Antes que 2013 chegue, o Menino das Letras achou necessário preparar os leitores para saber o que este ano novo nos reserva no mundo do cinema. Eis uma pequena lista:
Homem de Ferro 3:
Depois do sucesso estrondoso que foi 'Os Vingadores', a Marvel se prepara para dar início a sua segunda fase no cinema. 'Homem de Ferro 3' abre o novo circuito rumo aos 'Vingadores 2'.
O Homem de Aço
Rebbot de Superman, o 'Homem de Aço' tem na direção Zack Snider e Christopher Nolan na produção. É uma das grandes promessas de 2013.
OZ - Mágico e Poderoso
Prelúdio de 'O Mágico de Oz', que mostra quem foi Oz e como ele foi parar nesse mundo surreal. Dirigido por Sam Raimi.
Caça aos Gânsteres
Do mesmo diretor de 'Zumbilândia', é outra grande promessa de 2013. Com Emma Stone no elenco!
O Cavaleiro Solitário
Do mesmo diretor de 'Piratas do Caribe', esse filme é uma das apostas da Disney para 2013. Com Johnny Depp no elenco!
After Earth
Do mesmo diretor de 'Sinais' e 'O Sexto Sentido', tem Will Smith e seu filho no elenco.
Duro de Matar 5
Desta vez John MClaine estará ao lado de seu filho em uma missão em Moscou.
Em um buraco no chão, havia um hobbit. É com este enunciado, escrito há mais de setenta anos e lembrado por mais de cinco décadas, que o leitor tem sua jornada iniciada por entre os vales, montanhas, castelos e ruínas que compõem a tão mítica Terra-Média. São as palavras mais uma vez mostrando seu potencial e elucidando que seus segredos estão mais soterrados que o tesouro de qualquer anão.
Talvez J.R.R. Tolkien jamais pudesse desconfiar que seus manuscritos perdurassem durante tanto tempo. É importante lembrar que o primeiro rascunho de O Hobbit é do final dos anos 30, um pouco antes de Tolkien dar início ao Senhor dos Anéis. A Trilogia do Anel, no entanto, ganhou seu destaque com os filmes lançados em 2001, 2002 e 2003, sob o comando de Peter Jackson, aguçando a imaginação e a paixão daqueles que ainda não conheciam as aventuras de Frodo e seus amigos.
Agora, quase dez anos depois do término de uma trilogia bastante premiada, chega aos cinemas a adaptação de O Hobbit, novamente supervisionada por Peter Jackson e iniciando o prefácio de uma nova série de três filmes. E se lá nós acompanhamos a caminhada de Frodo para destruir o Um Anel e salvar o mundo, aqui descobrimos como Bilbo tomou posse desse artefato tão cobiçado.
Nos primeiros minutos, já se tem algumas surpresas. O Condado, local onde os hobbits vivem, está da mesma forma que foi apresentado no início de A Sociedade do Anel; e, como se já não fosse saudosista o suficiente, Jackson cria uma atmosfera agradável que faz uma ponte entre esta trilogia e sua antecessora, algo que é perceptível durante quase toda projeção.
Sessenta anos antes dos eventos de O Senhor dos Anéis, o jovem Bilbo Bolseiro recebe a visita de Gandalf, o Cinzento, o qual o convida para participar de uma comitiva que segue rumo a uma grande empreitada. A aventura em questão é ajudar os anões a recuperarem seu antigo lar, Erebor; uma terra que foi tomada e devastada pelo terrível dragão Smaug.
Originalmente tendo sido escrito para crianças, O Hobbit ganhou tonalidades tão sombrias quanto às demonstradas na Trilogia do Anel. Isso prova que Jackson quis manter a homogeneidade estabelecida anteriormente, enraizando com mais afinco sua intenção de nos fazer enxergar o prelúdio de algo que já foi visto. Os 48 quadros por segundo passam quase que despercebidos, a não ser nas cenas de ação que, com o auxílio do 3D, ficam um pouco borradas devido à velocidade (Pode ser culpa do cinema também). De certa maneira, isso é comum, considerando que a película é a pioneira neste formato. Ainda há muita coisa para se explorar.
Personagens antigos retornam, como o Gollum, desta vez bem mais novo e realçado com a ajuda do avanço tecnológico e o 3D. E, com isso, também regressa a cansativa mania de Peter Jackson em realizar um filme com quase 3 horas de exibição. Felizmente para alguns, faz parte do fascínio que o cinema pode comprar; prende-nos de tal forma em um mundo fantástico e longínquo, que a questão do tempo e espaço torna-se irrelevante. Os hobbits voltaram com tudo e, mais do que nunca, estão prontos para lutar.
Os leitores mais assíduos do Menino das Letras devem ter percebido uma certa ausência da minha parte nos últimos tempos. Pois bem, venho aqui esclarecer que não é por esquecimento ou neglicência; se não estou postando com a mesma frequência e voracidade de antes, é porque circunstâncias adversas estão me impedindo de fazê-lo.
Antes de continuar, é adequado dizer que isso não é um adeus. É apenas um até logo. Por motivos pessoais, que estão além do meu controle, terei de me ausentar por um tempo indeterminado. Talvez o blog volte somente no ano que vem... Dessa forma, achei justo escrever este texto e explicar a situação.
No entanto, o Menino das Letras não vai deixar de existir. A página do blog no Facebook continuará ativa e postarei notícias do mundo cultural lá sempre que possível. O blog também permanecerá no ar. Não vou me despedir, pois sei que voltarei a escrever por aqui. Nos encontraremos novamente por meio desta ferramenta midiática que tanto me divertiu. E eu aguardarei ansiosamente pelo dia deste retorno.
A postagem de hoje é bastante diferente. Desta vez, eu me comunico diretamente com você, leitor(a). É o primeiro vídeo neste formato que faço para o blog, por isso que está profundamente simplório.
A ocasião não poderia ser melhor: o Dia das Crianças! E para celebrar esta data que muitos adultos recordam diariamente, eu fiz a leitura de um texto de Pedro Bandeira, intitulado de 'Mais Respeito, eu sou criança!".
Boas recordações para vocês!
Mais Respeito, eu Sou Criança - Pedro Bandeira
Prestem atenção no que eu digo,
pois eu não falo por mal:
os adultos que me perdoem,
mas ser criança é legal!
Vocês já esqueceram, eu sei.
Por isso eu vou lhes lembrar:
pra que ver por cima do muro,
se é mais gostoso escalar?
Pra que perder tempo engordando,
se é mais gostoso brincar?
Pra que fazer cara tão séria,
se é mais gostoso sonhar?
Se vocês olham pra gente,
é chão que vêem por trás.
Pra nós, atrás de vocês,
há o céu, há muito, muito mais!
Quando julgarem o que eu faço,
olhem seus próprios narizes:
lá no seu tempo de infância,
será que não foram felizes?
Mas se tudo o que fizeram
já fugiu de sua lembrança,
fiquem sabendo o que eu quero:
mais respeito, eu sou criança!
Mais uma eleição chegou, mais um dia de escolhas, mais uma chance que temos de melhorar o país.
Não vou aqui tentar utilizar um discurso democrático; a situação já é tão precária, que as pessoas já deveriam ter essa noção. A minha única esperança - e o que, de certa forma, me consola com relação ao futuro - é que as gerações vindouras estão se conscientizando desde cedo. É o caso do vídeo de hoje, o qual foi produzido por alunos de ensino fundamental.
Mais uma vez, Gabriel, O Pensador, nos lança uma crítica por meio de seus versos dilacerantes. O alvo não é apenas os políticos, mas também a sociedade; sobretudo às pessoas que se omitem ou se deixam acomodar com uma situação discrepante. Novamente temos aqui a oportunidade de fazer com que os alienados despertem e façam prevalecer sua força de vontade e opinião.
Portanto, assista, reflita e exerça o seu direito como cidadão. Boa sorte. Para todos nós.
Letra:
Pega ladrão!
No governo!
Pega ladrão! No congresso!
Pega ladrão! No senado!
Pega lá na câmara dos deputados!
Pega ladrão! No palanque!
Pega ladrão! No tribunal!
É por causa desses caras que tem gente com fome, que tem gente matando, etc e tal.
Pega, pega!
Pega, pega ladrão!!
Pega, pega!
Pega, pega ladrão!!
Pega, pega!
Pega, pega ladrão!!
A miséria só existe porque tem corrupção.
Pega, pega!
Pega, ladrão!!
Pega, pega!
Pega, pega, ladrão!!
Pega, pega!
Pega, pega ladrão!!
Tira do poder!
Bota na prisão!!
E você, que é um simples mortal, levando uma vidinha legal,alguém já te pediu um real?
Alguém já te assaltou no sinal?
Você acha que as coisas vão mal?
Ou você tá satisfeito?
Você acha que isso é tudo normal?
Você acha que o país não tem jeito?
Aqui não tem terremoto, aqui não tem vulcão.
Aqui tem tempo bom, aqui tem muito chão.
Aqui tem gente boa, aqui tem gente honesta, mas no poder é que tem gente que não presta.
"Eu fui eleito e represento o povo Brasileiro.
Confie em mim que eu tomo conta do dinheiro".
Tira esses malandro do poder executivo!
Tira esses malandro do poder judiciário!
Tira esses malandro do legislativo!
Tira do poder que eu já cansei de ser otário!
Tira esses malandro do poder municipal!
Tira esses malandro do governo estadual!
Tira esses malandro do governo federal!
Tira a grana deles e aumenta o meu salário!
- Tá vendo esta mansão sensacional? Comprei com o dinheiro desviado do hospital.
- E o meu cofre, cheio de dólar? É o dinheiro que seria pra fazer mais uma escola.
- Precisa ver minha fazenda! Comprei só com o dinheiro da merenda!
- E o meu filhão? Um milhão só de mesada! E tudo com o dinheiro das criança abandonada.
- E a minha esposa? Só não me leva à falência porque eu tapo esse buraco com o rombo da previdência.
- Vossa excelência... Cê não viu meu avião! Comprei com uma verba que era pra construir prisão!
- E a superlotação?
- Problema do povão! Não temo imunidade? Pra nós não pega não.
A miséria só existe porque tem corrupção.
Desemprego só aumenta porque tem corrupção.
Violência só explode porque tem tanta miséria e desemprego.
Porque tem tanta corrupção!
"Todos que me conhecem sabem muito bem que eu não admito o enriquecimento do pobre e o empobrecimento do rico!"
E você, que nasceu nesse país.
E que sonha e que sua pra ser feliz.
Você presta atenção no que o candidato diz?
Ou cê vota em qualquer um, seu babaca?
E depois da eleição, você cobra resultado?
Ou fica aí parado, de braço cruzado?
Cê lembra em quem votou pra Deputado?
E quem você botou lá no Senado?
“A história prefere lendas a homens, prefere nobreza à brutalidade, discursos inflamados e boas ações silenciosas. A história se lembra da batalha, mas se esquece do sangue. Mas a história se lembra de mim antes de me tornar Presidente. Ela só se lembrará de uma fração da verdade”.
Em tempos que vampiros brilham sob a claridade do dia, têm relacionamentos com lobisomens e escrevem diários, deixando de lado o lado sombrio de sua mítica história e despertando o carinho de jovens, deparar-se com um filme vampiresco que preserve a tradição da origem dessa criatura é quase uma novidade. E para quem ainda prefere acreditar no estilo canônico, isso deve ser um prato cheio.
Por sorte, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros deleita o espectador veterano com um festival de sangue que espirra na tela. E, com a ajuda de um 3D formidável (muito melhor que o de O Espetacular Homem-Aranha), a experiência ganha realces profundos e consegue realizar a façanha de entreter por quase toda a projeção.
Inspirado na obra de Seth Grahame-Smith, o qual também roteirizou o longa, e dirigido por Timur Bekmambetov (mesmo diretor de O Procurado, filme em que Angelina Jolie fazia balas darem curvas), a história começa mostrando a infância de Abraham sendo tragicamente alterada com a morte de sua mãe por um vampiro das redondezas de seu vilarejo.
Com o passar dos anos, o jovem Lincoln cresce com o desejo de vingança. Contudo, antes de concretizar sua vendeta, ele precisa entender como confrontar uma criatura de habilidades que ultrapassam o senso comum da realidade. Sendo ajudado por Henry, um amigo inesperado, Abraham aprende o necessário sobre as entidades vampirescas e parte rumo à sua jornada, com o machado em mãos.
O fato de misturar dados históricos com ficção rendeu muitas críticas negativas ao filme à medida que também despertou o interesse de vários cinéfilos. Entretanto, podendo utilizar essa ferramenta a seu favor, o longa desnorteia aquele que não conhece a história do presidente justamente por não ter lapidado mais o roteiro e a edição; certos eventos acontecem rápido demais e na metade ocorre um salto de tempo descomunal, permitindo que a transformação de Lincoln de um simples homem para um grande político fique apenas no imaginário. Se não fosse esse mau aproveitamento temporal, o arco da história poderia perdurar por uma trilogia, por exemplo.
Em contrapartida (ou não), as cenas de luta, as quais em sua maioria se apoiam em fabulosos efeitos computadorizados, foram coreografadas de forma magistral. A batalha com o inimigo final, porém, é decepcionante. E, tendo na direção uma mente tão lunática quanto a de Bekmambetov, era de se imaginar que existissem passagens que superassem o exagero de qualquer hipérbole (Preste atenção na luta entre os cavalos e no trem).
Em suma, com o acerto na parte estética e o defeito de desafiar a lógica da gravidade e a inteligência do espectador, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros resgata um pouco dos elementos que tornaram os vampiros seres tão misteriosos e fascinantes. Espera-se agora que o diretor Bekmambetov tente se controlar mais e recupere a destreza que tinha na época em que suas balas faziam curvas, uma vez que o machado não funcionou tão bem.
"A História Íntima da Leitura nasce com o imenso desejo de encontro".
Eu acho que o escritor é um dos poucos profissionais que tem a capacidade de morrer e renascer ao término e início de uma construção textual. A palavra é a fagulha que desencadeia o incêndio. Sim, pois se escrevo neste momento é por causa da busca por uma bagagem literária, o contato íntimo com as letras.
Essa relação entre página e pessoa faz parte do extenso diálogo da literatura com o leitor. E esta experiência, além de moldar um senso crítico, é capaz de abrir a nossa mente para novas perspectivas e nos fazer refletir a respeito da finalidade que a palavra exerce em nossas vidas.
Porque a literatura não se faz apenas com o ato de ler; também é preciso escrever. E é na intimidade da escrita, neste fruto resultante da leitura, que podemos compreender que as palavras carregam uma história. Não são vazias. E há um mar infinito de palavras dentro de nós, aguardando para que suas águas sejam desbravadas até o mais profundo limite.
O vídeo de hoje, A História Íntima da Leitura, fala um pouco sobre isso. Nele vemos a opinião de vários agentes da escrita relatando suas visões acerca da literatura e o potencial ao qual ela pode nos levar. Este é apenas o teaser de uma coletânea de documentários, que mostra, ainda que por poucos minutos, a fascinação que os autores possuem pela leitura, com depoimentos lindos de se escutar.
Caso este vídeo desperte em você a fagulha que está adormecida no seu interior, trate de começar seu incêndio. Acabou? Continue seguindo em frente. Há um oceano esperando por você. Pois assim como a fênix, que renasce das cinzas, o escritor sempre estará pronto para começar o verso seguinte.
"De uma certa forma, a História Íntima da Leitura é a história da construção da nossa voz".
Essa crônica foi escrita após um encontro teatral, no qual eu e os envolvidos contemplamos a beleza do nosso trabalho cênico.
Eu tenho algumas teorias a respeito da vida. Muitas prefiro não compartilhar porque o teor que as constitui são tão inconcebíveis aos olhos dos ditos ‘normais’, que no final das contas acabam sendo palavras soltas ao vento. Encontro-me, porém, no incrível dilema de expor uma singela opinião que se apossou de mim há poucos instantes. Acho que, neste caso, não custa tentar.
Eu acredito que o ator, ao subir no palco, além de externar uma faceta de suas vicissitudes multiplurais, também está exalando uma história. Não me refiro ao odor, ao cheiro propriamente dito, mas às características atribuídas ao personagem. Quando o sujeito inserido no contexto cênico faz um gesto, um movimento por mais ínfimo e simplório que seja, está nos contando uma história.
Essa expressão, é claro, pode ser construída pelo ator em si ou por aquele que direciona os caminhos da edificação cênica. No frigir dos ovos, nós, os atores, somos peças de um xadrez ambulante, no qual a entidade que nos movimenta é o diretor de acordo com sua visão estratégica. Estratégia, sim, pois a missão do ator é deslumbrar seu oponente. E não importa qual seja a proporção dessa guerra, não importa quantas represálias soframos e quantos conflitos protagonizemos, às vezes perder é inevitável. E a derrota é bem feia.
Posso dizer que já transitei bastante por esse tabuleiro e vi coisas que ficarão para sempre na memória. E se tem algo que aprendi é que cada peça do xadrez cênico tem sua finalidade; se uma função deixa de ser cumprida, todo o sistema é desequilibrado e põe um risco mortal ao jogo. A meta não é apenas chegar ao outro lado e se tornar Rei. A meta é agirmos em conjunto para descobrirmos a solução de como nos tornarmos reis. União, pura e simplesmente.
Reconheço que, da mesma forma que acontece com várias teorias, essa deve ter suas falhas. Há quem pense de maneira diferente. Tudo bem, cada qual tem sua peculiaridade no modo de raciocinar. Bom, eu continuarei acreditando que a nobreza da batalha é a força conjunta. É assim que se alcança o tão cobiçado xeque-mate.
“Todos nós ouvimos em algum momento que não podemos mais jogar como crianças. Só não sabemos quando será. Alguns ouvem isso aos 18, outros aos 40. Mas todos ouvimos”.
Eu nunca fui muito fã de esporte. E, depois de assistir ao Homem que Mudou O Jogo, ficou claro que os verdadeiros heróis não são aqueles que manipulam a bola, mas sim os que organizam os bastidores para a bola poder ser lançada. É muito fácil assistir a uma partida e criticar os jogadores e os técnicos ignorando o fato de que todos eles têm uma vida como a nossa, repleta de oscilações indesejadas.
E também é de igual proporção ignorar o sacrifício que pessoas anônimas – os que nunca aparecem sob os holofotes e permanecem nas sombras – sem saber o quão árduo é administrar esse tipo de negócio somente para entreter os fanáticos. Para o telespectador, não há diferença para quem é demitido ou cai no ostracismo; o que importa é a diversão. É um jogo bem injusto.
Baseado no livro de Michael Lewis, lançado em 2003, e também inspirado em uma história verídica, O Homem Que Mudou O Jogo nos revela os caminhos que não são mostrados na TV e isso faz dele um filme bastante peculiar no gênero esporte. Aqui conhecemos Billy Beane (Bratt Pitt), o gerente geral de um time de beisebol chamado Oakland A’s. Sua função é escolher possíveis jogadores em potencial para formar um time capaz de vencer a temporada.
Beane enxerga o beisebol de modo romântico, por isso está cansado de perder e acredita que para reinventar seu time e fazê-lo vencedor, é preciso ganhar mais apoio e verba. O problema é que, sendo funcionário de um time pobre e estando rodeado por conselheiros com teorias ultrapassadas, esse objetivo fica cada vez mais utópico diante das equipes mais ricas.
É necessário inovar e adquirir um novo método. E ele o encontra ao contratar Peter Brand (Jonah Hill), jovem formado em Economia. Contrariando todas as pessoas e um sistema com regras preconcebidas, ambos acreditam que, se escolherem os jogadores menos valorizados do beisebol, podem criar um time ganhador tendo como base cálculos matemáticos.
Dirigido por Bennett Miller (de Capote) e com seis indicações ao Oscar (Incluindo de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante), o filme mostra o andamento real deste tipo de negócio. Cada jogador tem seu preço e é visto como objeto; se começa a dar defeito, é facilmente trocado. Essa mensagem é tão essencial de ser passada, que não há pretensão em perder um longo tempo de exibição com a exposição detalhada de uma partida. Afinal, isso todo mundo já conhece.
Dito isso, talvez a hierarquia do esporte precise ser repensada. Portanto, se seu time vencer, a glória não deve ser colocada apenas no jogador e no técnico; alguém, que tem tanto amor quanto o telespectador, os colocou lá e também merece as congratulações. Caso contrário, diferentemente do exposto no filme, esse jogo incorreto nunca vai mudar.
“É impressionante como você sabe pouco sobre o jogo que você jogou a sua vida inteira”.
O Brasil, quando analisado mais de perto, ganha novas feições, desdobramentos de outras culturas que se unem para formar uma nação mais intelectual, social e/ou artística. Isso é o que chamam de multiculturalismo, e tal fenômeno percorre por entre nossas veias mesmo que sutilmente. Gostamos de ver filmes hollywoodianos, de aprender línguas estrangeiras, nos entretemos com objetos eletrônicos de última geração.
A lista é imensa, mas quero me deter somente a um item. Porque, se você, assim como eu, teve uma infância situada entre os anos 80 e 90, é quase certo que tenha se deixado encantar por desenhos japoneses. Esse legado foi preservado para a juventude de hoje, a qual parece se dedicar com mais afinco à fantasia que as animações japonesas são capazes de produzir.
Ainda que a maioria destes desenhos aborde violência e, em alguns casos, temas sobrenaturais, há uma mensagem heroica por trás que instiga o espectador a despertar o lado nobre que compõe cada ser humano. Em A Viagem de Chihiro, animação japonesa de 2001 e dirigida por Hayao Miyazaki, é possível enxergar esses elementos de um modo emblemático e poético.
Chihiro é uma menina de dez anos que está triste por ter que se mudar para um local distante. No caminho para a casa nova, o veículo no qual ela e seus pais se encontram estagna no meio do percurso, em frente a um túnel misterioso. Os pais atravessam o túnel, sob as desaprovações da garota, e do outro lado se veem em um parque temático abandonado. Lá encontram uma barraca de comida e decidem se banquetear enquanto o sol se põe. Quando a noite cai, os pais de Chihiro se transformam em porcos e ela começa a ver vultos perambulando pelo parque.
Ela logo percebe que um novo mundo está se revelando e que precisa sair dali e descobrir um jeito de devolver seus pais à forma humana. Haku, um garoto misterioso e aprendiz de feiticeiro, resolve ajudá-la e indica a rota para que ela se encontre com a bruxa Yubaba, a qual lhe dará um emprego na Casa de Banhos. Em meio à magia, criaturas estranhas, espíritos e deuses de origem inexplicável, Chihiro vai aprendendo que é preciso trabalhar duro para conseguir voltar ao mundo do qual pertence.
Vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003, a película adquiriu boas críticas em diversas nacionalidades, inclusive no Brasil. Pessoalmente, assistindo ao filme, pude observar um Alice no País das Maravilhas na versão oriental; a diferença é que com uma pitada maior de suspense, folclore e muita nocividade. E desconfio que algumas pessoas terão de assisti-lo mais de uma vez para poder entendê-lo.
A Viagem de Chihiro tornou-se um clássico da animação japonesa, em que é perceptível as mudanças de uma garota mimada para uma pessoa mais humilde e humana em todas as etapas da jornada do herói. Obras desta estirpe enaltecem a importância de se conhecer os trabalhos de outras culturas e revelam que elas vão permanecer entre nós por muito mais tempo. A verdadeira viagem está apenas começando.
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
É, não me distraí, não me distraí
Me deixa aproveitar a sensação um pouco mais
A sensação de esperança que invadiu o meu peito
Não me envergonha com esse velho preconceito
Não me atrapalha agora não, por favor
Não me apavora com as notícias do terror
O seu terror psicológico e as previsões sinistras dos seus mapas astrológicos
Não vão fazer o papai aqui fazer pipi na cama
Não sou do tipo que tem medo de sair da lama
Nós não somos covardes
E nunca é tarde pra cuidar de quem a gente ama
A gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vida
A gente sabe somar, e quer saborear a soma dividida
A gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vida
A gente sabe sonhar, e desse sonho a gente não duvida
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
Cara feia... pra mim é fome
E cara alegre é a cara de quem come
E quem não mata a fome, a fome mata
Quem não mata a fome some; quem não mata a fome, a fome come
(A fome não é só um nome)
E tem também a outra fome, fora do abdômen
Cara feia... eu vi na cara de um cara que matou um homem, por causa dessa outra fome
Fome de vingança, vingança do destino
E essa cara eu já vi na cara de um menino
E os meninos assassinos vão se renovando
E vão nascendo, vão morrendo e vão matando
É que eles pensam que o crime é o único caminho
Pra chegar em qualquer tipo de comando
Mas se os meninos forem mais malandros
Vão saber que ser trabalhador não é ser otário
Um bom exemplo vem da nossa presidência
Porque lá quem tá mandando é um operário
Não faça cara feia de barriga cheia!
Não faça cara feia de barriga cheia!
Não faça cara feia de barriga cheia!
Nem meta a colher em cumbuca alheia
Quem deixa um pé atrás
Nunca chega na frente
Quem tem medo do futuro
Vira escravo do presente
Não me enche com essa fome de derrota
Nem me bota nesse time que defende o pessimismo
Agora eu sei, cansei da linha burra que separa, desune
E empurra todo mundo pro abismo
O caminho é mais pro alto
No mar e no sertão, na favela e no asfalto
Todo mundo sente fome, fome de futuro
Pra que pichar, se eu posso derrubar o muro?
Não é com tanque, nem com trator
Não é com ódio, nem com rancor
Não é com medo, nem com terror
Minha campanha também é paz e amor.
“A morte cria um sentido pra nossa vida. Mais importante que isso: a morte cria um valor especial para o tempo. Se nosso tempo nessa terra fosse indeterminado, a própria vida perderia o sentido? Muito provavelmente ainda estaríamos com a bunda de fora e com uma lança nas mãos. A morte é o agente mais poderoso da natureza; ela vem para levar o velho e abrir espaço para o novo. Nosso esforço para evitá-la e fazer nossa curta estada aqui algo minimamente memorável, é o que nos motiva. Ou seja, só existe a vida porque existe a morte”.
Uma experiência, quando inovadora, não oferece a garantia de que trará bons frutos. É uma questão de empatia do público para com o objeto. E, no caso do cinema, também depende do tempo no qual o espectador está situado. Em um país onde é possível contar nos dedos os filmes que abordam ação e efeitos especiais, simultaneamente, realizar experiências que contribuam para o avanço da produção nacional é algo sempre bem-vindo.
Em 2 Coelhos, primeiro longa dirigido por Afonso Poyart, vemos não apenas uma mistura de gêneros distribuída de maneira coerente, como também há o acréscimo de animações (entre elas, uma ode aos jogos de videogame), referências da cultura pop/nerd e a aderência de uma trilha sonora internacional, passando por Radiohead e 30 Seconds To Mars. Essa junção de elementos audiovisuais abre as portas de uma nova perspectiva para o cinema brasileiro e talvez seja a promessa de um futuro promissor.
Edgar (Fernando Alves Pinto) é um cara sem planos para o futuro, aparentemente vive em um mundo isolado e que, após se meter em um evento traumático o bastante para modificar vidas, passa uma temporada de dois anos em Miami e regressa ao Brasil com um plano de vingança, no qual pode matar dois coelhos com um único golpe.
O plano é apresentado de forma aleatória e não linear, assim como a introdução dos personagens, entregando ao espectador a oportunidade de reunir todas as peças por conta própria. O que seria possível, se não fosse o clima tenso e misterioso instaurado a todo instante. Logo percebemos quem são os vilões e qual a intenção de Edgar em fazer justiça com as próprias mãos contra um sistema corrupto que o salvou no passado.
O elenco também é composto por Alessandra Negrini e Caco Ciocler, cada qual com seus segredos e respectivas finalidades, mais uma dádiva do roteiro. Com ótimas atuações e uma câmera lenta que foca a ação e a expressão dos atores, 2 Coelhos torna-se mais atrativo no decorrer da exibição e, em alguns momentos, há quem pense que não se trata de uma produção nacional.
Afonso Poyart, veterano na área das animações, nos entrega um filme de estilo inusitado, o qual, se houver investimento, pode criar ou até mesmo incentivar o desenvolvimento de um novo tipo de espectador no Brasil. É claro que, em algumas cenas, não há novidade; tiroteio, favela e suborno. O próprio Edgar, o “herói torto”, não escapa do lado ganancioso que perpassa nossa nação.
Mas a mensagem é outra e a poesia de 2 Coelhos pode ser encontrada na coragem (a cena de Alessandra Negrini com a espada samurai, retalhando seus demônios, é sublime). Poyart mostrou que uma direção visionária e novata, aliada a uma produção empenhada com um toque de sonho, consegue chegar a um resultado melhor do que se pensa. Enfim, uma experiência que deu certo.
“Estavam aqui 100 milhões de anos antes de nós e, se considerarmos o fato de que foram um dos raros organismos a escapar da bomba atômica, continuarão aqui por mais 100 milhões de anos depois de nós. Não passamos de um acidente de três milhões de anos na história delas. Aliás, se extraterrestres desembarcarem um dia em nosso planeta, não vão se enganar. Sem dúvida alguma hão de querer conversar com elas. São as verdadeiras donas da Terra”.
Ano passado, ao assistir o filme Planeta dos Macacos: A Origem, lembro-me de ter ficado fascinado com a capacidade encantadora que o enredo teve de induzir o espectador a torcer a favor dos macacos e, consequentemente, ficar contra a própria espécie. A ideia dos homens serem subjugados por uma raça aparentemente inferior foi bem recebida e serviu como pretexto para respeitarmos os seres que compõem à natureza.
Entretanto, após a leitura de As Formigas, esse respeito tem que ser muito mais admirável. No primeiro volume da trilogia O Império das Formigas, publicada no Brasil pela editora Bertrand Brasil, o autor Bernard Werber nos transporta, por meio de uma escrita minuciosa (até demais), ao mundo subterrâneo dos infraterrestres. A riqueza da descrição dos cenários e dos detalhes é o resultado de 15 anos estudando a civilização das formigas.
O romance é dividido em dois núcleos que se intercalam constantemente. No início somos apresentados à família Wells. Jonathan se muda para casa que herdou de seu tio Edmond, juntamente com a esposa e o filho. Tudo parece bem até Jonathan descobrir uma mensagem do falecido tio deixada para ele, avisando-lhe para jamais descer ao porão da residência. Contrariando a ordem, ele desce e se depara com um mistério que permeia toda a trama, englobando a segurança de sua família e atiçando uma investigação policial.
O segundo núcleo pertence, é claro, às formigas. Aqui acompanhamos a aventura de três formiguinhas cidadãs de Bel-o-kan, o maior formigueiro da região. O suspense se desenrola quando uma delas descobre a existência de uma arma mortífera, a qual pode matar um animal sem deixar vestígios. Além disso, um grupo de formigas rebeldes se infiltrou no formigueiro e está disposto a liquidar qualquer inseto que tentar desvendar o que acontece nas raízes da cidade. O trio tem uma longa jornada pela frente e precisa entender o que se passa ao seu redor.
Durante quase toda a leitura, a parte condizente aos humanos é a mais atrativa. Nela, o clima misterioso é cômodo e intrigante, relacionando biologia com psicologia, filosofia e, inclusive, um pouco de religião. A parte das formigas, por ser descritiva ao extremo, pode se entediante para alguns em certas passagens. Contudo, o que torna a leitura válida são as informações e curiosidades presentes por toda a obra, transformando os insetos – as formigas, especificamente – em seres bem mais interessantes e deslumbrantes do que se imagina.
Talvez o maior triunfo de As Formigas seja o seu final, no qual os dois núcleos se encontram, de uma forma absurda e impressionante, revelando que grandes coisas, equivalentes aos acontecimentos mostrados em Planeta dos Macacos: A Origem, estão para acontecer nos dois livros seguintes. Bernard Werber, através do primeiro volume de sua trilogia, mostra que devemos tomar cuidado com as formigas. Afinal, elas habitam o planeta desde 100 milhões de anos antes de nós e sua civilização mundial já ultrapassa a marca de um bilhão de bilhões de indivíduos. Elas estão por toda a parte e essa é uma bela razão para ficarmos preocupados.
Em 2008, ao assistir Batman – O Cavaleiro das Trevas, segundo filme do Homem-Morcego dirigido por Christopher Nolan, deparei-me com uma tremenda obra de arte. O encanto de fato foi tão profundo que muitos, além de mim, concordaram que seria uma proeza incoercível ultrapassar a qualidade estabelecida por um filme que talvez passasse despercebido se não fossem seus detalhes marcantes.
É irrefutável que um dos maiores destaques de O Cavaleiro das Trevas foi a atuação doentia e conturbada que Heath Ledger concedeu ao Coringa, a qual lhe rendeu vários prêmios póstumos (incluindo Oscar e Globo de Ouro) e o colocou no apogeu dos melhores vilões de todos os tempos. Dito isso, o filme tem o defeito de ser tão bom e empolgante, que uma sequência certamente exigiria o mesmo grau de dedicação de cada pessoa envolvida no projeto.
E então, quatro anos depois, chegamos ao Cavaleiro das Trevas Ressurge, terceiro e último filme da franquia Batman dirigido por Nolan e protagonizado por Christian Bale. E, antes de qualquer coisa, devo dizer que é um desfecho bastante corajoso. Não que seja inferior ao seu predecessor, pois Nolan é um tipo de diretor em que se pode confiar; o curioso, porém, é que em contraste com o ritmo acelerado, caótico e perturbador do segundo filme, aqui temos um enredo focado mais no lado sentimental e psicológico dos personagens, o que os torna mais táteis e verossímeis.
Oito anos depois dos acontecimentos finais de O Cavaleiro das Trevas, vemos uma Gotham pacificada graças a uma lei intitulada de Ato Dent, a qual foi responsável por prender mais de três mil criminosos que aterrorizavam a cidade. Batman nunca mais foi visto e é tido como um foragido da lei por ter assumido a culpa pela morte de Harvey Dent e, com isso, ocultado a verdadeira razão de seu óbito. Por consequência, Bruce Wayne (Bale), acometido pela tristeza e remorso, encontra-se exilado em sua mansão enquanto a empresa de sua família vai à falência.
Com a chegada de Selina Kyle (Anne Hathaway), uma ladra que parece não medir os resultados de seus atos, e com o surgimento de Bane (Tom Hardy) do subsolo – literalmente – para abalar os alicerces financeiros e morais de Gotham, torna-se necessário que Batman reapareça para garantir a paz novamente. A escolha de um vilão desconhecido para muitos se revela primordial no decorrer da projeção, pois aqui o desafio de Bruce Wayne, além de espiritual, é físico; o embate entre os dois é, no mínimo, brutal.
O que faz de Ressurge um filme ainda mais audacioso é que ele gira em torno de diversos temas, como terrorismo e conflitos sociais, fazendo com que a imagem do Batman em si fique um pouco apagada. Isso seria uma falha descomunal, mas o espaço é ocupado pelos personagens secundários, como o novato John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e os já conhecidos Lucius Fox (Morgan Freeman), Comissário Gordon (Gary Oldman) e Alfred (Michael Caine), este último com belas cenas de deixar o coração apertado.
O clima de melancolia perpassa quase toda a duração (e são quase 3 horas de filme). Se Hans Zimmer, em O Cavaleiro das Trevas, soube arrebatar o espectador com sua sinfonia impecável, neste derradeiro episódio ele utiliza uma trilha sonora mais lânguida, preparando o público para aceitar que o final chegou. É importante salientar que há fortes referências a Batman Begins, por isso é recomendável uma maratona antes de encarar o terceiro capítulo.
Sim, Christopher Nolan soube contar uma história e passar a mensagem que queria. Nos mostrou o início da lenda, a queda do herói e o fim de sua jornada. Ressurge encerra com maestria uma parte da mitologia, abrindo portas para uma nova possibilidade. Não importa se é melhor ou pior que seu antecessor; a qualidade foi mantida. E provou aos incrédulos que homens são capazes de se transformar em lendas.
"Quando Gotham estiver em cinzas, você terá minha permissão para morrer".
Nós temos a necessidade de conviver com outras
pessoas. Talvez por isso nunca sejamos completos, pois precisamos deixar nossa
marca em alguém, nem que seja na forma de uma forte opinião ou de uma vaga
lembrança. E o processo também tem que ser inverso.
A distância, ao contrário do que muitos pensam,
não tem a finalidade de atrapalhar ou de fortalecer um possível esquecimento.
Um amigo de verdade, mesmo que passageiro, fica marcado na memória. E, se antes
de partir, ele deixa uma marca em você, sua missão agora é retribuir o favor e
repassar uma boa impressão a outra pessoa.
E no momento em que ele regressar,
aproveitar-se-á o tempo perdido, semeando as novas amizades e preservando as
antigas, em rodas de conversa, em loucuras compartilhadas, em anedotas mal
contadas, em saudades não reveladas... Infelizmente, há amigos que não retornam
mais. Esses resolveram seguir um caminho diferente, mas sempre se lembram da
sua existência, alguns com vergonha de admiti-la. A memória falha, porém não
mente.
Um dia este que vos fala também vai partir, na
esperança de que tenha deixado em você uma impressão minimamente razoável e que
possa ser transmitida para aqueles que merecem. Por isso aproveite e
intensifique cada momento singelo e sublime, com abraços, lágrimas, sorrisos, e
aperto de mãos, porque um dia você também terá que ir embora.
Mas não se preocupe. O melhor da partida sempre
vem depois: o reencontro.
Mais uma vez, feliz Dia do Amigo!
Letra da música 'Canção da América':
Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.
Esta crônica é inspirada em uma situação real, na qual 'profissionais' ignoram o valor dos 'amadores'.
Uma coisa é certa: se você é habitante do planeta Terra, nasceu pra ser taxado por mim. Não importa se você é vítima ou vilão, muitas vezes é apontado mesmo quando é o figurante mais despercebido da história.
E nem adianta querer escapar, se auto proclamando um santo ou dizendo que é um poço de inocência, pois até os desafortunados são acometidos pela assídua vontade de reconhecer meu valor. Felizmente, essa é a regra básica das leis: alguém ter que ser taxado de alguma coisa. E se não quiser, cai fora porque a fila é gigantesca.
Eu, por exemplo, já fui chamado de muita coisa nessa vida. “Louco” tornou-se uma palavra gostosa dentro do meu cotidiano. Eu a saboreio como um diabético ensandecido nadando em uma piscina de chocolate. Também já fui apontado de outras coisas: dissimulado, sociopata, cabeçudo, cínico, manipulável (e manipulador), ignorante, falso, jumento, irresponsável... Enfim, tudo que um ser humano normal tem direito. Incluindo a característica de “mafioso”.
O que não possa aceitar, em hipótese alguma, é que me classifiquem como amador. Eu sou egocêntrico e egoísta demais para aceitar algo assim. Posso suportar qualquer apelido, qualquer característica torpe, mas ser taxado de amador é atingir o grau mais miserável e baixo da humanidade. Se Deus me trouxe ao mundo, foi somente para brilhar no céu como a mais chamativa das estrelas e, por consequência, ser o centro de todos os holofotes.
Danem-se os caretas e suas teorias de simplicidade e harmonia! Qual o sentido de um conjunto ou sociedade, se eu posso me destacar entre os ínfimos planetas e me tornar o astro rei da galáxia? Quando sou taxado de amador, fica pressuposto que sou uma criatura incompleta, suscetível a falhas e – Deus me livre – autor de atitudes precipitadas. É como se eu ainda estivesse em processo de evolução, tentando atingir um objetivo, ou pior... Como se eu ainda não fosse dotado da razão absoluta!
Eca! Há petulância maior que essa? Dá nojo só de imaginar! Eu estou aqui para ser apontado, virar assunto na boca dos outros, ser o evento principal da balada, bajular os poderosos e transitar entre a elite, e não me contentar em ser um medíocre amador, que se satisfaz com uma existência simplória e insignificante. Fico na dúvida se uma pessoa assim é digna de pena.
Acredito que o certo é prender todos os amadores em uma grande penitenciaria. Desse modo, os inocentes civis, como eu, ficariam livres de enxergar o lado negro da vida. Afinal de contas, a humildade é acessível para os cidadãos maduros e especiais. Apenas os predestinados são capazes de manuseá-la. E eu, é claro, me incluo nessa lista.
A palavra reboot, bastante conhecida no ambiente do cinema, é utilizada para esclarecer que algo já feito antes, independente do sucesso, voltará ao marco zero. Ou seja, será recontado por meio de uma nova ótica. É importante não confundir com o nome remake, que se trata de uma versão mais atualizada da mesma história. O Super-Homem, por exemplo, ganhará um reboot em 2013, deixando de lado todos os cinco longas apresentados anteriormente.
Com a promessa de que isso se torne cada vez mais comum nos filmes dos heróis, eis que surge O Espetacular Homem-Aranha, o recomeço da franquia do jovem aracnídeo que desconsidera tudo que foi construído pela trilogia dirigida por Sam Raimi. E, tendo o Homem-Aranha 3 estreado em 2007, fica meio difícil esquecer o que foi feito e evitar comparações com uma trilogia repleta de cenas memoráveis.
O enredo original, graças a Deus, permaneceu intacto. E, agora, na tentativa de ser mais fiel às HQ’s. Conhecemos Peter Parker, adolescente que vive com os tios no subúrbio de Nova York. Ele é um garoto gênio, solitário, que só encontra a sua grandeza e importância ao ser picado por uma aranha radioativa. Com a descoberta de suas novas habilidades logo vem as consequências, como a perda de pessoas queridas, o confronto com vilões megalomaníacos, e o encontro com o amor jovial.
Essa nova perspectiva adotada à história do aracnídeo é dirigida por Marc Webb, mesmo diretor de (500) Dias Com Ela, filme que ganhou a graça do público pela forma tocante, realista e cômica com a qual foi conduzido. Esse mérito rende ao Espetacular Homem-Aranha ótimas atuações; Andrew Garfield, que já vinha se revelando desde A Rede Social e O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, nos mostra uma versão mais divertida e, se assim posso dizer, humana, de Peter Parker. Sua interpretação é realçada com a química perfeita ao lado de Emma Stone (Gwen Stacy), a qual não desaponta em momento algum.
A trinca de atuações é completada com a presença de Martin Sheen (Tio Ben). A interação entre os três atores citados é tão impecável, que por um instante me esqueci dos filmes protagonizados por Tobey Maguire. Os problemas começam a aparecer após o evento mais traumatizante da vida de Peter (acho que não preciso dizer o que é). As cenas com a Tia May são mal aproveitadas, tornando opaco todo o brilho que Sally Field tem a oferecer; assim como no longa de 2002, Peter tenta caçar o responsável por ter deixado um vazio em sua família, mas de repente, do nada, ele para e a busca é esquecida até o final.
Neste reinício, a criação da vestimenta está mais acreditável. Contudo, seria sábio da parte dos roteiristas e figurinistas, em uma próxima ocasião, tentarem criar um contexto em que a roupa precise ficar mais bonita. Os infortúnios do reboot não param por aqui: o Lagarto, vilão do filme, deveria ter uma aparência mais animalesca e despertar maior terror no público. Não acontece. A trilha sonora não traz a empolgação que a trilogia de Raimi possuía. E a propaganda do filme, que prometia exibir “a história nunca antes revelada”, referindo-se aos pais de Peter, acaba decepcionando no final.
Aviso: o 3D é dispensável. Há aqui e acolá cenas legais de se ver no tridimensional, porém, para um longa filmado exclusivamente nesta tecnologia, era de se esperar que pelo menos todos os efeitos em CGI estivessem capacitados para causar a sensação de imersão no espectador. Marc Webb sabe direcionar comédia e romance com maestria, mas demonstra que ainda tem muito a aprender quando o assunto é ação. Resta-nos torcer para que, no segundo filme desta trilogia, os erros sejam superados e cenas icônicas sejam elaboradas. O Homem-Aranha está de volta e, infelizmente, não é tão espetacular assim.