sábado, 17 de dezembro de 2011

Tequila Vermelha



O exercício da escrita já é considerado difícil por exigir de quem escreve um bom conhecimento da norma culta da língua, criatividade no desenvolvimento das ideias e organização no que diz respeito à estrutura textual. Imagine então se, além de tudo isso, também fosse cobrado do escritor um alto nível de versatilidade; a capacidade de transitar por diversos gêneros e temas diferentes, preservando sua genialidade e propiciando ao leitor uma viagem, ainda que curta, por seu mundo de imaginação.


Talvez seja possível contar nos dedos quantos autores se atrevem a sair de suas zonas de conforto e expandir os limites da sua sabedoria literária, e ainda realizar tal feito com uma magistral eficácia. Rick Riordan, sem dúvidas, é um dos escritores mais consagrados da atualidade e certamente sabe como ser versátil e encantar o leitor. Antes mesmo de se aventurar nos terrenos da Literatura Infanto-juvenil, contando histórias de mitologia egípcia e de jovens semideuses gregos, a escrita de Riordan era voltada para o público adulto.


Em Tequila Vermelha, obra publicada lá fora nos anos 90 e que já possui várias outras continuações, Riordan nos apresenta à Tres Navarre, um PhD em Letras que também é mestre de Tai Chi e tem um gato chamado Robert Johnson. Além dessas formidáveis características, ele é um degustador nato de Tequila Vermelha, bebida típica da região do Texas.


A trama se desenrola na cidade de San Antonio, no exato momento em que Tres retorna após 10 anos de ausência. Um dos principais motivos para se exilar por tanto tempo foi o assassinato do seu pai, cujo mistério nunca fora solucionado. Agora de volta, ele tem como objetivo não apenas revisitar águas passadas, como restaurar laços com amigos, a família, e reencontrar-se com sua antiga namorada, Lillian Cambridge, mas também tentar desvendar a enigmática morte do seu pai.

O que Tres não poderia imaginar é que se transformaria em um ímã para atrair problemas. Seu regresso à cidade natal e sua voracidade em remexer no homicídio do pai chamou a atenção de velhos aliados e despertou os olhares de antigos inimigos. A situação se agrava com o desaparecimento de Lillian, obrigando Navarre a abrir uma investigação paralela e, inevitavelmente, forçando-o a se envolver em um caminho em que as chances de sair ileso são quase incertas.

O enredo é narrado pelo próprio Tres, o que garante muitas situações cômicas devido ao sarcasmo do personagem. E o fato do mesmo ser veterano na arte do Tai Chi assegura ótimas cenas de luta, detalhando para o leitor como os golpes devem ser aplicados. Navarre conseguirá encontrar Lillian e descobrir quem a sequestrou? O desaparecimento dela teria algum tipo de relação com a morte do seu pai? Rick Riordan lança seu protagonista em uma rede de intrigas recheada com jogos de poder, corrupção, traições, máfia e assassinatos, descontruindo aquela imagem de alguém que somente escreve fantasias.

Tequila Vermelha nos oferece a chance de ver um homem lutando contra um passado atormentador, na esperança de esclarecer assuntos inacabados e fazer com que peças perdidas voltem ao seu lugares de origem. Mesmo que aqui a história não seja composta por elementos mágicos, Riordan se consagra mais uma vez e provavelmente irá aumentar o número de fiéis seguidores, porque, embora continue conservando os leitores adolescentes, agora também terá variadas gerações de adultos para encantar. O exemplo do que podemos chamar de um escritor versátil.




"Senti como se fosse 1985 outra vez. Ainda tinha 19 anos, meu pai estava vivo e ainda amava a garota com quem planejava casar desde o oitavo ano. Mudei de roupa mais uma vez e pedi um táxi. Tentei me lembrar do gosto da Tequila Vermelha. Não sei se conseguiria voltar a beber algo parecido e sorrir, mas estava pronto para tentar".

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