sexta-feira, 10 de abril de 2015

Moonrise Kingdom


Sam: Por que está sempre com um binóculo?
Suzy: Me ajuda a ver as coisas mais de perto, mesmo não estando tão distantes. Imagino que é meu poder mágico.
Sam: Isso soa como poesia. Poemas nem sempre rimam. Eles precisam apenas ser criativos.

Uma das maiores vantagens de se apreciar filmes é quando o espectador consegue identificar a assinatura de um diretor e se afeiçoar com suas obras. Todo cinéfilo já deve ter percebido que diretores como Stanley Kubrick, Quentin Tarantino, David Fincher e Martin Scorsese atribuíram e atribuem sutis características às suas películas que os fãs já aguardam antes mesmo da exibição começar. 

Wes Anderson é o tipo de diretor que se destaca por seus simples e profundos roteiros, além do seu excêntrico e distinto modo de filmagem. Seus filmes são costumeiramente elogiados e o seu mais recente trabalho, Grande Hotel Budapeste, recebeu nove indicações ao Oscar. No entanto, antes deste consagrado projeto, Wes já havia conquistado o público com Moonrise Kingdom.


Ambientado em 1965, o enredo se passa na ilha de New Penzance. Basicamente, a trama gira em torno de Suzy Bishop (Kara Hayward) e Sam Shakusky (Jared Gilman); a menina é uma adolescente aparentemente problemática e incompreendida pelos pais, Bill Murray e Frances McDormand; o menino é órfão e escoteiro da região. Ambos se conhecem nos bastidores de uma peça teatral e, após uma frequente troca de correspondências, logo percebem o quanto são semelhantes e iniciam a elaboração de um plano de fuga.


O restante do elenco favorece ainda mais o filme, cada um com sua respectiva função e carga dramática.  O Capitão Sharp (Bruce Willis em ótimo desempenho), ao lado do líder dos escoteiros (Edward Norton), é o responsável por comandar a missão de resgate da dupla desaparecida.


Mas não é somente da busca pelo casal de adolescentes que se resume Moonrise Kingdom. À medida que a projeção progride, ficam evidentes as falhas e as peculiaridades dos personagens adultos, revelando problemas de adultério, displicência, insatisfação e solidão. Tudo isso, é claro, exposta da maneira leve e cômica de Anderson. 


Tais elementos melancólicos entram em conflito com o núcleo infantil e, surpreendentemente, causam um resultado sincrônico. Se há nos adultos uma ausência de esperança, é exatamente isso que os distingue de Sam e Suzy. Os dois, embora tenham cicatrizes causadas pelo abandono, conseguem encontrar um propósito que pode sobrepor as dificuldades do passado: a sincera, doce e pura capacidade de amar.    

Moonrise Kingdom seria, portanto, uma fábula de duas crianças que descobrem o amor, e a produção técnica corrobora com esta ideia. A fotografia e os planos de câmera trazem um teor de nostalgia e encantamento, e a trilha sonora de Alexandre Desplat causa uma estupenda catarse nos momentos de aventura. Infelizmente (ou não), é preciso ter uma visão mais aprofundada e sensível para aprender a apreciar Wes Anderson do jeito que se deve. Abençoados sejam os diretores que entendem o cinema não apenas como uma indústria de entretenimento, mas, sobretudo, como uma ferramenta de criar afetos entre a plateia e o produto, e afortunados são os que se deixam viajar por aquilo que os olhos sentem. 

Suzy: Seus pais adotivos ainda estão com raiva de você, por se meter em tanta confusão?
Sam: Acho que não. Estamos começando a nos conhecer melhor. Sinto que estou em uma família de verdade. Não como a sua, mas parecida.
Suzy: Eu gostaria de ser uma órfã. Todas as minhas personagens favoritas são. Acho as suas vidas mais especiais.
Sam: Eu amo você, mas não sabe o que está dizendo.

Suzy: Também amo você. 


Trailer:

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