Quando se trata de um leitor assíduo, com uma boa bagagem literária no tema suspense e ação, chega um tempo em que o olhar consegue classificar se a narrativa que se desvela diante de si é agradável ou não. Às vezes o livro prende desde o início, enquanto em outras ocasiões o enredo demora um pouco para acelerar seu desenvolvimento. Contudo, se o fim não for satisfatório e não entrar em sintonia com o restante da história, todo o deleite pode ser dissolvido.
Em Eu Sou Deus, tem-se o exemplo básico de uma boa obra, mas que infelizmente não ultrapassa a linha que uma excelente catarse literária é capaz de oferecer. O livro, escrito por Giorgio Faletti, foi lançado no Brasil pela editora Intrínseca e alcançou a marca de 2 milhões de exemplares vendidos somente na Itália.
Em uma estratégia que lembra vagamente os livros de Dan Brown, a trama começa com um evento alarmante. Depois há um regresso no tempo, em que um determinado personagem é apresentado, porém sua função apenas fica clara na última metade da leitura e, de início, sua história não causa muita empolgação, até acontecer as primeiras mortes do enredo.
Com o mistério no ar, a narração retorna à cronologia do presente e o leitor é apresentado aos verdadeiros protagonistas da aventura. Vivien Light é uma detetive da cidade de Nova York, solteira, que quando não pensa nos problemas do trabalho ocupa a mente com os transtornos familiares que precisa enfrentar. Já Russel Wade é o fracasso em pessoa; a ovelha negra de uma milionária família, um ímã que atrai dívidas com frequência e um triste homem que busca redenção.
Esses adjetivos são fundamentais, pois são expostos de uma forma que familiariza o leitor com os personagens; tornam-se mais verdadeiros e é possível imaginar o drama pelo qual têm de passar. O caminho de ambos se cruza de uma maneira inesperada, tendo uma grandiosa catástrofe como o elo que os une. Logo Vivien e Russel se veem juntos diante de uma perigosa investigação: descobrir quem é o psicopata que está ameaçando toda Nova York e que se autodenomina Deus.
A narração que Faletti conduz é extremamente coesa e rica de detalhes emotivos e psicológicos. Os diálogos são excepcionais, as relações bíblicas condizem com as características da trama e todo o arco investigativo deixa a centelha da curiosidade cada vez mais animada. No entanto, a surpresa do final não satisfaz toda a ansiedade adquirida ao longo da leitura; talvez por ser imprevisível demais ou até mesmo por se esperar algo melhor e ousado.
Com Eu Sou Deus, Giorgio Faletti conseguiu demonstrar sua exímia habilidade no estilo narrativo. Personagens bem construídos, uma história interessante e uma coerência exemplar. Todavia, o leitor acostumado com obras de suspense e ação provavelmente não irá se convencer com a solução encontrada no final, lançando a obra no ramal das histórias nem ótimas e nem ruins; apenas admirável.
“As guerras acabam. O ódio é eterno”.
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