quinta-feira, 10 de março de 2011

Cisne Negro



"Eu tive um sonho muito estranho ontem à noite. Sobre uma garota que é transformada em um cisne. Ela precisa de amor para quebrar o feitiço, mas seu príncipe se apaixona pela garota errada e então... Ela se mata".


A pressão é uma faca de dois gumes. A maioria das pessoas não se sentem bem quando pressionadas, enquanto outras acham um modo muito interessante e eficaz de disciplinar alguém. Não é por acaso que numa entrevista de estágio ou emprego sempre é feita a simpática pergunta: "Você consegue trabalhar sob pressão?". Acordai-vos, nobres leitores, pois se não responderem tal indagação com absoluta sinceridade, o bicho pode pegar.

A dualidade que a pressão pode causar no sujeito é realmente uma questão reflexiva. Mas o fato é que para aqueles que não aguentam, a pressão pode ocasionar grandes danos; para que você pule do alto de um prédio, basta apenas que alguém o empurre ou o vento sopre mais forte. O estresse é uma armadilha poderosa criada pela pressão, cujo objetivo é perturbar a nossa mente. E por último vem a loucura... O caminho sem volta.

Cisne Negro é uma tentativa de desbravar esse caminho funesto, mostrando até onde a pressão pode nos levar. O filme foi dirigido por Darren Aronofsky, cineasta que há muito explora as trilhas da insanidade, e levou cinco indicações ao Oscar, tendo ganho apenas o de Melhor Atriz para Natalie Portman (Por sinal, bastante merecido. Ela passou por uma laboratório de dois anos e aprendeu a dançar balé de verdade).

Portman é Nina Sayers, uma bailarina de 28 anos que faz parte da companhia de balé novaiorquina. O diretor da companhia, Thomas Leroy, pretende abrir a temporada com a apresentação do Lago dos Cisnes, um espetáculo que conta a história de uma garota tímida, meiga e virgem, aprisionada no corpo de um cisne branco. Apenas um verdadeiro amor pode libertá-la, mas quando pensa ter encontrado o homem capaz de salvá-la, ele é seduzido pelo cisne negro. E assim o cisne branco resolve se matar, encontrando finalmente a liberdade que tanto queria. Nina é a bailarina perfeita para interpretar o cisne branco, pois possui todos os atributos que o personagem exige, elevados ao quadrado.

O problema é que na versão de Leroy, além do inocente cisne branco, Nina também terá que interpretar o ardiloso cisne negro. E neste ponto a frágil menina doce começa a traçar um caminho com a passagem só de ida. Nina dorme em um quarto rosa repleto de bichos de pelúcia, mora com uma mãe absurdamente controladora e mal conhece o significado da palavra privacidade, pois sua mãe faz questão de ocultar as chaves de todas as portas (Sim, inclusive a do banheiro). Além dos infortúnios maternos, ela ainda precisa aguentar os esporros de Thomas, totalmente insatisfeito com a sua performance de cisne negro.

Nina sempre quis alcançar a perfeição. E sua obsessão ganha mais ênfase à medida que o cisne negro vai se tornando cada vez mais um desafio maior. A cobrança pessoal, a pressão do diretor e o controle exaustivo da mãe são fatores que contribuíram para dar espaço aos devaneios. Ou seria realmente a verdade que só ela consegue enxergar? Nina sente-se perseguida, observada, invejada, e a qualquer momento acha que a bailarina Lily pode tomar o seu lugar, porque ela sim é o cisne negro em pessoa. O perfeccionismo de Nina atinge o auge e para que ela chegue aonde todos esperam, será preciso ultrapassar barreiras ideológicas e quebrar algumas regras, da masturbação ao uso de drogas.

Cisne Negro mostra que com muito empenho e dedicação você consegue superar obstáculos. Só tome cuidado com a maneira que você escolhe para superá-los; a obsessão pela perfeição, mais uma consequência causada pela pressão, pode levar-te a fazer coisas não muito legais. O pânico pode dominar suas atitudes e controlar sua sanidade, e o resultado quase sempre não é bom. Apesar de tudo, não devemos crucificar Nina. Todos nós já libertamos os nossos cisnes negros, fomos autores de atos insanos e aprendemos algo com isso. Afinal, quem nunca o fez, que atire a primeira pedra.


Trailer:

Um comentário:

  1. Muito bom o filme, sem dúvida. Assisti-lo ao lado de uma boa turma, o faz ser melhor ainda. Viva o cine em casa, regado a pipoca, refri e diversão!

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