“Jurei que, se um dia eu tivesse uma namorada, eu a trataria direito e nunca seria mau nem safado com ela, nem a magoaria. Nunca. Jurei e tinha toda a confiança do mundo de que manteria a promessa”.
Em A Menina que Roubava Livros, Markus Zusak demonstrou todo o seu talento por meio da criatividade e da sensibilidade. Elementos que foram reprisados de maneira satisfatória em sua segunda obra publicada no Brasil, Eu Sou o Mensageiro. Entretanto, muitos leitores e fãs dos dois livros citados ainda não sabem que, antes de escrevê-los, Zusak começou sua carreira com uma trilogia.
O Azarão é o primeiro volume da Trilogia dos Irmãos Wolf, o qual foi lançado aqui pela editora Bertrand Brasil. E mesmo este sendo voltado para o público juvenil, já fica evidente no decorrer da leitura uma das características mais marcantes das tramas de Zusak: a narração em primeira pessoa.
Cameron Wolf é um adolescente de 15 anos e o caçula de quatro filhos. Sua família é aparentemente normal, mas sob a ótica do garoto fica bastante claro a desordem e o abismo existente entre cada um deles. Rube, seu terceiro irmão, é o único com quem ele tem mais afinidade e, mesmo assim, não é das melhores; ambos estão sempre tentando arquitetar roubos.
Em meio a planos frustrados e lutas de boxe, Cameron resolve trabalhar com seu pai nos finais de semana e acaba conhecendo Rebecca Conlon. Nela está a oportunidade de se relacionar com uma garota real e também a esperança de ele se tornar um menino mais normal e, talvez, feliz.
Do mesmo modo em que ocorre nas outras obras de Markus, a narração aproxima o leitor do personagem e faz com que seja possível sentir e compartilhar de todas as dores, incertezas e batalhas pessoais dos indivíduos envolvidos no enredo. E, por ser uma história focada em um adolescente inseguro, inconsequente, que busca um dia mudar de rumo e adquirir respeito, as emoções são mais latentes e profundas.
Com apenas 175 páginas, O Azarão é uma breve representação do que é a vida de um jovem de baixa autoestima dentro do processo de amadurecimento. O final de cada capítulo é composto por um sonho, o que reflete os medos, desejos, crenças e o novo olhar que Cameron tem de cada pessoa da sua família. Sendo este o primeiro livro que escreveu, Markus Zusak deixou claro a que veio e mostra aquilo que seus personagens têm de melhor: a veracidade dos sentimentos, o compromisso com a vida, e a incansável vontade de lutar contra o mundo.
"Sabe, eu nunca fui um cara com um monte de amigos. Meio que fiquei na minha. Odiava isso, mas também me orgulhava. Cameron Wolf não precisava de ninguém. Não precisava estar no meio do bando. Nem todo mundo gosta de andar por aí. Não, precisava apenas do instinto. Precisava apenas era dele mesmo, e poderia sobreviver às lutas de boxe no quintal de casa, aos roubos e a qualquer outra vergonha que viesse pela frente. Então, por que me sentia tão estranho agora?
Vamos ser sinceros. Tinha que ser por causa da garota".
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