“Se toda comunidade educa uma criança, toda a
comunidade abusa dela”.
Em tempos longínquos, houve um período em que uma das
características mais virtuosas do jornalismo era o seu comprometimento e
fidelidade para com a veracidade dos fatos. Infelizmente, o retrato da
realidade contemporânea, além de estar longe dos belíssimos atributos de
outrora, é gritante; é deveras difícil acreditar em qualquer coisa que venha de
uma mídia corrupta, conspiratória, voltada exclusivamente para si e os
interesses privados que a permeiam.
Diante de um jornalismo cínico, narcisista e hipócrita, é
triste constatar que o jornalismo genuíno vem caindo cada vez mais no
ostracismo. Entretanto, para a sorte daqueles profissionais que levantam a
bandeira da verdade e que não desistem tão fácil, ainda existem fontes de
inspiração nas quais eles podem se apoiar. É o exemplo de Spotlight: Segredos Revelados.
Inspirado em uma história real, o enredo do filme narra a
epopeia jornalística que a equipe Spotlight (redação responsável por notícias
investigativas) do jornal The Boston
Globe tem de enfrentar para cobrir uma matéria a respeito de casos de
pedofilia envolvendo padres da Igreja Católica da região.
O time, composto por Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel
McAdams) e Matt Carroll (Brian
d’Arcy James), cada um com seu objetivo e destaque particular, é liderado
pelo editor Walter Robinson (Michael
Keaton) e conduz o desenrolar da investigação de maneira competente e com
atuações formidáveis, as quais se intensificam na medida em que as descobertas
de abuso sexual não param de aumentar.
Dirigido e roteirizado por Tom McCarthy e vencedor dos Oscars de Melhor Roteiro Original e
Melhor Filme, o longa se assemelha com outro ganhador, Whiplash, no aspecto de ter tido um orçamento pequeno, uma direção
singela, mas uma repercussão gigantesca.
A direção de McCarthy, que geralmente comandava trabalhos
pequenos em sua carreira, não é algo surpreendente, porém isso não deixa a
temática do filme menos revoltante; aqui o roteiro tem um papel inestimável em
denunciar as práticas de pedofilia e, no caso de algumas vítimas, detalhar o
modo como eram abusadas. O restante da produção parece reconhecer esse valor,
transparecendo o cuidado e zelo ao transmitir as informações adquiridas por
cada repórter.
Em 2003, a equipe do Spotlight recebeu o prêmio Pulitzer por
essa investigação, a qual ajudou a descobrir outras centenas de casos ao redor
do mundo. Desse modo, nos tempos atuais em que as redes sociais ganham mais
abrangência e autonomia e em que notícias falsas e maquiadas são distribuídas
de forma tão leviana e corriqueira, é realmente glorioso contemplar uma obra
como Spotlight: Segredos Revelados, demonstrando de que jeito o jornalismo genuíno deve ser aplicado. Um belo
ensinamento para adotar no trabalho e para obter na vida.
Trailer:
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