“Agora nós sabemos a verdade, não é? Demônios não vêm do
inferno, abaixo de nós... Não. Eles vêm do céu”.
O cineasta Zack Snyder
tem um apreço muito forte por quadrinhos. Isso é notável em seu histórico, já
que foi responsável por filmes como 300,
Watchmen e O Homem de Aço. Sua assinatura é perceptível na tonalidade das
cores, na câmera lenta, no abuso de efeitos especiais, e essas características
fazem com que ele seja a figura mais aparentemente preparada na atualidade –
depois de Christopher Nolan, é claro
– para dirigir um filme de herói sombrio e realista.
E muitos fãs receberam com alegria (mesclada com receio –
bastante, por sinal) a notícia de que Snyder também comandaria Batman vs. Superman: A Origem da Justiça,
longa que não apenas dá continuidade ao que foi estabelecido em O Homem de Aço como é o estopim para a
Warner firmar os alicerces do universo cinematográfico da DC.
Dezoito meses depois da destruição de Metrópolis causada pela
batalha de Superman (Henri Cavill)
contra o general Zod (Michael Shannon),
a população do mundo encontra-se dividida em relação ao caráter e intenções de
uma criatura extraterrestre com poderes sobre-humanos. Uma das pessoas que mais
menospreza o kriptoniano é Bruce Wayne (Ben
Affleck), pela desconfiança adquirida ao longo de anos combatendo o crime e
pela quantidade exorbitante de vidas que sucumbiram no primeiro filme.
Essa é uma premissa bastante interessante para fazer dois
grandes heróis dos quadrinhos terem um combate inédito nos cinemas. Contudo, em
questões de minutos as falhas de Batman
vs. Superman começam a aparecer e, durante a projeção, fica claro que o filme
possui desespero em sua essência. Cinematograficamente falando, a Marvel está
anos-luz à frente da DC, e esta, para não perder ainda mais tempo, resolveu
trilhar um caminho inverso ao da sua rival.
A consequência da pressa faz com que o roteiro e edição
fiquem desnorteados tanto pelo excesso de informação quanto pela abundância de
personagens. Além de apresentar um novo Batman, o enredo também mostra Lex
Luthor (Jesse Eisenberg), Mulher-Maravilha
(Gal Gadot), Apocalipse (este muito
mal aproveitado, como uma besta irracional), e toda uma subtrama investigativa
protagonizada por Lois Lane (Amy Adams),
deixando pouco tempo livre para o embate entre Homem Morcego e o Filho de
Krypton. E embora a produção tente negar, isso é controverso; como pode faltar
tempo em uma película de duas horas e meia?
É óbvio que a intenção de Batman
vs. Superman é direcionar a cronologia da DC para o filme da Liga da Justiça e outros futuros
projetos (Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, etc), mas era de se esperar um mínimo de coerência. E como
se não bastasse a destruição exacerbada que ocorreu em O Homem de Aço, Snyder presenteia o espectador com um clímax
megalomaníaco; afinal, para o diretor, tudo é válido em detrimento do
espetáculo visual.
Todo filme de herói precisa ter um vilão marcante, esse é um
dos ensinamentos que Christopher Nolan deixou. Infelizmente, até neste quesito
o enredo tropeça; sabe-se que Batman e Superman irão se enfrentar, e que é
necessário fazer a tensão crescer enquanto o momento não chega. Se o
antagonista fosse somente Lex Luthor, a função de todo seu plano nefasto faria
sentido (Bem no estilo Coringa). Porém, o próprio roteiro prejudica o
personagem e, na tentativa de ostentar com Apocalipse, algumas ações de Lex não
têm tanta veemência e a atuação de Jesse Eisenberg, mesmo tendo um admirável empenho, não o faz tão amedrontador
quanto deveria.
Apesar de falhas que podem ser consideradas graves para
muitos fãs, é preciso reconhecer que a trama possui seus méritos. O Batman de
Ben Affleck é extraordinário; inspirado no Cavaleiro
das Trevas de Frank Miller, aqui
o espectador é apresentado a um Bruce Wayne cansado, traumatizado, impiedoso e
sem muitas motivações para ter esperança na humanidade. Clark Kent entra como
um opositor à altura, carregando toda a simbologia messiânica envolvendo o
Superman e se transfigurando em um distintivo de fé para os cidadãos que
confiam nele.
Batman vs. Superman: A
Origem da Justiça,
como o título já entrega, deixa muitas pistas no ar e a promessa de que os
heróis da DC irão fundar a Liga da Justiça e lutar contra uma ameaça muito
maior, e isso já é suficiente para fazer milhares de fãs entrarem em delírio.
Zack Snyder outra vez cria um produto esteticamente belo, mas que possui
buracos em sua estrutura e que fará diversos espectadores terem opiniões heterogêneas.
Pelo menos a DC pode ficar mais tranquila agora que seu universo teve as portas
abertas. É o cinema cedendo mais um espaço para os heróis dos quadrinhos, e
dando novas razões para apreciar esse tipo de arte.
“A
maior batalha de gladiadores da história do mundo. Deus versus homem. Dia
versus noite”.
Trailer: