sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cine Holliúdy


Enquanto existir vida, vai existir cinema”.

De uma forma ou de outra, os canais midiáticos exercem influência sobre a população. Tirando toda a parte maléfica presente nesta afirmação, houve um tempo em que os benefícios se resumiam à indescritível experiência de observar a arte imitando a vida. Por mais incrível que pareça, ainda existem resquícios desse legado em cidades no interior do Brasil, em que a praça central do município preserva uma pequena caixa reservada a guardar a televisão que em outrora serviu de passatempo em noites monótonas. 

Essa é uma das vertentes que o filme Cine Holliúdy tenta resgatar. Ambientada na década de 1970, a trama transporta o espectador ao sertão do Ceará, no qual muitas pessoas tiveram o seu apreço pelo cinema afetado com a chegada da televisão pública. Francisgleydisson (Edmilson Filho) é um homem que tem paixão pela sétima arte e acredita fervorosamente no poder do cinema. Por isso, decide mudar-se para outra cidade, levando a esposa Graciosa (Miriam Freeland) e seu filho, no intuito de expandir a magia cinematográfica e fazê-la acessível ao povo. 


Entretanto, logo encontra problemas financeiros e também políticos. Nesse sentido, o enredo ganha méritos por retratar paralelamente questões de êxodo rural, comunismo em plena Ditadura Militar e politicagem. Esses temas, com o auxílio do bom humor nordestino, além de representarem uma faceta triste da realidade que se perpetua até os dias de hoje, servem de caminho para que os antagonistas da história se destaquem, uma vez que eles sustentam boa parte da película. 

Tendo como base o curta-metragem O Artista contra o Caba do Mal, também dirigido por Halder Gomes, o filme começa muito bem, arrancando risadas graças ao linguajar que todo nordestino que se preze consegue identificar. E usufrui disso realizando um feito inédito, pois todas as falas são legendadas para caso alguém não entenda alguns vocábulos do dialeto. O infortúnio de usar a oralidade nordestina como muleta está nos momentos em que palavras pejorativas são utilizadas apenas para causar riso, sem acrescentar informação ou qualidade à trama. 


A fotografia, o figurino e o cenário podem se vangloriar por terem conseguido transmitir a sensação de outra época, mas a mesma congratulação não pode ser concedida ao roteiro. Se existem falas descartáveis, esse efeito é de igual proporção com relação a algumas cenas, como se estivessem ali somente para “tapar buraco”. E se o arco dramático atribuído ao protagonista fosse de tamanho similar ao do menino que sonha vislumbrar o espetáculo da arte, a intenção emotiva teria alcançado um resultado satisfatório. 

Apesar de perder o fôlego e se recuperar (não totalmente) no final, há de se relevar por ser uma produção de baixo orçamento. Embora apresente falhas no roteiro, o esforço que Cine Holliúdy faz para levar sua mensagem é digno de respeito. Tratando-se de um país multicultural como o Brasil, resta a esperança de que apareçam mais cineastas com a mesma paixão de Francisgleydisson, que lutem em prol do cinema como ferramenta de produzir sonhos e, por conseguinte, de tornar a vida um pouco mais bonita.



Trailer:

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