Há um ditado que diz que não se deve mexer em time que está
ganhando. Deve ser pensando dessa forma que o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, estrutura os filmes dos
heróis da Casa das Ideias. Afinal, a “fórmula Marvel” sempre deu certo, agrada
o público de todas as idades e com certeza passará longe de um dia ser sombria.
No caso de Thor:
Ragnarok, assim como ocorre em Guardiões
da Galáxia, a fórmula entrega novas nuances e se declara, sem nem um pouco
de vergonha, como uma comédia. O que, de certa maneira, já é muita coisa, pois
nos filmes anteriores do Deus do Trovão era claro que o herói ficava
transitando entre o drama e o cômico, sem saber exatamente qual dos terrenos
seria mais fértil. Porém, assumir-se como uma obra humorística é suficiente
para manter um filme desse gênero e escala?
Ragnarok começa com Thor (Chris Hemsworth) no meio de uma jornada
e logo nos segundos iniciais o diretor Taika
Waititi demonstra o tom irreverente e despreocupado do longa. Ao retornar
para Asgard, Thor percebe que a rotina e o governo perderam o controle sob o
comando de Loki (Tom Hiddleston), o
que faz com que os irmãos procurem o verdadeiro Odin e, consequentemente, deem
de cara com a vilã Hela (Cate Blanchett).
No momento em que surge, Hela, a deusa da morte, já mostra
seu poder. Seu objetivo é tomar o trono de Asgard e fazer com que todos se
ajoelhem diante da sua imagem. Destaque para as cenas em que ela luta (um show
de lâminas voadoras), cuja coreografia de combate é até digna de respeito.
Entretanto, existem detalhes desagradáveis que prejudicam a narrativa e eles
não podem passar despercebidos.
Ragnarok deveria representar o fim dos tempos dos nórdicos e
isso subentende ao menos um tom que exigisse certa seriedade, mas Taika Waititi
– experiente em comédias – foge completamente dessa vertente. A trama sequer
consegue trazer emoção em situações de perda e o pior vai além: a
despreocupação é tamanha que os filmes anteriores são ignorados. Thor não tinha
saído em busca das Joias do Infinito? Uma informação importante como essa, que
tem relevância dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, precisava ser
resolvida em apenas uma frase? Era necessário que determinados personagens
morressem tão rápido? É quase uma falta de respeito com o fã e o espectador.
Outra coisa que incomoda o andamento do enredo é a montagem.
Em aproximadamente 15 minutos de filme Thor já está em Sakkar, local onde se
reencontra com Hulk/Bruce Banner (Mark
Ruffalo) e duela em uma arena com o Gigante Esmeralda (cena que remete à
famosa HQ Planeta Hulk). Um tempo
considerável da exibição é dedicado a mostrar Thor estagnado em Sakkar, e
embora o público seja apresentado a novos personagens, como a Valquíria e o
Grão Mestre – e o ambiente em si seja uma homenagem a Jack Kirby – o núcleo que acaba sendo mais interessante é o de Hela
em Asgard, e este infelizmente é pouco explorado e a vilã, para variar, mal
aproveitada. E se o espectador parar para analisar as piadas desnecessárias, o
roteiro escorrega ladeira abaixo.
Todavia, nem tudo é desastre em Thor: Ragnarok. Chris Hemsworth encontrou-se como um ator de
comédia e o personagem em si sofre transformações significativas: perde o
martelo, o cabelo é cortado, sem mencionar o fato do que acontece na batalha
final. Essas etapas ajudaram a dar mais camadas a um Thor que sempre pareceu
meio perdido. Ragnarok poderia ter se
espelhado mais em Guardiões da Galáxia,
que apesar de ser cômico, sabe explorar os momentos de emoção. O time pode até
continuar ganhando, mas isso não significa que ele esteja organizado e
desempenhando a função com a mesma eficácia de antes. Cuidado para não cair,
Marvel. Desta vez foi por pouco.
Trailer: