“Nós não estamos destinados a salvar o mundo. Estamos destinados a deixá-lo”.
Existem fatos que a indústria do cinema não pode negar. Inúmeras são as referências de filmes marcantes que trouxeram contribuições tanto de enredo e teorias, quanto de efeitos técnicos. E se o cinéfilo devoto fizer uma retrospectiva dos filmes que mais se destacaram nos últimos dez anos, provavelmente pelo menos uma obra do diretor Christopher Nolan estará na lista.
É indiscutível o trabalho revolucionário que Nolan fez com a trilogia Batman – O Cavaleiro das Trevas. Há poucos exemplos de longas que trouxeram um herói para tão perto da realidade. E durante os intervalos dos filmes do Homem-Morcego, o diretor ainda teve tempo de entregar ao público produções mirabolantes e inquietantes, como O Grande Truque e A Origem.
A Warner Bros. tem muito a agradecer pelos rios de dinheiro que as obras de Nolan garantiram à empresa. E com a confiança estabelecida, ele tem autonomia suficiente para propor qualquer projeto, seja de natureza complexa ou absurdamente inconcebível. E assim chega sua recente produção, Interestelar, que, assim como foi feito em seus outros filmes, promete levar muitos questionamentos à imaginação do espectador.
A estreia de Nolan na ficção científica tem uma premissa interessante. Em um futuro não determinado, os recursos naturais da Terra estão praticamente exauridos. Uma praga se alastrou e, pouco a pouco, dizima milhares de plantações. O fazendeiro e engenheiro Copper (Mattew McConaughey) é convocado pela NASA para pilotar uma nave que pode ser a última esperança do planeta.
A tripulação desta nave é composta por cientistas, entre eles a doutora Brand (Anne Hathaway), e o objetivo da missão é viajar até a órbita de Saturno, na qual se encontra um buraco negro. Atravessando o “buraco de minhoca” e, portanto, entrando em outra galáxia, a equipe terá de encontrar um planeta que seja o mais parecido possível com a Terra, antes que toda a raça humana seja extinta.
É perceptível algumas marcas registradas que não podem faltar na cinematografia de Nolan; a parceria com o compositor Hans Zimmer, por exemplo, que aqui mais uma vez revela que sua criatividade continua se expandindo. Sua trilha sonora funciona muito bem em momentos de tensão e expectativa, enaltecendo a importância de determinadas cenas. A técnica da direção de arte também se destaca, sobretudo no espaço; Saturno mal parece que foi gerada por computação gráfica; o planeta da água e do gelo são visualmente fabulosos; a cena em que a nave se aproxima da gargântua é simplesmente belíssima.
A atuação de McConaughey, cujo mote de querer voltar para os seus filhos lembra um pouco o personagem de Leonardo DiCaprio em A Origem, sustenta quase toda a parte emotiva e o restante do elenco é responsável por carregar o teor científico que o filme expõe. Era preciso que fosse no mínimo convincente, pois até mesmo as teorias esmiuçadas têm princípios verídicos estabelecidos pela física quântica.
Interestelar também potencializa alguns temas que antes foram abordados superficialmente nos longas de Nolan. O amor talvez seja o fio condutor de toda a trama e, como um dos personagens desabafa, é capaz de quebrar a barreira do tempo e espaço, gerar fé e a autoconfiança de que o Homem pode realizar grandes coisas quando se devota ao bem.
Infelizmente, existem deslizes que poderiam ter sido facilmente evitados. Como se a situação dos personagens já não fosse crítica e alarmante o bastante, surge um “vilão” dotado com discursos desnecessários e crises de consciência. E tem mais: há um trecho do roteiro que poderia ser alterado ou reescrito com uma solução mais coerente, e isso acaba por comprometer parte do final. No entanto, é possível que seja apenas mais uma artimanha do diretor para semear indagações conflitantes na mente do espectador.
Com duração de quase três horas, Interestelar tentou homenagear outra grande obra do gênero: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Entretanto, é sensato não comparar ambos, uma vez que é evidente que cada qual tem suas respectivas características e legados distintos. Sem dúvida, é mais um filme marcante para o histórico de Christopher Nolan e para todo cinéfilo que sente prazer pelo desconhecido e que consegue ver as respostas nas entrelinhas. Ou, metaforicamente falando, prefere procurá-las na vastidão do espaço.
Trailer:
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