sábado, 21 de maio de 2011

O Calibre



"O homem é o lobo do homem" - Thomas Hobbes.

Chame como quiser: azar, destino, Lei de Murphy... De alguma forma sempre pagamos pelos erros cometidos na vida, seja durante ou depois dela. É importante enfatizar que não me refiro aos deslizes do cotidiano, os erros inconscientes, pois se estes fossem motivos de condenação então a raça humana inteira seria dizimada. Estou me referindo aos atos errôneos que são premeditados, arquitetados com uma sutileza fria e malévola.

O homem não nasce mal, ele se torna. Todos nós crescemos com a dualidade de possuir um lado bom e outro ruim. Os caminhos são colocados na nossa frente e temos ao nosso lado o livre-arbítrio, de modo que somos totalmente responsáveis por cada ato de violência praticado ao próximo. Infelizmente, testemunhamos diariamente a capacidade que o homem tem de fazer o mal, de propagar o caos e a brutalidade.

No dia 10 de março deste ano, sofri uma tentativa de assalto a poucos metros da rua onde resido. Por uma sorte de natureza milagrosa, consegui escapar correndo. No momento de adrenalina não me passou pela cabeça a hipótese de levar um tiro, caso o sujeito estivesse armado; se fosse em uma circunstância inversa, provavelmente eu não estaria mais aqui conversando com você e tivesse entrado para o exorbitante número de vítimas da violência. E a coisa só faz piorar: em abril o Brasil parou defronte ao massacre de Realengo em que mais inocentes pagaram com a vida pela maldade de um criminoso.

O videoclipe de hoje pertence à lendária banda Os Paralamas do Sucesso e a música chama-se "O Calibre". Ela fez parte da trilha sonora de Tropa de Elite 2 e reflete um pouco a situação real na qual vivemos, não só no Brasil como em qualquer outra parte no mundo. A violência atualmente é como um vírus; está em todo lugar. E isso não é motivo para ninguém se orgulhar.

Parafraseando Thomas Hobbes, se o homem de fato é o inimigo de si próprio, se ele dedica grande parte do seu tempo caçando um ao outro, sendo o predador dele mesmo, então há um mitológico Leviatã hibernando nas profundezas das nossas almas. Sendo assim, nesta guerra entre o bem e o mal, creio que nada mais resta a não ser fazer um último pedido: que Deus tenha piedade de nós.


Letra:

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro (2x)

Por que caminhos você vai e volta?
Aonde você nunca vai?
Em que esquinas você nunca pára?
A que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você já perdeu?
Entrincheirado, vivendo em segredo
E ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida
No caos ninguém é cidadão
As promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
Perdido em números de guerra
Rezando por dias de paz
Não vê que a sua vida aqui se encerra
Com uma nota curta nos jornais

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro (2x)

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