quinta-feira, 31 de maio de 2012

E após dois anos, fez-se a confirmação




Naquela noite, contagiado pela euforia, não parei para imaginar as consequências daquele ato simplório. Jamais passaria pela minha cabeça que aquele espaço virtual ganharia um sentido, que o seu significado perpassaria pelos olhos, bocas e ouvidos de tantas pessoas. Mal sabia eu que aquela criação me renderia críticas, elogios e emoções. Assim foi e continua sendo. Na noite do dia 31 de maio de 2010, eu criei o Menino das Letras. – Fragmento da postagem do primeiro aniversário do Menino das Letras, há um ano. 

Sonhar é uma coisa perigosa. Nada é sólido e firme, e até que a ideia seja concretizada, o caminho é preenchido pelo desequilíbrio da incerteza. Hoje venho aqui para confirmar aos incrédulos que o poder de um sonho realizado é capaz de cruzar as fronteiras do racional, do imaginável, e do real. Que o poder de um sonho traduzido em palavras pode quebrar preconceitos e inspirar os desacreditados a repercutirem proezas similares. 

Hoje venho aqui para dizer que um dia eu tive um sonho. E que há exatos dois anos, pude colocá-lo em prática. As bodas de papel se desfazem e se transformam em algodão, pois nesta data o Menino das Letras completa seu segundo aniversário. 

O resultado do cumprimento de um trabalho acadêmico, por meio da publicação de um conto de minha autoria, foi ganhando proporções mais abrangentes à medida que os acessos ao blog foram aumentando e duplicando. O grupo de leitores, que antes se restringia somente a amigos e familiares, se expandiu e perpassou os estados brasileiros, atingindo, inclusive, outros continentes. 

Com o tempo percebi que o Menino das Letras precisava perder o perfil de passatempo e adquirir um toque maior de seriedade. Sendo assim, debrucei-me sobre o blog com um afinco especial; modifiquei o design e o layout, acrescentei novos gadjets, e aperfeiçoei a minha escrita. Tudo para que você, leitor(a), além de acompanhar o crescimento do blog, também pudesse se sentir instigado(a) a visitá-lo outra vez. 

Com 110 postagens redigidas no decorrer de 24 meses,  87 comentários e aproximadamente 20 mil visualizações desde o dia de sua criação, sendo divulgado por meio do Orkut, Twitter, Facebook e outras ferramentas virtuais, fico feliz – e até um pouco emocionado – em constatar que muitas pessoas compartilham do mesmo gosto cultural que o meu. 

De um profissional das letras para os leitores, declaro meus sinceros agradecimentos. Agradeço por cada postagem lida, agradeço por cada elogio, cada comentário, cada crítica, cada visita, cada divulgação; telefonemas, apertos de mãos e emails. Agradeço, mais uma vez, à Dany Travassos, pela faísca inspiradora; a Thiago Gonzaga, amante potiguar das letras, que divulga o blog através do dele próprio; à Gleice Couto, proprietária do Murmúrios Pessoais, onde tenho uma Coluna semanal desde fevereiro; a Paulo Júnior, irmão em Cristo, por ter criado a nova imagem do blog; e, por fim, ao glorioso Deus, por ter me agraciado com o domínio da escrita. 

É por você, e por cada um que passa e já passou por aqui, que o Menino das Letras continua em pé e agora caminha em direção ao destino que o futuro reserva. Que permaneça prazeroso enquanto dure, e que persevere na tentativa de provar que um sonho feito de palavras pode mudar o mundo.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Pergunta Inescrupulosa


Esta semana participei de uma Oficina de Crônicas ministrada pela cronista mineira Ana Elisa Ribeiro. A crônica abaixo, "A Pergunta Inescrupulosa", é um dos resultados alcançados por mim na citada oficina.


Certa vez, meu sobrinho veio até mim e perguntou:

- Tio, o que é uma crônica?

Fui pego de surpresa com aquela indagação, pois o pirralho nunca antes demonstrara interesse em algo tão erudito para sua mente perturbada.

Curioso, fiz questão de retrucar:

 - Por que quer saber disso, menino?

Insistente, o garoto devolveu:

- O senhor é formado em Letras. Tem a obrigação de me explicar.

Novamente fui pego desprevenido. Não pela pergunta, mas pelo fato de não saber respondê-la. Inicialmente, tive raiva. Afinal, não é nada divertido cair na ironia da maldição dos letrados. Quatro anos de graduação, estudando até ficar descabelado, passando noites sem dormir, e agora teria que me preocupar com uma questão elaborada pela imaginação maligna de um pivete.

 Maldita hora que cursei Letras. Português nunca foi minha praia. Passei anos acreditando que a palavra “mesa” era um verbo. Fiquei abismado quando descobri a existência de orações subordinadas. E meu sobrinho, do nada, me vem com um questionamento desses. O que deu nessa criatura para me desafiar de tal maneira? Provavelmente estaria sofrendo do mesmo mal que aflige milhões de cidadãos: acreditar que todo letrado é um dicionário ambulante. 

Mas o problema em questão não era esse. Eu tinha que criar uma resposta convincente o suficiente para conseguir ludibriar o intelecto vil daquele aprendiz de marginal. Minha honra e reputação dependiam disso. Se eu não pudesse responder uma pergunta tão ínfima, seria a prova concreta de que eu havia escolhido o curso apenas por ser o mais barato de uma universidade particular. 

Comecei a suar frio, mas tentei não manifestar desespero. Não descartei a hipótese de fugir, talvez me esconder nas montanhas, viver exilado da sociedade, tentar me encontrar na imensidão do meu universo reservado. Tudo era válido, menos responder aquela pergunta. Se eu queimasse meu diploma, ou dissesse que sou graduado em Agronomia, será que parariam de me fazer tantas indagações complexas? 

Aliás, qual o sentido de saber o que é uma crônica? Por acaso eu preciso saber por que a galinha bota ovo no lugar de omelete? Preciso saber por que a Terra é redonda? Tenho que saber por que as árvores são pregadas no chão? Por acaso Cabral, antes de descobrir o Brasil, precisou saber o que é uma crônica? Lógico que não! E veja só o papel que ele assumiu na História! Tentar decifrar os mistérios das coisas é o mesmo que desequilibrar a ordem natural da vida. É praticamente um apocalipse! 

 Então, em nome de tudo que é mais sagrado, de onde esse pirralho tirou a ideia de perguntar o que é uma crônica? Ele vai morrer se não souber? Essa informação é fundamental para fazer dele um ser humano melhor? Duvido muito. Eu, pelo menos, nunca necessitei disso. Maldito seja o criador da crônica! 

De repente tive meu momento de revelação. Descobri um jeito de respondê-lo! E, modéstia parte, ouso dizer que possivelmente foi a frase mais inteligente de minha vida. Alcancei a glória máxima de todo meu ser. Inclusive, acho que mereço o Prêmio Nobel da Educação. 

Olhei para meu sobrinho, que ainda esperava a resposta, e falei: 

 - Escuta aqui, seu moleque. Vê se para de me aporrinhar e vai ler uma gramática!


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um Dia

 


"Ela fez de você uma pessoa decente. E em troca, você a deixou muito feliz". 

Acho incrível como algumas pessoas se deixam enganar por filmes românticos. Esse gênero, em um tempo remoto, surgiu como uma maneira de encarar o mundo através de um sentimentalismo exacerbado, tornando as situações mais doces, bonitas e suaves de se ver. Honestamente, eu não caio nessa armadilha. 

O infortúnio do romance cinematográfico atual, do mesmo modo que alguns afirmam, é a deformação da realidade. Sendo a linguagem do cinema uma ferramenta de poder extenso e inspirador, filmes desse tipo utilizam-se de tal artifício para induzir os espectadores a acreditar que o tão cobiçado “final feliz” também pode acontecer a eles. Entretanto, é de conhecimento geral que a felicidade não chega a todos. E, nos casos mais deprimentes, jamais chegará. 

Poucos são os filmes românticos que se salvam por apostar no lado verossímil da vida. (500) Dias com Ela é um belo exemplo disso. E, enfatizando uma produção mais recente, Um Dia segue pelo mesmo caminho. 


Em 15 de julho de 1988, Emma Morley (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) são apresentados apropriadamente após a formatura da faculdade. Ela alimenta a ambição de deixar sua marca no mundo; ele está disposto a degustar de todos os prazeres que o mundo tem a oferecer. Depois de uma tentativa frustrada de fazer amor, ambos estabelecem uma amizade e, a partir daí, em todos os dias 15 do mês de julho dos anos que se seguem, eles se reencontram.

O que torna a trama interessante é observar os altos e baixos da vida dos personagens; a cada encontro, eles estão modificados por algum trauma, triunfo ou um novo propósito. A cada ano, revelam o lado poético e miserável de nossa insignificante existência, e as atuações de Hathaway e Sturgess reforçam essa perspectiva cruel e verídica.


O longa, dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig (de Educação), é uma adaptação da obra de David Nicholls, publicada no Brasil por meio da editora Intrínseca. O livro já é descrito por muitos como um clássico da literatura moderna, o que talvez explique o final nem um pouco alegre.

Pessoas que se deixam levar pelo sentimentalismo provavelmente vão derramar lágrimas no desfecho de Um Dia. O mérito da película reside no fato de mostrar a realidade de uma forma crua e melancólica, transmitindo, inclusive, uma monotonia em certos trechos. No frigir dos ovos, é possível que o romantismo tenha sido criado para esta finalidade: fugir de uma verdade feia e insuportável. A zona de conforto dos sonhadores e despreparados. 


Trailer:

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Os Heróis do Olimpo - O Herói Perdido


"Sete meios-sangues responderão ao chamado.
Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.
Um juramento a manter com um alento final,
E inimigos às Portas da Morte afinal".   


O ciclo da vida é composto por teorias que defendem a continuidade, seja por meio da reprodução ou no modo de ver a morte como a oportunidade de permitir que outro organismo nasça. Uma supernova, por exemplo, ao explodir, libera elementos químicos que podem gerar vida para uma nova estrela ou até mesmo luas e planetas. Acredito que deveria ser assim na literatura; ao passo que uma trama é encerrada, uma nova história se prepara para nascer. 

Rick Riordan, consagrado autor texano, parece pensar dessa maneira. No final da saga de Percy Jackson, no livro O Último Olimpiano, ele deu sinais de que uma continuação estava por vir. Confesso que, inicialmente, achei um pouco improvável; afinal, esse cara não para de escrever? Fui pego pela surpresa ao descobrir que Riordan deu início a mais uma série, Os Heróis do Olimpo, no qual o primeiro volume – O Herói Perdido – nos transporta de volta ao cotidiano dos guerreiros semideuses.

Aqui somos apresentados a novos personagens. O enredo começa com Jason, afetado pela amnésia, despertando dentro do ônibus da escola. Está ao lado de Piper McLean, garota que diz ser sua namorada, e de Leo Valdez, seu suposto melhor amigo. Sem saber quem era e o que fazia ali, ele e seus colegas logo são atacados por espíritos da tempestade e em seguida resgatados por uma menina chamada Annabeth (personagem que os leitores conhecem muito bem), que se intitula filha de Atena. 

O trio é levado para o Acampamento Meio-Sangue, onde velhos personagens reaparecem, como Quíron e Rachel Dare. Partindo do princípio da obviedade, cada um deles descobre que é descendente de um deus olimpiano. Leo é filho de Hefesto, o que explicava sua habilidade de criar coisas mecânicas e sentir a capacidade das máquinas, incluindo a evidência de conseguir produzir fogo com as mãos. Piper é filha de Afrodite e sempre teve uma capacidade de persuasão bastante acentuada. E Jason descobre ser filho de Júpiter (Zeus, para os gregos) e tem a habilidade de voar. 

Como de costume, há algo de muito errado acontecendo. Percy Jackson, filho de Poseidon, está desaparecido e o Monte Olimpo foi fechado, revelando que os deuses se retraem por alguma razão desconhecida. Graças a Profecia citada pelo novo Oráculo – e também às visões estranhas que somente o trio possui – os heróis descobrem que a deusa Hera foi raptada e está servindo como fonte de energia para que um antigo gigante possa se reerguer. Um gigante mais poderoso até que Cronos, o Titã do Tempo. 

O trio embarca na missão de resgatar a deusa, montados em um dragão de ferro batizado de Festus. Durante essa jornada, é possível sentir o enorme clima de suspense que Rick cria e, infelizmente, algumas respostas serão respondidas apenas nos livros seguintes. No entanto, o psicológico dos personagens é muito bem desenvolvido: Leo sente-se culpado pela morte da mãe quando ainda era uma criança; Piper nunca tivera uma vida de fato normal por ser filha de um astro famoso do cinema e agora receia precisar trair seus amigos para poder se salvar; e Jason, além de ter a estranha mania de chamar os deuses por seus nomes romanos, não tem ideia de quem é, das coisas que fez no passado, e do papel que irá desempenhar nesta aventura. 

Ainda que O Herói Perdido seja um livro bom, do mesmo jeito que Riordan sabe descrever momentos de tensão, ele também deveria amenizar o humor do enredo. Em muitas situações sérias, de perigo quase mortal, a comédia está sempre presente de alguma forma. É compreensível, visto que a temática é infanto-juvenil, mas um pouco de seriedade ajudaria. Isto, certamente, não altera o resultado final e comprova que a saga Os Heróis do Olimpo veio com força total. O ciclo literário realmente existe, e uma história termina para que outra possa começar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os Vingadores



"Se nós não pudermos proteger a Terra, com certeza a vingaremos".

Dizem por aí que a união faz a força. Durante décadas, o público cinéfilo se deixa levar por filmes de heróis que atuam sozinhos. Suas posturas heroicas são tão imponentes, que de fato fica difícil imaginá-los dividindo a sua glória com outros personagens de HQ’s. Sendo assim, é justo dizer que a Marvel merece sinceras congratulações, pois conseguiu realizar o ineditismo de transpor vários heróis a uma mesma aventura.

Para os fãs de quadrinhos e nerds devotos, Os Vingadores era um projeto aguardado há um bom tempo. A Marvel, cada vez mais empenhada a desenvolver esta façanha, deixou pistas nos filmes solos de todos os heróis que compõem o time (especialmente nos longas Thor e Capitão América), para que suas dicotomias pudessem convergir rumo a esta trama. Por isso, é sensato que o espectador tenha acompanhado tais franquias.

Igualmente às primeiras aventuras das HQ’s, o enredo do filme começa com o retorno de Loki, o asgardiano traidor, à Terra. Munido de uma tecnologia alienígena, seu plano de vingança não diz respeito apenas ao seu irmão semideus, Thor; é abrangente o bastante para consumir todo o planeta e fazer os humanos se ajoelharem perante uma raça superior.



Diante dessa ameaça deveras destrutiva, a S.H.I.E.L.D., organização que tem como objetivo manter a paz, recruta seres com poderes e habilidades que ultrapassam a barreira do senso comum. O Hulk (Mark Ruffalo), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Thor (Chris Hemsworth) e Capitão América (Chris Evans) são escalados por Nick Fury (Samuel L. Jackson) para compor esta equipe imprevisível.

Muitos são os fatores que tornam a história atrativa. Para início de conversa, como já era de se esperar, o ego dos heróis colidem entre si, fazendo com que o foco do problema central seja deixado de lado. Seria um demérito, se o roteiro tivesse sido escrito por alguém que não entendesse do universo dos Vingadores. Não é o caso.



Joss Wheadon, quem assina o roteiro e também dirige o filme, organizou cada cena com extrema maestria. Preocupou-se com o tempo que cada herói teria em tela, soube equilibrar os momentos cômicos com os de seriedade e revelou-se um exímio mestre nas cenas de ação. Também deu ênfase à importância de personagens secundários, como o Agente Coulson, que aqui serve de catalisador para o time. Um trabalho feito por um fã, não era de se esperar menos. 

No mundo dos quadrinhos, Os Vingadores nasceram na década de 60 como uma resposta à Liga da Justiça, da DC Comics. Devido ao grande sucesso de bilheteria que o longa vem adquirindo, é provável que a DC também invista no filme de sua equipe heroica. E, partindo da cena exibida durante os créditos finais, Vingadores 2 está em andamento. Resta torcer para que Joss Wheadon assuma o projeto novamente e preserve a sua criatividade, uma vez que conseguiu o apoio de multidões de cinéfilos. Prova de que a fórmula união+força realmente funciona.

"Nós não somos um time. Somos uma bomba-relógio".

Trailer: