"Quando eu vi você, acreditei que algo novo poderia acontecer neste mundo".
A Disney sempre foi uma indústria responsável por criar grandes filmes e clássicos que prendem o espectador com um encanto sutil e, certas vezes, despretensioso. “O mundo mágico”, como alguns afirmam, nos faz adentrar em situações fictícias, atingindo o nosso imaginário, estimulando o aumento da percepção e tocando nossos sonhos mais remotos. Em John Carter: Entre Dois Mundos, essa magia não acontece com 100% de eficiência.
Sob o comando de Andrew Stanton, que também assina os excepcionais Wall-E e Procurando Nemo, John Carter foi um projeto que demorou décadas para sair do papel. Não é de se admirar, uma vez que a obra original é datada de 1912 por Edgar Rice, mesmo criador de Tarzan. Stanton teve a chance de transportar para o cinema uma história que poderia se equiparar ao sucesso de Star Wars, mas alguma coisa não deu certo.
Primeiramente, o filme sofreu comparações com Avatar, de James Cameron. Embora tenha de fato algumas semelhanças, é preciso focar nas idiossincrasias. John Carter é um veterano de guerra que vaga à procura de uma caverna de ouro. Em uma de suas peregrinações, ele foge de um bando de índios e se esconde em uma caverna. Lá, de forma misteriosa, é teletransportado para Marte (conhecida também como Barsoom) e sequestrado por uma tribo de alienígenas verdes que se intitulam Tharks.
Sendo a gravidade de Marte menor que a da Terra, o terráqueo logo se destaca entre os Tharks por possuir uma força descomunal e por conseguir saltar distâncias quilométricas. O transtorno da trama está na circunstância de que Barsoom vem morrendo, graças a forças opressoras que sugam a vitalidade do planeta pouco a pouco. A princesa de Marte, Deja Thoris, tenta retardar esse trágico acontecimento e vê em Carter uma espécie de nova esperança.
Diferentemente do blockbuster de James Cameron, em que o protagonista-forasteiro tem a necessidade de conhecer a cultura dos habitantes de Pandora no intuito de encontrar seus pontos fracos, aqui John Carter precisa aprender como funciona os costumes e a ciência de Barsoom porque depende disto para retornar à Terra. E no decorrer do processo, ele entende qual é a sua função naquele lugar.
O percalço do enredo encontra-se no desenvolvimento de informações e na tentativa de ser engraçado. Já fica implícito na premissa do filme que o público será apresentado a um novo mundo e, como tal, à medida que o herói vai assimilando as coisas, a plateia deve seguir no mesmo ritmo. O compasso perde a sincronia na velocidade em que os conteúdos são jogados; não resta tempo para refletir a respeito do que foi apresentado, pois muitas vezes em seguida vem uma cena de ação ou algum momento tenso.
Por mais que seja visualmente lindo, o longa também escorrega no drama. Exceto em uma cena em particular, onde a emoção e a trilha sonora entram em uma sintonia perfeita. Em seu primeiro filme live-action, faltou à Stanton a mágica que o consagrou no âmbito das animações. É possível ver que há um atrativo na mitologia de John Carter, que sua história é rica, que a produção se esforçou. No entanto, fica o exemplo de que, quando a magia não é forte o suficiente, o feitiço se volta contra o feiticeiro.
"Eu já cheguei tarde uma vez. Não acontecerá novamente".
Trailer:
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