quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Thor: Ragnarok


Há um ditado que diz que não se deve mexer em time que está ganhando. Deve ser pensando dessa forma que o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, estrutura os filmes dos heróis da Casa das Ideias. Afinal, a “fórmula Marvel” sempre deu certo, agrada o público de todas as idades e com certeza passará longe de um dia ser sombria.

No caso de Thor: Ragnarok, assim como ocorre em Guardiões da Galáxia, a fórmula entrega novas nuances e se declara, sem nem um pouco de vergonha, como uma comédia. O que, de certa maneira, já é muita coisa, pois nos filmes anteriores do Deus do Trovão era claro que o herói ficava transitando entre o drama e o cômico, sem saber exatamente qual dos terrenos seria mais fértil. Porém, assumir-se como uma obra humorística é suficiente para manter um filme desse gênero e escala?


Ragnarok começa com Thor (Chris Hemsworth) no meio de uma jornada e logo nos segundos iniciais o diretor Taika Waititi demonstra o tom irreverente e despreocupado do longa. Ao retornar para Asgard, Thor percebe que a rotina e o governo perderam o controle sob o comando de Loki (Tom Hiddleston), o que faz com que os irmãos procurem o verdadeiro Odin e, consequentemente, deem de cara com a vilã Hela (Cate Blanchett). 


No momento em que surge, Hela, a deusa da morte, já mostra seu poder. Seu objetivo é tomar o trono de Asgard e fazer com que todos se ajoelhem diante da sua imagem. Destaque para as cenas em que ela luta (um show de lâminas voadoras), cuja coreografia de combate é até digna de respeito. Entretanto, existem detalhes desagradáveis que prejudicam a narrativa e eles não podem passar despercebidos.


Ragnarok deveria representar o fim dos tempos dos nórdicos e isso subentende ao menos um tom que exigisse certa seriedade, mas Taika Waititi – experiente em comédias – foge completamente dessa vertente. A trama sequer consegue trazer emoção em situações de perda e o pior vai além: a despreocupação é tamanha que os filmes anteriores são ignorados. Thor não tinha saído em busca das Joias do Infinito? Uma informação importante como essa, que tem relevância dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, precisava ser resolvida em apenas uma frase? Era necessário que determinados personagens morressem tão rápido? É quase uma falta de respeito com o fã e o espectador. 


Outra coisa que incomoda o andamento do enredo é a montagem. Em aproximadamente 15 minutos de filme Thor já está em Sakkar, local onde se reencontra com Hulk/Bruce Banner (Mark Ruffalo) e duela em uma arena com o Gigante Esmeralda (cena que remete à famosa HQ Planeta Hulk). Um tempo considerável da exibição é dedicado a mostrar Thor estagnado em Sakkar, e embora o público seja apresentado a novos personagens, como a Valquíria e o Grão Mestre – e o ambiente em si seja uma homenagem a Jack Kirby – o núcleo que acaba sendo mais interessante é o de Hela em Asgard, e este infelizmente é pouco explorado e a vilã, para variar, mal aproveitada. E se o espectador parar para analisar as piadas desnecessárias, o roteiro escorrega ladeira abaixo.


Todavia, nem tudo é desastre em Thor: Ragnarok. Chris Hemsworth encontrou-se como um ator de comédia e o personagem em si sofre transformações significativas: perde o martelo, o cabelo é cortado, sem mencionar o fato do que acontece na batalha final. Essas etapas ajudaram a dar mais camadas a um Thor que sempre pareceu meio perdido. Ragnarok poderia ter se espelhado mais em Guardiões da Galáxia, que apesar de ser cômico, sabe explorar os momentos de emoção. O time pode até continuar ganhando, mas isso não significa que ele esteja organizado e desempenhando a função com a mesma eficácia de antes. Cuidado para não cair, Marvel. Desta vez foi por pouco. 

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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Planeta dos Macacos: A Guerra


Macacos lutam apenas para sobreviver”.

É admirável que hoje em dia algumas franquias ainda pensem no formato de trilogia como um bom suporte para desenvolver suas histórias. Enredos com princípio, meio e fim, que encerram um ciclo sem necessariamente deixar explícito que há mais por vir. Não é o caso de muitos dos filmes que se vê na atualidade, que buscam cada vez mais lucro nas continuações, mas Planeta dos Macacos não é uma obra qualquer.

A franquia foi reiniciada em 2011 e já era possível observar, apesar de ser apenas um filme de origem, todo o potencial que a história possuía. No primeiro contato que o público teve com César (Andy Serkis) foi visto que o macaco queria somente liberdade, longe da tirania dos humanos. No segundo filme, é visto um César líder, que conseguiu construir uma sociedade de primatas e sofre com a sórdida traição de Koba. Planeta dos Macacos: A Guerra surge para encerrar um ciclo e curiosamente não faz uma ponte com o filme original de 1968.


Depois de toda a confusão que Koba causou em O Confronto, um exército, comandado pelo Coronel interpretado por Woody Harrelson, iniciou uma caçada aos símios. César montou uma resistência na floresta a fim de se esconder dos humanos, porém nada dura para sempre e a cena de abertura, que por sinal é maravilhosa, já deixa isso claro. A partir daí o espectador acompanha a surpreendente transformação de César em sua busca por vingança, e é essa construção que movimenta a trama.   


Planeta dos Macacos: A Guerra é emocionante e fenomenal em vários sentidos. Matt Reeves, também diretor do anterior, dirige com autonomia e prazer, e sua competência é bastante notável nas cenas sentimentais e também nas batalhas (a câmera se movimenta com delicadeza em meio ao caos). A trilha sonora de Michael Giacchino é lânguida e grandiosa nos momentos necessários, transparecendo o clima épico e conclusivo que o filme carrega em seu cerne.


Embora tenha o nome “guerra” no título, Matt Reeves foi ousado ao investir em outros aspectos, pois o foco central é bem diferente do que se espera ver em um filme de ação. A emoção é o alicerce do primoroso roteiro e ela se divide em subtramas que não prejudicam a narrativa, e sim ajudam o público a se envolver mais profundamente com os personagens. É o caso de Macaco Mau e Nova, sendo o primeiro usado como alívio cômico em uma medida ponderada. O enredo também tem suporte nos relacionamentos e existe uma cena tocante em que os macacos demonstram sua lealdade para com César, transformando-o em uma figura quase bíblica. 


Diante de tantos elogios, não há como esquecer a computação gráfica. A franquia se superou de tal forma que em determinadas cenas parece que a produção usou macacos de verdade. No entanto, a atuação de Andy Serkis merece um destaque singular; ele conseguiu exprimir todo o drama que César vivenciou ao longo do filme e isso tudo não mais por captura de movimento, mas agora com a captura da performance completa do ator. O que está faltando para ele ser indicado ao Oscar?


Com Planeta dos Macacos: A Guerra, a franquia dos símios é forte candidata a entrar para o tão desejado olimpo das trilogias memoráveis e monumentais, assim como foi com O Poderoso Chefão, De Volta Para o Futuro, O Senhor dos Anéis e Batman – O Cavaleiro das Trevas. A jornada de César foi linda e magnífica, e certamente é digna de merecer tal classificação. E assim como o original de 68, é uma obra para ficar marcada na história. 


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segunda-feira, 26 de junho de 2017

2017.2 vem aí!



Mais um semestre se passou, revelando que 2017.1 trouxe coisas boas e também algumas decepções (esperadas, em certos casos). O limiar de um novo semestre traz consigo promessas renovadas, e 2017.2, em particular, virá com produções que podem mudar o futuro de algumas franquias cinematográficas. Portanto, pegue a pipoca e faça sua aposta de quem vai se sair melhor, pois a lista é grande e vem chegando grandes coisas por aí. Bom, o que já se pode adiantar é uma certeza: está na hora dos Jedi acabarem.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar 




Transformers: O Último Cavaleiro 




Dundirk:




Carros 3:



Planeta dos Macacos - A Guerra: 



A Torre Negra: 




Valerian e a Cidade dos Mil Planetas:



Atômica:



Kingsman: O Círculo Dourado



It: A Coisa 



Thor: Ragnarok



Liga da Justiça



Star Wars: Os Últimos Jedi 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Mulher-Maravilha


Sou Diana de Themyscira, filha de Hipólita. Em nome de tudo que é bom, sua ira sobre este mundo acabou”.

Os estudiosos do cinema gostam de dizer que um filme é um registro do seu tempo. A primeira aventura de Diane Prince nos quadrinhos foi em 1942, estreando uma mulher no papel de super-heroína. Apenas em 2017, 75 anos depois, a personagem ganha seu primeiro filme solo nos cinemas, realizando um feito que talvez em décadas passadas não fosse possível: conquistar o carinho, admiração e respeito do público.

Ao que parece, Mulher-Maravilha, assim como ocorreu nos quadrinhos, veio para trazer inovação ao calejado universo cinematográfico da DC. Após a Warner receber muitas reclamações dos fãs em 2016 com a recepção nada amistosa de Batman vs. Superman e Esquadrão Suicida, o estúdio estava precisando de elogios. Pode ter sido a entrada de Geoff Johns, o novo produtor executivo, ou o talento nato de Patty Jenkins, diretora do longa, mas o fato é que o quarto filme deste universo revela que os cinéfilos podem ficar tranquilos.


O enredo está situado no período da Primeira Guerra Mundial. O avião do soldado Steve Trevor (Chris Pine – ótima atuação) cai nas imediações da Ilha Paraíso, local onde Diana (Gal Gadot), sua mãe e o restante das Amazonas vivem. Ele as alerta que está em missão para dar um fim à guerra e seu discurso comove Diana; tendo sido treinada desde criança para o combate, ela enxerga no homem a oportunidade de lutar pelos mais fracos e se provar como guerreira. 


Ambos partem para Londres e Diana suspeita que a guerra seja obra de Ares, antigo inimigo das Amazonas. Ela segue em direção ao conflito, ao lado dos amigos de Trevor, na esperança de que a morte de Ares seja a solução para o fim da barbárie. E é este um dos aspectos fabulosos do roteiro; a inocência de Diana e sua vontade de praticar o bem em contraste com o ambiente desolador e caótico da batalha. Esse impacto de realidade rende à trama bons diálogos e cenas instigantes, como a primeira vez que o espectador vê a heroína devidamente caracterizada. A fotografia também acompanha a seriedade da narrativa, ficando mais densa à medida que o drama se intensifica.


O roteiro também sabe explorar o restante dos personagens, especialmente os coadjuvantes. Steve Trevor e seus amigos mostram irreverência e, de acordo com as situações, nuances distintas, tornando-os mais cativantes e úteis para a história. A boa escalação do elenco, infelizmente, traz pontos negativos: 1) o desejo de querer sabe um pouco mais sobre eles; 2) o filme peca naquilo que aflige a maioria das produções de heróis da atualidade: o péssimo aproveitamento dos vilões.  


Embora fique claro que Gal Gadot precise de mais aulas de atuação, o esforço que ela faz para dar vida à Diana é digno. Os momentos em que ela interage com Chris Pine trazem leveza e harmonia e o filme transmite a ideia de um time, em que a ajuda é mútua, sem que um necessite se sobrepor ao outro. 

O que desequilibra, ainda que não seja algo tão grave, o clima de Mulher-Maravilha é o seu final, que lembra bastante o terceiro ato de Batman vs. Superman e inclusive parece ter sido dirigido pelo próprio Zack Snyder. Patty Jenkins é uma diretora que sabe desenvolver personagens femininas, porém aqui demonstra que precisa aprender um pouco mais sobre cenas de ação. Fora isso, Mulher-Maravilha é um marco para os filmes de heróis e veio no tempo certo, aumentando a expectativa para Liga da Justiça. A era da esperança chegou para a DC.   


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terça-feira, 23 de maio de 2017

Rogue One: Uma História Star Wars


Rebeliões são construídas na esperança”.

Quando os créditos iniciais de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança aparecem na tela, o espectador tem a informação de que um grupo de rebeldes roubou os planos da Estrela da Morte – a arma destruidora de planetas do Império – e os enviou para a Princesa Leia (Carrie Fisher), uma das principais integrantes da Aliança Rebelde.

A informação, apesar de singela, serviu de escopo para a construção do enredo do primeiro spin-off da franquia Star Wars. Rogue One: Uma História Star Wars se situa alguns anos depois de Anakin Skywalker se tornar Darth Vader e dos Jedi terem sido caçados. Portanto, a época perfeita para o Império mostrar a toda galáxia o alcance do seu poder bélico.


Jyn Erso (Felicity Jones) desde cedo conheceu a crueldade dos asseclas do Imperador. Ainda criança viu seu pai, Galen Erso, ser levado pelo Diretor Krennic para a conclusão da Estrela da Morte e foi criada por Saw Guerrera (Forest Whitaker), antigo herói das Guerras Clônicas.  Anos se passam e a Aliança Rebelde entra em contato com a jovem a fim de descobrir o paradeiro de seu pai e obter dados a respeito da misteriosa nova arma do Império. 


Ao lado de Cassian (Diego Luna) e o dróide K-2SO, Jyn adentra em uma jornada investigativa repleta de fan service e easter eggs para os fãs mais saudosistas. O diretor Gareth Edwards (responsável pelo mais recente Godzilla) teve a intenção de fazer o filme mais diferente de toda a franquia, atribuindo a Star Wars um teor dramático de guerra. E ele conseguiu atingir o objetivo, conduzindo as cenas de conflito com maestria (O terceiro ato, tanto na batalha terrena quanto na espacial, é épico e lindo).


Edwards soube equilibrar muito bem a composição visual da obra, seja nas cenas envolvendo proporções (a nave imperial sobrevoando Jedha, por exemplo), quanto no ponto de vista de quem é o alvo da Estrela da Morte. Nessa perspectiva, a trilha sonora e os efeitos visuais contribuíram para a imersão e é possível acompanhar com mais veracidade a aflição que os personagens sentem. 


A falha de Rogue One talvez seja não ter aprofundado os personagens principais, cujas interações demonstram um aspecto cativante, mas não sai da superficialidade. K-2SO, e todo seu humor sarcástico, e Chirrut Imwe, que acredita na Força como um poder espiritual, são os únicos que escapam um pouco disso. Contudo, é impossível não citar Darth Vader; com somente duas pequenas participações, o lendário Lorde Sith relembra ao público o que é capaz de fazer. É de tirar o fôlego.

Rogue One: Uma História Star Wars faz uma ponte perfeita com Uma Nova Esperança e esclarece indagações que os fãs tiveram durante quase quatro décadas. Os cinco minutos finais são sublimes, revelando o potencial que a Disney tem a oferecer para Star Wars agora que George Lucas somente assiste na arquibancada. É uma árvore ancestral mostrando que ainda pode aprofundar suas raízes, atingir mais pessoas e, sobretudo, provando que novos frutos podem ser tão bons quanto os antigos.  



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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Guardiões da Galáxia Vol. 2


Às vezes, o que procuramos a vida toda sempre esteve ao nosso lado”.

Quando Kevin Feige, presidente da Marvel Studios e responsável pela criação do universo cinematográfico da Marvel, anunciou os filmes que iriam compor a Fase 3, os fãs ficaram ansiosos pelo retorno do grupo intergaláctico que conquistou o público em 2014. De fato, Guardiões da Galáxia foi um sucesso estrondoso e era de se esperar que a continuação viesse com força total.

Guardiões da Galáxia Vol. 2 é, de longe, o filme mais cômico e insano da Marvel. Dirigido e roteirizado novamente por James Gun, a proposta do diretor era usar os elementos que fizeram o primeiro longa ser tão divertido e elevá-los a outro patamar. E, nesse sentido, o objetivo foi alcançado com proeza.


Depois de terem salvado a galáxia uma vez, o grupo liderado pelo Senhor das Estrelas (Chris Pratt) presta serviços ao troco de recompensas para civilizações ao longo do universo. Assim que uma negociação com os Soberanos não acaba bem, Peter Quill e seus amigos recebem o auxílio de um indivíduo e sua ajudante, Mantis. O sujeito se apresenta como Ego (Kurt Russel), e revela ser o pai de Peter. 


A relação entre a equipe foi um dos pontos fortes do filme anterior. Se lá a intenção era construir a amizade entre os integrantes, aqui é consolidar o conceito de família; e isso é exemplificado inclusive nas cenas de discussão. O embate de Gamora (Zoe Saldana) e sua irmã, o nascimento de um vínculo entre Peter e seu pai, o desejo de aceitação de Rocket (voz original de Bradley Cooper), a tocante interação de Drax (Dave Bautista) com Mantis, a dramática jornada de Yondu (Michael Rooker); são apenas algumas camadas que ajudaram a aprofundar os personagens e a exibir suas novas facetas.


E é quase impossível descrever o enredo da produção sem citar Awesome Mix Vol. 2, que brilha de tal forma que mais parece um personagem invisível, mas sem perder a elegância e o prestígio. A cena de abertura com Groot (voz original de Vin Diesel), ao som de Mr. Blue Sky, é uma prova formidável disso. E a trilha sonora acompanha as nuances que se desenrolam no decorrer do filme, encerrando de modo comovente com Father & Son, de Cat Stevens. 


No entanto, Guardiões da Galáxia Vol. 2, assim como outros filmes da Marvel, apresenta falhas narrativas. A presença de duas ameaças faz com que o peso seja dividido, transformando o clímax em uma grande mistura de explosão de cores, o que pode ser confuso para alguns espectadores. E embora não seja consideravelmente prejudicial, o segundo ato explicativo faz o ritmo enfraquecer um pouco.

Apesar de ser independente e não fazer menção a outros filmes da Marvel, Guardiões da Galáxia Vol. 2 expande o universo cósmico e faz algumas promessas para o terceiro capítulo; isso sem mencionar a participação de Sylvester Stallone e uma pequena brecha (quase imperceptível) para Vingadores: Guerra Infinita. Sim, Peter Quill e Cia. irão se unir à trupe do Homem de Ferro, um encontro esperado há muito tempo. Chegou a hora de ver todo o quebra-cabeça da Marvel montado. Resta saber se as peças vão se encaixar como devem.  



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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Corpo Fechado


Vá onde as pessoas estão. Não precisa procurar muito tempo. Tudo bem se tiver medo, David. Porque esta parte não vai ser igual aos quadrinhos. A vida real não cabe dentro de uns quadradinhos com desenhos coloridos”.

Em meados de 1999, o cineasta indiano M. Night Shyamalan ganhou fama com o suspense sobrenatural O Sexto Sentido. Além da ótima repercussão, o filme ainda lhe rendeu uma indicação ao Oscar. O incrível talento do diretor fez com que, apenas um ano após o seu sucesso, entregasse ao público outro grande clássico também protagonizado por Bruce Willis.

A vida de David Dunn (Willis) não anda bem. Seu casamento está à beira do fim, sua relação com o filho é omissa, sua promissora carreira no futebol terminou de maneira brusca na época da faculdade, e seu emprego atual é de vigilante. Tudo piora depois de um acidente de trem no qual ele é o único sobrevivente. 


A partir daí, a tristeza que David sente diante da vida se mistura com as dúvidas. Como ele pôde escapar sem ter fraturado osso algum e tampouco sofrido nenhum arranhão? Sua curiosidade o leva a conhecer Elijah Price (Samuel L. Jackson), um fanático colecionador de revistas em quadrinhos. Elijah possui uma rara doença nos ossos e, por ter um corpo muito frágil, ele desenvolveu a teoria de que possa existir alguém no mundo que seja seu oposto.


Shyamalan tem uma percepção peculiar ao estruturar a narrativa de seus filmes, uma vez que roteiriza todos e traz temáticas fabulosas para um prisma realístico, e com Corpo Fechado não é diferente. A construção dos personagens e seus dramas pessoais crescem paralelamente com o suspense (As interações de Elijah e David são formidáveis e imprescindíveis), assim como fez em O Sexto Sentido, Sinais e A Vila.  


O diretor também caprichou na criatividade e nas cenas de impacto de Corpo Fechado. Vários momentos são compostos por planos-sequências, o que ajuda o espectador a manter a concentração no enredo (A cena da arma na cozinha é um exemplo disso). E a trilha sonora, composta por James Newton Howard, traz nuances enigmáticas e heroicas para o caminho de respostas que David procura.  


Em Corpo Fechado, M. Night Shyamalan traz conceitos de heróis do mundo real sob a perspectiva de um gênero textual marcante para a sociedade, antes mesmo dos super-heróis entrarem em vigor em Hollywood. Em tempos de crueldade e morticínios, é bom ver uma obra que traz reflexão e, de forma inteligente e talentosa, mostra que simples atitudes de bondade podem levar esperança e salvação. 


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sexta-feira, 24 de março de 2017

Magnus Chase e a Espada do Verão


Escolhido por engano, não era a sua hora,
Um herói que, em Valhala, não pode permanecer agora.
Em nove dias o sol irá para o leste,
Antes que a Espada do Verão a fera liberte”.

O autor Rick Riordan já provou ao mundo inteiro que é especialista em mitologias das mais variadas. Depois de ter passado pela mitologia grega em Percy Jackson e Os Olimpianos, a egípcia em As Crônicas dos Kane, e a Greco-romana em Os Heróis do Olimpo, o escritor decidiu expandir seu talento para o universo nórdico em Magnus Chase e os deuses de Asgard.

Magnus Chase é um adolescente sem sorte. Após a misteriosa morte de sua mãe, ele passou a viver nas ruas. No entanto, logo depois de um encontro nada comum com seu tio Randolph, Magnus descobre que as lendas nórdicas são verdadeiras e a primeira prova que tem disso é uma batalha com Surt, o gigante de fogo que quer a Espada do Verão para apressar o Ragnarök, o fim dos tempos dos vikings.

Durante sua jornada, Magnus torna-se um guerreiro de Valhala e conhece a valquíria Sam. Mas em seguida o garoto se vê no meio de uma profecia e com a ajuda de Sam, e dos amigos moradores de rua Blitz e Hearth, ele precisa impedir que Surt liberte o lobo Fenrir e com isso atrasar o início do apocalipse nórdico. 

Com sua linguagem cômica e juvenil (a interação de Magnus com a espada é hilária), Riordan transporta o leitor para a cultura dos vikings de maneira formidável, assim como fez em seus livros anteriores. As mais de 400 páginas acompanham a longa jornada de Magnus em busca de sua identidade e também presenteiam o leitor com versões divertidas de alguns deuses, como Thor, Loki e Odin.

Curiosamente, A Espada do Verão é apenas mais um elemento de todo o universo que Riordan criou. Quem é fã das histórias do autor sabe que todos os seus livros mitológicos possuem conexões, e com Magnus Chase e os deuses de Asgard não é diferente. Fica a pergunta de quão longe o escritor ainda pretende ir. E diante dos eventos do primeiro livro desta nova série, resta muito tempo para as aventuras desses grandes personagens chegarem ao fim.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Logan


É assim que a vida deve ser. Pessoas que se amam... Um lar... Sinta isso. Logan, você ainda tem tempo”.

No ano 2000, o diretor Bryan Singer lançou X-Men, primeiro filme da franquia dos mutantes no cinema. Naquela época, tratava-se apenas de uma obra comum, alternativa, sem grandes ambições. No entanto, à medida que o tempo passou, o gênero foi ganhando mais espaço e força em Hollywood, e hoje esta categoria é simplesmente uma das mais lucrativas da indústria da sétima arte.

Enfim, 17 anos depois que os Filhos do Átomo estrearam no mundo cinematográfico, chega Logan, colocando não somente um ponto final na jornada do mutante mais famoso e violento de todos, como também é o epílogo da encarnação de Hugh Jackman como Wolverine. E a despedida é digna de honra.


Em 2029, em um mundo em que não nascem mais mutantes e que os X-Men deixaram de existir, Logan (Hugh Jackman) é um herói aposentado e ganha a vida como motorista de uma limusine. Nas horas vagas, sua função é cuidar de um bastante idoso e debilitado professor Xavier (Patrick Stewart), cuja mente não é mais a mesma. 


A rotina de ambos muda com a chegada de Laura (Dafne Keen, incrivelmente talentosa), uma menina misteriosa que está sendo caçada por Donald Pierce (Boyd Holdbrook) e seu grupo de ciborgues, os Carniceiros. Logan é forçado a voltar à ação e a encarar dores do passado.

E é exatamente sobre drama que Logan se trata. Essa era a intenção principal do diretor James Mangold (também diretor de Wolverine – Imortal), que se inspirou levemente na HQ Old Man Logan e, além disso, trouxe elementos de faroeste para compor o último capítulo da história do Carcaju. A estética do filme, desde a fotografia aos cenários e maquiagem, representa um tom melancólico e sem vida, fortalecendo a ideia de que Logan não é uma narrativa super-heroica, e sim um drama de alguém que teve uma vida repleta de sofrimento.


O clima de tristeza é enaltecido com as belíssimas atuações de Hugh Jackman e Patrick Stewart, e será um grande equívoco se elas passarem despercebidas pelas premiações da próxima temporada. A dupla funciona com harmonia e é comovente de ver em dados momentos como a ideia de família é implantada. Porém, outra coisa que chama a atenção em Logan é a classificação indicativa. 


Assim como aconteceu com Deadpool, a obra é para maiores de idade e este recurso é usado com sabedoria nas cenas de ação. Logan não poupa no sangue e na violência, mas a carnificina não é gratuita; a brutalidade é apenas um reflexo da jornada selvagem e infeliz que Wolverine teve. E Jackman se entregou totalmente, pois sua dedicação é perceptível mesmo com todo o corpo ensanguentado.  

Logan é de fato o encerramento de um ciclo que durou 17 anos. Se em 2000 X-Men foi o marco para o retorno dos heróis no cinema, agora Logan é o divisor de águas para repensar a fórmula de como retratar este gênero. É a consagração que a Fox tanto necessitava, equiparando-se ao patamar atingido por Batman – O Cavaleiro das Trevas e Capitão América 2 – O Soldado Invernal. Um enredo definitivo, uma despedida emocionante e uma sensação de gratidão. E, como o próprio Hugh Jackman falou em entrevistas, uma verdadeira e sincera carta de amor aos fãs.



"Um homem tem que ser aquilo que ele é, Joey. Não pode quebrar o molde. Eu tentei e não funcionou comigo. Não tem como viver com um assassinato. Não tem como voltar de uma morte. Certo ou errado, é uma marca. Marcas ficam. Não há como voltar. Agora, corra até sua mãe e lhe diga... diga que está tudo bem. E que não há mais nenhuma arma de fogo no vale".