aos outros. Esse espetáculo doentio é transmitido para todo o país. 
 

Baseado na obra de Suzanne Collins, Jogos Vorazes é primeiro livro de uma trilogia publicada no Brasil pela editora Rocco. O filme foi dirigido por Gary Ross e a própria autora participou da construção do roteiro. O interessante em Jogos Vorazes não é apenas observar o programa de TV manipular seus participantes, fazendo com que entrem em conflitos muitas vezes desnecessários. A mensagem é muito mais assustadora.

O filme faz uma crítica à nossa natureza sádica, ao fato de gostarmos de ver a desgraça alheia. Os produtores do programa, ao criarem determinadas situações, forçam os jovens tributos a realizarem feitos que o público aguarda ansiosamente. Por questões etárias, as mortes não são mostradas com detalhes, mas isso não interfere na seriedade que a história impõe. Os Jogos Vorazes começaram, e garanto que todos precisam se preparar. Que a sorte esteja a nosso favor.

Trailer:

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nascer Velho, Morrer Criança






Esta semana o mestre Chico Anysio completaria mais um ano de vida. Para o infortúnio dos familiares e de toda classe cultural, isso não aconteceu. O artista faleceu mês passado, deixando um vasto legado aos fãs. Especialmente na área cênica, com mais de 200 personagens criados de sua mente. 

Como uma forma de homenageá-lo, hoje o vídeo é dedicado a ele. Nos anos 70, Chico apresentava-se em um quadro semanal no Fantástico. No Natal de 1977, ele exibiu uma crônica escrita por Marcos César, intitulada de 'Nascer Velho, Morrer Criança', na qual lança uma reflexão acerca da vida e da morte. 

O Menino das Letras deixa aqui suas saudações artísticas a este nobre gênio que tanto contribuiu para o avanço cultural no nosso país. Como dizem alguns, o Charles Chaplin brasileiro.


Segue o texto completo: 


Nós temos o direito de sonhar! E o meu sonho é o de ter o poder de ser o videocassete de mim mesmo!... Ter um controle remoto que me permitisse adiantar ou atrasar a vida, eu poderia adiantar e entrar na percepção do futuro ou poderia recuar e parar no momento que me tivesse sido maravilhoso, talvez até eternizar um orgasmo!… Eu faria, assim, uma edição e teria uma fita só com os melhores momentos da minha vida!… Mas uma fita só não bastaria. Teria de haver várias, por que eu sou um cara de poucas queixas. O importante seria mesmo esse controle remoto, pois eu poderia recuar a fita e me emocionar outra vez com o nascimento de meus filhos; depois eu a adiantaria e veria todos eles crescidos e eu, preocupado…O que serão na vida? O que terão? O que farão?…Não ! Então eu volto, volto, volto, volto, volto, e me vejo outra vez em Maranguape, empinando pipa, jogando pião, escanchado num cavalo de pau naquela rua de terra batida, onde eu era Tom Mix, eu era Buck Jones, eu era Palonge Cassidi…Eu nu, tomando banho no açude, paquerando calcinhas e sutiãs pendurados nos varais, imaginado seus recheios….Não ! Com este controle remoto eu seria um super-herói: “Eu sou Ulisses, eu tenho poderes!”. Mas eu só queria mesmo um poder. O poder de fazer a vida como acho que a vida deveria ser…. 

Acho que o homem deveria nascer com oitenta anos. Nasceria com oitenta anos, iria ficando mais novo, mais novo,mais novo, mais novo, mais novo até…. morrer de infância ! 

Chego inclusive a imaginar uma mãe comunicando o nascimento do filho: 

 - Menina, meu filho nasceu ! Pensei que não fosse nascer mais, tava encruado ! 

 - Nasceu com oitenta e quatro anos ! Mas perfeitinho: um metro e setenta e seis, setenta e dois quilos. Eu ia botar o nome de Luis Cláudio, mas ele próprio foi ao cartório e se registrou como Haroldo! 

E nos berçários aquela fila de cadeiras de balanço, com os velhinhos todos sentados…. tossindo, pigarreando. Todos assistidos por geriátras, já que padecendo eles todos os males comuns aos recém-nascidos : gota, artritismo, lumbago, reumatismo…. O homem nasceria com oitenta anos, aos sessenta casaria com uma mulher de cinquenta e nove, mas com uma vantagem : a cada dia, a cada semana, a cada mês, ela ficaria mais e mais jovem, até se transformar numa gata de vinte ! Com oitenta anos nasceria rico, sábio e…. aposentado ! A partir de então, passaria a ganhar menos, menos; entraria para a faculdade, desaprenderia tudo !…. Voltaria áquele estágio de ingenuidade, de burrice, de pureza ! Depois a bicicleta, o velocípede, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar. Então, o voador; do voador para o chiqueirinho, do chiqueirinho para o berço, as trocas de fraudas, aquelas três gotas de remedinho no ouvido, o chá de erva-doce para dorzinha de barriga, a chuca, o peito da mãe…. e pararia de chorar ! 

Mas a vida, então teria que ser recriada, o mundo teria que regredir séculos…. Cabral e Colombo desdescobririam o novo mundo, o homem desinventaria a roda, atingiria o desconhecimento da pólvora e do fogo, até chegar a Adão, o último homem. O último-primeiro a quem Deus, colocando-o sobre a Sua mão, em vez de lhe soprar a vida, o inspiraria novamente para dentro de si mesmo…

quinta-feira, 5 de abril de 2012

As Aventuras de Tintim


Como está a sua sede de aventura?”.


É de uma beleza extraordinária observar o carinho e a atenção que um fã possui. Exceto, é claro, quando o sentimento se transforma em obsessão. E não falo somente do ato de admirar, mas sobretudo do ato de homenagear. Você deve saber do que estou falando; quando dispomos de subsídios para realizar uma homenagem, e provar a nós mesmos que não há vergonha em expor nosso apreço, é quase certo que o sonho vai se concretizar.

Steven Spielberg conseguiu realizar um antigo desejo que provavelmente muitos teriam desistido de tentar: adaptar para o cinema As Aventuras de Tintim, obra do autor belga Hergé e que teve origem nos quadrinhos. Essa vontade de filmar o projeto surgiu nos anos 80, mas devido a outras ocupações – entre elas as filmagens de Indiana Jones – Spielberg teve que adiar seu sonho por mais alguns anos.

No início do novo milênio, surgiu a ideia de fazer a adaptação em formato de computação gráfica, como Toy Story, Shrek e tantos outros. Para ficar mais próximo da realidade, sugeriram que a animação fosse feita por intermédio da captura de movimento. Como Peter Jackson usou tal tecnologia em O Senhor dos Anéis e King Kong, foi convidado a fazer parte do projeto e produzir o filme. Andy Serkis, ator que interpretou Gollum e o César de Planeta dos Macacos: A Origem, também foi contratado por ter uma vasta prática no assunto.


Com esses nomes de peso na equipe, o longa já era garantia de sucesso. O que realmente acabou sendo. Ao comprar a réplica de um navio antigo, o jovem jornalista Tintim se vê dentro de uma enorme teia de mistério. Homens de índole suspeita querem comprar a réplica e, ao fazer uma pesquisa, Tintim descobre que o navio se chamava Licorne e que guarda um sigilo: seu capitão, Francis Haddock, antes de morrer, anunciou que apenas um descendente seu poderia desvendar o segredo do Licorne.

Sendo vítima de um sequestro, Tintim conhece Archibald Haddock, fiel seguidor da ideologia do alcoolismo e que garante a parte cômica do filme. Também com a ajuda dos atrapalhados detetives Dupond e Dupont, e do leal cachorro Milu, ele consegue descobrir que existem três réplicas do Licorne e que cada qual contém um pergaminho. Uma vez unidos, poderão revelar algo espetacular. Agora, Tintim e seus amigos precisam adentrar nessa perigosa aventura antes que seus inimigos cheguem primeiro ao pote de ouro.


A primeira aparição de Tintim no papel é datada de 1929. Hergé dedicou-se ao personagem até o fim da vida, publicando 24 obras, da qual a última permanece inacabada. Embora houvesse esse vasto leque de opções para ser trabalhado, o roteiro é inspirado em somente três aventuras. E Spielberg, que não é bobo, preservou os traços de Hergé, fazendo com que a animação dos personagens fosse similar às caricaturas do desenho original. Tendo em vista que o filme deu lucro e que Steven é um fã assíduo de Tintim, uma continuação já é aguardada e estará sob o comando de Peter Jackson. 

É notável o cuidado que Steven deu ao seu primeiro longa animado; a agilidade do enredo é natural e não interfere no entendimento do público. Talvez o diretor tenha apenas exagerado em um determinado plano-sequência, em que o surrealismo fica bastante explícito. Algo compreensível; tratando-se de um fã, é mais do que normal que ele queira arranjar um tempo para voltar a ser criança. Fato que pode ser facilmente perdoado.



Trailer (DUBLADO):