sexta-feira, 24 de maio de 2013

Juventude em Fúria


Às vezes, as pessoas ficam desequilibradas quando coisas ruins acontecem. Mas elas ficam boas de novo, no final”. 

A dor é capaz de causar efeitos colaterais bastante imprevisíveis. Você pode sofrer um trauma e encontrar uma maneira de esquecer e aprender com aquilo. Em outras palavras, amadurecimento. Ou você pode se afogar no sofrimento, sem conseguir encontrar subterfúgios que te libertem da melancolia. 

O curioso é que, em alguns casos, a solução está embaixo do nosso nariz e somente percebemos quando já é tarde demais. Em Juventude em Fúria, vemos a dor sob a ótica de uma criança, e fica muito evidente que sua reação diante do lado cruel da vida é extremamente instável. 


TJ (Devin Brochu) é um garoto que perdeu a mãe recentemente. Ele reside na casa de sua avó, onde seu pai passa grande parte do tempo deitado no sofá, entorpecido com os remédios antidepressivos. Além de ter que enfrentar a ausência materna e a negligência do pai, ele precisa encarar problemas na escola e na rua, o que torna sua fúria contra o mundo algo bem maior. 

O clima fica mais caótico com a chegada de Hesher (Joseph Gordon-Levitt), um rapaz que adora música alta, pornografia e que tem o corriqueiro hábito de atear fogo nas coisas. Hesher passa a viver, sem motivo aparente, na mesma casa de TJ, e em muitos momentos estimula a ira do garoto. Para equilibrar amor com ódio, o menino começa a fazer amizade com a funcionária de um supermercado (Natalie Portman) e, de um jeito nada convencional, projeta neles novas figuras paternas. 


Dirigido por Spencer Susser, o filme é metafórico, ainda que de um modo estranho e pornográfico. Hesher, o andarilho anarquista, acaba deixando marcas no pai e no filho em luto, ao passo que o próprio se modifica. É um drama reflexivo, que mostra que a conclusão de um problema pode vir personificada na forma de um semblante bizarro. Os atores estão ótimos – especialmente os menos conhecidos (destaque para a personagem da avó, um dos mais tocantes) – e a direção soube expor que cenas tristes não precisam de uma sonoplastia melancólica o tempo todo. 

Por meio de muitas quedas, decepções, perdas e palavras ofensivas bradadas aos quatro ventos, TJ vai descobrindo os terríveis sintomas que a dor pode proporcionar. Juventude em Fúria deixa a lição de que as respostas se encontram nos detalhes mais próximos e às vezes apenas um amigo – inusitado ou não – é capaz de nos fazer olhar com mais atenção. A solução é tão imprevisível quanto o efeito da dor. 
 
Trailer:


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