Sam: Por que está sempre com um
binóculo?
Suzy: Me ajuda a ver as
coisas mais de perto, mesmo não estando tão distantes. Imagino que é meu poder
mágico.
Sam: Isso soa como
poesia. Poemas nem sempre rimam. Eles precisam apenas ser criativos.
Uma das maiores vantagens de se apreciar filmes é quando o
espectador consegue identificar a assinatura de um diretor e se afeiçoar com
suas obras. Todo cinéfilo já deve ter percebido que diretores como Stanley Kubrick, Quentin Tarantino, David
Fincher e Martin Scorsese
atribuíram e atribuem sutis características às suas películas que os fãs já
aguardam antes mesmo da exibição começar.
Wes Anderson é o tipo de diretor que se destaca
por seus simples e profundos roteiros, além do seu excêntrico e distinto modo
de filmagem. Seus filmes são costumeiramente elogiados e o seu mais recente
trabalho, Grande Hotel Budapeste,
recebeu nove indicações ao Oscar. No entanto, antes deste consagrado projeto,
Wes já havia conquistado o público com Moonrise
Kingdom.
Ambientado em 1965, o enredo se passa na ilha de New
Penzance. Basicamente, a trama gira em torno de Suzy Bishop (Kara Hayward) e Sam Shakusky (Jared Gilman); a menina é uma
adolescente aparentemente problemática e incompreendida pelos pais, Bill Murray e Frances McDormand; o menino é órfão e escoteiro da região. Ambos se
conhecem nos bastidores de uma peça teatral e, após uma frequente troca de
correspondências, logo percebem o quanto são semelhantes e iniciam a elaboração
de um plano de fuga.
O restante do elenco favorece ainda mais o filme, cada um com
sua respectiva função e carga dramática.
O Capitão Sharp (Bruce Willis
em ótimo desempenho), ao lado do líder dos escoteiros (Edward Norton), é o responsável por comandar a missão de resgate da
dupla desaparecida.
Mas não é somente da busca pelo casal de adolescentes que se
resume Moonrise Kingdom. À medida que
a projeção progride, ficam evidentes as falhas e as peculiaridades dos
personagens adultos, revelando problemas de adultério, displicência,
insatisfação e solidão. Tudo isso, é claro, exposta da maneira leve e cômica de
Anderson.
Tais elementos melancólicos entram em conflito com o núcleo
infantil e, surpreendentemente, causam um resultado sincrônico. Se há nos
adultos uma ausência de esperança, é exatamente isso que os distingue de Sam e
Suzy. Os dois, embora tenham cicatrizes causadas pelo abandono, conseguem
encontrar um propósito que pode sobrepor as dificuldades do passado: a sincera,
doce e pura capacidade de amar.
Moonrise Kingdom seria, portanto, uma fábula de duas
crianças que descobrem o amor, e a produção técnica corrobora com esta ideia. A
fotografia e os planos de câmera trazem um teor de nostalgia e encantamento, e
a trilha sonora de Alexandre Desplat causa
uma estupenda catarse nos momentos de aventura. Infelizmente (ou não), é
preciso ter uma visão mais aprofundada e sensível para aprender a apreciar Wes
Anderson do jeito que se deve. Abençoados sejam os diretores que entendem o
cinema não apenas como uma indústria de entretenimento, mas, sobretudo, como
uma ferramenta de criar afetos entre a plateia e o produto, e afortunados são
os que se deixam viajar por aquilo que os olhos sentem.
Suzy: Seus pais
adotivos ainda estão com raiva de você, por se meter em tanta confusão?
Sam: Acho que não.
Estamos começando a nos conhecer melhor. Sinto que estou em uma família de
verdade. Não como a sua, mas parecida.
Suzy: Eu gostaria de
ser uma órfã. Todas as minhas personagens favoritas são. Acho as suas vidas
mais especiais.
Sam: Eu amo você, mas
não sabe o que está dizendo.
Suzy: Também amo você.
Trailer:
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