“Nosso
trabalho é tentar salvar o máximo de pessoas possível. Às vezes isso
não significa todo o mundo. Mas você não desiste”.
Os números falam por si. Doze filmes, duas fases, quatro
séries de TV na atualidade (com mais quatro em desenvolvimento), alguns
curtas-metragens e milhares de quadrinhos para se inspirar. Parece um conto de
fadas imaginar que um projeto iniciado em 2008 pudesse gerar vários bons
frutos, mas esse é o legado que o Universo Cinematográfico da Marvel vem
construindo ao longo de tantos anos.
Talvez nem o produtor Kevin
Feige suspeitasse que seu projeto ambicioso pudesse dar certo. Os fãs
compraram a fórmula de universo compartilhado, uma vez que se trata de um
reflexo do universo dos quadrinhos, e a produção logo tratou de dividir sua
enorme franquia em fases. E tendo a Fase 2 terminado em Homem-Formiga, a Fase 3 chega com diversas promessas e com um
maravilhoso início: Capitão América:
Guerra Civil.
Vingadores: Era de
Ultron terminou com
a destruição de Sokovia e centenas de civis mortos, assim como mostrou a nova
formação da equipe de heróis. Guerra
Civil tem início com o novo grupo em uma missão, a qual tem um desfecho
trágico. A fatalidade faz com que o General Ross, apoiado por Tony Stark (Robert Downey Jr.) – este com uma
sobrecarga bastante dramática –, force Capitão América (Chris Evans) e companhia a assinarem o Tratado de Sokovia,
documento que concede ao governo a autoridade para controlar as ações dos
Vingadores.
E a divisão logo fica evidente: Steve Rogers é a favor da liberdade, Tony está ao lado do governo. O interessante é que a narrativa, muito bem estruturada pelos
roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, não induz o espectador
a decidir em qual lado deve ficar. Tratando-se apenas de uma jogada de
marketing, do mesmo modo que aconteceu com Batman
vs. Superman (e as semelhanças não ficam somente neste aspecto), o conflito
entre Homem de Ferro e Capitão América acontece de maneira natural e gradativa.
Não é uma luta entre dois oponentes que se odeiam e pretendem matar um ao
outro; é um desentendimento entre dois amigos, e é importante lembrar que ambos
já entraram em desacordo em filmes anteriores.
Essa perspectiva pode desagradar o fã dos quadrinhos que
espera assistir no cinema uma das maiores aventuras do Capitão América. A
questão é que a Disney é proprietária da Marvel, o que significa que as mortes que
acontecem na HQ não necessariamente vão ser adaptadas para o longa. Outra
questão que prejudica a trama é que a Marvel não detém os direitos de todos os
personagens dos quadrinhos, fazendo com que ícones como Quarteto Fantástico e
X-Men fiquem de fora e também reduzindo a “guerra” a pequenas lutas.
Os irmãos Anthony
e Joe Russo, diretores de Capitão América 2 – O Soldado Invernal,
retornam ao posto na tentativa de reprisar o sucesso do antecessor. O
desempenho da dupla é esplêndido; as batalhas, especialmente a cena do
aeroporto, são extremamente bem coreografadas e os personagens são como peças
de xadrez em um enorme tabuleiro. A estratégia dos Russo revela-se eficaz ao
exibir o embate de cada herói, sem fazer em momento algum com que o espectador
se sinta perdido. Na verdade, a harmonia e o sincronismo são elegantes, algo
que se repete na luta final (O escudo trocando de mão em rápidos movimentos,
por exemplo), e seria possível passar um longo tempo admirando os Vingadores
brigando entre si.
No entanto, Guerra
Civil também tinha outros objetivos a cumprir. Aqui se encerra o ciclo de
Steve Rogers em busca do Soldado Invernal, ao passo que se inicia a introdução
do Pantera Negra e do mais recente Homem-Aranha (resultado do acordo contratual
entre Sony e Marvel). E a escalação do elenco não poderia ter sido melhor, com Chadwick Boseman mostrando toda a
postura da realeza de Wakanda e Tom
Holland sendo talvez o Amigão da Vizinhança mais engraçado e simpático já visto
no cinema.
Capitão América: Guerra
Civil não é o melhor
filme da Marvel, possui falhas (Zemo é uma delas, embora seu futuro tenha
ficado em aberto), mas mostra a responsabilidade que toda a produção teve ao trabalhar
com apenas um determinado time de heróis. O pontapé inicial da Fase 3 é
excepcional e as cenas pós-créditos de Guerra
Civil apontam os novos caminhos que o universo Marvel pretende seguir. Ainda resta muita coisa a ser acrescentada nesse legado e, até lá, milhares de pessoas para conquistar.
Trailer:
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