sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Pulp Fiction - Tempo de Violência


O caminho do homem justo está bloqueado por todos os lados pelas iniquidades dos egoístas e a tirania dos homens maus. Bendito aquele que, em nome da caridade e da boa vontade, é pastor dos humildes pelo vale das sombras. Pois ele é o verdadeiro guardião de seus irmãos e o descobridor das crianças perdidas. E eu exercerei uma vingança terrível e furiosos castigos aos que tentarem destruir meus irmãos. E ficarão sabendo que eu sou o Senhor quando Eu executar sobre eles a minha vingança”. 

No começo da década de 1900, o termo pulp era diretamente relacionado às revistas produzidas com um papel de baixa qualidade. As publicações continham, em geral, histórias ficcionais, e inclusive várias editoras, como a Marvel Comics, iniciaram suas produções nesse formato. 

Não é de se admirar que, no decorrer do tempo, a expressão “pulp fiction” tenha surgido para classificar folhetins similares, sendo estes com um enredo mais curto e com situações, muitas vezes, irracionais. E foi por meio deste pensamento que o diretor Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios, Kill Bill Vol. 1 e Vol. 2) teve a ideia de batizar o terceiro filme de sua carreira: Pulp Fiction – Tempo de Violência

A narrativa é composta pela ausência de linearidade, uma das mais famosas marcas registradas de Tarantino. De uma maneira que vai contra as leis cronológicas, o espectador é convidado a conhecer os personagens em três capítulos distintos, os quais conseguem se entrelaçar satisfatoriamente. 


É no primeiro ato que a dupla de assassinos Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) é apresentada. Eles trabalham para o mafioso Marsellus Wallace, o qual pede a Vincent para fazer companhia a sua esposa, Mia (Uma Thurman), enquanto viaja a negócios. O segundo ato é protagonizado por Butch (Bruce Willis), um lutador de boxe que é subornado por Marsellus para perder sua próxima luta. 

No capítulo derradeiro, o foco retorna para a dupla Vincent e Jules. E, após escaparem de um atentado, Jules passa a se considerar testemunha de uma intervenção divina e tenta traçar uma trajetória de redenção através da fé recém-adquirida. O interessante do roteiro, escrito pelo próprio Tarantino, é que cada ato é desenvolvido pela perspectiva de seus respectivos protagonistas, e em todos sempre há uma situação de desespero envolvendo outras pessoas.


Indicado a 7 Oscar, incluindo o de Melhor Filme e tendo vencido o de Melhor Roteiro Original, Pulp Fiction foi lançado em 1994. Foi aclamado pela crítica e marcou sua época, consolidando a direção de Quentin como uma das mais criativas dos últimos anos ao passo em que também ajudou a melhorar a carreira de John Travolta e Uma Thurman. E mesmo se tratando de uma de suas primeiras produções, aqui já é perceptível outra característica peculiar de Tarantino: o banho de sangue. 

Ainda que a estética do filme não apresente semelhança alguma com revistas de aventura e ficção, de fato Pulp Ficcion – Tempo de Violência deixa a impressão, de modo sangrento e subversivo, que pessoas comuns também podem ser heróis e escapar de situações de risco, por mais bizarras que essas sejam. Detalhe este que continuou guiando Tarantino em outros trabalhos e que ironicamente consegue retratar vários aspectos do insano mundo real. 


Trailer:

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Culpa é das Estrelas


Não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre o 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros... Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter”. 

Existe uma teoria de que o Universo gosta de chamar a atenção. E diante de uma matéria que está em um processo de expansão contínua, é de fato difícil não percebê-la ou até mesmo deixar uma marca que seja capaz de sobrepujar a sua existência. Afinal, somos uma pequena partícula dentro de um infinito sistema estelar. 

No entanto, pessoas são capazes de fazer cicatrizes em outras. E ainda que esta seja uma dádiva e maldição da nossa condição humana, é preciso lembrar que os livros também possuem essa façanha. E a história de Hazel Grace tem potencial suficiente para atingir o âmago de um leitor maduro. 

Em A Culpa é das Estrelas, o escritor norte-americano John Green tece uma narrativa doce, triste e bonita, revelando que mesmo em meio à dor e com a expectativa da chegada de uma morte iminente, é possível filosofar a respeito das coisas mais simples da vida – como a leitura de um livro, por exemplo – e também se ver aturdido com o encantamento de um verdadeiro amor. 

Hazel Grace é uma adolescente comum, se não fosse o câncer em seus pulmões o motivo que pode ceifar sua existência a qualquer momento. Sua mãe, considerando a hipótese da garota estar ficando deprimida, a coloca no Grupo de Apoio a Crianças com Câncer, em que, dentro de uma roda, os pacientes e os sobreviventes compartilham suas melancólicas realidades. 

É neste Grupo que Hazel conhece Augustus Waters, rapaz que teve uma das pernas vencidas por um tumor. Eles se tornam amigos e se reconhecem por meio de hábitos distintos, ao ponto da garota convencer o garoto viciado em videogame a viajar para outro país apenas para conhecer Peter Van Houten, o autor do seu livro preferido. Apesar de um enredo aparentemente simplório, é admirável e encantador acompanhar a jornada de dois personagens que dividem as alegrias e as lágrimas dos malefícios da doença e dos benefícios de viver. 

Com profundas reflexões e diálogos apaixonantes, John Green entrega uma história irreverente ao passo que também é dolorosa e fatal. A Culpa é das Estrelas narra com paixão e sofrimento a luta pela vida de jovens que estão à mercê de perder esperanças e sonhos. Contudo, no final resta ao leitor a responsabilidade de aceitar a cicatriz deste livro tão tocante; uma bela marca que até o Universo sentiria vontade de deixar. 

A tristeza não nos muda, Hazel. Ela nos revela”.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Vida Secreta de Walter Mitty



Para ver o mundo, coisas perigosas acontecerão”.

O lema da revista Life diz que é preciso ver além do muro, encontrar o outro e sentir experiências para entender o propósito de viver. Entretanto, não é tão simples seguir este conselho, tendo em vista que a acomodação e as responsabilidades profissionais muitas vezes falam mais alto do que qualquer desejo pessoal. 

Walter Mitty (Ben Stiller) é um cara que entende bem disso. Trabalhando desde os 17 anos, nunca teve espaço para saciar suas curiosidades. Talvez seja por isso que ele tem a esquisita mania de sonhar acordado, o que não enfraquece ou desfavorece seu caráter em momento algum; em A Vida Secreta de Walter Mitty, as crises de devaneios são o que ajuda o filme a se tornar mais agradável ao passo que o perfil do personagem o deixa mais lúdico e encantador. 

Walter é funcionário da revista Life no setor de revelação de negativos. A empresa passará a publicar edições apenas on-line, o que significa que precisam se apressar para a última versão impressa. Na capa da derradeira edição estará o negativo de número 25 do consagrado fotojornalista Sean O’Connell (Sean Penn), que o mesmo intitulou de “a quintessência”.


O problema é que justamente este negativo está faltando e agora Walter precisa seguir as pistas do paradeiro do fotógrafo antes que o prazo termine. Com a ajuda da colega Cheryl (Kristen Wiig), musa inspiradora para os seus sonhos fabulosos, ele descobre que tem de ir até a Groelândia. E essa é a porta de entrada para a quebra das ilusões e o reconhecimento de um propósito. 

Adaptado de um conto de James Thurber, lançado em 1939, A Vida Secreta de Walter Mitty foi dirigido, produzido e protagonizado por Ben Stiller. A película contém atributos formidáveis, como os belos cenários da Islândia e a excelente trilha sonora (Destaque para a cena catártica em que é tocada Wake Up, da banda The Arcade Fire), os quais, juntos, nutrem a sensação de se estar diante de um longo e divertido videoclipe. 


É preciso vangloriar outros aspectos também. Stiller, além de entregar seu melhor trabalho na direção, consegue captar as nuances de Walter de uma maneira que se distancia dos seus personagens cômicos de outrora. A comédia e o drama são mais intensificados nos delírios, os quais são adornados por ótimos efeitos visuais e impulsionam Walter a encarar as jornadas da vida. 

A Vida Secreta de Walter Mitty tem um final simplório, mas o fato é que o filme não tem a intenção de ser grandioso. As simbologias e as metáforas possuem autonomia suficiente para mostrar que o despertar de um sonho é um dos caminhos para a autodescoberta e que também reserva aventuras mais profundas e fantásticas que um homem devaneador sequer poderia imaginar. 

Lindas coisas não precisam de atenção”.


Trailer: