É bastante comum nos filmes de gênero “super-herói” que o protagonista, ao receber poderes que vão além da capacidade humana, seja acometido pelo senso heroico de ajudar os necessitados e salvar o dia. Para complementar a receita, ele precisa seguir a ética de que suas habilidades contêm consequências e que por isso devem ser utilizadas em prol de um bem maior.
Em Poder Sem Limites, essa teoria é jogada pela janela. Aquele velho lema de “grandes poderes trazem grandes responsabilidades” perde o sentido quando a trama nos mostra adolescentes inseguros e imaturos realizando proezas que fariam Clark Kent ter dores de cabeça. E isso não é exagero.
O início do enredo transcorre sob o olhar de Andrew (Dane DeHaan), garoto que adquire uma mania peculiar de filmar tudo o que acontece em sua vida (o longa é no estilo documental, da mesma forma que A Bruxa de Blair e Cloverfield). Dessa maneira, torna-se evidente que suas maiores características são a solidão e a rejeição, tanto por parte do pai alcoólatra quanto pela ausência de amigos no ambiente escolar.
Graças a um convite de seu primo Matt (Alex Russel), Andrew vai a uma festa e lá conhece Steve (Michael B. Jordan). Os três encontram um buraco próximo ao local do evento e, ao entrarem, são expostos a algum tipo de substância inexplicável, a qual lhes atribui habilidades telecinéticas. Juntos, desenvolvem seus poderes, algumas vezes de modo inconsequente, descobrindo que, igualmente a um músculo, podem se fortalecer à medida que usam seus talentos com frequência.
O tema principal é indicar que uma ínfima brincadeira pode sair do controle e atingir índices calamitosos. Com 83 minutos de duração, o drama permeia quase toda a história e serve como o combustível da tragédia inteira. A ação demora a começar e, embora isso não seja um demérito, há uma tensão sempre presente. Quando o estopim acontece, os problemas vão crescendo e alcançam proporções desastrosas, guiando o clímax a um final imprevisível.
Talvez a palavra mais apropriada para descrever Poder Sem Limites seja “inesperado”. Josh Trank, em seu primeiro longa, conseguiu enganar os incrédulos; a opção por filmar como documentário sugeria que fosse uma produção de baixo orçamento, sem muito a oferecer, mas os efeitos especiais são memoráveis, revelando que a equipe soube onde investir cada centavo. E mesmo que o filme ainda não tenha estreado em todo circuito mundial, já há previsão para uma sequência.
Não espere encontrar em Poder Sem Limites rapazes bonzinhos com fome de heroísmo. A premissa aqui é outra, beirando o psicológico e o filosófico. As atuações e o estilo de filmagem aproximam o espectador da realidade, lançando a seguinte reflexão: há algum limite para uma pessoa emocionalmente instável? Espero que sim, pois ficou claro que grandes poderes, em mãos erradas, podem trazer enormes irresponsabilidades.
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