sábado, 18 de junho de 2011

O Show de Truman - O Show da Vida


"Lá fora, a verdade é igual a do mundo que criei para você. As mesmas mentiras. As mesmas decepções."


Algumas pessoas defendem a ideia de que a televisão é a escola da mentira. Elas estão certas. Tristeza, diversão, arrepio, passa-tempo, susto, lágrimas, frio na barriga, e mais uma dezena de sentimentos misturados num liquidificador de emoções; essas são apenas algumas das sensações produzidas no nosso organismo quando ficamos diante de uma TV assistindo aquela novela ou seriado favorito, aquele filme de que você tanto gosta... Programas que de certa maneira refletem os variados aspectos da sociedade para que o telespectador se identifique ou se reconheça em um determinado personagem ou situação.

Nós nos entretemos facilmente com uma mentira que tenta representar a verdade. E quando essa verdade é bem encenada, é digna de aplausos. Talvez por isso que tornou-se necessária a criação dos Reality Shows, para provar que a realidade crua também pode nos encantar. Há uma relação quase que terapêutica entre o telespectador e o aparelho televisivo: é bom chegar em casa após um dia árduo de trabalho e rir das palhaçadas dos outros; é um reconforto saber que, embora você esteja cheio(a) de dívidas ou se sentindo um zero a esquerda, muitos estão numa situação pior do que a sua. É um pensamento desumano, mas, acredite, existem pessoas assim.

Fugir da própria vida é a palavra mágica. Desconectar-se de tudo que está em volta e dedicar sua atenção aos problemas alheios. Essa é a definição do público alvo dos reality. Infelizmente, para esses tipos de pessoas, nunca existirá um programa que explore os limites da realidade. Apenas um realizou tal façanha e poucos são os privilegiados que o conhecem. O seu nome é O Show de Truman - O Show da Vida.

Truman Burbank (uma das melhores atuações de Jim Carrey) é um pacato cidadão que vende seguros e mora na ilha de Seahaven. Ele é casado com a enfermeira Meryl e tem um melhor amigo chamado Marlon. Quando criança, perdeu o pai em um passeio de barco e desde então sofre trauma do mar. Um sujeito simples que possui a ambição de explorar o mundo por nunca ter saído da ilha. Não há nada de anormal em Truman, exceto o fato dele ser o grande astro de um programa de TV exibido 24 horas, ao vivo e sem cortes, para todo o mundo. E o mais impressionante: ele não sabe de nada.


A ilha onde Truman reside é na verdade uma cúpula gigantesca capaz de ser vista do espaço. Sua mulher, seu amigo e sua mãe são atores contratados pela empresa que financia o programa. Seu trabalho, sua casa e cada parte da cidade, são falsos. Tudo artificial para manter a magia e fazer com que Truman acredite que seja real. Todavia, nem todos são a favor do reality e um dia Truman conhece Sylvia, uma garota disposta a contar a impactante verdade. É a partir deste ponto que o filme ganha empolgação, pois Truman passa a desconfiar que a atenção de todos gira ao seu redor e inicia a jornada para descobrir o que está acontecendo.

O filme é de 1998, foi dirigido por Peter Weir (mesmo diretor de Sociedade dos Poetas Mortos e Mestre dos Mares) e o roteiro extraordinário é de Andrew Niccol. A forma como a história se desenrola é incrível porque mesmo se tratando de uma ficção, revela algo que muitos não sabem: a televisão é capaz de tudo para obter audiência e, no caso de Truman, brincar com a vida de uma pessoa é um dos caminhos para se conseguir isto. A frieza da mídia é representada pelo diretor do programa, Christof (Ed Harris), sempre criando razões para manter Truman trancafiado na ilha no intuito de fazer o reality permanecer no ar.

O longa é crítico e metafórico, e diria até que os primeiros reality shows devem ter se baseado nele. Recebeu três Globos de Ouro, incluindo para a atuação de Jim Carrey, e possui atributos excepcionais (Como a trilha sonora, que é de derreter a alma). Por mais que tenha uma mensagem assustadora e talvez profética, O Show de Truman - O Show da Vida mostra o tipo de telespectadores que supostamente estamos destinados a ser: eternos protagonistas da ficção, sempre tentando afastar-se daquilo que é real. Verdadeiros palhaços do circo da mentira.


"Aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes."


(Sem trailer hoje =/)

2 comentários:

  1. Oi Leo... Cara, até que enfim encontrei alguém que viu esse filme e fala sobre ele. Eu sou fã incondicional! Eu lembro que quando vi esse filme a primeira vez fiquei impressionada com a história, o tema, etc. Pra mim, o melhor filme de Jim Carey, disparado. É um daqueles filmes que leva a gente a pensar na vida e refletir sobre esse jogo de verdades/mentiras que é a vida, e que os reality shows tentam recriar. Maravilhoso! Parabéns pela percepção!
    Cileide (Letras, UnP)
    P.S. lembra de mim da oficina de crônicas?

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  2. Esse filme é sensacional. Sempre que assisto fico me perguntando o quão real é minha vida. Será mesmo que é?

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