Não sei se isso acontece com você, leitor(a), mas às vezes minha mente funciona como uma máquina do tempo. Pode ser apenas mais um fruto da minha loucura, ou mais um dos resultados da minha canhotice que veio junto com meu pacote. O fato é que consigo memorizar certas datas, e não é de hoje; muitas pessoas já disseram-me que tenho uma boa memória por relembrar datas de acontecimentos que elas há muito haviam esquecido.
E nesta semana não foi diferente; fui agarrado por mais uma lembrança que, de certa forma, foi marcante. Há exatamente dois anos, lá estava eu numa sala de cinema, sentado aproximadamente na poltrona do meio da fileira, esperando anciosamente para que começasse diante de mim o filme que, na época, era um dos mais aguardados do ano: Batman - O Cavaleiro das Trevas.
Sim, eu fui na estreia do filme. Não comprei pipoca, entrei na sessão das 18h30, e gastei 7,50R$ (ainda tenho o tiquete).
Para quem não sabe, O Cavaleiro das Trevas é a continuação de Batman Begins. Portanto, é no mínimo recomendável que você assista a esses filmes na sequência correta, para o bem estar da sua compreensão.
O segundo filme do Homem-Morcego continua mostrando sua trajetória heroica rumo à limpeza total das ruas de Gotham City, com o intuito, é claro, de diminuir a criminalidade. Porém, para todo herói que se prese, sempre há complicações no caminho. A população de Gotham, ainda não acostumada com esse justiceiro vestido de morcego, continua a renegá-lo, enquanto os poucos agradecidos por sua ajuda veem nele uma fonte de inspiração.
Bruce Wayne, o bilionário cada vez mais rico, permanece a ocultar a sua faceta secreta perante à sociedade, embora Rachel, Alfred e Lucius Fox, ainda sejam os únicos a conhecer sua vida dupla. Destaque para esses três personagens, pois eles sempre estão lá para ajudar e apoiar Bruce, o que torna o filme mais humano; não é o tipo de herói inteligente o bastante para não precisar dos conselhos de ninguém. E mais, fora do circulo afetivo, ele ainda conta com o suporte do Comissário Jim Gordon e do promotor Harvey Dent para caçar a escória criminosa. Um personagem que não precisa reclamar de solidão.
E assim Bruce vai seguindo com suas duas vidas, agarrado à crença de que sua identidade jamais será ameaçada e de que por trás da sua armadura negra não existe nem um tipo de fraqueza. Coitado, mal sabia que uma tempestade estava prestes a desestruturar toda a cidade...
A cena de abertura do filme mostra um assalto a banco, e um dos ladrões é o Coringa; uma força da natureza, cujo objetivo central é destruir tudo por onde passa; um criminoso disposto a espalhar anarquia e implantar na cidade o reino do caos. E ele consegue isso com uma maestria de deixar o queixo caído, lançando em Bruce Wayne a seguinte indagação: deixar de ser o Batman para proteger as pessoas ou para satisfazer o desejo de um maníaco?
Um dos motivos que fez este filme subir no meu conceito não foi apenas o pouco uso dos efeitos especiais, e sim o roteiro impecável. E mais: a rivalidade que ocorre entre o Morcegão e o Palhaço do Crime não é aquela tradicional que se vê em quase todos os filmes de herói. O objetivo do vilão aqui não é matar o herói, muito pelo contrário: o Coringa e o Batman são semelhantes que se repelem. O palhaço enfatiza essa relação quando diz:
"Eu não quero matar você. Você me completa". Ou quando afirma: "É justamente isso que acontece quando uma força que não pode ser detida encontra um objeto que não pode ser movido. Você não me mata porque é guiado por um falso senso de moralismo inapropriado, e eu não mato você porque te acho muito engraçado. Eu acho que eu e você estamos destinados a fazermos isso para sempre". Isso mostra que até o mais louco e psicopata dos vilões pode ser inteligente. Inteligência essa que é capaz de corromper a mais nobre de todas as almas.
É, eu sei que talvez para você, leitor(a), isso que estou prestes a fazer seja clichê. Desculpe-me, mas, honestamente, não vejo como fazer um comentário desse filme sem mencionar o nome de Heath Ledger e sua geniosa interpretação. O cara simplesmente conseguiu a façanha de ganhar o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante depois de morto, e não somente isso: ele passou o rodo em todas as premiações das quais participou e conseguiu eternizar o Coringa de uma maneira indescritível. Em suma, grande parte do sucesso do filme foi graças a ele. Lembro-me muito bem quando saí do cinema completamente bestificado com tamanha performance. Nunca irei me esquecer. Nunca.
Mas não vou prolongar muito, se não vai acabar virando um tributo ao Ledger. Não que ele não mereça... Prometo falar mais dele outro dia.
Uma ótima direção, uma ótima edição, uma ótima trilha sonora. Frases marcantes que permanecem na minha memória até hoje. Um filme indicado a oito orcars, e que ganhou apenas dois. O Cavaleiro das Trevas pode até não ser o melhor filme do mundo, mas é tão bom que até o esquecimento faz questão de relembrar.
"Introduza um pouco de anarquia... Perturbe a ordem vigente... E então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E você sabe qual é a chave para se criar o caos? É o medo" - Coringa.
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