"Sei que coisas ruins aconteceram. Coisas ruins acontecem. Mas ainda podemos viver".
Não há como negar; se você cresceu entre os anos 80 e 90, certamente já assistiu filmes notáveis como ET - O Extraterrestre, Conta Comigo, Os Gonnies e Curtindo a Vida Adoidado (ou ao menos já ouviu falar) em uma época que valia a pena contar as horas para o início da Sessão da Tarde. Por que eles ficaram famosos? Todos tinham em comum um enredo no qual um grupo de crianças ou adolescentes se metiam em altas confusões e grandes aventuras. Talvez essa não seja a resposta correta, talvez a fórmula fosse mais sutil e menos complexa. O que importa, na verdade, é o conteúdo fabuloso e fantástico que desperta na nossa imaginação o velho "eu" infanto-juvenil.
Super 8 é uma tentativa de trazer de volta esse gênero e, de certa forma, também é uma maneira de homenagear os clássicos que encantaram diversas gerações. Ora, não é de se admirar que o nome 'Spielberg' esteja na produção, tendo em vista que o próprio foi responsável por muitos dos sucessos oitentistas. O filme foi dirigido e escrito por J.J. Abrams (um dos criadores de Lost e Fringe) e, embora seja sua terceira vez na direção cinematográfica, este é seu primeiro trabalho original.
A história se passa no verão de 1979. Joe Lamb é um garoto que perdeu sua mãe recentemente, tem um pai delegado e está ajudando seu amigo Charles a fazer um filme. Essa metalinguagem ("um filme dentro do filme") é uma ferramenta interessante, pois é utilizada como motivo para os garotos iniciarem suas jornadas. Na noite de um dia aparentemente normal, enquanto se preparavam para uma sequência de filmagens na estação de trem, o grupo de amigos presencia um acidente de magnitude catastrófica, o qual desencadearia eventos estranhos por toda a cidade. A cena do trem descarrilhando, por sinal, é uma das mais antológicas do longa.
A câmera que registrava as imagens do filme-zumbi - e que também filmou parte do acidente - é no formato super-8 (daí o título), bastante usado naquele período. Por meio da gravação, eles descobrem que algo escapou de dentro do trem no momento da explosão e que isso, de alguma maneira misteriosa, pode estar relacionado com os desaparecimentos que estão ocorrendo pela cidade. A Força Aérea é acionada e tal fato intriga a polícia local, abrindo um leque de investigações dentro do enredo.
De um lado, a polícia local tenta resolver a crise que se alastrou pela cidade. Do outro, a Força Aérea executa buscas secretas no intuito de encontrar a coisa que fugiu do trem. No meio de tudo isso, Joe e seus amigos tiram suas conclusões e enfrentam seus próprios problemas. E à medida que os minutos avançam, descobre-se que fazer um filme é o menor deles. O que surpreende em Super 8, e talvez este seja o maior trunfo do longa, é observar crianças lidando com situações que não condizem com suas idades.
Encarar pais negligentes, sofrer com a perda de um ente querido, correr em meio a uma chuva de balas, enfrentar problemas de auto-estima, ver várias mortes de perto e ainda conhecer o primeiro amor são informações pesadas demais para um simples grupo de crianças. Isso sem acrescentar o fato de que chega o momento que precisam seguir o rastro da medonha criatura. Felizmente, as atuações não deixam a desejar e a trilha sonora também merece suas congratulações, atingindo o ápice no instante final e nos presenteando com uma das cenas mais tocantes das ficções científicas do século 21.
Ao passo que Super 8 vai esmiuçando todos os sub-gêneros contidos em sua trama, fica evidente o carinho que J.J. Abrams dedicou a este projeto. Não é apenas como se quisesse relembrar a infância dos anos 80, mas mostrar ao público atual que a geração juvenil passada também enfrentava problemas tão intensos quanto as de hoje. Afinal, ser criança não é um total mar de rosas; implica ter que atravessar o processo de crescimento, o qual geralmente é bastante cruel. No entanto, filmes como este nos fazem querer voltar àquele tempo, na esperança de reunir os velhos amigos e ir em busca de uma memorável aventura. Um sonho que toda criança deveria realizar.
"Ele está em mim, sabia? Assim como eu estou nele. Então, quando o vir da próxima vez, como tenho certeza que verá, estarei te vendo também".
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