quarta-feira, 18 de maio de 2016

Mata-me, ó Deus


Depois da água, veio a neve. Depois da neve, os vírus, antropófagos invisíveis. Se construímos um abrigo, o mesmo é derrubado pelas convulsões dos doentes. Com o tempo, passamos a deixá-los ao relento, quase por piedade. Não sabemos quem ficará do lado de fora amanhã. Não há salvação. Não existe Alquimista”.

O físico Albert Einstein sabia da profundidade contida nas suas palavras quando proferiu uma de suas célebres frases: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. E após a leitura do quadrinho Mata-me, ó Deus, torna-se engraçado imaginar a mente dos leitores em um estado catatônico e entorpecente, ao passo que se amplia para aceitar o que viu nas páginas da obra.

A HQ tem roteiro de Marcos Guerra, desenho de Marcos Garcia e arte final de Carlos Alberto, membros do Coletivo K-Ótica, um dos poucos exemplos de companhias que lutam para que o gênero textual dos quadrinhos ganhe cada vez mais espaço no Rio Grande do Norte. A obra, inclusive, foi um dos destaques da FIQ 2015, o maior festival de quadrinhos do Brasil.

É difícil esmiuçar o enredo, uma vez que a HQ é curta, embora carregada de significações e alegorias. O que o leitor curioso precisa saber é que o cenário é pós-apocalíptico, em um futuro no qual as águas cobriram os continentes e o que restou de terra é assolada pela neve. Os poucos sobreviventes procuram por uma entidade chamada Alquimista, que pode (ou não) oferecer-lhes uma oportunidade para instituírem uma nova economia.

O clima caótico e tétrico da trama é complementado pelo belíssimo trabalho artístico de Garcia e Alberto, cujo detalhe do traço de cada personagem faz com que a imersão aconteça com mais fluidez. O interessante é que Mata-me, ó Deus é isento de cores; essa ausência de vivacidade corrobora para que a sensação de ruína e desespero seja aprofundada.  O que há é o registro do preto e do branco, o que permite que a obra tenha uma dualidade peculiar, se aqui couber o ar do paradoxo, de um pessimismo esperançoso.

Somando o roteiro e a arte, Mata-me, ó Deus é permeado por elementos de mitologia oriental e filosofias emblemáticas. É possível que alguns leitores não atinjam a catarse proposta pelo quadrinho, mas, como o grande renascentista Leonardo Da Vinci certa vez disse, a pintura é uma poesia que se vê e não se sente. Portanto, que os fãs e os estimulados deixem suas mentes se abrirem para mais trabalhos artísticos dessa qualidade e que se deliciem com as possibilidades que Mata-me, ó Deus sugere para o futuro.     

Um comentário:

  1. Como Autor, gostaria de agradecer em nome de toda a equipe pela resenha!Nos alegramos muito em saber que o trabalho de "Mata-me, ó Deus" serve a tantas interpretações e ainda entretendo o público. Obrigado, amigo!

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