sexta-feira, 26 de setembro de 2014

As Tartarugas Ninja



Santa tartaruga!”.

Em meados da década de 1980, os jovens Kevin Eastman e Peter Laird quebravam a cabeça para criar uma história que fizesse sucesso. Após alguns debates e doses de álcool, a dupla, inspirada por ícones como Frank Miller e HQ’s de X-Men, conseguiram desenvolver um enredo a respeito de tartarugas mutantes adolescentes, as quais eram versadas em artes marciais e viviam na clandestinidade dos esgotos de Nova York. 

As revistas em quadrinhos dos quelônios renderam sucesso, e como a fórmula resultou em lucros além do imaginável, não demorou para o fenômeno ser transportado à TV e ao cinema, confirmando o que muitos já sabiam: o estilo das tartarugas conquistou o público em geral. Com um legado que perpassa três décadas, respeitando a origem e utilizando as referências certas, fica até fácil chamar a atenção do espectador contemporâneo. 

É bastante provável que tenha sido pensando dessa maneira que o produtor Michael Bay (diretor de Transformers), juntamente com o diretor Jonathan Liebesman (Fúria de Titãs 2), decidiu mexer os pauzinhos. E sabendo que muitos jovens se satisfazem com efeitos visuais elaborados e cenas de ação mirabolantes, ambos não pouparam esforços e trouxeram As Tartarugas Ninja ao século XXI.


O roteiro não fugiu do cânone naquilo que se refere à gênese dos quelônios. As tartarugas têm seus sistemas afetados por uma substância mutagênica, esta sendo a responsável pelos traços humanoides que elas adquirem. Exiladas no esgoto, são criadas por mestre Splinter e batizadas com os nomes de quatro grandes artistas do Renascimento: Leonardo, Raphael, Donatello e Michelangelo. 

A cidade está sofrendo com os incansáveis ataques do Clã do Pé, liderados pelo Destruidor, e a repórter April O’Neil (Megan Fox) segue os rastros desse grupo em busca da matéria que vai mudar sua vida, até cruzar com o quarteto mutante. E logo o filme começa a revelar falhas; April conduz o enredo de tal forma que as tartarugas ficam quase em segundo plano. Todo espectador deve concordar que a beleza de Megan Fox é deslumbrante, mas suas aparições algumas vezes são desnecessárias, especialmente no clímax.


O roteiro se perde em sua própria função. Com boas piadas e momentos de drama, os produtores precisam decidir se o público alvo são as crianças ou os adultos, e isso reflete nos personagens; vilões com motivações tão frágeis e opacas quanto os “finais” que lhes foram concebidos. Felizmente, acertaram com sabedoria nos efeitos especiais. Criadas por captura de movimento, a estética das tartarugas está esplendorosa. 

As cenas de ação também merecem elogios, muitas das quais foram feitas exclusivamente para o 3D e cumprem com eficiência a sua finalidade. Em suma, As Tartarugas Ninja é um bom filme para se divertir e passar o tempo. Michael Bay mais uma vez conseguiu engatilhar uma franquia que vai render cachoeiras de dinheiro. No entanto, fica a incógnita, e apenas o futuro dirá se os produtores vão utilizar a mesma esperteza dos criadores e fazer com que o quarteto ninja saia do esgoto e vença as mazelas da sétima arte.

Trailer:

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Inferno


Os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiverem neutros em tempos de crise moral”. 

O termo “dantesco” é comumente relacionado ao escritor florentino Dante Alighieri porque o mesmo é o autor de uma obra grandiosa e atemporal, na qual um homem (o próprio Dante) precisa atravessar o Inferno, Purgatório e Céu para reencontrar-se com sua amada. O livro, que possui uma narrativa épica com elementos teológicos, tornou-se referência na literatura universal. 

A Divina Comédia de fato é uma obra rica em informações e reflexões, tendo inspirado centenas de artistas. Talvez um dos mais famosos e recentes desses admiradores seja Dan Brown, que em seu livro Inferno utilizou-se da obra de Dante como a bússola para guiar o professor e simbologista Robert Langdon em uma nova jornada. 

Certa noite, Langdon acorda em um hospital em Florença, com um ferimento na cabeça e perda de memória. Sem saber como foi parar ali, ele pede a ajuda da Dra. Sienna Brooks. No entanto, antes que a médica possa fazer qualquer coisa, ambos são atacados por uma assassina cuja missão é matar Langdon. 

Após uma eletrizante fuga, Robert descobre um objeto peculiar dentro do seu paletó. Nele está a pista do que o professor esteve fazendo nas últimas 36 horas; curiosamente, ele foi à Florença para seguir os vestígios que alguém deixou para ele. Evidências que apenas um bom conhecedor de simbologia e leitor fanático da Divina Comédia conseguiria identificar. 

Com o passar do dia, na companhia de Sienna, a trama se desenrola e os dois acabam descobrindo que o responsável por tais pistas não é apenas um homem rico e inteligente, mas também um cientista com a deturpada visão de que, para que a humanidade não fique diante de um iminente evento cataclísmico, bilhões de pessoas precisam morrer. Dessa maneira, é necessário que Robert e Sienna corram contra o tempo antes que um mal desconhecido se alastre pelo mundo. 

Assim como fez em O Código Da Vinci e Anjos e Demônios, Dan Brown constrói a narrativa de Inferno ao redor de um intenso suspense que prende o leitor desde as primeiras páginas. O enredo contém explicações didáticas a respeito de temas relativos à ciência biológica e social, convergindo áreas distintas para um clímax interessante. Além disso, faz um passeio por algumas cidades europeias de um modo tão detalhado e específico, que fica notável a abundante pesquisa que Brown fez para desenvolver a trama. Todavia, vez ou outra a descrição exacerbada torna a leitura cansativa. 

Inferno também é repleto de reviravoltas, diferente do morno Símbolo Perdido, revelando que aquilo que antes parecia não ser tão simples para o professor Langdon agora pode se expandir ao resto do planeta. E como de costume, o livro é considerado um fenômeno e sua versão cinematográfica já está confirmada. Em seu isolamento, Dante criou uma obra que para alguns da época foi considerada transgressiva. Hoje a sua importância e valor são imensuráveis. Destino irônico à parte, o incrível permanece dantesco. 

Busca e encontrarás”.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Guardiões da Galáxia


Eu olho para nós e sabem o que vejo? Perdedores. Mas a vida está nos dando uma chance”.

Durante os créditos finais de Thor – O Mundo Sombrio, é exibida uma cena em que o Colecionador (Benicio Del Toro) recebe um determinado item de procedência duvidosa e valor inestimável. A cena em questão era mais uma evidência do quebra-cabeça que a Marvel está tentando montar e, para os cinéfilos desinformados, faz conexão direta com a trama de Guardiões da Galáxia

Essa talvez seja a aposta mais arriscada que a Marvel já fez para um filme. Além de apresentar ao público uma equipe pouco conhecida, o gasto que a produção teve foi bastante considerável. Era primordial que a aventura arrecadasse bons lucros e que o enredo trouxesse mais graça e conteúdo ao universo que a indústria está construindo. Felizmente, o resultado não revelou apenas um roteiro cativante que exalta a amizade, como também personagens com um potencial de atingir as estrelas. 

No ano de 1988, o jovem Peter Quill (Chris Pratt) é abduzido após a morte de sua mãe. Vinte e seis anos depois, vagando por um planeta inóspito, Quill, que agora se autointitula de “Senhor das Estrelas”, encontra um misterioso orbe e o rouba para que seja vendido posteriormente. O que ele sequer imagina é que tal objeto contém uma Joia do Infinito, um artefato deveras poderoso e cobiçado por uma criatura sedenta por matança e destruição: Ronan, o Acusador.


Ronan, tendo feito um acordo com seu pai, Thanos, precisa do orbe para que seu plano de dizimar civilizações seja concluído. A cabeça de Quill é posta a prêmio e logo ele passa a ser procurado por Gamora (Zoe Saldana), irmã de Ronan, e pelos caçadores de recompensa Rocket, um guaxinim falante (na voz original de Bradley Cooper), e Groot, uma árvore humanoide (na voz de Vin Diesel). 

Após alguns imprevistos, todos acabam indo presos. Na carceragem, conhecem o musculoso Drax e, mesmo com as personalidades distintas, eles percebem que podem unir forças para escapar e também que seus objetivos se cruzam; se quiserem continuar vivos e limpar sua honra, terão de impedir Ronan de alguma maneira.

 
Com direção de James Gunn, Guardiões da Galáxia é um surto de piadas e referências à cultura pop. Parte dessa comicidade deve-se ao talentoso elenco e à maquiagem extremamente colorida, mas a trilha sonora, composta por clássicas canções da década de 1970 e 1980, tem um papel fundamental na história (digna de concorrer ao Oscar); ela concede ao longa momentos de leveza e reflexão, os quais ajudam a delinear o caráter do grupo e o espaço onde interagem. 

Por se tratar de um filme de origem, o roteiro se preocupa mais em estabelecer a relação entre os personagens que compõem a equipe do que em apresentar vilões fortes e tenebrosos, algo que deve mudar na futura continuação. É preciso lembrar, porém, que Guardiões da Galáxia é apenas uma pequena peça do jogo e que seu enredo faz ligação com Os Vingadores 3, portanto, abre as portas para o caminho de Thanos. A Marvel não tem com o que se preocupar; tirou do seu baú um time de pouco prestígio, acertou na escolha, e o elevou a um patamar cósmico. Por enquanto, a galáxia pode dormir mais tranquila.


Trailer: