“Nós sempre pensamos que a vida alienígena viria das estrelas. Mas veio das profundezas do mar, por um portal entre dimensões no Oceano Pacífico. Algo lá fora havia nos descoberto. Eles contavam que nós, humanos, iríamos nos esconder, desistir, falhar. Eles nunca consideraram nossa capacidade de resistir, de suportar... De estar à altura do desafio”.
É preciso mais do que coragem para apostar em uma ficção científica. Além da ousadia, estudos e criatividade – elementos cruciais no processo da criação ficcional – é necessário acrescentar mais um ingrediente à fórmula. Sem ele, talvez todo o projeto perca o seu sentido. É preciso que o criador acredite em sua criatura.
E quando se trata em fé por ficções científicas na esfera cinematográfica do século XXI, o nome de Guillhermo Del Toro é um dos mais lembrados. Sendo produtor de alguns filmes que fogem da realidade, como Kung Fu Panda 2 e o Gato de Botas, ambos resultados de sua parceria com a DreamWorks, o cineasta mexicano soma ao seu currículo a direção dos filmes O Labirinto do Fauno e os dois Hellboy, obras cujo conteúdo se assemelham no quesito imaginário.
Em Círculo de Fogo, sua película mais recente, Del Toro se debruça com mais afinco no conceito de irrealismo, sem qualquer tipo de receio e tampouco medo de extrapolar os limites da lógica, e entrega uma nostálgica e ótima homenagem ao espectador que cresceu assistindo os clássicos japoneses exibidos nas décadas de 1980 e 1990.
No futuro, a Terra começa a ser atacada por monstros que surgiram das profundezas do Oceano Pacífico. Os Kaiju, as bestas de proporções descomunais (uma mistura de Godzilla com os gigantes do jogo Shadow of the Colossus), atacam sem motivo aparente, devastando tudo por onde passam, e nada se sabe dos seus objetivos e muito menos se pretendem cessar a destruição.
Entretanto, os humanos desenvolveram um método para combater as criaturas. Construíram robôs gigantes, os quais são manipulados por dois pilotos, cada qual responsável por controlar um hemisfério da faceta robótica. A esperança reside em um plano insano, que só pode ser realizado com a ajuda do piloto Raleigh (Charlie Hunnam) e da treinadora Mako (Rinko Kikuchi). Os dois têm suas respectivas razões para aceitar a missão e encontram compatibilidade por meio de experiências traumáticas do passado.
A prova de que Del Toro se divertiu na construção do filme está nas cenas de luta, uma mais impactante que a outra. E o auxílio do extraordinário 3D, unido com a forte mistura de cores, deixa o cenário mais claro e psicodélico. A trilha sonora é empolgante e aqui o alívio cômico se destaca por ter uma função bastante inesperada e satisfatória, embora exagerada em certos trechos. Mas tudo é grande e exagerado em Círculo de Fogo, e não seria surpresa se Del Toro tiver feito isso intencionalmente, uma vez que o propósito principal é retomar os consagrados programas japoneses em que os enormes monstros destruíam os prédios de isopor.
Infelizmente, o roteiro deixa um pouco a desejar em relação ao desenvolvimento do protagonista (a narração em off que inicia o filme de repente some e não volta mais) e talvez um pouco mais de drama enaltecesse o brilho do enredo. Porém, Círculo de Fogo não veio para se preocupar com detalhes literários, veio para entreter. E com um diretor cuja mente parece estar sempre disposta a acreditar na fantasia, o fabuloso e encantador resultado não poderia ter sido diferente.
"Hoje, no limite da nossa esperança... No fim do nosso tempo... Nós escolhemos acreditar uns nos outros. Hoje enfrentaremos os monstros que estão a nossa porta! Hoje vamos cancelar o apocalipse!".
Trailer:
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