sábado, 13 de junho de 2015

Ela


Qualquer pessoa que se apaixone é uma aberração. É algo louco de se fazer. Uma forma socialmente aceitável de insanidade”.

Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse a interação humana, foi o que disse um dos mais notáveis cientistas da história da humanidade. De fato, em tempos em que a internet e a evolução de aparelhos eletrônicos se tornam cada vez mais crescentes, parece ser muito mais prático e coerente estabelecer relacionamentos virtuais no lugar de enraizar convivências reais.


O cientista supracitado é Albert Einstein e o filme Ela é apenas mais uma evidência de que o futuro profetizado pelo alemão está iminentemente próximo. Dirigido e roteirizado pelo peculiar Spike Jonze (de Quero Ser John Malkovich e Onde Vivem os Monstros), a película é o reflexo incrível da dependência e carência que envolve o elo entre homem e máquina. 


Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) é um melancólico e solitário homem que está saindo de um recente divórcio. Curiosamente, sua vida pessoal entra em um brutal contraste com a profissional, uma vez que é por meio da escrita de cartas para outras pessoas que ele encontra a sua catarse sentimental.


Talvez com receio de que sua rotina fosse completamente subjugada pela depressão, Theodore compra um sistema operacional com inteligência artificial, uma espécie de amigo virtual. No caso, uma amiga, Samantha, na voz original de Scarlett Johansson. Cumprindo sua função como qualquer computador, Samantha é a companheira perfeita e passa a ser a nova conexão de Theodore com o mundo. A questão que paira em quase toda a exibição é a seguinte: uma relação, mesmo que virtual, pode ser duradoura e, quiçá, mais sólida do que uma real?


A resposta é óbvia e o próprio filme a mostra ao longo do percurso, em especial nas cenas em que outras pessoas na rua conversam com seus “amigos operacionais” e também na existência de bate-papos cuja única finalidade é garantir um sexo simulado e gratuito. Ironicamente, o enredo se agrava por se situar em locais como Los Angeles e Xangai, ambos com belíssimos cenários, revelando que é praticamente um pecado dedicar a atenção a um aparelho do que na paisagem ao redor.

O que faz de Ela ainda mais preocupante é a cativante atuação de Joaquin Phoenix (que injustamente não recebeu uma indicação ao Oscar), que passa boa parte da trama sozinho e que consegue, por meio de sua performance facial, retratar a angústia e languidez de um indivíduo que se sente abandonado. Scarlett Johansson, que não aparece em momento algum, se destaca igualmente por trazer características humanas a um programa de computador, como o desejo de ter questionamentos respondidos e os suspiros entre as frases. Amy Adams tem o papel de suporte social para o protagonista, mas também não deixa a desejar.

Em Ela, Spike Jonze mesclou romance dramático com ficção científica e conseguiu arrancar elogios da crítica, recebendo inclusive o Oscar de Melhor Roteiro Original. Infelizmente, estampou a face decadente da humanidade; milhares de pessoas idolatram filmes, livros, artistas, e todo o afeto depositado em ferramentas como Facebook e Whatssap são somente mais um produto do pacote. É o desespero em querer sempre se relacionar com algo ou alguém, seja de origem real ou virtual, moldando mentes superficiais. Esperto foi o Einstein, que saiu de cena antes de ver concretizada sua infeliz profecia.   

  
Trailer:

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