“Eu
pressiono as pessoas além do que se espera. Acho absolutamente necessário”.
Há alguns anos, Cisne
Negro foi mais um dos exemplos do que a pressão é capaz de fazer com um
indivíduo. A incessante busca pela perfeição traduzida no desempenho de Natalie Portman mostrou uma bailarina
profundamente imersa na ansiedade e preocupação ao ponto de sua mente projetar alucinações,
de tal forma que no clímax a personagem se sente de fato como um cisne.
Em Whiplash – Em Busca
da Perfeição, a jornada de perfeccionismo que Andrew Neyman (Miles Teller) almeja é mais realista,
visceral e, de certo modo, violenta. O rapaz de 19 anos entra para escola de
música Sheifer com o objetivo de se tornar um renomado baterista, mas não
imagina que o caminho será preenchido por dores e sacrifícios intensos.
Tudo muda quando Andrew cruza o caminho do professor Terence
Fletcher (J.K. Simmons – impecável
atuação). Ele não é apenas o maestro da orquestra, ele é o mestre da música,
tanto na forma como os alunos o tratam quanto na maneira em que ele age; quando
entra na sala, não se ouve barulho, e a disciplina reina.
Logo fica claro que a disciplina de Fletcher é imposta por
meio de métodos rigorosos e, dependendo do ponto de vista, cruéis; sua didática
é exercida na base de xingamentos e humilhação, em uma tentativa de, segundo
sua filosofia, fazer com que o aluno supere suas próprias limitações. No caso
de Andrew, uma cadeira é arremessada em sua direção, e a partir daí o jovem
baterista entra em uma penosa rotina de treinos, na qual será preciso abdicar
da vida amorosa e social para alcançar o triunfo.
Whiplash possui um cerne curioso. É o tipo de
filme que começa humilde, sem grandes intenções, e inicialmente o único
propósito é apresentar o tímido e solitário Andrew. Basta J.K. Simmons aparecer
que a atmosfera ganha outra tonalidade, a trama se potencializa, e o ator
consegue roubar a maioria das cenas que divide com Teller (A última delas,
particularmente, é fantástica). E o fruto do trabalho foi o Globo de Ouro e o
Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Intrigante também foi o processo técnico do longa. Com apenas
20 dias de gravação, o diretor Damien
Chazelle, que escreveu o roteiro tendo como base a sua experiência em uma
banda na juventude, editou a película em dez semanas para inscrevê-la no
Festival de Sundance. Considerando o tempo recorde e todas as referências
musicais que o filme contém, os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor foram
mais que merecidos.
Whiplash – Em Busca da
Perfeição, de certa
forma, é aberto a interpretações; pode ser visto como um filme torturante, em
que um jovem esquece a simplicidade e afunda na ambição e egocentrismo; ou uma
lição de motivação, na qual um professor provoca o aluno a jamais desistir e o
ensina que o caminho da perfeição exige ousadia e, às vezes – e literalmente, no
caso de Andrew – é preciso sentir o próprio sangue nas mãos. Ao que parece,
suor, conflitos, sofrimento, renúncias e um sonho talvez não sejam os
ingredientes mais adequados de se misturar, mas podem proporcionar uma
deliciosa obra de arte.
Trailer:
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