segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Animais Fantásticos e Onde Habitam


Vamos recuperar minhas criaturas antes que se machuquem. Elas estão atualmente em terreno alheio, rodeadas por milhões das mais ferozes criaturas do planeta: humanos”.

O conceito de prequel ou spin-off não é novidade no cinema. O público já se deparou com filmes nesta vertente e, provavelmente, em alguns casos, sequer notou a que se tratava. São histórias derivadas de grandes obras, que podem ou não ter ligação com o original. É essa a condição de O Hobbit, prelúdio de O Senhor dos Anéis, e Rogue One: Uma História Star Wars, spin-off que ocorre entre os Episódios III e IV da epopeia dos Cavaleiros Jedi.

Animais Fantásticos e Onde Habitam se enquadra nesse perfil por se passar no mesmo universo de Harry Potter. Mais precisamente, 70 anos antes de o Menino Que Sobreviveu descobrir que era o bruxo mais famoso do século e ingressar na Escola de Magia de Hogwarts. Dirigido por David Yates, responsável pelos últimos quatro filmes da saga Potter, e roteirizado pela própria J.K. Rowling, o longa tem como intuito expandir o mundo mágico que encantou – e ainda encanta – gerações.


No ano de 1926, o jovem Newt Scamander (Eddie Redmayne) chega à cidade de Nova York com uma mala repleta de criaturas mágicas. Para infelicidade do bruxo europeu, os animais começam a escapar de sua maleta e ele embarcará em uma jornada para resgatá-los com a ajuda dos novos amigos, a ex-auror Tina (Katherine Waterston), a legilimente Queenie (Alison Sudol) e o trouxa Jacob (Dan Fogler). 


Porém, não apenas de caçar bichos o enredo se resume. Rowling não dá ponto sem nó. O Congresso Mágico dos Estados Unidos (MACUSA, no inglês) investiga misteriosos ataques que podem ter ligação com o bruxo das trevas Grindelwald. É preciso ter muita cautela para impedir que uma guerra entre bruxos e trouxas aconteça.


Yates conduz a trama de modo sutil, uma vez que há anos se sente confortável dentro do ambiente mágico. Os animais criados por computação gráfica são esplêndidos e carismáticos, e se revelam como uma narrativa secundária. A cena dentro da maleta de Newt, por exemplo, mostra toda a exuberância das criaturas e resgata a formosura da magia da saga Potter. 


A escolha pelo quarteto de atores principais, especialmente Redmayne e Waterston, foi formidável. O ganhador do Oscar constrói em Scamander o típico caráter de nerd e desajeitado, configurando uma bela harmonia com Tina. A emoção no olhar de ambos faz o espectador mergulhar com mais veemência no drama do roteiro. Ainda que o núcleo de Credence (Ezra Miller) seja misterioso demais ao ponto de prejudicar o andamento do filme, fica a impressão de que sua participação não parou por aqui.


Animais Fantásticos e Onde Habitam, nome do livro que Newt escreveu e que se tornou material didático em Hogwarts, promete uma expansão significativa, madura e poderosa no universo de Harry Potter. Serão cinco filmes ao todo, e a ideia é que tudo culmine no grande evento ocorrido em 1945. Para o fã que se sentiu maravilhado com Harry Potter e a Pedra Filosofal, quando a jornada do menino-bruxo começou, certamente terá sua nostalgia duplicada no momento em que aquele familiar mundo mágico ressurgir. É um fascínio impossível de perder. 


Trailer:

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Doutor Estranho


E se eu lhe dissesse que a realidade que você conhece é apenas uma de muitas?”.

O universo cinematográfico da Marvel já apresentou de tudo um pouco. Homens que encolhem, equipe espacial, deuses, príncipes africanos, super soldados. A lista é grande e a tendência é que aumente no decorrer dos anos. E é no décimo quarto filme da empresa que o público é finalmente apresentado ao neourocirurgião Stephen Strange (Benedict Cumberbatch).

Doutor Estranho cumpre bem com a função de contar uma história de origem. O filme tem início com a apresentação do vilão, Kaecilius, que rouba as páginas de um livro misterioso. Em seguida o enredo abre alas para Cumberbatch brilhar como o arrogante médico, que nos minutos iniciais já deixa claro seu conturbado relacionamento com Christine Palmer (Rachel McAdams) e seu primoroso talento com as mãos.  


Após um acidente em que suas mãos são gravemente feridas, Strange inicia sua busca por cura. Sua caçada o leva para Kamar-Taj, local onde conhece a Anciã (Tilda Swinton) e Mordo (Chiwetel Ejiofor). Ambos lhe ensinam o poder das artes místicas, a existência de multiversos e até a projeção astral. Porém, também existe um lugar chamado Dimensão Negra, ambiente comandado por Dormammu, a quem Kaecilius obedece. Cabe a Strange, com o auxílio do Olho de Agamotto, e seus amigos a tarefa de defender o plano espiritual da Terra.


Dirigido por Scott Derrickson (de O Exorcismo de Emily Rose e A Entidade), Doutor Estranho possui aspectos que o distanciam de outros filmes da Marvel. A começar pelas cenas de ação que distorcem a realidade, bem típico de Matrix e A Origem, e que são imprescindíveis que sejam assistidas em 3D. A obra também tem um drama peculiar – e que, como é de se esperar da Marvel, não é aprofundado – e talvez seja, depois de Capitão América: Guerra Civil, o filme mais sangrento da Casa das Ideias.


Infelizmente, Doutor Estranho falha naquilo que a Marvel tem de pior: o desenvolvimento de personagens e, por conseguinte, um vilão que não fornece medo e autoridade. Neste caso, o erro é ainda mais monumental por ser composto por um elenco de peso. Rachel McAdams é uma excelente atriz e sua função se resume somente a ficar assustada.  


O roteiro também não escapa da maldição. O segundo ato praticamente inteiro é situado em uma cena de ação, ocupando um tempo que poderia ser preenchido com detalhes que poderiam fortalecer a trama. A narrativa apressada também não esclarece quanto tempo Strange passou procurando por cura, e por se tratar de um universo compartilhado, isso pode trazer incoerências.

Apesar das imperfeições, o longa, como já dito anteriormente, traz uma ação formidável e um destaque interessante para o Manto da Levitação, objeto que foi bem encaixado como alívio cômico. Obviamente, Doutor Estranho faz referências a questões já conhecidas pelo público, como as Joias do Infinito. É a Marvel preparando o terreno para o próximo filme dos Vingadores e despertando a curiosidade dos fãs para um mar de possibilidades que ainda podem vir. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Sete Homens e Um Destino


Eu procuro justiça. Mas aceito vingança”.

Em 1960 estreava Sete Homens e Um Destino, remake de Os Sete Samurais de Akira Kurosawa. Um típico Velho Oeste que rendeu centenas de elogios e três continuações. Porém, com a onda incessante de remakes que assola Hollywood, parecia óbvio que em algum momento chegaria a vez dos faroestes.

Dirigido por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento e O Protetor), o filme, apesar de ser de época, não foge das características básicas de uma refilmagem: tenta criar um laço de empatia do público atual para com a obra. Isso é perceptível desde a variada etnia que compõe o grupo dos sete, à bravura de uma mulher e um clímax com destruição explosiva. 


Quando as pessoas de um vilarejo são atormentadas por um vilão que quer tomar suas terras (Peter Sarsgaard), é preciso pedir a ajuda de pessoas corajosas (ou suicidas) para lutar pelos oprimidos. O líder dessa empreitada é Sam Chisolm (Denzel Washington), que recruta os seis homens restantes.


O roteiro da trama se sustenta na relação entre os sete heróis. Cada qual tem sua origem (há espaço até para um latino e um ocidental), e a interação que eles constroem entre si é divertida de assistir. Infelizmente, se o enredo tivesse se aprofundado neste aspecto, poderia ter rendido uma identificação maior do que ter arrastado com desleixo a segunda parte do filme (no mínimo, teve algo de errado com a edição) até chegar ao seu desfecho. 


É notório que cada um possui uma história pregressa. Um dos personagens, por exemplo, possui visões, pressentimentos, um trauma causado por batalhas antigas. Por que a produção sequer mostra essas visões? E por que não explorar um pouco da gênese de Josh Farraday (Chris Pratt, o palhaço da equipe) e revelar como ele se tornou um malandro?


Antoine Fuqua, ainda que tenha concedido aqui bons enquadramentos e um clímax respeitável, poderia ter aproveitado mais seu elenco de peso – especialmente o vilão – para enriquecer a obra. Fica difícil saber qual é o propósito de Sete Homens e Um Destino, considerando um final que não deixa claro qual o rumo que a história irá tomar. Pode-se dizer que pelo menos valeu a tentativa.    

Trailer:

  

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O Quarto Poder


Você tem que decidir se faz parte da história ou se vai filmar a história”.

Um Estado Democrático é regido por três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), pelo menos é o que diz a teoria. Com o avanço das mídias, logo surgiu a expressão “quarto poder”, referindo-se ao desempenho que o jornalismo exerce sobre a sociedade. Considerado por muitos como uma prática social, o jornalismo atua dentro dos âmbitos dos três poderes mencionados; ele analisa, investiga e revela à população ocorrências de natureza ilícita. No caso do Brasil, é mais corriqueiro observar este aspecto no parâmetro político.


O filme Mad City, lançado em 1997 e dirigido por Costa-Gavras, narra a rotina do inescrupuloso jornalista Max, interpretado por Dustin Hoffman, o qual foi designado a realizar uma reportagem comum em um museu. A reviravolta acontece quando Sam (John Travolta), ex-vigilante do museu, surpreende a todos ao adentrar no local em posse de uma arma e explosivos. Sam quer somente o emprego de volta, mas ao plano sai do controle quando alguém é baleado. Max enxerga na situação a possibilidade de ganhar o merecido destaque e, por conseguinte, impulsionar sua carreira.  


O Quarto Poder, como foi traduzido no Brasil, é uma típica obra simplória; com sutileza, Costa-Gavras não se utiliza de enquadramentos de câmera complexos e tampouco de uma trilha sonora elaborada. É um filme que não almeja grandes ambições e, mesmo que fosse este o caso, talvez tenha faltado um pouco mais de recursos. 


Apesar de ter sido um fracasso na bilheteria, O Quarto Poder sabe a que veio. O roteiro relata uma faceta negativa do jornalismo: o sensacionalismo, a busca desenfreada por audiência e a capacidade de manipular as massas. É estarrecedor perceber como a vida imita a arte e ver as engrenagens da imprensa modificando a opinião pública. E a última imagem do filme, congelada propositadamente para causar um efeito impactante, cumpre com sua função, estampando a ausência de limites que a mídia possui e sua insaciável vontade de sufocar a fonte até onde for possível.   


Essas ferramentas são exploradas com eficácia à medida que Max constrói em Sam uma figura icônica capaz de despertar sentimentos variados no telespectador e, principalmente, demonstrando a destreza da mídia em moldar ideologias e destruir vidas. O Quarto Poder traz um final assombroso e reflexivo, e não é coincidência ter a sensação de já ter visto algo similar na televisão. Estranho seria se fosse o contrário.

sábado, 27 de agosto de 2016

As Crônicas de Aedyn: Os Escolhidos


O casamento do cristianismo com a literatura fantástica não é novidade. Tendo em vista que muitos enxergam o livro de Apocalipse como uma narrativa fabulosa, não há como negar que a união das duas temáticas, além de ser aceitavelmente possível, combina. E algum dos frutos desse matrimônio podem se transformar em formidáveis referências.

As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, é apenas um dos exemplos; embora tenha profundas alegorias ao universo cristão, a obra conquistou um público variado. Consequentemente, outros escritores se enveredaram por esse caminho de possibilidades infinitas (Há também o brasileiro Leandro Lima, com As Crônicas de Olam), e foi pensando dessa forma que o irlandês Alister McGrath criou a série As Crônicas de Aedyn.

Os Escolhidos, primeiro volume da trilogia, narra a história de dois irmãos, Pedro e Júlia. O menino, devoto a maquinas e química; a menina, uma ávida leitora. Ambos vão passar as férias na casa dos avós, cuja parte do terreno é ocupada por um jardim. E uma noite sem lua, Júlia percebe que o jardim está brilhando. A menina é guiada a entrar no jardim, acompanhada por seu irmão, e os dois caem em um lago.

A dupla desperta na terra de Aedyn, local mágico e extraordinário. No entanto, é um ambiente dominado por três lordes: o Chacal, o Lobo e o Leopardo, os quais regem o território com leis severas e mantêm uma legião de pessoas como escravas. Os irmãos descobrem que fazem parte de uma profecia que promete paz e liberdade ao povo de Aedyn, e logo se veem no processo para arquitetar uma rebelião.

Alister McGrath criou um universo com muitas aventuras, mas sem intenções de grandeza – pelo menos no primeiro volume. É perceptível durante a leitura que o teor do enredo é bastante juvenil e, em determinados momentos, inocente e simplório. O livro possui menos de 200 páginas, permeadas por uma série de acontecimentos suaves e conflitos rápidos. Contudo, essa pureza não é um demérito; ela resgata o saudosismo da infância e o encanto transmitido por meio do olhar de dois jovens.  


As Crônicas de Aedyn: Os Escolhidos é um guia para crianças e adolescentes que almejam alcançar a iniciação no mundo da literatura fantástica. E uma vez que um mundo é descoberto, a curiosidade para conhecer outros é despertada. E essa prazerosa e inesquecível experiência é algo difícil de largar. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Esquadrão Suicida


Eu não vou matar você. Só vou lhe deixar muito, muito machucada”.

A construção de uma franquia, ou de um universo cinematográfico, não é algo que se faz da noite para o dia. É preciso tempo para planejar e organizar os mínimos detalhes. Neste quesito, a Marvel tem motivo para se vangloriar; seu universo já está na terceira fase, com planos de continuar até depois de 2020. O mesmo não pode ser dito da DC, a qual tem um mundo recém-estabelecido e que, infelizmente, ainda tem muito que aprender.

Batman vs. Superman: A Origem da Justiça recebeu um amontoado de críticas negativas por ser um filme muito sério, longo, por possuir vários personagens no enredo, e fatos que não são explicados adequadamente. A versão estendida, para felicidade geral, corrige as falhas apresentadas. Era de se esperar que a DC acertasse o tom com Esquadrão Suicida, película que dá continuidade a esse novo universo, mas a sensação confusa permanece a mesma.


Seguindo a cronologia de A Origem da Justiça, Superman está morto e o governo precisa desenvolver uma força tarefa que seja capaz de defender as maiores autoridades do país no caso de surgir uma entidade tão poderosa quanto o Homem de Aço. Amanda Waller (Viola Daves) convence os governantes a porem em prática uma ação que una os piores criminosos para que possam combater as futuras ameaças. 


Os selecionados para compor o time são Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie, um dos pontos altos do filme), Bumerangue, Crocodilo e Diablo. A equipe está sob a supervisão de Rick Flag e Katana, formando então o esquadrão. Se falharem, serão mortos; se tiverem êxito, a pena de cada um será reduzida.


A DC tentou seguir a moda dos filmes leves, prometendo, pelo que era perceptível nos trailers, um enredo irreverente, recheado de piadas, um design gráfico exagerado e uma trilha sonora pop. Esse contraste deve-se à negatividade que caiu sobre Batman vs. Superman e também pelo sucesso de longas como Deadpool e Guardiões da Galáxia. Esses são os pontos positivos de Esquadrão Suicida


Agora vamos para o que o filme errou, o que não é pouca coisa. Assim como ocorreu com Zack Snyder, David Ayer teve a infelicidade de ver seu projeto picotado pela edição. Ordens da produção da Warner, é claro, e tal norma enfraqueceu o roteiro e, consequentemente, todo o potencial que Esquadrão Suicida tinha a conceder. O exemplo disso está no Coringa de Jared Leto; não se pode dar uma opinião conclusiva a respeito da construção que ele deu ao Palhaço do Crime, uma vez que a maioria das cenas em que o personagem aparecia foram excluídas. O próprio ator se revelou insatisfeito e frustrado com os cortes.


A edição prejudica também o andamento da trama, incluindo algumas faixas da trilha sonora. O filme vai bem até a metade, porém tropeça quando entrega a ação, danifica o clímax com uma morte desnecessária e falha drasticamente no desenvolvimento dos personagens – ao ponto de um deles declarar que são uma família, embora a exibição não mostre embasamento algum para tal assertiva. David Ayer, além de dirigir, foi o responsável pelo roteiro. E talvez a culpa seja dele por ter inserido uma vilã tão superficial quanto Magia, que mesmo possuindo poderes sobrenaturais precisa construir uma máquina para destruir a humanidade. Simplesmente não faz sentido. 


Esquadrão Suicida é o típico filme que deveria ter uma classificação etária alta, tendo em vista os personagens insanos que contém. Todavia, o enredo tenta humanizar os vilões de uma maneira que apenas funciona com o Pistoleiro e Diablo; e, de modo inacreditável, essa humanização sobra até para o Coringa, que em vez de ser uma ameaça se mostrou um simples gângster apaixonado por sua amante.


No entanto, da mesma forma que em Batman vs. Superman, Esquadrão Suicida se esforça em fundamentar um universo, trazendo participações de outros heróis da DC e fazendo menções para o que está por vir (cena durante os créditos). A Warner ainda tem tempo de corrigir a algazarra que causou, e os fãs esperam que esse conserto traga mais oportunidades para Jared Leto, Viola Davis e Magot Robbie. O caminho para o triunfo é marcado por erros, e um dia todos ficarão felizes por finalmente reconhecerem que a DC encontrou o rumo certo. 

Trailer:

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Independence Day: O Ressurgimento


Tivemos vinte anos para nos preparar. Nunca tivemos a mínima chance”.

O cineasta Roland Emmerich é conhecido por gostar de eventos catastróficos, isso tudo porque possui em seu histórico filmes que abordam essa temática, seja por motivos naturais ou até por monstros modificados geneticamente. Mas foi na década de 1990, com Independence Day, que ele conseguiu resgatar e trazer um novo olhar para este gênero, com efeitos visuais que, para a época, eram inovadores.

Desde o início dos anos 2000 que uma sequência era cogitada. E após muita conversa e com a decisão de que Will Smith não retornaria “por ter um cachê alto demais”, Emmerich lança Independence Day: O Ressurgimento, na tentativa de reprisar o sucesso do anterior. E é uma lástima ver que, em termos de qualidade, este é bastante inferior.

O Ressurgimento não escapou do saudosismo que vem tomando conta da indústria do cinema e tem em si a mesma fórmula que Star Wars: O Despertar da Força usou; a união do elenco original com uma nova geração de atores. Vinte anos se passaram desde o primeiro ataque dos alienígenas ao planeta Terra e todo o mundo vive em paz. A ciência está mais moderna, uma vez que foi fundida com tecnologia extraterrestre. 


Um programa de defesa global foi inaugurado para o caso de novos ataques acontecerem, e David (Jeff Goldblum) é o diretor desse projeto. Ele descobre que uma das naves da primeira invasão mandou sinais para outras naves no universo, enquanto os alienígenas presos na área 51 começam a celebrar. É o anúncio do segundo ataque.


Diferente de outros filmes que Roland dirigiu, como O Dia Depois de Amanhã, 2012, e o próprio Independence Day de 1996, O Ressurgimento não sabe explorar seus núcleos, deixando-os rasos e tornando os personagens apáticos. Além de um roteiro escrito por cinco pessoas, a edição do filme também o prejudica, focando mais em cenas pirotécnicas e com demasiada computação gráfica do que no desenvolvimento dos seus protagonistas. 


Como se não fosse o suficiente, situações estapafúrdias são inseridas sem a menor preocupação em deixar o enredo coerente. De repente surge um grupo de crianças, que não se sabe de onde vieram e tampouco quem são seus pais; um cientista que passa vinte anos em coma e desperta como se tivesse dormido apenas um dia; um personagem que passa o filme inteiro servindo de alívio cômico, mas que não acrescenta nada à trama; um final que traz um gancho esdrúxulo... São somente alguns dos exemplos. Fica a impressão (e a esperança) de que em breve uma versão estendida será anunciada para pelo menos amenizar as grandiosas falhas do roteiro.   


O que se salva são poucas características de Emmerich, como as destruições em escalas épicas. O diretor também apela para a mistura de etnias, no intuito de deixar o filme mais comercializável no mercado internacional, e peca ao tentar atingir todos os públicos de uma única vez (há inclusive uma cena gay). Independence Day: O Ressurgimento deixa de lado toda a seriedade que o antecessor trazia para se transformar em um típico filme de diversão, cujo objetivo não vai além de arrancar risadas e encher os olhos com os efeitos especiais.  Tiveram vinte anos para pensarem em uma continuação, e bastou duas horas de exibição para estragarem um clássico. 

Trailer:

sexta-feira, 24 de junho de 2016

2016.2 vem aí!


O primeiro semestre de 2016 passou voando! E apesar de algumas decepções, eis que surge o segundo semestre para trazer novas esperanças (ou não). Temos o retorno da franquia Caça-Fantasmas, desta vez em uma versão feminina, e Jason Bourne na quarta tentativa de descobrir quem realmente é. Temos a DC Comics continuando a expansão de seu universo com Esquadrão Suicida e seu novo Coringa, Tim Burton regressando à temática juvenil, e o professor Robert Langdon em busca do Inferno de Dante. Para finalizar o semestre, a Marvel apresenta ao público o seu novo herói ao passo em que a Warner investirá novamente no fantástico mundo de Harry Potter. E, é claro, Star Wars reaparece em seu primeiro spin-off.  

Qual será um sucesso? E qual irá decepcionar os fãs? Faça suas apostas! 

Caça-Fantasmas:

Jason Bourne:


Esquadrão Suicida:



O Lar das Crianças Peculiares:



Inferno: 


Doutor Estranho: 



Animais Fantásticos e Onde Habitam:

 

Rogue One - Uma História Star Wars:

sábado, 18 de junho de 2016

Truque de Mestre: O 2º Ato


Se tem algo em que acredito, é no olho por olho”.

Quando Truque de Mestre estreou em 2013, o filme não tinha grandes ambições e tampouco a pretensão de levar ao público uma reflexão intelectual acerca de mágicas no estilo O Grande Truque. Foi com o suspense e com cenas de ação frenéticas e envolventes que o longa fez sucesso, lucrando quase o triplo do que custou.

E na indústria do cinema lucro é sinônimo de que mais ovos de ouro podem sair desse ganso, e assim surgem franquias e continuações, ainda que indesejáveis. Truque de Mestre: O 2º Ato, desta vez sob a direção de Jon M. Chu, investe na irreverência de seus personagens e traz tantas reviravoltas quanto seu antecessor, porém fica a impressão de que algo no percurso da mágica não funciona como deveria. 


Um ano se passou desde que Os Quatro Cavaleiros descobriram que o inspetor do FBI Dylan Rhodes (Mark Ruffalo) era o mentor misterioso que os orientava em suas práticas de Robin Hood. Seguindo o direcionamento da quase invisível sociedade chamada de “O Olho”, a equipe se organiza para armar seu retorno. No entanto, um novo inimigo surge e os força a realizar um roubo quase impossível.


Em questão de narrativa, o enredo é constituído por diversas surpresas. Não é um demérito; talvez a imprevisibilidade de Truque de Mestre seja seu maior trunfo. O problema é que O 2º Ato desconstrói alguns princípios estabelecidos no primeiro e isso pode desagradar os fãs que foram conquistados em 2013. E, tendo a fórmula das reviravoltas funcionado naquele com eficácia, neste tropeça um pouco por exagerar demais e querer ir além da conta. É preciso estar com os olhos atentos para que o raciocínio não se perca no caminho. 


Apesar dessa sensação de desconforto, o filme é carismático. Tal simpatia é causada pelo excelente elenco, aqui com as adições de Daniel Radcliffe e Lizzy Caplan. Todos os atores transmitem uma sintonia formidável, com uma merecida atenção especial a Woody Harrelson, que mostra nuances peculiares muito interessantes. E sem dúvidas é maravilhoso ver os Quatro Cavaleiros usufruindo de seus pacotes de ilusionismo (destaque para a cena em que todos estão sendo revistados, embora seja surreal).   


A edição também continua rápida no intuito de acompanhar o ritmo com que os eventos se desenrolam, fazendo com que Truque de Mestre: O 2º Ato se assemelhe com o primeiro filme, mesmo que porventura a intenção não fosse essa. O feitiço pode não ter sido tão prestigioso quanto antes, mas sempre existem bons truques que podem impedir a mágica principal de descer pelo ralo. Basta que a magia, neste caso, recupere a artimanha correta.   

Trailer:

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos


Se não nos unirmos, nosso mundo perecerá”.

É bastante perceptível que os quadrinhos estão passando por mais uma era de ouro. O objeto que antes era visto com certo preconceito e como motivo para ridicularização hoje é a fonte de origem que leva multidões para o cinema. A sétima arte encontrou no mundo dos heróis um caminho para conquistar novos públicos e gerar renda. Era apenas uma questão de tempo até alguém questionar: será que chegou a hora para os games receberem o mesmo destaque?

Mortal Kombat, Tomb Raider, Sthreet Fighter são somente alguns dos exemplos que fracassaram na década de 1990 para o início de 2000. Infelizmente essas franquias tiveram o azar de terem sido produzidas no tempo inadequado, no qual a cultura nerd não era tão difundida e em que os efeitos especiais ainda não tinham chegado ao seu apogeu. Agora que o avanço tecnológico permite que a criação de mundos fantásticos esteja ao alcance das mãos, não há momento mais propício no qual Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos seja o ponto de partida para que os games ganhem seu espaço.


Azeroth, o mundo fictício de Warcraft, é muito semelhante à Terra-Média de O Senhor dos Anéis, no sentido de que homens, magos, e outras raças como anões e elfos convivem pacificamente, apesar das diferenças. A harmonia de Azeroth é quebrada quando um portal é aberto trazendo parte da Horda de orcs. O mundo em que as criaturas viviam está sucumbindo e eles precisam encontrar um novo lar. 


Durotan é o líder de um dos clãs dos orcs. Ele acredita que seu povo pode viver em paz e quer que sua raça se veja livre da magia ardilosa e funesta de Gul’dan. Por isso decide fazer uma arriscada aliança com os homens a fim de evitar que uma guerra aconteça entre ambas as partes.


Um dos maiores desafios que o gênero fantasia enfrenta é a possibilidade de que nem todos os espectadores sintam empatia pela obra. Essa é a razão que faz com que eles precisem ter uma característica fundamental: a habilidade de saber contar uma história. O Senhor dos Anéis e Avatar de James Cameron, por exemplo, embora sejam filmes longos, sabem aproveitar o tempo que possuem para explorar seus universos, enquanto a Marvel utiliza uma fórmula que agrada todas as faixas etárias. Isso não ocorre em Warcraft e é justamente seu calcanhar de Aquiles. 


O diretor Duncan Jones (de Lunar e Contra o Tempo), nerd de carteirinha, colocou diversas referências que os fãs e jogadores irão identificar com facilidade. Porém, quem não conhece esse universo e tem como único contato o filme, muito provavelmente se sentirá perdido com a velocidade em que os fatos discorrem e com a quantidade de informações sem esclarecimentos aprofundados. O roteiro é superficial e não há tempo para explanar a rica história de Warcraft (Se Azeroth tem sete reinos, quais são eles?), a relação entre os humanos e tampouco a dos orcs (O nome do mundo dos orsc sequer é citado. E qual a origem do fel? Como Gul’dan adquiriu tanto poder?). 


Com a edição repleta de cortes – Jones declarou que cortou 40 minutos de filme –, a trama fica deslocada e até o romance que a produção tenta inserir perde um pouco de sentido. Entretanto, o que pode fazer com que a mitologia tenha mais uma chance são os efeitos visuais. E o espectador que preferir ter a experiência em 3D ficará mais encantado. Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, com todo o empenho da produção e com o teor épico do enredo, pode dar a introdução para que os games comecem a ser apreciados pelos cinéfilos (Assassin’s Creed vem aí), ou simplesmente fazer com que a maldição dos seus antepassados se repita. 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

X-Men: Apocalipse


 Tudo o que eles construíram, cairá. E das cinzas desse mundo, construiremos um melhor”.

A palavra apocalipse, no grego, significa “revelação”. Já no imaginário popular, o vocábulo ganhou fama por se referir ao fim dos tempos, uma vez que o último livro do Novo Testamento, escrito pelo apóstolo João, relata como será parte desse final conhecido por ser deveras tenebroso.  

Nos quadrinhos, o vilão Apocalipse nasceu na década de 1980 e já enfrentava os Filhos do Átomo desde sua primeira aparição. O personagem foi ganhando destaque e força, pregando filosofias de que apenas os mais fortes são capazes de sobreviver ao mundo, e se consagrou como um dos maiores nêmeses dos X-Men. Por essas e outras que o novo filme dos mutantes, X-Men: Apocalipse, era aguardado com certa curiosidade. 


O enredo tem início no Egito Antigo, onde a população adorava En Sabah Nur, provavelmente o primeiro mutante registrado na História. Após ter passado milênios em estado de hibernação, Apocalipse (Oscar Isaac) desperta em 1983 e percebe que o mundo é dominado pela raça que ele sempre julgou inferior: os humanos.

O mutante imediatamente começa a traçar um plano para que o mundo reconheça quem de fato é digno de adoração. Ele convoca seus Quatro Cavaleiros, Tempestade (Alexandra Shipp), Arcanjo, Psylocke (Olivia Munn), e Magneto (Michel Fassbender) para que juntos possam sedimentar uma nova era em todo o planeta.   


Depois que Dias de Um Futuro Esquecido desconsiderou tudo o que foi feito na primeira trilogia, a franquia ficou diante de uma nova linha temporal, na qual o diretor Bryan Singer e sua cúpula de produtores teriam a chance de não cometer mais erros cronológicos e equiparar o produto mais lucrativo da Fox a padrões louváveis como os da Marvel. Infelizmente, nada é perfeito, e Singer entrega o filme mais fraco da nova trilogia.


Algo que incomoda desde os primórdios é que os longas de X-Men sempre trabalham com uma quantidade demasiada de personagens, o que faz com que muitos conhecidos e queridos pelos fãs de quadrinhos acabem tendo uma importância ínfima nas telonas. Neste é o caso de Jubileu, que sequer mostra seus poderes, Anjo e Psylocke, estes dois últimos com meia dúzia de falas e que cuja relevância se resume nas batalhas. Porém, o pior de tudo é que essa falha também respinga no vilão. Apocalipse não é assustador e sua origem é um mistério do início ao fim; ora, se o sujeito foi o primeiro mutante de todos, por que não explicar um pouco de seu gênesis para o público?


Nesta aventura em particular é notável a preocupação em enaltecer a computação gráfica do que em desenvolver e estreitar os vínculos entre os mutantes. X-Men é, antes de tudo, uma equipe – e, por que não dizer, uma família – e no único instante em que o filme tem a oportunidade de mostrar isso (o passeio do shopping), a produção faz questão de cortar a cena. Os efeitos especiais e a ação poderiam fazer com que as rachaduras da trama fossem esquecidas, no entanto, fica a impressão de que o clímax foi feito com desleixo e a edição não teve tempo de finalizar a luta antes do prazo.


Há, sem dúvidas, detalhes que se salvam. O excelente elenco, mais uma vez, consegue sustentar o roteiro com dedicação e maestria. James McAvoy e Michael Fassbender parecem estar ainda mais familiarizados com Charles Xavier e Magneto (este com um arco interessante), em atuações sinceras e envolventes. Os novatos Ciclope (Tye Sheridan) e Jean Grey (Sophie Turner) também não fazem feio, revelando que em breve a formação clássica estará estabelecida. Oscar Isaac se esforça em ter uma postura vilanesca, embora Mística (Jennifer Lawrence, que quase não aparece na sua forma azul) tenha seu prestígio diminuído ante ao estrelato de sua intérprete.  


X-Men: Apocalipse tem seus holofotes voltados para um vilão que deixa a desejar, prejudicando outros personagens e atrapalhando também o percurso do filme ao trocarem um bom drama simplificado pela grandiloquência. Em meio a erros e acertos (Mercúrio na mansão e a cena final, por exemplo), Apocalipse encerra mais uma fase cinematográfica dos mutantes, direcionando os Filhos do Átomo não para uma conclusão definitiva, e sim para um recomeço. Se o futuro da equipe será próspero ou não, apenas o próximo capítulo dirá.  

Trailer:

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Mata-me, ó Deus


Depois da água, veio a neve. Depois da neve, os vírus, antropófagos invisíveis. Se construímos um abrigo, o mesmo é derrubado pelas convulsões dos doentes. Com o tempo, passamos a deixá-los ao relento, quase por piedade. Não sabemos quem ficará do lado de fora amanhã. Não há salvação. Não existe Alquimista”.

O físico Albert Einstein sabia da profundidade contida nas suas palavras quando proferiu uma de suas célebres frases: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. E após a leitura do quadrinho Mata-me, ó Deus, torna-se engraçado imaginar a mente dos leitores em um estado catatônico e entorpecente, ao passo que se amplia para aceitar o que viu nas páginas da obra.

A HQ tem roteiro de Marcos Guerra, desenho de Marcos Garcia e arte final de Carlos Alberto, membros do Coletivo K-Ótica, um dos poucos exemplos de companhias que lutam para que o gênero textual dos quadrinhos ganhe cada vez mais espaço no Rio Grande do Norte. A obra, inclusive, foi um dos destaques da FIQ 2015, o maior festival de quadrinhos do Brasil.

É difícil esmiuçar o enredo, uma vez que a HQ é curta, embora carregada de significações e alegorias. O que o leitor curioso precisa saber é que o cenário é pós-apocalíptico, em um futuro no qual as águas cobriram os continentes e o que restou de terra é assolada pela neve. Os poucos sobreviventes procuram por uma entidade chamada Alquimista, que pode (ou não) oferecer-lhes uma oportunidade para instituírem uma nova economia.

O clima caótico e tétrico da trama é complementado pelo belíssimo trabalho artístico de Garcia e Alberto, cujo detalhe do traço de cada personagem faz com que a imersão aconteça com mais fluidez. O interessante é que Mata-me, ó Deus é isento de cores; essa ausência de vivacidade corrobora para que a sensação de ruína e desespero seja aprofundada.  O que há é o registro do preto e do branco, o que permite que a obra tenha uma dualidade peculiar, se aqui couber o ar do paradoxo, de um pessimismo esperançoso.

Somando o roteiro e a arte, Mata-me, ó Deus é permeado por elementos de mitologia oriental e filosofias emblemáticas. É possível que alguns leitores não atinjam a catarse proposta pelo quadrinho, mas, como o grande renascentista Leonardo Da Vinci certa vez disse, a pintura é uma poesia que se vê e não se sente. Portanto, que os fãs e os estimulados deixem suas mentes se abrirem para mais trabalhos artísticos dessa qualidade e que se deliciem com as possibilidades que Mata-me, ó Deus sugere para o futuro.     

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Capitão América: Guerra Civil


Nosso trabalho é tentar salvar o máximo de pessoas possível. Às vezes isso não significa todo o mundo. Mas você não desiste”.

Os números falam por si. Doze filmes, duas fases, quatro séries de TV na atualidade (com mais quatro em desenvolvimento), alguns curtas-metragens e milhares de quadrinhos para se inspirar. Parece um conto de fadas imaginar que um projeto iniciado em 2008 pudesse gerar vários bons frutos, mas esse é o legado que o Universo Cinematográfico da Marvel vem construindo ao longo de tantos anos.


Talvez nem o produtor Kevin Feige suspeitasse que seu projeto ambicioso pudesse dar certo. Os fãs compraram a fórmula de universo compartilhado, uma vez que se trata de um reflexo do universo dos quadrinhos, e a produção logo tratou de dividir sua enorme franquia em fases. E tendo a Fase 2 terminado em Homem-Formiga, a Fase 3 chega com diversas promessas e com um maravilhoso início: Capitão América: Guerra Civil


Vingadores: Era de Ultron terminou com a destruição de Sokovia e centenas de civis mortos, assim como mostrou a nova formação da equipe de heróis. Guerra Civil tem início com o novo grupo em uma missão, a qual tem um desfecho trágico. A fatalidade faz com que o General Ross, apoiado por Tony Stark (Robert Downey Jr.) – este com uma sobrecarga bastante dramática –, force Capitão América (Chris Evans) e companhia a assinarem o Tratado de Sokovia, documento que concede ao governo a autoridade para controlar as ações dos Vingadores.   


E a divisão logo fica evidente: Steve Rogers é a favor da liberdade, Tony está ao lado do governo. O interessante é que a narrativa, muito bem estruturada pelos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, não induz o espectador a decidir em qual lado deve ficar. Tratando-se apenas de uma jogada de marketing, do mesmo modo que aconteceu com Batman vs. Superman (e as semelhanças não ficam somente neste aspecto), o conflito entre Homem de Ferro e Capitão América acontece de maneira natural e gradativa. Não é uma luta entre dois oponentes que se odeiam e pretendem matar um ao outro; é um desentendimento entre dois amigos, e é importante lembrar que ambos já entraram em desacordo em filmes anteriores.


Essa perspectiva pode desagradar o fã dos quadrinhos que espera assistir no cinema uma das maiores aventuras do Capitão América. A questão é que a Disney é proprietária da Marvel, o que significa que as mortes que acontecem na HQ não necessariamente vão ser adaptadas para o longa. Outra questão que prejudica a trama é que a Marvel não detém os direitos de todos os personagens dos quadrinhos, fazendo com que ícones como Quarteto Fantástico e X-Men fiquem de fora e também reduzindo a “guerra” a pequenas lutas.


Os irmãos Anthony e Joe Russo, diretores de Capitão América 2 – O Soldado Invernal, retornam ao posto na tentativa de reprisar o sucesso do antecessor. O desempenho da dupla é esplêndido; as batalhas, especialmente a cena do aeroporto, são extremamente bem coreografadas e os personagens são como peças de xadrez em um enorme tabuleiro. A estratégia dos Russo revela-se eficaz ao exibir o embate de cada herói, sem fazer em momento algum com que o espectador se sinta perdido. Na verdade, a harmonia e o sincronismo são elegantes, algo que se repete na luta final (O escudo trocando de mão em rápidos movimentos, por exemplo), e seria possível passar um longo tempo admirando os Vingadores brigando entre si. 


No entanto, Guerra Civil também tinha outros objetivos a cumprir. Aqui se encerra o ciclo de Steve Rogers em busca do Soldado Invernal, ao passo que se inicia a introdução do Pantera Negra e do mais recente Homem-Aranha (resultado do acordo contratual entre Sony e Marvel). E a escalação do elenco não poderia ter sido melhor, com Chadwick Boseman mostrando toda a postura da realeza de Wakanda e Tom Holland sendo talvez o Amigão da Vizinhança mais engraçado e simpático já visto no cinema. 


Capitão América: Guerra Civil não é o melhor filme da Marvel, possui falhas (Zemo é uma delas, embora seu futuro tenha ficado em aberto), mas mostra a responsabilidade que toda a produção teve ao trabalhar com apenas um determinado time de heróis. O pontapé inicial da Fase 3 é excepcional e as cenas pós-créditos de Guerra Civil apontam os novos caminhos que o universo Marvel pretende seguir. Ainda resta muita coisa a ser acrescentada nesse legado e, até lá, milhares de pessoas para conquistar.     

Trailer:

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Turma da Mônica - Lições


Você não é superforte... Não é indestrutível. Você não é uma super-heroína. É só uma menina. E isso é tudo que você precisa ser”.

O selo Graphic MSP, desenvolvido pela Mauricio de Sousa Editora, desde 2012 vem trazendo maravilhosas releituras de icônicos personagens como Piteco, Chico Bento, Astronauta, Penadinho, Turma da Mata, entre outros. Porém, em 2013 foi publicada aquela que talvez seja a graphic novel mais famosa e inesquecível do selo, Turma da Mônica – Laços, dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi.   

Era de imaginar que o talento dos Cafaggi não ficaria engavetado. E, desse modo, para a felicidade dos leitores, dois anos após a aventura do quarteto mais unido do bairro do Limoeiro em busca do cachorro Floquinho, surge a tão esperada continuação: Turma da Mônica – Lições.


E se Laços já era impecável e comovente, Lições não somente mantém a qualidade do antecessor, mas enaltece os valores transmitidos no passado e faz com que a narrativa evolua e amadureça. Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali estão encrencados. Todos eles se esqueceram de fazer a lição da escola e o plano de escapar da responsabilidade acaba saindo pela culatra. 


Logo a palavra “lições” começa a ganhar novos significados e o quarteto vai precisar enfrentar a mais difícil delas: a lição da vida. Eles aprendem que seus atos possuem consequências e o maior desafio será, em meio a tantas adversidades, permanecer com a amizade firme.


Um dos maiores destaques de Laços foi o clima sombrio que permeava toda a trama, uma vez que grande parte das cenas eram noturnas. Neste sentido, Lições é mais colorido por ser quase que completamente diurno, embora aborde temáticas mais sérias (a capa já entrega um pouco disso) como solidão, a busca por aceitação, superação, distância, bullying, e até o primeiro amor. 


Com assuntos tão delicados de se abordar, o trabalho dos irmãos Cafaggi teve que ter um empenho redobrado. E o resultado é bastante perceptível nas feições dos personagens, dos momentos de preocupação aos de alegria, estreitando ainda mais a ponte afetiva dos leitores para com a turma.


Desta vez, as características dos personagens são postas à prova (Aqui cada um tem seu arco e a Mônica merece um destaque especial) e os quatro amigos vão precisar se apoiar na amizade para poderem encarar juntos essa nova etapa da vida. Em Turma da Mônica – Lições, Vitor e Lu Cafaggi conseguiram expandir de modo satisfatório todas as sensações positivas que foram adquiridas na leitura de Laços. Mais um ótimo trabalho para o acervo do selo Graphic MSP e mais uma incrível história para guardar.