“Tudo o que eles construíram, cairá. E das
cinzas desse mundo, construiremos um melhor”.
A palavra apocalipse, no grego, significa “revelação”. Já no
imaginário popular, o vocábulo ganhou fama por se referir ao fim dos tempos,
uma vez que o último livro do Novo Testamento, escrito pelo apóstolo João,
relata como será parte desse final conhecido por ser deveras tenebroso.
Nos quadrinhos, o vilão Apocalipse nasceu na década de 1980 e
já enfrentava os Filhos do Átomo desde sua primeira aparição. O personagem foi
ganhando destaque e força, pregando filosofias de que apenas os mais fortes são
capazes de sobreviver ao mundo, e se consagrou como um dos maiores nêmeses dos
X-Men. Por essas e outras que o novo filme dos mutantes, X-Men: Apocalipse, era aguardado com certa curiosidade.
O enredo tem início no Egito Antigo, onde a população adorava
En Sabah Nur, provavelmente o primeiro mutante registrado na História. Após ter
passado milênios em estado de hibernação, Apocalipse (Oscar Isaac) desperta em 1983 e percebe que o mundo é dominado pela
raça que ele sempre julgou inferior: os humanos.
O mutante imediatamente começa a traçar um plano para que o
mundo reconheça quem de fato é digno de adoração. Ele convoca seus Quatro
Cavaleiros, Tempestade (Alexandra Shipp),
Arcanjo, Psylocke (Olivia Munn), e
Magneto (Michel Fassbender) para que
juntos possam sedimentar uma nova era em todo o planeta.
Depois que Dias de Um
Futuro Esquecido desconsiderou tudo o que foi feito na primeira trilogia, a
franquia ficou diante de uma nova linha temporal, na qual o diretor Bryan Singer e sua cúpula de produtores
teriam a chance de não cometer mais erros cronológicos e equiparar o produto
mais lucrativo da Fox a padrões louváveis como os da Marvel. Infelizmente, nada
é perfeito, e Singer entrega o filme mais fraco da nova trilogia.
Algo que incomoda desde os primórdios é que os longas de
X-Men sempre trabalham com uma quantidade demasiada de personagens, o que faz
com que muitos conhecidos e queridos pelos fãs de quadrinhos acabem tendo uma
importância ínfima nas telonas. Neste é o caso de Jubileu, que sequer mostra
seus poderes, Anjo e Psylocke, estes dois últimos com meia dúzia de falas e que
cuja relevância se resume nas batalhas. Porém, o pior de tudo é que essa falha
também respinga no vilão. Apocalipse não é assustador e sua origem é um
mistério do início ao fim; ora, se o sujeito foi o primeiro mutante de todos,
por que não explicar um pouco de seu gênesis para o público?
Nesta aventura em particular é notável a preocupação em
enaltecer a computação gráfica do que em desenvolver e estreitar os vínculos
entre os mutantes. X-Men é, antes de tudo, uma equipe – e, por que não dizer,
uma família – e no único instante em que o filme tem a oportunidade de mostrar
isso (o passeio do shopping), a produção faz questão de cortar a cena. Os
efeitos especiais e a ação poderiam fazer com que as rachaduras da trama fossem
esquecidas, no entanto, fica a impressão de que o clímax foi feito com desleixo
e a edição não teve tempo de finalizar a luta antes do prazo.
Há, sem dúvidas, detalhes que se salvam. O excelente elenco,
mais uma vez, consegue sustentar o roteiro com dedicação e maestria. James McAvoy e Michael Fassbender
parecem estar ainda mais familiarizados com Charles Xavier e Magneto (este com
um arco interessante), em atuações sinceras e envolventes. Os novatos Ciclope (Tye Sheridan) e Jean Grey (Sophie Turner) também não fazem feio,
revelando que em breve a formação clássica estará estabelecida. Oscar Isaac se
esforça em ter uma postura vilanesca, embora Mística (Jennifer Lawrence, que quase não aparece na sua forma azul) tenha
seu prestígio diminuído ante ao estrelato de sua intérprete.
X-Men: Apocalipse tem seus holofotes voltados para um
vilão que deixa a desejar, prejudicando outros personagens e atrapalhando
também o percurso do filme ao trocarem um bom drama simplificado pela
grandiloquência. Em meio a erros e acertos (Mercúrio na mansão e a cena final,
por exemplo), Apocalipse encerra mais
uma fase cinematográfica dos mutantes, direcionando os Filhos do Átomo não para
uma conclusão definitiva, e sim para um recomeço. Se o futuro da equipe será
próspero ou não, apenas o próximo capítulo dirá.
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