E como em um piscar de olhos, foi-se o primeiro semestre de 2015! Mas há muito chão pela frente antes que o ano termine e as promessas do cinema continuam quentes! Ainda dá tempo de ver a nova Sarah Connor lutando contra as máquinas, o surgimento de mais um herói para a equipe dos Vingadores, Tom Cruise em mais uma missão impossível, o novo Quarteto Fantástico, um maluco se equilibrando nas torres do World Trade Center, um astronauta preso em Marte, Katness Everdeen na batalha final contra a Capital e o esperadíssimo retorno dos cavaleiros Jedi e da família Skywalker. Quer mais?
Qual será o filme mais impactante de 2015.2? Prepare a pipoca e faça suas apostas, pois a diversão está muito longe de acabar!
Muitas vezes é difícil parar para refletir e perceber que
existe magia no entretenimento. Afinal, é o encanto que alimenta a curiosidade
e prende a atenção, e talvez seja esse o ingrediente que vai manter atrações de
circos, parques e zoológicos vivas por vários anos. Provavelmente tenha sido
com esse pensamento que o autor Michael Crichton deu vida, lá na década de
1990, ao seu Jurassic Park.
A ideia de um parque temático, com dinossauros reais
reproduzidos por meio de avanço genético, foi tão visionária que chamou a
atenção do cineasta Steven Spilberg
e em 1993 a versão cinematográfica chegou às telonas, ganhando 3 Oscars e
alcançando a maior bilheteria de todos os tempos (Até Titanic chegar, em 1997).
Após mais duas continuações, por muitos anos se cogitou um
quarto capítulo para a franquia jurássica. E com a crescente necessidade
(muitas vezes desnecessária) da indústria hollywoodiana de fazer remakes e reboots, e, sendo assim, empanturrando os cofres com mais lucros,
surge Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros.
O enredo se passa vinte anos depois do ocorrido no primeiro Jurassic Park. Se lá John Hammond tinha
a visão de ver o maior empreendimento da sua vida em funcionamento, em Jurassic World o sonho se faz realidade.
O parque já está aberto há muito tempo e, por dia, garante a visitação de mais
de 20 mil pessoas. A administração agora fica por conta de Claire (Bryce Dallas Howard) que, juntamente com
a equipe de geneticistas e a intenção de aumentar o número de público, tem a
ideia de criar uma nova atração.
A atração em questão é o desenvolvimento de um dinossauro
híbrido, a Indominus Rex, mais brutal
e inteligente que qualquer outro, incluindo o T-Rex. A besta escapa da
contenção e sai pela Ilha Nublar matando tudo o que vê pela frente. É aí que entra
em ação Owen (Chris Pratt), o
adestrador de Velociraptors, cuja experiência no mundo animal lhe permite
elaborar um plano para caçar a fera ao passo em que é preciso manter a proteção
dos visitantes.
A intenção de Jurassic
World, assim como foi em Mad Max:
Estrada da Fúria, é bastante clara: apresentar a franquia ao público jovem
atual e causar nos mais velhos a sensação de saudosismo. Nesta perspectiva, o
filme funciona muito bem, homenageando o clássico em diversas cenas (Os meninos
encontrando o antigo parque, por exemplo).
Entretanto, carrega consigo um legado presente nos seus
antecessores; não há espaço para desenvolvimento de personagens quando o foco é
a gritaria e correria para escapar dos dinossauros famintos. O diretor Colin Trevorrow realmente se esforçou
para trazer essa mitologia para uma ótica mais atual; a violência presente,
embora pudesse ser mais sanguinária do que o pressuposto, está de bom tamanho.
Os efeitos visuais estão formidáveis, tornando a imersão cada vez mais crível.
A lendária trilha sonora de John
Williams retorna, mas fica bastante tímida no decorrer da projeção.
Apesar de não ter se saído mal, Jurassic World deixa a impressão de que poderia ter causado mais
impacto e, neste sentido, infelizmente, as comparações com o primeiro filme são
inevitáveis. Todos os fãs antigos devem lembrar o teor de suspense/terror que
Spilberg introduziu no original, com cenas memoráveis como o ataque do T-Rex ao
carro e a cena dos Velociraptors na cozinha. Contudo, pelo menos a batalha
final é impressionante e, desse modo, alimenta a esperança de que a franquia
ainda tem mais combustível para queimar. A magia de Jurassic Park foi restaurada e, para a alegria dos espectadores, e
dos dinossauros esquecidos de outrora, a extinção parece estar fora de questão.
“Qualquer pessoa que se apaixone é uma aberração. É algo
louco de se fazer. Uma forma socialmente aceitável de insanidade”.
Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse a interação
humana, foi o que disse um dos mais notáveis cientistas da história da
humanidade. De fato, em tempos em que a internet e a evolução de aparelhos
eletrônicos se tornam cada vez mais crescentes, parece ser muito mais prático e
coerente estabelecer relacionamentos virtuais no lugar de enraizar convivências
reais.
O cientista supracitado é Albert Einstein e o filme Ela é apenas mais uma evidência de que o
futuro profetizado pelo alemão está iminentemente próximo. Dirigido e
roteirizado pelo peculiar Spike Jonze
(de Quero Ser John Malkovich e Onde Vivem os Monstros), a película é o
reflexo incrível da dependência e carência que envolve o elo entre homem e
máquina.
Theodore Twombly (Joaquin
Phoenix) é um melancólico e solitário homem que está saindo de um recente
divórcio. Curiosamente, sua vida pessoal entra em um brutal contraste com a
profissional, uma vez que é por meio da escrita de cartas para outras pessoas
que ele encontra a sua catarse sentimental.
Talvez com receio de que sua rotina fosse completamente
subjugada pela depressão, Theodore compra um sistema operacional com
inteligência artificial, uma espécie de amigo virtual. No caso, uma amiga,
Samantha, na voz original de Scarlett
Johansson. Cumprindo sua função como qualquer computador, Samantha é a
companheira perfeita e passa a ser a nova conexão de Theodore com o mundo. A
questão que paira em quase toda a exibição é a seguinte: uma relação, mesmo que
virtual, pode ser duradoura e, quiçá, mais sólida do que uma real?
A resposta é óbvia e o próprio filme a mostra ao longo do
percurso, em especial nas cenas em que outras pessoas na rua conversam com seus
“amigos operacionais” e também na existência de bate-papos cuja única
finalidade é garantir um sexo simulado e gratuito. Ironicamente, o enredo se
agrava por se situar em locais como Los Angeles e Xangai, ambos com belíssimos
cenários, revelando que é praticamente um pecado dedicar a atenção a um
aparelho do que na paisagem ao redor.
O que faz de Ela
ainda mais preocupante é a cativante atuação de Joaquin Phoenix (que
injustamente não recebeu uma indicação ao Oscar), que passa boa parte da trama
sozinho e que consegue, por meio de sua performance facial, retratar a angústia
e languidez de um indivíduo que se sente abandonado. Scarlett Johansson, que
não aparece em momento algum, se destaca igualmente por trazer características
humanas a um programa de computador, como o desejo de ter questionamentos
respondidos e os suspiros entre as frases. Amy
Adams tem o papel de suporte social para o protagonista, mas também não
deixa a desejar.
Em Ela, Spike Jonze
mesclou romance dramático com ficção científica e conseguiu arrancar elogios da
crítica, recebendo inclusive o Oscar de Melhor Roteiro Original. Infelizmente,
estampou a face decadente da humanidade; milhares de pessoas idolatram filmes,
livros, artistas, e todo o afeto depositado em ferramentas como Facebook e
Whatssap são somente mais um produto do pacote. É o desespero em querer sempre
se relacionar com algo ou alguém, seja de origem real ou virtual, moldando
mentes superficiais. Esperto foi o Einstein, que saiu de cena antes de ver
concretizada sua infeliz profecia.