No mundo do futebol, Argentina e Brasil são inimigos
declarados. Essa rivalidade pode até ter bons motivos e fundamentações
convincentes, mas o que realmente não se deve negar é o quão as duas nações são
parecidas, e não apenas no quesito geográfico.
Relatos Selvagens, filme que representou a Argentina
no Oscar 2015 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, é uma narrativa sobre
as alegrias (não no sentido convencional), surpresas e decepções do cotidiano,
enfatizando na reação que um cidadão tem ao ultrapassar o limite do seu
controle.
A estrutura da exibição é dividida em seis histórias, o que
remete muito a um livro de contos e crônicas. Tem-se o sujeito cujo plano de
vingança é colocar todos os inimigos dentro do mesmo avião; a mocinha que se
reencontra com o homem que desgraçou sua família; um desentendimento no
trânsito que termina de maneira trágica; um homem que se sente saturado com o
sistema burocrático e corrupto; um rapaz que atropela uma mulher grávida; e a
esposa que descobre a traição do marido no meio da festa de casamento.
O que todas têm em comum, além da introdução e
desenvolvimento, é o ápice em que cada protagonista cruza a linha da ética
social para a brutalidade e selvageria. Dirigido e roteirizado por Damián Szifron, Relatos Selvagens teria de tudo para ser caracterizado como uma
obra dramática.
No entanto, de modo sutil e inteligente, a trama possui em
seu cerne um teor cômico, revelando que muitas vezes é interessante e
humorística a forma como se perde a razão e a paciência. E o filme cresce ainda
mais com o talentoso elenco, o qual se entrega completamente à subversão
inerente ao caráter de seus personagens (Destaque para Erica Rivas). Surpreendentemente, termina com um clima tranquilo e
positivo; porque, apesar das dificuldades, é preciso manter a esperança.
Em tempos de manifestações sociais, Relatos Selvagens corrobora para tecer uma semelhança entre Brasil
e Argentina, como também de qualquer outra nação que reage perante uma ação
impune e digna de ojeriza. Tudo isso mesclado na vertente Um Dia de Fúria, com Michael Douglas. Afinal, se a vida é uma
floresta e as leis que a regem são severas, então é natural que a selvageria
seja um item que não pode faltar no pacote.
Trailer:
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