sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O Quarto Poder


Você tem que decidir se faz parte da história ou se vai filmar a história”.

Um Estado Democrático é regido por três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), pelo menos é o que diz a teoria. Com o avanço das mídias, logo surgiu a expressão “quarto poder”, referindo-se ao desempenho que o jornalismo exerce sobre a sociedade. Considerado por muitos como uma prática social, o jornalismo atua dentro dos âmbitos dos três poderes mencionados; ele analisa, investiga e revela à população ocorrências de natureza ilícita. No caso do Brasil, é mais corriqueiro observar este aspecto no parâmetro político.


O filme Mad City, lançado em 1997 e dirigido por Costa-Gavras, narra a rotina do inescrupuloso jornalista Max, interpretado por Dustin Hoffman, o qual foi designado a realizar uma reportagem comum em um museu. A reviravolta acontece quando Sam (John Travolta), ex-vigilante do museu, surpreende a todos ao adentrar no local em posse de uma arma e explosivos. Sam quer somente o emprego de volta, mas ao plano sai do controle quando alguém é baleado. Max enxerga na situação a possibilidade de ganhar o merecido destaque e, por conseguinte, impulsionar sua carreira.  


O Quarto Poder, como foi traduzido no Brasil, é uma típica obra simplória; com sutileza, Costa-Gavras não se utiliza de enquadramentos de câmera complexos e tampouco de uma trilha sonora elaborada. É um filme que não almeja grandes ambições e, mesmo que fosse este o caso, talvez tenha faltado um pouco mais de recursos. 


Apesar de ter sido um fracasso na bilheteria, O Quarto Poder sabe a que veio. O roteiro relata uma faceta negativa do jornalismo: o sensacionalismo, a busca desenfreada por audiência e a capacidade de manipular as massas. É estarrecedor perceber como a vida imita a arte e ver as engrenagens da imprensa modificando a opinião pública. E a última imagem do filme, congelada propositadamente para causar um efeito impactante, cumpre com sua função, estampando a ausência de limites que a mídia possui e sua insaciável vontade de sufocar a fonte até onde for possível.   


Essas ferramentas são exploradas com eficácia à medida que Max constrói em Sam uma figura icônica capaz de despertar sentimentos variados no telespectador e, principalmente, demonstrando a destreza da mídia em moldar ideologias e destruir vidas. O Quarto Poder traz um final assombroso e reflexivo, e não é coincidência ter a sensação de já ter visto algo similar na televisão. Estranho seria se fosse o contrário.

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