“Gotham
City. Talvez seja isso que eu mereça... Passar um tempo no inferno”.
Muitos devem concordar que, quando o assunto gira em torno de
heróis, Batman é sempre um dos mais enaltecidos. Todo o arcabouço psicológico
que permeia a mitologia de Bruce Wayne entra em contraste com a maioria dos
outros heróis, pois aqui o vigilante de Gotham nasceu por ser um filho da
violência.
A função do atual e promissor seriado Gotham é justamente esta: mostrar o alto nível de criminalidade e
corrupção que ocupa todas as áreas da cidade, sendo os pais do menino Wayne
vítimas da perversidade que emana até dos detalhes mais vis e imperceptíveis; revelar
por que realmente uma sociedade precisa de um herói.
No entanto, por ser uma mitologia rica e detentora de um
vasto leque de possibilidades, o programa de televisão Gotham não é o conteúdo pioneiro a destrinchar a história do
Homem-Morcego antes de ele vestir o manto. Na década de 1980, o roteirista Frank Miller, pouco tempo depois de
lançar o consagrado Batman – O Cavaleiro
das Trevas, publicou a memorável HQ Batman:
Ano Um.
Feita em parceria com o artista David Mazzucchelli, Ano Um,
como o próprio título já deixa pressuposto, narra o primeiro ano do tenente Jim
Gordon no Departamento de Polícia de Gotham. Paralelamente, em uma estratégia
engenhosa e sensacional, o enredo também detalha o retorno do adulto Bruce
Wayne após anos de viagem.
Logo, o objetivo a HQ é desvelar, durante o tempo de um ano,
o progresso de dois personagens que, apesar de trabalharem em áreas distintas,
lutam pela mesma causa: o fim da corrupção. Gordon, por um lado, está cansado
de ver as ferramentas ardilosas com as quais os policiais subversivos
trabalham. Bruce, por carregar o trauma de ser testemunha da morte dos pais,
quer se tornar um símbolo que projete medo nos criminosos e, principalmente, quer
levar justiça a uma cidade imersa nas sombras.
Ano Um possui um conjunto de coisas que o
tornaram clássico: um roteiro incrível e inovador, o qual retrata nuances ainda
presentes na contemporaneidade, uma ilustração magistral e a apresentação de
novas perspectivas para personagens icônicos, como Selina Kyle, e até mesmo a honestidade de Gordon sendo posta em questão.
Dessa forma, é deveras importante que um legítimo fã do
Homem-Morcego pesquise e passeie pelas páginas de Batman: Ano Um, uma vez que a HQ tornou-se cânone e não é a toa que
o seriado Gotham se inspire nela, e
que o cineasta Christopher Nolan a
tenha utilizado na composição de sua trilogia (As comparações são inevitáveis,
especialmente com Batman Begins). Eis
aqui mais uma obra que sabiamente usufruiu da realidade como matéria prima. Eis
aqui mais uma prova de que um herói pode ser a luz no meio do caos.
“Senhoras e senhores... Vocês comeram bem. Comeram a riqueza
de Gotham... Seu espírito. O banquete acabou. De hoje em diante... Nenhum de
vocês estará a salvo”.