“Depois da água, veio a neve. Depois da neve, os vírus, antropófagos invisíveis. Se construímos um abrigo, o mesmo é derrubado pelas convulsões dos doentes. Com o tempo, passamos a deixá-los ao relento, quase por piedade. Não sabemos quem ficará do lado de fora amanhã. Não há salvação. Não existe Alquimista”.
O físico Albert Einstein sabia da profundidade contida nas
suas palavras quando proferiu uma de suas célebres frases: “A mente que se abre
a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. E após a leitura do
quadrinho Mata-me, ó Deus, torna-se
engraçado imaginar a mente dos leitores em um estado catatônico e entorpecente,
ao passo que se amplia para aceitar o que viu nas páginas da obra.
A HQ tem roteiro de Marcos
Guerra, desenho de Marcos Garcia
e arte final de Carlos Alberto,
membros do Coletivo K-Ótica, um dos
poucos exemplos de companhias que lutam para que o gênero textual dos
quadrinhos ganhe cada vez mais espaço no Rio Grande do Norte. A obra,
inclusive, foi um dos destaques da FIQ 2015, o maior festival de quadrinhos do
Brasil.
É difícil esmiuçar o enredo, uma vez que a HQ é curta, embora
carregada de significações e alegorias. O que o leitor curioso precisa saber é
que o cenário é pós-apocalíptico, em um futuro no qual as águas cobriram os
continentes e o que restou de terra é assolada pela neve. Os poucos
sobreviventes procuram por uma entidade chamada Alquimista, que pode (ou não)
oferecer-lhes uma oportunidade para instituírem uma nova economia.
O clima caótico e tétrico da trama é complementado pelo belíssimo
trabalho artístico de Garcia e Alberto, cujo detalhe do traço de cada
personagem faz com que a imersão aconteça com mais fluidez. O interessante é
que Mata-me, ó Deus é isento de
cores; essa ausência de vivacidade corrobora para que a sensação de ruína e
desespero seja aprofundada. O que há é o
registro do preto e do branco, o que permite que a obra tenha uma dualidade
peculiar, se aqui couber o ar do paradoxo, de um pessimismo esperançoso.
Somando o roteiro e a arte, Mata-me, ó Deus é permeado por elementos de mitologia oriental e
filosofias emblemáticas. É possível que alguns leitores não atinjam a catarse
proposta pelo quadrinho, mas, como o grande renascentista Leonardo Da Vinci
certa vez disse, a pintura é uma poesia que se vê e não se sente. Portanto, que
os fãs e os estimulados deixem suas mentes se abrirem para mais trabalhos
artísticos dessa qualidade e que se deliciem com as possibilidades que Mata-me, ó Deus sugere para o futuro.
Como Autor, gostaria de agradecer em nome de toda a equipe pela resenha!Nos alegramos muito em saber que o trabalho de "Mata-me, ó Deus" serve a tantas interpretações e ainda entretendo o público. Obrigado, amigo!
ResponderExcluir