sábado, 3 de setembro de 2011

O Homem do Futuro


"Eu vim do futuro. E eu tenho como provar".


A viagem no tempo sempre foi um dos temas favoritos das ficções científicas. O tempo por si só já é um assunto complexo e profundo de se debater, com suas teorias paradoxais e realidades paralelas, imagine então se pararmos para refletir no tamanho das consequências que podem ser causadas quando o espaço temporal é violado. O tempo é, portanto, um objeto de deslumbre tão fascinante quanto delicado, tendo que ser trabalhado com criatividade, inteligência e organização; principalmente na área cinematográfica, para que o roteiro não fique com buracos negros visíveis e com a incoerência totalmente exposta.

Um filme cujo tema central seja o amor, por exemplo, mas que usa a viagem temporal como recurso secundário, precisa ser uma película bem estruturada. Isso pode ser visto em Efeito Borboleta, longa que surpreende ao mostrar a probabilidade de várias realidades alternativas, ou até mesmo em Déjá Vu, em que um detetive regressa ao passado para impedir um atentado terrorista e ainda salvar a mulher pela qual se apaixonou. O amor é capaz de mover montanhas e cruzar os mares, embora, não somente nestes casos como também no atual O Homem do Futuro, seja capaz de fazer o mocinho quebrar a barreira do tempo e espaço para ter a segunda chance de reconquistar a sua amada.

Parece que o diretor e roteirista Claudio Torres (responsável por Redentor e A Mulher Invisível) passou várias horas assistindo De Volta para o Futuro para conseguir criar um enredo que saciasse a sua fixação pelo tema. E como se já não fosse difícil encaixar essa ideia nos parâmetros do cinema brasileiro, o diretor uniu gêneros distintos e precisou transitar entre eles sem causar fadiga ao público. Para os preconceituosos, essa fórmula não funcionaria de maneira alguma no cinema nacional de antigamente. Bom, Torres nos mostra que os tempos agora são outros e está na hora de enxergar o que está à nossa frente.


Zero (Wagner Moura) é um cientista arrogante, frio, solitário e sem filhos. Ele está trabalhando no projeto de criação de uma nova fonte de energia e, antes de ser demitido, entra em um acelerador de partículas e é sugado por um buraco negro. Acidentalmente, Zero torna-se o primeiro viajante do tempo e retorna ao passado exatamente no dia 22 de novembro de 1991, o pior momento da sua vida. Naquele dia, há vinte anos, ele estava sendo humilhado diante de toda universidade pela pessoa que mais amava, Helena (Alinne Morais).

Zero logo vê uma oportunidade única no meio de tudo aquilo: convencer o seu "eu" mais novo a não ser iludido pelo canto da sereia, evitar uma humilhação insuperável, virar o jogo sobre Helena e assim conseguir ficar com ela. Mas quando o assunto é brincar com o tempo, modificar o passado se transforma em algo mais perigoso que cutucar a onça com vara curta. Após alterar o curso dos acontecimentos, Zero volta ao presente e sente o peso dos resultados que são obtidos por mudar as coisas, percebendo que a troca de um simples evento pode mudar definitivamente o rumo de uma história.

Wagner Moura demonstra que consegue adaptar sua interpretação a cada momento que o enredo troca de cenário e de gênero. Ele cria três versões de Zero, cada qual com uma característica em comum, mas nem por isso totalmente semelhantes. Sua performance é enaltecida graças aos companheiros de cena Gabriel Braga Nunes, Maria Luisa Mendonça e Fernando Ceylão, revelando o intenso entrosamento entre o elenco. E o par romântico também não deixa a desejar, como fica explícito na cena em que os dois sobem ao palco para cantar "Tempo Perdido" do Legião Urbana.

Claudio Torres realizou a proeza de fazer com que O Homem do Futuro não decepcionasse nos quesitos romance, ficção científica e comédia. Talvez tenha faltado um pouco mais de emoção ao explicar a moral da história, porém, ainda assim, para um longa brasileiro, O Homem do Futuro consegue inovar em termos técnicos, os quais no Brasil permanecem sendo recursos pouco explorados. É por essas e outras que continuo acreditando no cinema nacional; é graças a películas como esta que uma nova luz acende e a nossa forma de fazer filmes se envereda por um novo caminho. E se a qualidade continuar nesse nível, não será preciso viajar no tempo para ver o que o futuro nos reserva, pois, igual ao amor, ele chega de maneira tão rápida que às vezes nem dá para notar.


"A vida precisa ter problemas".


Trailer:


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