terça-feira, 7 de junho de 2011

Clube da Luta


"Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e astros do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito , muito revoltados".


É preciso que uma coisa fique clara: um filme clássico não tem que ser necessariamente preto e branco ou pertencer a décadas muito distantes. Essa é uma definição criada pelos saudosistas que ignoram com insistência o grau de qualidade que vem surgindo nos filmes modernos. Obviamente, o despertar dos clássicos ocorreu nos tempos antigos e Charles Chaplin certamente foi uma grande referência para o cinema no século XX, retratando temas que ainda podem ser vistos na atualidade.

Nós somos os responsáveis por dizer qual filme deve ser considerado como clássico, independente do período histórico em que ele foi produzido. Clássico é aquilo que te prende, emociona, faz rir; sua superfície é baseada no entretenimento, mas sua essência é composta pelo ensinamento, reflexão, filosofia... Aquele ato que nos faz aprender algo a respeito do mundo e que, principalmente, nos abre os olhos para coisas outrora invisíveis que sempre estavam debaixo do nosso nariz.

Clube da Luta é um longa de 1999, dirigido por David Fincher (mesmo diretor do recente Rede Social) e estrelado por Brad Pitt e Edward Norton. O surpreendente do filme é que a luta funciona como um dos elementos centrais, porém não é o que sustenta o enredo; ela é uma bengala que exerce o seu papel até um dado momento, permitindo que em seguida a história ande com suas próprias pernas e siga por caminhos imprevisíveis.

Norton dá vida a um personagem-narrador sem nome, cuja vida se resume ao trabalho e ao consumo de produtos sofisticados que estão na moda ou que simplesmente chamam a atenção. Ele sofre de uma insônia terrível e recebe um conselho para participar de grupos de apoio. Lá ele não encontra apenas a cura para insônia, mas também a fuga da solidão. Ele ganha carinho e atenção de pessoas infelizes e descobre como um abraço reconfortante pode ser tornar um vício.


A tragédia: seu apartamento explode misteriosamente com todas as coisas que o faziam sentir-se perto da perfeição. Ele concentra-se no trabalho e em uma viagem de negócios conhece Tyler Durden (Pitt, em uma atuação sensacional), um homem que fabrica e vende sabonetes. Ambos tomam cerveja, batem papo e logo depois começam a brigar. Eles sentem prazer em espancar um ao outro e passam a fazê-lo todo fim de semana, atraindo a atenção de várias pessoas. E assim nasce o Clube da Luta, composto por homens que se reúnem no porão de um bar com o intuito de extravasar, na base da violência, todas as frustrações de suas vidas "patéticas".

O clube havia se tornado uma válvula de escape, uma forma de escapar da realidade sufocante, uma maneira de atingir o potencial máximo através de socos e chutes. E isso ficou evidente e muito mais intenso para o narrador, visto que o grupo de apoio do qual fazia parte não lhe dava aquela sensação de liberdade, o sabor de sentir a vida. O problema é que Tyler é um visionário; ele enxerga no clube uma oportunidade de revolução, de mudar a história, e passa a montar uma facção. O Clube da Luta cresce, evolui, e cria uma ramificação chamada Projeto Destruição. O objetivo desse projeto é derrubar o sistema capitalista e libertar os consumidores do sacrifício de pagar dívidas.

É por meio do terrorismo e vandalismo que o exército de Tyler vai crescendo e cruzando as grandes cidades do país. A meta é alcançar o caos. O personagem de Norton logo percebe que Tyler transformou-se numa espécie de líder de uma rebelião iminente; todos veneram Tyler, todos obedecem Tyler, todos o veem como um salvador que os despertou para a vida real. Clube da Luta é inteligente por não se tratar apenas de luta. Nele vê-se claramente discursos políticos, filosóficos, sociais e aquele que é o responsável pela grande reviravolta do filme: o psicológico, a ideia de que a loucura é a única saída. Sem sombra de dúvidas, um clássico dos tempos modernos.


Trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário