“Não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre o 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros... Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter”.
Existe uma teoria de que o Universo gosta de chamar a atenção. E diante de uma matéria que está em um processo de expansão contínua, é de fato difícil não percebê-la ou até mesmo deixar uma marca que seja capaz de sobrepujar a sua existência. Afinal, somos uma pequena partícula dentro de um infinito sistema estelar.
No entanto, pessoas são capazes de fazer cicatrizes em outras. E ainda que esta seja uma dádiva e maldição da nossa condição humana, é preciso lembrar que os livros também possuem essa façanha. E a história de Hazel Grace tem potencial suficiente para atingir o âmago de um leitor maduro.
Em A Culpa é das Estrelas, o escritor norte-americano John Green tece uma narrativa doce, triste e bonita, revelando que mesmo em meio à dor e com a expectativa da chegada de uma morte iminente, é possível filosofar a respeito das coisas mais simples da vida – como a leitura de um livro, por exemplo – e também se ver aturdido com o encantamento de um verdadeiro amor.
Hazel Grace é uma adolescente comum, se não fosse o câncer em seus pulmões o motivo que pode ceifar sua existência a qualquer momento. Sua mãe, considerando a hipótese da garota estar ficando deprimida, a coloca no Grupo de Apoio a Crianças com Câncer, em que, dentro de uma roda, os pacientes e os sobreviventes compartilham suas melancólicas realidades.
É neste Grupo que Hazel conhece Augustus Waters, rapaz que teve uma das pernas vencidas por um tumor. Eles se tornam amigos e se reconhecem por meio de hábitos distintos, ao ponto da garota convencer o garoto viciado em videogame a viajar para outro país apenas para conhecer Peter Van Houten, o autor do seu livro preferido. Apesar de um enredo aparentemente simplório, é admirável e encantador acompanhar a jornada de dois personagens que dividem as alegrias e as lágrimas dos malefícios da doença e dos benefícios de viver.
Com profundas reflexões e diálogos apaixonantes, John Green entrega uma história irreverente ao passo que também é dolorosa e fatal. A Culpa é das Estrelas narra com paixão e sofrimento a luta pela vida de jovens que estão à mercê de perder esperanças e sonhos. Contudo, no final resta ao leitor a responsabilidade de aceitar a cicatriz deste livro tão tocante; uma bela marca que até o Universo sentiria vontade de deixar.
“A tristeza não nos muda, Hazel. Ela nos revela”.
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