domingo, 13 de junho de 2010

O Cheiro do Ralo




Sempre fui bastante patriótico com relação a filmes. Enquanto grande parte das pessoas preferem tirar meia dúzia de reais do seu bolso para assistirem no cinema mais um lançamento hollywoodiano, eu me contento com um bom filme nacional.


Um fato: pergunte a pelo menos dez pessoas se elas gostam de filmes brasileiros, e garanto que a metade vai dizer que não. Muitos alegam que filmes da nossa terra tupiniquim abordam sempre os mesmos assuntos: sexo, favela e sertão. Poucos percebem que o importante mesmo na verdade não é o gênero com que se trabalha, mas sim o conteúdo que tal gênero carrega.


É interessante como o espírito nacionalista só emerge em época de Copa do Mundo. Até quem não curte esporte arrisca ocupar um espaço no meio da multidão de torcedores fanáticos. Mais uma vez, o futebol se sobrepõe à arte. É triste.


Começarei meu primeiro comentário cinematográfico falando um pouco de um filme brasileiro, apenas para tentar provar que algumas películas produzidas no nosso país têm conteúdo, e valem a pena serem assistidas. E como vale.


O filme escolhido chama-se "O Cheiro do Ralo", baseado na obra de Lourenço Mutarelli. Posso resumir o filme em breves palavras: um homem que se apaixona por uma bunda. É, isso mesmo... Uma bunda. Curioso, não? O cara leitor deve estar se perguntando nesse momento: "Pra que eu vou assistir um filme de um cara que se apaixona por uma bunda? É só mais um filme que tem sexo e palavrão!". Há palavrões? Sim, muitos. Há cenas de sexo? Sim, algumas. Mas como disse lá em cima, o que importa é o conteúdo.


O protagonista é Lourenço, interpretado brilhantemente por Selton Mello. Ele trabalha em uma loja que compra objetos usados. No banheiro do seu escritório, o ralo entope e começa a feder, daí o título do filme. O cheiro é tão forte e penetrante, que Lourenço passa a colocar a culpa de suas atitudes (muitas delas são gritantes) no ralo. Esse pequeno objeto por onde os coliformes fecais se aglomeram passa a ser a fonte de energia e força de Lourenço em todas as suas loucuras; chega a ser filosófico quando ele fala: "Esse ralo é um portal para o inferno".


Só que também há romance: Lourenço e a bunda. Sim, a bunda... A bunda de uma garçonete que ele conhece em uma de suas andanças. O fato dele comprar coisas dos outros faz com que ele tenha uma ânsia de possuir a bunda para si. É uma comédia... dramática, que reflete a vida vazia de um homem tentando preenchê-la com sua ganância. E que cujo final é totalmente imprevisível.


Mais um bom filme brasileiro, com um grande astro do cinema nacional. Espero que você, leitor, pense melhor quando for ao cinema... Se você sentir que o filme tem conteúdo, não custa tentar. Você tem o poder de escolher o que quiser, então escolha tornar-se um brasileiro mais completo.


Como diria Lourenço:


"O poder é afrodisíaco"

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