quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Morte: a consequência da vida






Acredito que a morte seja divertida. Ou, no mínimo, interessante.



Tendo em vista que a morte é o fim de uma vida cheia de sofrimentos, alegrias, ganhos e perdas, é sensato imaginar que sua chegada seja macia e reconfortante, amenizando as dores de uma existência inteira, de um modo que somente ela é capaz de fazer.


É assim que espero que aconteça comigo.


E com você também.


Porque, afinal, eu e você estamos fadados a encontrá-la. E como esse encontro é inevitável, espera-se ao menos que ela tenha um pouco de compaixão e nos leve a um lugar melhor, onde todas as sensações são boas.


Acho que é assim que acontece. E se não for, estamos todos perdidos.



Mas como aceitar o fato de alguém próximo morrer? Um parente, um amigo de infância, ou um vizinho simpático... A morte pode ser gentil e ao mesmo tempo traiçoeira; ela nos visita sem mandar avisos, e vai embora deixando tristezas. Pobre morte, tão incompreendida... Por que sempre é vista como vilã e não como libertadora? Por que sempre temos medo dela? E, principalmente, por que ela sempre nos faz chorar quando leva de nós alguém tão especial?


Por causa da incerteza. Por causa da saudade. Do medo. A vida é um dom tão precioso que o fato de deixá-la para trás é assustador. A única certeza que temos na vida é que a morte um dia nos encontrará. É um grande mistério, essa viagem sem volta... E nós nunca estaremos preparados para partir, para dizer adeus, deixar para trás toda família e amigos, tudo que construímos e que fazem parte de nós.


Talvez, no final das contas, a estratégia da morte tenha boas intenções; ela não nos dá o luxo da despedida, pois se este privilégio nos fosse dado, provavelmente a dor da perda fosse bem pior. Não adianta implorar pela morte e querer se juntar àquele ente querido que já se foi. Sua hora vai chegar, de um jeito ou de outro. É só ter paciência...


Vida e morte são opostos que se atraem. São o equilíbrio do Universo. Eu e você, seres de carne e osso, não podemos mudar as engrenagens que movem esse enorme sistema. Se pudéssemos, não teria a menor graça. Temos mesmo é que viver, essa é a nossa missão, porque nosso tempo é curto e pouco a pouco ele vai se esgotando. Vamos brincar na rua e subir em árvores, vamos comer até da dor de barriga, vamos assistir filmes até o amanhecer, vamos descobrir a deliciosa sensação de amar, vamos fazer cada vez mais novas amizades, vamos abraçar pessoas, vamos nos entregar ao aconchego do abraço dos nossos avós, vamos relaxar com os cafunés dos nossos tios, vamos sentir segurança na presença dos nossos pais, vamos rir, vamos ter dúvidas, vamos trabalhar, ter responsabilidade... Vamos sentir dor, tristeza, saudade... Vamos cair e depois aprender a levantar... Vamos chorar. E muito. Vamos erguer a cabeça e seguir em frente... Vamos deixar as boas lembranças nos encherem de alegria...


Pois, no fim de tudo, o repouso final estará nos aguardando. E quer saber de uma coisa? Ter o merecido descanso após uma boa vida é melhor do que nada. Porque o sentido da vida é a morte, e ela nos levará a uma nova jornada.

Autor: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha

* À memória de Dona Francisca, querida e amada avó.

4 comentários:

  1. Primo, a verdade está em suas palavras... um grande abraço...

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  2. Irmão, sábias palavras. E a nossa avó, enfim, descansou em paz!!!

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  3. Leo, você escreve muito bem, mesmo sempre preferindo o silecio...acho que escrever é a melhor maneira que você escolheu para externar o que sente...e consegue fazer isso..tive o prazer de conviver poucos dias com a sua avó..uma das melhores pessoas que já conheci na vida...

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  4. Creeedo! Está repreendido em nome do Senhor Jesus Cristo! Que começo para um post heim? Saquei, seu intuito de chocar. Conseguiste.

    Em primeiro lugar, temos medo do que não conhecemos. E como não dá pra voltar e dizer que é legal, o homem vai temendo. Talvez não tema a morte em si, mas a perda das coisas apegadas ou a ausência sentida.
    Há pouco, como sabes, perdi uma avó querida, mas nem quero falar muito para não doer mais. Por enquanto me basta dizer que a morte é um ponto final. Nada além. Chega de tantas teorias. Morte não há o que explicar, é lamentar e conviver com a ausência. Morte é continuar a viver.

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