sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2014 vem aí!


No mundo da cultura/cinema, 2013 já ofereceu o que tinha de dar. De modo que, para os cinéfilos e amantes da cultura pop, o que resta agora é aguardar pelas promessas que o ano novo nos reserva. Abaixo segue a lista dos filmes (e seus respectivos trailers) mais aguardados para 2014.



A Menina Que Roubava Livros:



Robocop:



Noé:





Capitão América 2 - O Soldado Invernal:
 



X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido:
 


O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro: 



Planeta dos Macacos - O Confronto:



Interestelar:

 



Outros filmes que também vão estrear em 2014:

Os Mercenários 3
Os Guardiões da Galáxia
The Seventh Son
Jogos Vorazes: A Esperança Parte 1
O Hobbit 3

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug


Quando foi que permitimos que o mal se tornasse mais forte do que nós?”.

Em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, o diretor Peter Jackson conseguiu consolidar com mais potencialidade algo que foi bastante notável na trilogia O Senhor dos Anéis: seu encantamento e paixão pela Terra-Média, assim como sua estreita afeição pelos personagens criados por J.R.R. Tolkien.

Apesar de alguns comentários negativos ao primeiro filme em relação à comédia e a algumas passagens arrastadas e enfadonhas, mesmo o livro sendo de cunho infantil, o segundo Hobbit veio para aprofundar a jornada de Bilbo Bolseiro sob experiências mais sombrias, arriscadas e inconsequentes, o que resulta em um capítulo mais maduro que o seu antecessor. 

Após os eventos da aventura passada, Gandalf (Ian McKellen), Bilbo (Martin Freeman) e os anões seguem com o propósito inicial de sua empreitada: adentrar em Erebor, retomar a cidade e destituir o dragão Smaug de sua posição desmerecida. No entanto, a caminhada permanece árdua com a perseguição acirrada dos orcs, o preconceito dos elfos e agora com a desconfiança dos homens.


É interessante ver que as raças, embora possuam culturas e nuances distintas, unem-se ao redor de um sentimento similar; a ambição é tão intensa e inebriante, que alguns personagem se deixam ficar cegos por ela ao ponto de esquecer o altruísmo e o bom-senso. O exemplo disso pode ser encontrado em Bilbo, que aqui já denuncia a influência corrupta que o Um Anel vagarosamente exerce sobre seu caráter, contrastando com as virtudes e o carisma que parecem diminuir à medida que o Condado vai ficando mais distante. 

A trama também continua apostando nas referências à Trilogia do Anel, elemento que Jackson inseriu com proeza, fazendo com que os fãs mais atentos percebam que de fato, em um quadro geral, trata-se da mesma história. É provável que alguns espectadores entrem em delírio com a procura de Gandalf pelo Necromante, especialmente em uma determinada cena.


Contudo, é importante lembrar que o foco em O Hobbit é outro. E, neste segundo filme, é sensato atribuir um pouco mais de atenção ao dragão. Na voz de Benedict Cumberbatch, Smaug é visivelmente magnífico; sua aparição no clímax é realmente oponente e cria uma atmosfera tenebrosa, em que o teor de sua personalidade pérfida é exposta de tal maneira que talvez o conteúdo deixado para o desfecho da trilogia seja um dos mais épicos dos últimos anos. 

A Desolação de Smaug veio repleto de ação (Destaque para a cena dos barris), e Jackson soube organizar esse artifício com maestria. Os efeitos visuais, mais uma vez, são de bestificar. Mas, sabendo que ainda resta um filme, o final deste é aberto, e isso possivelmente desanime aqueles que ainda terão de esperar um ano para o fim da jornada de Bilbo. E, se depender da paixão e afeição de Peter Jackson pela Terra-Média, ela terminará, igual ao ocorrido em O Senhor dos Anéis, de uma forma marcante e difícil de ser esquecida.


Trailer:


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Epitáfio


Final de ano chegando e vem aquela sensação de dever cumprido, mas também de vazio por ter deixado de realizar alguns planos. De fato, este é o período correto para se fazer o balanço do que foi feito (e o contrário também) no ano inteiro. 

Entretanto, não se pode lamentar por algo que não aconteceu. É preciso lembrar que a virada de ano significa renovação, reposição de energias. O momento de erguer a cabeça e prosseguir. Afinal, um novo ano chega com mais oportunidades, mais tentativas. E desanimar não deve ser uma opção. 

 Desse modo, que seu epitáfio de 2013 seja repleto das realizações concretizadas.

Letra:

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são 
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Culpa é do Desconto



É curiosa a reação que um ávido leitor pode ter ao descobrir que uma livraria de sua cidade está oferecendo desconto de até 80% nas obras de seu estoque. Especialmente se este leitor, assim como eu, for... digamos... Um pouco econômico. 

Primeiro veio a surpresa. Em seguida, a incredulidade. A última etapa foi a da convicção, a qual se deu quando me deparei diante da livraria, que exibia na entrada o enorme cartaz com o anúncio do desconto. 

Embora eu ainda não conseguisse acreditar, já havia feito durante o percurso uma lista de pelo menos dez títulos que há tempos eu esperava para ler. E, se eu estivesse com sorte, poderia trazer comigo quiçá metade ou mais que isso; sendo período de final de ano, vai que de repente os benditos estivessem sob uma promoção natalina. Nunca se sabe... 

Sendo este que vos fala dotado de uma imaginação bastante fértil, minha mente ocupou-se com diversas possibilidades. Já conseguia me vislumbrar lendo um após o outro, com a satisfação de ter gastado pouco com eles, semelhante à sensação da criança que constrói um castelo de areia à beira da praia. Sim, pois se existir uma lista de excitação literária, certamente livros baratos é um dos itens mais chamativos. 

Enfim, a espera terminou. Entrei, acompanhado de minha humilde e incrível inocência, e procurei não perder tempo: fui logo para a prateleira dos Best-sellers. E assim veio o primeiro impacto; mais da metade dos livros que eu planejei comprar não constavam ali. Tudo bem. Isso é normal, pensei eu. 

Então sofri o segundo impacto. A livraria aceitava apenas pagamento em espécie. Lascou-se, disse comigo mesmo. Quem tinha o sonho de sair dali com uma pilha de obras parceladas em várias vezes no cartão de crédito, teve suas asinhas cortadas. 

Nada de tão grave, eu supus, uma vez que os descontos já iriam favorecer muito o ato da compra. Peguei dois dos livros que almejava adquirir e me direcionei até o balcão. Perguntei à funcionária quanto ambos teriam de abatimento. Ela me respondeu: 10%. 

Nunca fui bom com números, mas ainda assim imaginei que o valor seria bem reduzido. Foi quando veio o terceiro impacto. Engoli a seco, enquanto meu castelo de areia era destruído por um tsunami. Devolvi os títulos aos seus respectivos lugares e vaguei por entre as prateleiras de História e Serviço Social. Àquela altura, me restavam duas opções: eu poderia ir embora sem levar nada, ou ao menos poderia escolher uma obra para disfarçar a decepção. 

E então eu vi. Na parte mais alta de uma prateleira, um livro de capa azul olhava para mim. “A Culpa é das Estrelas”, do autor John Green, foi o que li. Nada mal, eu pensei. Uma obra aclamada pela crítica literária, e que inclusive era um dos títulos da minha lista, por que não ser a sorteada do dia? Voltei ao balcão e perguntei quanto ficaria com o desconto, na esperança de que o valor fosse razoável considerando a finura do livro. Como se isso fosse critério básico para estabelecer o preço de uma obra... 

E percebi que, se ainda restava alguma coisa do meu castelinho de areia, a terra tratou de tragar os resquícios dos escombros. 

Três reais de abatimento.

Cansado, desanimado, e com vontade de sair dali, não resisti e decidi comprá-lo. Na saída, me questionei se havia algum culpado nessa história. Eu, que permito que meu senso econômico deturpe a realidade? A livraria, que poderia ter sido mais gentil em seus descontos? Ou o próprio desconto, motivo que me levou até lá? 

Culpados à parte, um novo livro me aguardava, e depois voltei a pé para casa.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Jogos Vorazes: Em Chamas


Ela precisa ser eliminada. Toda a sua espécie tem que ser erradicada”.

É natural que uma obra que se enquadra na classificação infanto-juvenil tenha contida em sua trama temas como aventura, heroísmo e amor. E, é claro, que vez ou outra possua elementos que se distanciam da realidade. Mas também é bastante deleitoso quando o enredo contém uma profundidade inesperada, a qual oferece à história variados caminhos que possibilitam o estímulo da interpretação. 

De fato, Jogos Vorazes não é um produto que tem somente como finalidade arrebatar corações apaixonados. A primeira versão cinematográfica do livro de Suzanne Collins foi muito clara com relação a isto; afinal, se há algo a ser exaltado merecidamente em Jogos Vorazes, com certeza é a relação social estabelecida entre as minorias e os mais favorecidos, assim como todas as ações reacionárias e liberais que isso resulta. 

Em Chamas, apesar de ser moldado sob a perspectiva de uma nova direção (Francis Lawrence, mesmo diretor de Constantine e Eu Sou a Lenda), preserva as nuances positivas do primeiro filme e ainda, como toda boa saga deve fazer, deixa vestígios de que a gravidade dos acontecimentos tenderá a piorar.


Depois de vencer o 74º Jogos Vorazes, Katness Everdeen (Jennifer Lawrence) não consegue ver muita diferença na situação de distopia a qual os doze Distritos são submetidos. Panem demonstra um autoritarismo maior e a prova disso se configura no Presidente Snow, que, convencido de que Katness tenha despertado um monstro que nunca deveria acordar, está disposto a evitar qualquer ato de rebeldia contra a Capital. 

O contexto se agrava no momento em que os receios do Presidente tornam-se convicção. O fato de Katness e Peeta terem escapado dos Jogos com vida deu à população dos Distritos o discernimento para compreender que as barreiras da opressão podem ser contestadas e, acima de tudo, quebradas. A “garota em chamas” transformou-se em um símbolo para o povo e sua eliminação é necessária. Com isso, a Capital decide fazer novos Jogos, agora apenas com os vencedores das edições passadas, forçando Katness e Peeta a encararem a arena mais uma vez. 


O elenco permanece ótimo e recebe acréscimos; além dos novos Tributos, tem-se a adição de Philip Seymour Hoffman, em uma atuação excepcional. Os efeitos especiais melhoraram, provando que o sucesso do longa anterior tinha que reverberar de alguma maneira. No entanto, o tema sádico não é tão presente aqui. Dessa forma, os Jogos ficam de lado para dar mais espaço às subtramas, como abuso de poder e manipulação. O sangue foi substituído pela ideologia, algo que talvez fique mais explícito no terceiro filme. 

Jogos Vorazes: Em Chamas, então, serve de ponte para potencializar o que foi apresentado antes e estimular as labaredas da revolução que se aproxima (O final é aberto, no estilo Matrix Reloaded, o que certamente não agradará uma parcela dos espectadores). E se os produtores continuarem investindo neste aspecto é possível que o cinema fique diante de uma franquia que marque uma geração de jovens; não pelo amor, heroísmo ou aventura contidas na obra, e sim pela esperança de tornar seu público seres mais críticos e pensantes. 

Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo”.


Trailer:
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Thor - O Mundo Sombrio



Muitos acreditam que antes do Universo, nada havia. Estão errados. Havia trevas. E elas sobreviveram”. 

Após o tremendo sucesso arrecadado com Os Vingadores, a Marvel logo se empenhou para agilizar os preparativos da fase 2 nos cinemas, tendo início com a estreia de Homem de Ferro 3. No entanto, a terceira aventura solo de Tony Stark não agradou muitos fãs e tampouco deixou pistas de outros personagens do universo Marvel, algo que era sempre perceptível e interessante de analisar nos filmes anteriores. 

Dando continuidade ao projeto, cujo objetivo é chegar aos Vingadores 2, agora é a vez do asgardiano Thor voltar em seu segundo capítulo, surpreendentemente entregando ao público um filme não apenas melhor que o primeiro, mas também digno de preparar o terreno para os futuros planos da fase 2. 

O Mundo Sombrio começa apresentando o novo vilão, Malekith, rei dos Elfos Negros, e seu sórdido plano de encobrir todo o cosmo de escuridão. Depois de ser derrotado por Bor, pai de Odin (Anthony Hopkins), Malekith se exila e aguarda o momento de sua vingança. No presente, Thor (Chris Hemsworth) tenta pacificar os Nove Reinos enquanto Loki (Tom Hiddleston), depois de toda destruição que causou na Terra em Os Vingadores, é preso nos calabouços de Asgard.



No plano terrestre, Jane (Natalie Portman) ainda tenta compreender os fenômenos físicos e astrológicos que fizeram Thor cruzar seu caminho. Devido ao fato de estar no lugar errado e na hora menos conveniente, ela se torna uma peça fundamental do ardiloso esquema de Malekith, motivo que faz o Deus do Trovão levá-la para Asgard no intuito de que fique protegida. Entretanto, desta vez a ameaça pode atingir todos os Nove Reinos, e Thor é compelido a pedir a ajuda de Loki para que o equilíbrio cósmico não seja maculado. 

Agora com direção de Alan Taylor, aqui o cenário asgardiano ganhou novas feições; está mais bonito e grandioso, um trunfo que o filme soube usar muito bem, uma vez que grande parte do enredo se passa lá. Além disso, o espectador tem a oportunidade de ver as táticas de proteção da cidadela em uma batalha estruturalmente formidável e com belos efeitos visuais.


Contudo, certas falhas não passam despercebidas. Se Homem de Ferro 3 se apoiou nas cenas de ação e se despreocupou com a história e, principalmente, com a fidelidade aos quadrinhos, Thor – O Mundo Sombrio peca na comédia exacerbada. Afinal, com este subtítulo, era de se imaginar algo mais dramático. É comum que um filme de herói possua alívios cômicos, mas ao ponto de ofuscar a batalha final e fazer o protagonista deixar de lado as dores pessoais? 

Em suma, apesar de ser superior ao longa que deu início à fase 2, Mundo Sombrio também comete erros semelhantes; o vilão, por exemplo, possui uma motivação que não convence. Pelo menos, Loki conquistou mais momentos de glória e o final deixou ganchos para Guardiões da Galáxia, Vingadores 2 e um provável terceiro filme da franquia do Deus do Trovão. Novamente, a Marvel plantou rastros das grandes coisas que estão por vir e mostrou que sua capacidade de entreter ainda está bem longe de terminar.


Trailer:

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

É Preciso Saber Viver


Um famoso personagem da literatura infanto-juvenil certa vez disse: "Não vale a pena viver sonhando... E se esquecer de viver".

Esta assertiva combina um pouco com a música selecionada para hoje, É Preciso Saber Viver, na versão dos Titãs. A canção, que é quase um guia que descreve o que muitos encontrarão em seus caminhos e em suas vivências, exalta o fato de viver com sabedoria e tomar cuidado com ilusões e sofrimentos.

Porque aprender a viver é algo que se renova todos os dias, e as lições da vida só acabam quando damos o último suspiro. Portanto, aprendamos a viver com sabedoria para que as pedras e os espinhos do caminho não sirvam como percalços, e sim como experiências de amadurecimento. 


Letra:

É Preciso Saber Viver

Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver

Toda pedra do caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver, saber viver!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Kick-Ass 2


Kick-Ass não é apenas uma fantasia. É quem realmente você é”.

Em 2010, quando a versão cinematográfica do quadrinho Kick-Ass tornou-se realidade, não demorou muito para que chamasse a atenção. Não pela parte estrutural e técnica do filme, mas, sobretudo, por conter elementos insanos e completamente inesperados. Afinal, era hilário ver um adolescente nerd vestindo-se com roupa de mergulho no intuito de se tornar um super-herói, na mesma proporção em que era estarrecedor ver uma garotinha especialista em armas decepando membros de mafiosos. 

Pouco tempo depois, não foi surpresa anunciarem a continuação da obra de Mark Millar. A expectativa aumentou com a contratação do novo diretor, Jeff Wadlow, o qual escreveu um roteiro baseado fielmente no quadrinho. Dessa forma, Kick-Ass 2 chega, assim como seu predecessor, trazendo o mesmo clima que o enriqueceu e também exibindo novas características que enaltecem ainda mais a história desenvolvida por Millar. 

Após os acontecimentos do primeiro longa, as loucas atitudes de Dave (Aaron Taylor-Johnson) ao criar o herói Kick-Ass inspiraram outras pessoas a fazerem o mesmo. Agora existem mais super-heróis espalhados pela cidade, cada qual com um nome mais criativo que o outro. Na medida em que Dave tenta se acostumar com a companhia dos novos colegas e entra para a liga de heróis Justiça Para Sempre, comandada pelo Coronel Estrelas (Jim Carrey), Mindy (Chloe Grace Moretz) se esforça ao máximo para ter uma vida normal e esquecer que um dia já foi a Hit Girl. 


Com novos heróis, também se tem novos vilões. Depois da trágica morte de seu pai na aventura anterior, Chris D’Amico (Christopher Mintz-Plasse) é alimentado pelo desejo de vingança; ele não irá descansar até que Kick-Ass pague pelo mal que causou à sua família. Ele assume a carapuça vilanesca do Mother Fucker e o arco da sua jornada sombria é uma das coisas mais interessantes de se ver na película. 

Apesar da mudança na direção, a atmosfera continua idêntica. A estética que lembra uma história em quadrinho, assim como as referências à cultura pop, permanecem intactas no cerne da obra. A trilha sonora envolvente e empolgante lembra muito clássicos de videogames dos anos 80 e 90 e é tocante nos momentos que precisa ser. O senso heroico está mais intenso e rende boas cenas. No entanto, para quem gostou do humor do primeiro filme, é necessário dizer que o assunto aqui é levado a outro nível. Sim, desta vez Kick-Ass está mais dramático e psicológico, elementos que somente fortaleceram a narrativa. 


Infelizmente, nem tudo é perfeito em Kick-Ass 2. Por ser um filme curto (com menos duração que o primeiro, pelo menos), certos eventos acontecem rápido e alguns personagens poderiam ter sido mais aproveitados, como o Coronel Estrelas e outros heróis e vilões novos. Ao final, fica a vontade de ver mais do potencial que a produção tem a oferecer. Todavia, o foco de fato é de domínio do trio do longa passado, aqui com seus respectivos caminhos bem definidos. 

Kick-Ass 2 trouxe surpresas, ainda preservando elementos do seu antecessor. A violência, o sangue e o humor continuam lá e Hit Girl mais uma vez brilhou com êxito. E também traz consigo um drama e seriedade que não desmerecem a obra, apenas revelam mais uma faceta interessante desse universo. Em sua segunda versão cinematográfica, Kick-Ass novamente chamou atenção e conseguiu mostrar que para ser um super-herói não é preciso ter poderes; basta coragem e força de vontade para levar luz à escuridão.


"O mundo real precisa de heróis reais".

Trailer:

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eu Sou Deus


As certezas não são desse mundo. E as poucas que existem são quase sempre negativas”.

Quando se trata de um leitor assíduo, com uma boa bagagem literária no tema suspense e ação, chega um tempo em que o olhar consegue classificar se a narrativa que se desvela diante de si é agradável ou não. Às vezes o livro prende desde o início, enquanto em outras ocasiões o enredo demora um pouco para acelerar seu desenvolvimento. Contudo, se o fim não for satisfatório e não entrar em sintonia com o restante da história, todo o deleite pode ser dissolvido. 

Em Eu Sou Deus, tem-se o exemplo básico de uma boa obra, mas que infelizmente não ultrapassa a linha que uma excelente catarse literária é capaz de oferecer. O livro, escrito por Giorgio Faletti, foi lançado no Brasil pela editora Intrínseca e alcançou a marca de 2 milhões de exemplares vendidos somente na Itália. 

Em uma estratégia que lembra vagamente os livros de Dan Brown, a trama começa com um evento alarmante. Depois há um regresso no tempo, em que um determinado personagem é apresentado, porém sua função apenas fica clara na última metade da leitura e, de início, sua história não causa muita empolgação, até acontecer as primeiras mortes do enredo. 

Com o mistério no ar, a narração retorna à cronologia do presente e o leitor é apresentado aos verdadeiros protagonistas da aventura. Vivien Light é uma detetive da cidade de Nova York, solteira, que quando não pensa nos problemas do trabalho ocupa a mente com os transtornos familiares que precisa enfrentar. Já Russel Wade é o fracasso em pessoa; a ovelha negra de uma milionária família, um ímã que atrai dívidas com frequência e um triste homem que busca redenção. 

Esses adjetivos são fundamentais, pois são expostos de uma forma que familiariza o leitor com os personagens; tornam-se mais verdadeiros e é possível imaginar o drama pelo qual têm de passar. O caminho de ambos se cruza de uma maneira inesperada, tendo uma grandiosa catástrofe como o elo que os une. Logo Vivien e Russel se veem juntos diante de uma perigosa investigação: descobrir quem é o psicopata que está ameaçando toda Nova York e que se autodenomina Deus. 

A narração que Faletti conduz é extremamente coesa e rica de detalhes emotivos e psicológicos. Os diálogos são excepcionais, as relações bíblicas condizem com as características da trama e todo o arco investigativo deixa a centelha da curiosidade cada vez mais animada. No entanto, a surpresa do final não satisfaz toda a ansiedade adquirida ao longo da leitura; talvez por ser imprevisível demais ou até mesmo por se esperar algo melhor e ousado. 

Com Eu Sou Deus, Giorgio Faletti conseguiu demonstrar sua exímia habilidade no estilo narrativo. Personagens bem construídos, uma história interessante e uma coerência exemplar. Todavia, o leitor acostumado com obras de suspense e ação provavelmente não irá se convencer com a solução encontrada no final, lançando a obra no ramal das histórias nem ótimas e nem ruins; apenas admirável. 


As guerras acabam. O ódio é eterno”.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Gravidade


Tem alguém lá embaixo olhando para cima e pensando em você?”.

O espaço sideral, sem sombra de dúvidas, já se provou um cenário profundamente lúdico no âmbito das ficções científicas. É uma relação que desenvolve o imaginário do espectador, como fizeram Avatar e Star Wars, ao passo que também instiga a reflexão a respeito dos complexos mistérios que cercam nosso universo. 

Entretanto, por incrível que pareça, o encanto não se perde sob uma abordagem mais realista. E há de se afirmar que o realismo em Gravidade é demasiadamente abundante. Dirigido e escrito por Afonso Cuarón (de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), o longa apresenta uma narrativa cujo tema central é a sobrevivência e guarda em si a promessa de um dos melhores filmes de jornada espacial.

A premissa é simples: dois astronautas que se veem vítimas de um acidente e vagam pela órbita terrestre. Contudo, existem mais ingredientes por baixo do recheio e logo o enredo revela sua faceta metafórica. George Clooney vive o veterano Matt Kowalski, o qual se encontra em sua última missão antes da aposentadoria. Diferentemente de Sandra Bullock, que interpreta a novata e inexperiente doutora Ryan Stone. 


A nave em que ambos trabalham é atingida por uma tempestade composta pelos destroços de um satélite. Mas o foco recai na personagem de Bullock, pois o caminho da luta pela vida e a jornada da superação pertencem a ela. Por quase toda a exibição, apenas a atriz aparece em cena, recurso que Cuarón utilizou para fazer o espectador se aproximar e se afeiçoar à Dra. Stone. 

Essa técnica poderia ter feito o filme perder muitos créditos, uma vez que a monotonia ficaria evidente. Porém, mesmo com a Terra em plano de fundo meio que o tempo inteiro, o espetáculo visual dos efeitos especiais são magníficos e estarrecedores, combinando perfeitamente com a proposta realista estabelecida do início ao fim (Destaque para todas as cenas da tempestade, cada qual com sua devida importância).


Algo que também favorece a estética da película é o plano-sequência, ferramenta que Afonso sabe manusear muito bem e que aqui estendeu por minutos que pareciam não acabar. A trilha sonora, criada por Steven Price, transmite exatamente as sensações que são perceptíveis nas feições da astronauta: agonia, solidão e desespero, resultando em uma sincronia formidável. 

Gravidade mostra que, ainda que um ser humano esteja diante de um cenário em que tudo pode desfavorecê-lo, é possível encontrar uma oportunidade de renascer; a posição fetal de Bullock após concluir uma árdua tarefa é prova disso. E embora Gravidade não explore a questão da fantasia e do imaginário no espaço, pelo menos consegue – e com maestria – enaltecer a curiosidade de tentar entender o infinito universo que reside sobre nós.



Trailer:

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Lição do Herói



O clamor, embora muitas vezes seja quase inaudível, soa necessário desde sua plenitude à raiz de sua essência. Alguns já perderam a esperança e caíram na falsa e ilusória teoria de que a melhor opção é se adequar ao realismo torpe e nefasto ao qual somos submetidos e que, mesmo que involuntariamente, contribuímos para que fique pior. 

Em um mundo atroz, perverso e tétrico, a escolha mais propícia é não perder a fé. Depositar a confiança em uma figura cujas características sejam nobres, que seja um defensor e responsável por natureza, é acreditar que alguém ainda pode fazer a diferença nessa infeliz realidade. Pessoas precisam perseverar na esperança, sem deixá-la perecer. Pessoas necessitam continuar acreditando, por mais que seja árduo demais. As pessoas precisam de um herói. 



"Todo mundo adora um herói. As pessoas fazem filas para vê-los, para gritar seus nomes. E daqui a uns anos eles contarão como ficaram na chuva durante horas só para ver de relance aquele que os ensinou a continuar acreditando no bem. 

Eu acredito que exista um herói em todos nós. Que nos mantém honestos, que nos dá forças, nos enobrece. E que no fim nos permite morrer com orgulho. Ainda que, às vezes, tenhamos que ser firmes e desistir daquilo que mais queremos. Até de nossos sonhos".

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Elysium


 

Você pode salvar todos”.

Nos minutos iniciais de Elysium já é possível identificar qual a temática do filme, quando um cenário de seca e devastação entra em contraste com extensos gramados verdejantes e edificações reluzentes. A segregação fica cada vez mais gritante à medida que o espectador conhece a realidade de cada ambiente e o inexorável conflito entre ambos vai se tornando claro. 

O interessante em adotar a desigualdade social como o cerne de sua narrativa é que o diretor e também roteirista Neil Blomkamp (de Distrito 9) permitiu que boa parte do elenco fosse composto por atores latinos. As variadas etnias e os sotaques diferenciados dão mais consistência à trama, fortalecendo a ideia de que diante de um colapso global seria racional que as nações se unissem. 
 

Sendo fã dos dois Tropa de Elite, o diretor sul-africano escalou como um dos antagonistas o talentoso Wagner Moura, que não faz feio em sua estreia hollywoodiana e ainda ganhou espaço para bradar palavrões brasileiros. O enredo se passa no ano de 2159 em um planeta Terra avassalado pela miséria, doenças e desordem. Em contrapartida, tem-se Elysium, uma gigantesca plataforma espacial que guarnece os humanos economicamente favorecidos. Lá todos são isentos de qualquer tipo de enfermidade, possuem uma medicina deveras avançada e usufruem do bom e do melhor. 

Max (Matt Damon) é um operário que ganha a vida montando androides. Com um histórico recheado por delitos, ele acaba sendo vítima da própria desgraça. Agora o seu prazo de validade é curto, portanto ele busca a ajuda de Spider (Wagner) para entrar clandestinamente em Elysium e conseguir se salvar. De maneira inesperada, ele penetra em uma mirabolante empreitada e seu objetivo acaba ficando bem mais abrangente.


O roteiro também explora questões políticas, sem a qual talvez a história perdesse o sentido. Jodie Foster, em um desempenho frio, interpreta uma das principais secretárias de Elysium e fará o possível para que esse paraíso artificial permaneça elitista e conservador. E se o brasileiro Moura merece elogios, o mesmo vale para Alice Braga, a qual representa não apenas uma figura icônica no passado de Max, mas também traz à película uma emoção maternal. 

A ação do clímax não é tão empolgante, embora consiga transmitir certa tensão. Um pouco mais de suspense fez-se necessário, mesmo com um final imprevisível e com a bela mensagem. Em seu novo filme, Neil Blomkamp aborda a desigualdade e a sede de sobrevivência como os propulsores de uma profunda reflexão, em uma provável tentativa de representar a situação do seu país de origem. Uma temática antiga, ainda que sempre bem-vinda, adornada por um renovado desejo de mudança.



Trailer:

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Todos Estão Mudos


A expressão "o gigante despertou" tornou-se comum nos últimos três meses. Subitamente, cidadãos brasileiros uniram suas ideologias e saíram às ruas protestando, bradando, erguendo argumentos contra a impunidade, corrupção e outros diversos tipos de desigualdades.

Estamos certos em lutar pelos nossos direitos. Não devemos nos tolher perante à opressão do Sistema. O Sistema é como um vírus que se modifica e se adequa conforme às suas necessidades. Mas ele pode ser falho, e é pelas brechas que devemos entrar. E já ficou claro que manifestações conseguem obter resultados importantes. 

A música de hoje é dedicada aos manifestantes que saem pelas ruas, arriscando perder a moral e, em alguns casos, que sofrem com a violência do abuso das supostas autoridades. Avante! Não se calem! Que esse brado retumbante continue reverberando e que o despertar seja de fato legítimo e verdadeiro.


Letra:

Todos Estão Mudos
Já não ouço mais clamores
Nem sinal das frases de outrora
Os gritos são suprimidos
O corvo diz: "nunca mais"

Não parece haver mais motivos
Ou coragem pra botar a cara pra bater
Um silêncio assim pesado
Nos esmaga cada vez mais

Não espere, levante
Sempre vale a pena bradar
É hora
Alguém tem que falar

Há quem diga que isso é velho
Tanta gente sem fé num novo lar
Mas existe o bom combate
É não desistir sem tentar

Não espere, levante
Sempre vale a pena bradar
É hora
Alguém tem que falar

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cine Holliúdy


Enquanto existir vida, vai existir cinema”.

De uma forma ou de outra, os canais midiáticos exercem influência sobre a população. Tirando toda a parte maléfica presente nesta afirmação, houve um tempo em que os benefícios se resumiam à indescritível experiência de observar a arte imitando a vida. Por mais incrível que pareça, ainda existem resquícios desse legado em cidades no interior do Brasil, em que a praça central do município preserva uma pequena caixa reservada a guardar a televisão que em outrora serviu de passatempo em noites monótonas. 

Essa é uma das vertentes que o filme Cine Holliúdy tenta resgatar. Ambientada na década de 1970, a trama transporta o espectador ao sertão do Ceará, no qual muitas pessoas tiveram o seu apreço pelo cinema afetado com a chegada da televisão pública. Francisgleydisson (Edmilson Filho) é um homem que tem paixão pela sétima arte e acredita fervorosamente no poder do cinema. Por isso, decide mudar-se para outra cidade, levando a esposa Graciosa (Miriam Freeland) e seu filho, no intuito de expandir a magia cinematográfica e fazê-la acessível ao povo. 


Entretanto, logo encontra problemas financeiros e também políticos. Nesse sentido, o enredo ganha méritos por retratar paralelamente questões de êxodo rural, comunismo em plena Ditadura Militar e politicagem. Esses temas, com o auxílio do bom humor nordestino, além de representarem uma faceta triste da realidade que se perpetua até os dias de hoje, servem de caminho para que os antagonistas da história se destaquem, uma vez que eles sustentam boa parte da película. 

Tendo como base o curta-metragem O Artista contra o Caba do Mal, também dirigido por Halder Gomes, o filme começa muito bem, arrancando risadas graças ao linguajar que todo nordestino que se preze consegue identificar. E usufrui disso realizando um feito inédito, pois todas as falas são legendadas para caso alguém não entenda alguns vocábulos do dialeto. O infortúnio de usar a oralidade nordestina como muleta está nos momentos em que palavras pejorativas são utilizadas apenas para causar riso, sem acrescentar informação ou qualidade à trama. 


A fotografia, o figurino e o cenário podem se vangloriar por terem conseguido transmitir a sensação de outra época, mas a mesma congratulação não pode ser concedida ao roteiro. Se existem falas descartáveis, esse efeito é de igual proporção com relação a algumas cenas, como se estivessem ali somente para “tapar buraco”. E se o arco dramático atribuído ao protagonista fosse de tamanho similar ao do menino que sonha vislumbrar o espetáculo da arte, a intenção emotiva teria alcançado um resultado satisfatório. 

Apesar de perder o fôlego e se recuperar (não totalmente) no final, há de se relevar por ser uma produção de baixo orçamento. Embora apresente falhas no roteiro, o esforço que Cine Holliúdy faz para levar sua mensagem é digno de respeito. Tratando-se de um país multicultural como o Brasil, resta a esperança de que apareçam mais cineastas com a mesma paixão de Francisgleydisson, que lutem em prol do cinema como ferramenta de produzir sonhos e, por conseguinte, de tornar a vida um pouco mais bonita.



Trailer:

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Turma da Mônica - Laços


A idade de uma pessoa não é medida pela quantidade de anivelsálios que ela fez, mas pelo seu estado de espílito”. 

Todo visitante que já conheceu a Terra do Nunca deve saber que existe uma regra básica para sempre se lembrar desse ambiente mágico: nunca crescer. Ou, pelo menos, nunca deixar morrer o seu espírito de criança. No entanto, sinto-me incumbido para formular uma nova ordem, a qual vários adultos preservam e, muitas vezes, têm vergonha de admitir: valorizar as coisas que tornaram a infância memorável. 

Na década de 1990, o gênero textual com o qual eu tinha mais contato eram os gibis da Turma da Mônica. Colecionava as aventuras e devo dizer que a raiz do meu caráter leitor se formou ali. E, para um letrado, isso faz a diferença. Em 2013 a obra de Mauricio de Sousa completa 50 anos de existência e diversas homenagens foram realizadas, entre elas Turma da Mônica – Laços

A graphic novel, título dado ao estilo de romance gráfico, é a segunda do selo Graphic MSP que os Estúdios Mauricio de Sousa vêm desenvolvendo desde o ano passado (A primeira foi Astronauta – Magnetar). A história, criada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, é uma releitura dos clássicos personagens e transporta o leitor para uma trama emocionante, nostálgica e realmente formidável. 


Laços é extraordinário da primeira à última página. O enredo tem início com Cebolinha bebê, tendo o primeiro encontro com seu cachorro, Floquinho. Desde o começo, as cores e os traços do desenho merecem destaque, pois basta virar a página para se perceber o notável contraste de um flashback para o tempo real da narrativa. Após mais uma tentativa falha de roubar Sansão, o coelho de pelúcia da Mônica, Cebolinha e Cascão levam uma surra da dentuça e retornam à residência da família Cebola. 

Os meninos são pegos de surpresa com a notícia de que Floquinho desapareceu. A mensagem é clara: o companheirismo é o alicerce. No dia seguinte, o quarteto mais famoso do bairro do Limoeiro (e, talvez, do Brasil) une ideias para iniciar uma busca pelo cão perdido. Eles seguem as pistas e partem rumo à aventura, bem no estilo dos clássicos dos anos 80. 


Contudo, não são apenas o desenho e o roteiro que chamam a atenção na obra dos irmãos Cafaggi. Eles conseguiram respeitar os personagens do cânone, sempre colocando em evidência as características que os faz serem tão peculiares; Magali, com sua gula, está impagável. As cenas noturnas, inclusive o clímax, são as melhores (especialmente as do parque), criando uma atmosfera sombria ao enredo e atribuindo-lhe um tom de seriedade. 

Uma das coisas que mais comovem em Laços, todavia, é observar que a amizade é a engrenagem condutora da trama, a qual torna o conteúdo do quadrinho algo mais bonito e sublime. Com um desenho incrível, uma história bem estruturada e um humor inteligente, os Cafaggi conseguiram reavivar as lembranças da infância de uma maneira que faria Peter Pan ter inveja. E se para alçar voo até a Terra do Nunca seja necessário ter pensamentos felizes, o desafio fica bem mais prazeroso ao reencontrar essa saudosa e inseparável turminha.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos


Tudo que você ouviu sobre monstros, pesadelos, lendas sussurradas ao redor de uma fogueira... Todas as histórias são verdadeiras”. 

Quando assisti a Jogos Vorazes, tive receio do conteúdo que seria exibido diante dos meus olhos; por um momento acreditei que o filme seria deveras semelhante à saga Crepúsculo, uma vez que, para conquistar a geração de jovens atuais, o apelo ao universo fantástico acaba ganhando novas feições e características – por várias vezes – duvidosas e lastimáveis. Entretanto, me surpreendi ao constatar que o meu pré-conceito estava tremendamente equivocado. 

Embora a sensação não tenha sido inteiramente similar, ao final de Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos pude sentir um pouco da mesma experiência que tive ao apreciar a versão cinematográfica da obra de Suzanne Collins e, ao menos, restou o alívio de que também supera a saga “crepuscular”, ainda que precise melhorar em alguns aspectos. 


No que diz respeito à heroína, o direcionamento não poderia ser diferente: Clary Fray (Lily Collins) é uma garota de 16 anos que começa a ver e a fazer símbolos incompreensíveis para ela e, aparentemente, para as outras pessoas também. Certa noite, ela e seu melhor amigo, Simon, entram em um clube, onde a menina presencia um assassinato. O problema é que Clary foi a única que conseguiu ver os responsáveis pelo crime. 

Com a curiosidade latejando em suas veias, ela segue uma das pessoas invisíveis. O personagem em questão é Jace (Jamie Campbell Bower), o qual percebe de imediato que Clary não é uma humana normal. O enredo ganha tonalidades mais obscuras com o desaparecimento da mãe de Clary e com a descoberta de que, assim como Jace, ela é uma Caçadora das Sombras; a mistura de anjo com humanos, alguém cuja missão é derrotar demônios. Em seguida, a garota vai conhecendo novos aliados, a existência do Cálice Mortal (o objeto mais cobiçado da história), a verdadeira identidade de sua mãe, e pouco a pouco passa a ter um vislumbre do seu grandioso destino.


Inspirado no romance de Cassandra Clare e dirigido por Harald Zwart (responsável pelo remake de Karate Kid), o longa não deixa a desejar nos efeitos visuais. As cenas de ação são diversas e a atuação que mais se destaca é a da protagonista. Contudo, muitas coisas são explicadas de maneira veloz, preocupando-se mais com as lutas do que com a mitologia proposta. E, com esta temática, a qual contém em si um teor sombrio e bizarro, seria sensato abrir um tempo maior para explicações. Qual é a função de um Instrumento Mortal, afinal? Quantos existem? 

Em um quadro geral, Os Instrumentos Mortais possui os elementos que prendem a atenção de um jovem desta geração; há vampiros e lobisomens, mas também há demônios, alguns bem assustadores, algo mais complexo e preocupante. E mesmo com um clima de trevas, restam pequenos minutos de romance com uma tonalidade juvenil. A adaptação cinematográfica de Cidade dos Ossos, primeiro volume da série de Cassandra Clare, tem potencial e um esforço admirável, porém, ainda precisa fazer por merecer o prestígio de uma respeitosa franquia.


Trailer:

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Uma Cilada Para Roger Rabbit


Desenhos devem fazer as pessoas rirem. Uma risada pode ser bastante poderosa. Porque às vezes, na vida, é a única arma que nós temos”. 

É quase mágico e utópico quando paramos para refletir que, apesar da passagem do tempo e das mudanças sociais, os desenhos ainda permanecem encantando e entretendo gerações. A possibilidade de se divertir com algo surreal e de viajar por entre um mundo impossível de existir é uma experiência que as crianças, inclusive os saudosos adultos, fazem questão de descrever. 

Deve ser por isso que Uma Cilada Para Roger Rabbit é um filme tão surpreendente. Lançado em 1988, o longa foi o pioneiro na união do live-action com a animação tradicional; não é difícil imaginar o estarrecimento das crianças que cresceram na década 1990 ao vislumbrar pessoas reais interagindo com desenhos animados em uma história inteligente, lapidada com suspense e humor. 


Baseado no romance de Gary K. Wolf, publicado em 1981, o enredo nos transporta para Hollywood no final da década de 1940. O detetive particular Eddie Valiant (Bob Hoskins) é contratado por R.K. Marron, dono da empresa Marron Desenhos, para averiguar com quem a esposa de Roger Rabbit, o atrapalhado coelho, o está traindo. Logo se descobre que Marvin Acme, proprietário da Desenholândia, a terra de todos os desenhos, está intimamente envolvido com a senhora Rabbit. 

A trama se intensifica com a morte de Acme e a culpa do homicídio recai sobre o suspeito mais óbvio: Roger. Desesperado, o coelho pede a ajuda de Eddie, uma vez que no passado a especialidade do detetive era ajudar desenhos. É por meio de muitas desavenças, puxões de orelhas e confusão que Eddie vai descobrindo que o esquema por trás da morte de Acme é muito mais sorrateiro e misterioso, capaz até de extinguir a Desenholândia. 


Vencedor de 4 Oscar, incluindo para Efeitos Visuais, o filme foi dirigido por Robert Zemeckis (diretor da trilogia De Volta Para o Futuro) e produzido por Steven Spielberg. Além do longa ter sido inovador para a época nos padrões técnicos, também conseguiu uma proeza que muitas pessoas duvidaram: firmar um acordo com a Warner Bros. e Disney, fato que permitiu a aparição de seus personagens nas mesmas cenas (É provável que tenha sido aqui que o Mickey e o Pernalonga apareceram juntos pela primeira e única vez). 


No entanto, é importante frisar que não é um roteiro voltado exclusivamente para o público infantil; violência, tiroteio, morte, alusões a sexo e adultério estão presentes na obra, elementos que não denigrem a qualidade da película, pois a proposta é clara desde o início. É também necessário lembrar do sádico juiz Doom, interpretado por Christopher Lloyd, criador da substância que mata desenhos em questão de segundos: o Caldo. 

Uma versão comemorativa foi lançada recentemente para celebrar os 25 anos deste clássico que certamente marcou a infância de uma geração. Uma Cilada Para Roger Rabbit não mostrou apenas desenhos sob uma perspectiva mais adulta; atiçou a imaginação das crianças que sempre quiseram acreditar na existência de um mundo que antes parecia inalcançável. É claro que, com a tecnologia da atualidade, tudo é possível. Mas a emoção de ver Roger Rabbit e Eddie juntos em cena, em uma louca aventura, é uma nostalgia que a modernidade jamais poderá apagar.

Trailer dos 25 anos:

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Círculo de Fogo


Nós sempre pensamos que a vida alienígena viria das estrelas. Mas veio das profundezas do mar, por um portal entre dimensões no Oceano Pacífico. Algo lá fora havia nos descoberto. Eles contavam que nós, humanos, iríamos nos esconder, desistir, falhar. Eles nunca consideraram nossa capacidade de resistir, de suportar... De estar à altura do desafio”. 

É preciso mais do que coragem para apostar em uma ficção científica. Além da ousadia, estudos e criatividade – elementos cruciais no processo da criação ficcional – é necessário acrescentar mais um ingrediente à fórmula. Sem ele, talvez todo o projeto perca o seu sentido. É preciso que o criador acredite em sua criatura. 

E quando se trata em fé por ficções científicas na esfera cinematográfica do século XXI, o nome de Guillhermo Del Toro é um dos mais lembrados. Sendo produtor de alguns filmes que fogem da realidade, como Kung Fu Panda 2 e o Gato de Botas, ambos resultados de sua parceria com a DreamWorks, o cineasta mexicano soma ao seu currículo a direção dos filmes O Labirinto do Fauno e os dois Hellboy, obras cujo conteúdo se assemelham no quesito imaginário. 

Em Círculo de Fogo, sua película mais recente, Del Toro se debruça com mais afinco no conceito de irrealismo, sem qualquer tipo de receio e tampouco medo de extrapolar os limites da lógica, e entrega uma nostálgica e ótima homenagem ao espectador que cresceu assistindo os clássicos japoneses exibidos nas décadas de 1980 e 1990. 


No futuro, a Terra começa a ser atacada por monstros que surgiram das profundezas do Oceano Pacífico. Os Kaiju, as bestas de proporções descomunais (uma mistura de Godzilla com os gigantes do jogo Shadow of the Colossus), atacam sem motivo aparente, devastando tudo por onde passam, e nada se sabe dos seus objetivos e muito menos se pretendem cessar a destruição. 

Entretanto, os humanos desenvolveram um método para combater as criaturas. Construíram robôs gigantes, os quais são manipulados por dois pilotos, cada qual responsável por controlar um hemisfério da faceta robótica. A esperança reside em um plano insano, que só pode ser realizado com a ajuda do piloto Raleigh (Charlie Hunnam) e da treinadora Mako (Rinko Kikuchi). Os dois têm suas respectivas razões para aceitar a missão e encontram compatibilidade por meio de experiências traumáticas do passado. 

 

A prova de que Del Toro se divertiu na construção do filme está nas cenas de luta, uma mais impactante que a outra. E o auxílio do extraordinário 3D, unido com a forte mistura de cores, deixa o cenário mais claro e psicodélico. A trilha sonora é empolgante e aqui o alívio cômico se destaca por ter uma função bastante inesperada e satisfatória, embora exagerada em certos trechos. Mas tudo é grande e exagerado em Círculo de Fogo, e não seria surpresa se Del Toro tiver feito isso intencionalmente, uma vez que o propósito principal é retomar os consagrados programas japoneses em que os enormes monstros destruíam os prédios de isopor. 


Infelizmente, o roteiro deixa um pouco a desejar em relação ao desenvolvimento do protagonista (a narração em off que inicia o filme de repente some e não volta mais) e talvez um pouco mais de drama enaltecesse o brilho do enredo. Porém, Círculo de Fogo não veio para se preocupar com detalhes literários, veio para entreter. E com um diretor cuja mente parece estar sempre disposta a acreditar na fantasia, o fabuloso e encantador resultado não poderia ter sido diferente.


"Hoje, no limite da nossa esperança... No fim do nosso tempo... Nós escolhemos acreditar uns nos outros. Hoje enfrentaremos os monstros que estão a nossa porta! Hoje vamos cancelar o apocalipse!".

Trailer:

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sina


Para você que valoriza o afeto familiar,

Para você que tem coragem de sonhar,

Para você que acredita no destino e no amor,

Para você que não se deixa levar pelo rancor.

Para você que já gostou de alguém,

Para você que só quer ver o bem,

Para você que gosta de poesia,

Para você que batalha dia após dia.

Para você que não tem vergonha de sorrir,

Para você que odeia fingir,

Para você que adora ler,

Para você que ama viver.



Letra:


Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome pra poder falar de amor

Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz

A luz de um grande prazer é irremediável neon

Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon

O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A Viagem



Nossa vida não é nossa de fato. Do útero ao túmulo, temos ligações com os outros, no passado e presente. E por cada crime e cada bondade, geramos nosso futuro”.

A História é viva e, portanto, está em constante processo de desenvolvimento. O curioso e talvez, de certa forma, impressionante, é que ao fazer uma análise histórica de determinados fatos ocorridos na humanidade, é possível ver que há alguns personagens, de épocas e classes sociais distintas, que lutaram e acreditaram em ideais semelhantes.

Não sei se existe uma teoria histórica para isso, mas às vezes fica fácil de ver que toda a linha do tempo está interligada quando se observa os erros passados refletindo no presente e ecoando no futuro. Esse efeito dominó, que perpassa o interior das eras, é um dos temas centrais do filme A Viagem, baseado no romance de David Mitchell.


Após uma exibição de quase 3 horas, é realmente difícil não refletir a respeito da ideologia proposta. E as peculiaridades vão desde o enredo à direção, uma vez que foi um filme comandado pelos irmãos Wachowski (criadores de Matrix) e por Tom Tykwer (diretor de Corra, Lola, Corra). Ainda que seja um filme projetado por três visões, o resultado final causa uma forte e boa impressão na memória devido ao equilíbrio delicadamente explorado.

O roteiro, por si só, é digno de mérito. Procurando ser fiel à obra, o longa apresenta ao espectador seis núcleos, os quais se passam em anos totalmente diferentes. A proeza reside em fazer isso aleatoriamente sem prejudicar o entendimento, pois todas as histórias estão conectadas de alguma maneira. E por isso uma atenção redobrada é essencial. Começamos no século XIX, acompanhando a viagem de um advogado que almeja voltar para casa ao passo que inicia uma amizade com um escravo.


Em seguida, há o primeiro salto temporal: a edição nos leva para a década 1930, na qual conhecemos um jovem deserdado que sonha em se tornar um compositor. Sendo ajudante de um grande músico, o rapaz consegue compor o Sexteto Atlas das Nuvens (Cloud Atlas, título original do filme e da obra). Na década de 1970, vemos uma jornalista tentando desvendar um misterioso assassinato. 2012 é o núcleo da comédia, em que um grupo de idosos tenta escapar de um asilo. Em 2144, um clone transforma-se no ícone de uma resistência. E, por fim, somos apresentados ao que sobrou da civilização em um futuro pós-apocalíptico.

E se o roteiro e direção merecem suas congratulações, o mesmo vale para a equipe de maquiagem e efeitos visuais. Os atores, também ótimos, foram transfigurados e algumas vezes nem é possível identificá-los em meio a tantas transformações; alguns aparecem em todas as histórias e inclusive há casos de troca de sexo. Destaque especial para Tom Hanks, Halle Berry, Jim Sturgess, Donna Bae e Hugo Weaving.


Acima de tudo, A Viagem defende a liberdade, o amor e a verdade como um direito de todos, independente da hierarquia social. Para que essa ideia seja sustentada até o fim, o enredo se apoia em reflexões filosóficas, sociais e cristãs, elementos que criam uma atmosfera mais lúdica ao filme. Muitos personagens, de épocas diferenciadas, deixaram suas marcas na História, conectando vidas e emoções. E se houver uma teoria para isso, espero que resultados positivos ecoem nas gerações futuras. Pelo menos, não custa nada acreditar.


"Acredito que há outro mundo esperando por nós. Um mundo melhor. E eu estarei esperando por você lá".



Trailer: