sexta-feira, 6 de março de 2015

Whiplash - Em Busca da Perfeição


Eu pressiono as pessoas além do que se espera. Acho absolutamente necessário”.

Há alguns anos, Cisne Negro foi mais um dos exemplos do que a pressão é capaz de fazer com um indivíduo. A incessante busca pela perfeição traduzida no desempenho de Natalie Portman mostrou uma bailarina profundamente imersa na ansiedade e preocupação ao ponto de sua mente projetar alucinações, de tal forma que no clímax a personagem se sente de fato como um cisne.

Em Whiplash – Em Busca da Perfeição, a jornada de perfeccionismo que Andrew Neyman (Miles Teller) almeja é mais realista, visceral e, de certo modo, violenta. O rapaz de 19 anos entra para escola de música Sheifer com o objetivo de se tornar um renomado baterista, mas não imagina que o caminho será preenchido por dores e sacrifícios intensos.


Tudo muda quando Andrew cruza o caminho do professor Terence Fletcher (J.K. Simmons – impecável atuação). Ele não é apenas o maestro da orquestra, ele é o mestre da música, tanto na forma como os alunos o tratam quanto na maneira em que ele age; quando entra na sala, não se ouve barulho, e a disciplina reina.  


Logo fica claro que a disciplina de Fletcher é imposta por meio de métodos rigorosos e, dependendo do ponto de vista, cruéis; sua didática é exercida na base de xingamentos e humilhação, em uma tentativa de, segundo sua filosofia, fazer com que o aluno supere suas próprias limitações. No caso de Andrew, uma cadeira é arremessada em sua direção, e a partir daí o jovem baterista entra em uma penosa rotina de treinos, na qual será preciso abdicar da vida amorosa e social para alcançar o triunfo.  


Whiplash possui um cerne curioso. É o tipo de filme que começa humilde, sem grandes intenções, e inicialmente o único propósito é apresentar o tímido e solitário Andrew. Basta J.K. Simmons aparecer que a atmosfera ganha outra tonalidade, a trama se potencializa, e o ator consegue roubar a maioria das cenas que divide com Teller (A última delas, particularmente, é fantástica). E o fruto do trabalho foi o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. 


Intrigante também foi o processo técnico do longa. Com apenas 20 dias de gravação, o diretor Damien Chazelle, que escreveu o roteiro tendo como base a sua experiência em uma banda na juventude, editou a película em dez semanas para inscrevê-la no Festival de Sundance. Considerando o tempo recorde e todas as referências musicais que o filme contém, os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor foram mais que merecidos.  


Whiplash – Em Busca da Perfeição, de certa forma, é aberto a interpretações; pode ser visto como um filme torturante, em que um jovem esquece a simplicidade e afunda na ambição e egocentrismo; ou uma lição de motivação, na qual um professor provoca o aluno a jamais desistir e o ensina que o caminho da perfeição exige ousadia e, às vezes – e literalmente, no caso de Andrew – é preciso sentir o próprio sangue nas mãos. Ao que parece, suor, conflitos, sofrimento, renúncias e um sonho talvez não sejam os ingredientes mais adequados de se misturar, mas podem proporcionar uma deliciosa obra de arte.    


Trailer:

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