"Dinheiro... é só um pedaço de papel que todo mundo acredita que vale alguma coisa. Se ninguém acredita, não vale nada."
Percebi esta semana, caro(a) leitor(a), que já faz algum tempo que eu não posto um comentário sobre um filme nacional. O que de certa forma foi um pecado de minha parte, pois sou fanático por filmes nacionais. Filmes bons, é claro. De boa qualidade e conteúdo. Acho que já tratei deste assunto aqui quando escrevi meu primeiro comentário cinematográfico.
Bom, se tratando de filmes nacionais, posso proferir diversos títulos que me agradam. Mas há entre eles um que se destaca com um louvor de altíssima dimensão. Este que, na minha concepção, é uma das melhores produções brasileiras já feitas em todos os tempos. Sei muito bem que alguns irão me criticar (e poucos irão concordar), contudo, meus olhos não têm como não observar a grandiosidade de "O Homem que Copiava".
O filme foi dirigido e escrito por Jorge Furtado (Louvado seja!) e é protagonizado por Lázaro Ramos, um dos melhores atores nacionais da atualidade(e um dos meus preferidos também). O enredo nos mostra o cotidiano de André (Lázaro), jovem de 19 anos que trabalha numa papelaria na função de operador de fotocopiadora na cidade de Porto Alegre. Nas horas vagas, André fica em casa lendo, desenhando, assistindo tv e às 23h ele vai bisbilhotar os vizinhos com seu binóculo. Foi em uma dessas empreitadas que ele conheceu Silvia (Leandra Leal) e apaixonou-se à primeira vista.
O que encanta o espectador em O Homem que Copiava não é apenas a simplicidade com que Lázaro Ramos encarna André, mas também a simplicidade que a história carrega; pois, basicamente, esse filme conta uma história de amor. Porém de uma maneira inteligente e nada habitual.
André passa a seguir Silvia e descobre onde ela trabalha. Ele entra na loja e se encanta ainda mais com a garota. Como ela trabalha em venda de roupas, ele decide comprar uma peça feminina para sua mãe que custa 38 reais. O problema é que André é duro e precisa pedir dinheiro emprestado para alguém.
Através de sua colega de trabalho, Marinês (Luana Piovane, e vale salientar que sua atuação ficou ótima), ele conhece Cardoso (Pedro Cardoso, aqui fazendo o que sabe fazer de melhor: ser engraçado) a quem pede os benditos 38 reais. Só que Cardoso também é um duro.
E é em momentos como esse que não podemos medir o que um homem apaixonado é capaz de fazer. André nos conta no início do filme como é operar uma máquina fotocopiadora. Uma descrição que para alguns pode ser desnecessária, mas a máquina revela-se o objeto primordial do filme. Ele copia uma nota de 50 reais e finalmente compra a tal roupa, em troca ganhando o sorriso da mulher idolatrada.
À medida que a relação de André e Silvia vai se itensificando, seus atos vão ficando mais preocupantes. Ele continua a copiar dinheiro sempre em prol da alegria da garota ou de sua segurança e acaba, sem perceber, se metendo na maior roubada. Será o amor capaz de salvá-lo? O dinheiro realmente pode comprar tudo, inclusive a inocência de seus atos criminosos? André vai descobrindo na base do sacrifício que ter muito dinheiro é uma tarefa perigosa que pode causar graves consequências.
É provável que alguns espectadores não gostem das formas com as quais os personagens resolvem seus problemas, mesmo assim isso não estraga a beleza do filme.
Estou me coçando para contar mais coisas sobre este filme, mas tenho medo de estragar a ansiedade de quem for assistir. Mas garanto uma coisa: O Homem que Copiava faz parte de um conjunto completo de bons elementos; você se admira com a história e com as atuações, você se encanta pela forma como a qual o filme foi dirigido, escrito e editado, você entra no clima de adrenalina e tristeza que a trilha sonora lhe proporciona...
E o final... Ah, que belíssimo final! Uma mistura poética de psicologia com filosofia e ideologia que permeia todo o longa e se converge no último momento.
Vou parar de falar porque acho que já consegui de você o que queria: a curiosidade de ver o filme. E não se arrependerás. Não mesmo.
"Tem uns detalhes que eu não posso e nem quero falar. Não importa. Quando a gente conta, tudo acontece rápido e parece que as coisas se encaixam. A vida é mais complicada que um quebra-cabeças... Agora parece mais fácil entender a vida".
Só vai entender quem assistir o filme:
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
( trad. Ivo Barroso)
William Shakespeare - Soneto 12
Eu admito que sou muito preconceituoso com filmes nacionais (até porque os que eu já assisti não me agradaram), mas O Homem que Copiava é um dos melhores filmes que eu já vi, ele te prende com a trama e você não consegue deixar de assistir. Recomendo a todos os "preconceituosos" com filmes nacionais, porque este filme mudou a minha opinião sobre tudo.
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